EFEITO DO CONTROLE NA FONTE SOBRE A MACRODRENAGEM. Palavras-Chave - microrreservatórios, controle na fonte, macrodrenagem



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Transcrição:

EFEITO DO CONTROLE NA FONTE SOBRE A MACRODRENAGEM Rutinéia Tassi 1 e Adolfo O. N. Villanueva1 1 1 Instituto de Pesquisas Hidráulicas da UFRGS Caixa Postal 15029, CEP 91501-970, Porto Alegre/RS - Brasil. rutinei@bol.com.br Resumo As novas alternativas propostas para resolver os problemas de drenagem urbana buscam, de uma forma eficiente, tratá-los o mais próximo possível da fonte. Uma das soluções sugerida é a implementação de microrreservatórios de detenção nos lotes. No entanto, qual o impacto sobre a macrodrenagem que a distribuição desses dispositivos de controle gera, é uma questão pouco estudada. São recomendados estudos tratando de forma global a eficiência desse sistema, visto que em certos casos pode ocorrer o resultado inverso ao pretendido, ou seja a ampliação do pico das vazões. Este artigo apresenta resultados de um trabalho que procurou avaliar os efeitos desse tipo de combinação através de simulações numéricas. Abstract Alternatives presently proposed to solve the problems of urban drainage are aimed to control excess runoff as close as possible from its source, which appears a more efficient approach. One of the solutions suggested is the use of on-site detention. However, which is the impact of this kind of control devices on the macro-drainage, is a little studied subject. Studies using an integrated approach to the system are needed, to assess the actual efficiency of on-site detention on macroscale runoff control. This article presents the results of a dissertation work, which tries to evaluate the impact of on-site detention on the macro-drainage network, using numeric simulations. Palavras-Chave - microrreservatórios, controle na fonte, macrodrenagem

INTRODUÇÃO Nos centros urbanos em processo de expansão, os sistemas de drenagem vão se tornando insuficientes à medida em que a ocupação, e portanto a impermeabilização das bacias aumenta. A conseqüência direta do aumento da impermeabilização é o acréscimo das vazões de pico e do volume escoado superficialmente, tornando necessárias obras de ampliação do sistema de drenagem. Muitas vezes essa ampliação torna-se impraticável dado os altos custos e limitações físicas; além disso, o planejamento e controle são mais baratos. Os Planos Diretores de Drenagem Urbana vêm identificando os problemas e apontando para soluções integradas nas bacias urbanas, buscando resolve-los o mais próximo possível da fonte. Uma das propostas dos planos no Brasil, à exemplo de outros países, é não permitir o aumento da vazão natural na saída dos lotes, utilizando medidas de controle na fonte. A utilização deste tipo de medida tem alguns objetivos como: - amortecer os picos de enchente através da detenção em reservatórios; - conter os escoamentos na fonte, através da melhoria das condições de infiltração ou ainda em tanques de detenção. No entanto, o impacto sobre a macrodrenagem que a distribuição desses dispositivos de controle gera é uma questão pouco estudada. Em geral, o tratamento dado a este tipo de alternativa tem sido a análise pontual, não considerando a combinação de efeitos resultante das ações distribuídas. Em alguns casos a medida de controle sugerida pode ser aparentemente aceitável quando analisada isoladamente, mas ineficiente ou economicamente ineficiente quando a bacia é analisada de forma conjunta; e sob determinadas circunstâncias pode ocorrer o resultado inverso ao pretendido, ou seja a ampliação do pico das vazões. Neste artigo são apresentados os resultados de um estudo em que se propôs avaliar o impacto da implantação dos microrreservatório desde a escala do lote até a rede de macrodenagem em uma bacia urbana, usando modelos numéricos. METODOLOGIA Para quantificar o impacto dos microrreservatórios na macrodrenagem, optou-se pela montagem e simulação numérica de uma bacia hipotética, na qual foram contemplados diversos segmentos de macrodrenagem, além da representação detalhada dos possíveis planos de escoamento. Assim, foi montada uma bacia, com lotes padrão de 300 m 2, utilizando uma representação detalhada das superfícies da bacia (telhados, calçadas, jardins, passeios públicos e ruas), incluindo a distribuição das redes de drenagem. Na figura 1 é mostrada a representação do lote simulado. Na tabela 1 são apresentadas as parcelas de áreas permeáveis e impermeáveis no interior dos lotes, e na tabela 2 parâmetros de infiltração do SCS utilizados (CNs).

Tabela 1- Composição do lote Área (m 2 ) % de área no lote Área permeável 147 49 Área impermeável 153 51 Tabela 2- CN utilizados Superfície CN Telhado 98 Grama 74 Calçadas 98 Figura 1 Lote simulado Para a montagem da bacia selecionou-se uma bacia urbana da cidade de Porto Alegre, da qual foram utilizadas algumas características como a área, topografia, configuração da rede de macrodrenagem e a forma. Procurando obedecer a topografia e a configuração da rede de macrodrenagem da bacia real, os lotes foram distribuídos de maneira a cobrirem a superfície da bacia a ser simulada, resultando em uma área de 977 ha. Resultaram 27.600 lotes na bacia e um conjunto de 11 sub-bacias (conforme a figura 2) com áreas variando entre 15 ha e 194 ha, com declividades entre 0,04% nas partes mais baixas da bacia, até 6% nas regiões de cabeceira. Foram considerados passeio público e ruas completamente impermeáveis. A porcentagem de área impermeável na bacia resultou em 59%, sendo que deste total, cerca de 16% corresponde à impermeabilização das ruas e calçadas e, 43% às superfícies impermeáveis nos lotes. A verificação das áreas impermeáveis resultantes na bacia foram compatíveis com o esperado em locais com este tipo de urbanização. A avaliação do efeito dos microrreservatórios de detenção sobre o escoamento foi realizada a partir dos resultados de simulações numéricas, realizadas em duas etapas. Uma primeira simulação, realizada na escala de sub-bacia, onde o escoamento gerado nos lotes, passeios públicos, ruas e redes de microdrenagem, foi propagado com um modelo de onda cinemática (modelo Schaake, 1971). Com a utilização deste modelo, foi possível representar ruas e passeios público, além das diferentes situações de escoamento dentro do lote, tais como: telhado, áreas gramadas, calçadas e o microrreservatório. Na segunda etapa, foi utilizado um modelo hidrodinâmico (Villanueva, 1990), onde os hidrogramas gerados na saída das redes de microdrenagem e a água que escoou pelas ruas, resultantes da simulação com a onda cinemática, foram introduzidos nas redes de macrodrenagem, através de condições de contorno de montante e como vazão lateral do modelo.

Figura 2- Bacia hipotética montada para simulação Para definir a vazão de saída do microrreservatório, foi feita uma simulação inicial com o modelo de onda cinemática para o lote no seu estado natural, ou seja, em situação anterior à urbanização. A vazão de pico obtida nesta simulação foi tomada como a vazão de pré-urbanização, e uma nova simulação foi realizada, representando o estágio de impermeabilização dos lotes devido à urbanização. O reservatório utilizado no trabalho é do tipo simples, composto por uma única câmara, com descarregador de fundo e um dispositivo de saída na parte superior, que funciona como vertedor. O dimensionamento do mesmo foi realizado através de tentativas, buscando otimizar o volume e diâmetro de descarregador de fundo, até atingir a vazão limite admissível para a saída do lote, sem que ocorresse extravasamento do microrreservatório. Foram utilizados os períodos de retorno para o dimensionamento e simulação de 5 e 10 anos, com a finalidade de identificar a estrutura mais eficiente. A chuva foi obtida a partir de uma IDF da região próxima à sub-bacia, e os microrreservatórios foram dimensionados para a chuva de projeto com 1 hora de duração, que era o tempo de concentração da bacia. A simulação da bacia foi feita sob diferentes condições de impermeabilização do solo, desde a bacia permeável (estágio anterior à ocupação) até a impermeabilização dos lotes, ruas e calçadas. Foram tomadas as vazões de pico na saída da bacia para cada uma destas simulações. E na situação onde a bacia impermeabilizada foi simulada, foram verificadas as vazões de pico com a utilização dos microrreservatórios nos lotes e sem os microrreservatórios. O parâmetro eficiência, indicador do impacto com os microrreservatórios, foi obtido através de uma relação entre vazões de pico, dada seguinte equação

Q QsMR e' = equação.1 Q Q nat smr onde: e : eficiência; Q: vazão de pico no trecho; Q smr : vazão de pico no trecho para a bacia sem microrreservatório; Q nat : vazão de pico no trecho obtida para a bacia permeável. RESULTADOS DAS SIMULAÇÕES Durante o dimensionamento do microrreservatório para controlar a vazão na saída do lotes a níveis inferiores à vazão de pré-urbanização, percebeu-se que as estruturas resultantes apresentaram características que poderiam levar a um funcionamento questionável sob o ponto de vista operacional, pois os descarregadores de fundo resultaram em diâmetros muito pequenos. Desta forma, tentando melhorar os descarregadores de fundo, foram dimensionados novos microrreservatórios para controlarem maiores vazões na saída dos lotes. As novas vazões de restrição na saída do lote variaram desde a vazão de pré-urbanização (Qpré-urb) até 5 x vazão de pré-urbanização (5xQpré-urb), e o impacto dos microrreservatórios foi testado para todas as vazões propostas durante o dimensionamento dos microrreservatórios. Na figura 3 são mostrados os hidrogramas na saída da bacia para o controle da vazão de préurbanização (Qpré-urb) e 3 vezes esta vazão (3xQpré-urb), onde também encontram-se os hidrogramas escoados na situação de pré-urbanização da bacia e na situação posterior à ocupação, sem a utilização dos microrreservatórios nos lotes. Foram elaborados gráficos em forma de barras (figura 4), onde são comparadas as vazões na saída da bacia em função das diferentes vazões de controle na saída dos lotes. Pode-se verificar que mesmo utilizando os microrreservatórios dimensionados para controlarem a vazão de préurbanização na saída dos lotes, não é possível devolver à bacia as vazões de pico que ocorriam no estágio anterior à urbanização, visto que os microrreservatórios não conseguem controlar as vazões geradas nas ruas e calçadas. Ao controlar a vazão de pré-urbanização na saída dos lotes foi possível manter as vazões de pico na saída da bacia a níveis praticamente iguais aos que ocorreriam na situação em que a bacia teria somente ruas e passeios públicos impermeáveis. Os microrreservatórios dimensionados para controlarem até 3xQpré-urb foram capazes de promover praticamente a mesma redução na vazão de pico na saída da bacia, que os microrreservatório dimensionados para o controle da Qpré-urb, pelo menos para 5 anos de TR. Para este cenário, as vazões de pico obtidas com os microrreservatórios dimensionados para controlar 3xQpré-urb, com relação às vazões de pico obtidas com os microrreservatórios controlando Qpréurb, aumentaram em apenas 6 m 3 /s na saída da bacia; esse valor representaria cerca de 9% da vazão de pico que seria atingida na saída da bacia caso não houvessem o controle nos lotes. Para os microrreservatórios dimensionado para 3xQpré-urb, na situação em que utilizou-se uma chuva de projeto com 10 anos de TR, os acréscimos nas vazões de pico, com relação aos microrreservatórios dimensionados para Qpré-urb foram de aproximadamente 12 m 3 /s,

representando aproximadamente 16% da vazão de pico que seria atingida na bacia sem controle nos lotes. Vazão (m3/s) 90 80 70 60 50 40 TR 10 anos - bacia pré-urbanizada TR 10 anos - MR Qpré-urb TR 10 anos - MR 3,0xQpré-urb Tr 10 anos - sem MR TR 5 anos - bacia pré-urbanizada TR 5 anos - MR Qpré-urb TR 5 anos - MR 3,0xQpré-urb TR 5 anos - sem MR 30 20 10 0 0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 Tempo (minutos) Figura 3 Hidrograma na saída da bacia 80 Vazão saída bacia (m3/s) 70 60 50 40 30 20 TR 5 anos TR 10 anos 10 0 Permeável Ruas/calç.imp. Q pré-urb 2,0xQpré-urb 3,0xQpré-urb 5,0xQpré-urb sem MR Figura 4 Vazões na saída da bacia para diferentes vazões controladas nos lotes

Foram calculadas as eficiências na saída da bacia, obtidas com os microrreservatórios, de forma a trabalhar com um parâmetro adimensional, para facilitar as comparações. Na figura 5 é apresentada a eficiência obtida para as diferentes vazões de restrição na saída dos lotes. Eficiência (e') 1.00 0.90 0.80 0.70 0.60 0.50 0.40 0.30 0.20 0.10 0.00 MR para TR 5 MR para TR 10 Q pré-urb 2,0xQpré-urb 3,0xQpré-urb 5,0xQpré-urb Figura 4 Eficiência na saída da bacia para diferentes vazões de restrição na saída dos lotes Mesmo trabalhando com valores adimensionalizados, como é o caso da eficiência, a análise mostrou que os microrreservatórios dimensionados para 5 anos de TR tiveram um impacto ligeiramente superior no controle das vazões àqueles dimensionados para 10 anos de TR; e que a eficiência obtida para vazões de restrição na saída do lote até 3xQpré-urb podem está muito próxima à eficiência obtida com o controle de Qpré-urb. CONCLUSÕES Como análise global do sistema de drenagem, pode-se dizer que ao dimensionar os microrreservatórios para uma chuva com 5 anos de TR, e fixando a vazão de restrição em 2xQpréurb foram obtidos resultados muito próximos àqueles para o controle da vazão de pré-urbanização, e mesmo para o controle de 3xQpré-urb foi possível uma considerável redução das vazões na macrodrenagem. Ao fixar 3xQpré-urb na saída do lote, a perda de eficiência com relação à eficiência obtida para Qpré-urb foi de apenas 10%. A adoção de uma restrição maior representa um menor custo de implantação do microrreservatório, uma vez que é possível trabalhar com volumes menores. Além do aspecto econômico, os microrreservatórios dimensionados para esta vazão resultaram em estruturas operacionalmente mais eficientes, pois foi possível utilizar um descarregador de fundo com maior diâmetro. No entanto, ao assumir esses critérios deve-se ressaltar que para chuvas com tempos de retorno superiores a 5 anos os microrreservatórios extravasarão e sobrecarregarão a rede de microdrenagem, havendo a possibilidade da água escoar pelas ruas, e consequentemente trazendo transtornos à população ou provocando perdas materiais.

Cabe ressaltar que os resultados não refletem o fenômeno ocorrido em uma bacia real, mas sim em uma bacia hipotética utilizada para simplificar a avaliação. REFERÊNCIAS SCHAAKE, J. C., 1971. Modeling Urban Runoff as a Deterministic Process. Treatise Urban Water Systems. 343-401p. Colorado State University,.EUA. VILLANUEVA A. O. N., 1990. Modelo para Escoamento não Permanente em uma Rede de Condutos. Programa de Pós Graduação em Engenharia de Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental. 83f. Dissertação (Mestrado). Porto Alegre: UFRGS