Carolina Barros Godinho ANÁLISE DA DEVASTAÇÃO DA COBERTURA DO CERRADO GOIANO POR AGROPECUÁRIA



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Transcrição:

UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA ENGENHARIA AMBIENTAL Carolina Barros Godinho ANÁLISE DA DEVASTAÇÃO DA COBERTURA DO CERRADO GOIANO POR AGROPECUÁRIA Artigo apresentado como exigência parcial para a obtenção do título de Bacharel no curso de Graduação em Engenharia Ambiental da Universidade Católica de Goiás, disciplina: Projeto II sob orientação da Profª M.Sc. Rosângela Mendanha da Veiga. Goiânia Novembro de 2008

ANÁLISE DA DEVASTAÇÃO DA COBERTURA DO CERRADO GOIANO POR AGROPECUÁRIA 1 Carolina Barros Godinho 1 RESUMO Este trabalho foi realizado visando analisar a devastação da cobertura vegetal do Cerrado goiano, procurando evidenciar os principais fatores desta devastação. Para isso foram analisados dados de 1970 até os dias de hoje e mapas referentes aos anos de 2003 e 2004. Como resultado, pode-se destacar a visível perda da cobertura vegetal nativa do Cerrado e a perda quase irreversível de espécies animais e vegetais. Palavras-chave: Cerrado, Cobertura vegetal, Devastação. ABSTRACT: This work was carried out aiming to assess the devastation of the Cerrado goiano, seeking for evidences of its devastation. Due to it were analyzed data from 1970 until today and maps from 2003 to 2004. As a Result it can be observed the apparent loss of Cerrado s vegetal native coverage and animal and plant species. Key-words: Key- words: Cerrado goiano. Coverage plant. Devastation. 1 INTRODUÇÃO Estima-se, fazendo projeções a partir de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (IBAMA), do Radar na Amazônia / Brasil (RADAM / Brasil) e da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), que aproximadamente 60 % da área do Cerrado já perdeu sua cobertura primitiva, sua flora e fauna e encontra-se ocupada atualmente por diferentes paisagens antrópicas: pastagens plantadas (metade), culturas temporárias 1 Bacharelanda em Engenharia Ambiental pela Universidade Católica de Goiás.

2 (especialmente soja, milho e arroz), culturas perenes (especialmente eucalipto, pinheiro, manga e café), represamentos, áreas urbanas e áreas degradadas abandonadas (desmatamento, garimpos, áreas descampadas, pastos e roças abandonados, voçorocas, depósitos de lixo, etc). Os 37% de área com paisagem antrópica, basicamente ocupada por mono ou oligoculturas exóticas, significam que este mesmo percentual da biota nativa foi destruída. Ainda, os efeitos da poluição hídrica, os agrotóxicos, a erosão e o assoreamento, as plantas e os animais invasores e/ou predatórios e o extrativismo vegetal, também se fazem sentir nas áreas ainda cobertas de paisagem natural vizinhas. Várias espécies de plantas e animais nativos ainda sobrevivem nas áreas de paisagem antrópica, porém tendem a desaparecer por falta de preocupação com a sua preservação. As estratégias e políticas de desenvolvimento aliadas aos investimentos públicos em infra-estrutura, particularmente no período de rápido crescimento entre 1968 e 1980, tiveram consideráveis impactos sobre a expansão agrícola e a ocupação do Cerrado. Diante do exposto, este trabalho tem por objetivo analisar o impacto da devastação do Cerrado, pela agropecuária no Estado de Goiás. Para alcançá-lo foi feito um Estudo Exploratório, para selecionar a bibliografia relacionada à devastação da cobertura vegetal do Cerrado goiano. Para realizar a revisão bibliográfica foram utilizadas as fontes acadêmicas tradicionais (livros, relatórios, artigos, monografias, dissertações, teses e periódicos) e os documentos eletrônicos disponíveis na Internet. Através da revisão bibliográfica foi possível coletar dados e fazer o fichamento das leituras realizadas, para posterior análise do conjunto de informações levantadas. Foram analisadas, ainda, imagens de satélite obtidas através do Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento (LAPIG) da Universidade Federal de Goiás (UFG), a fim de verificar o grau de desmatamento e o uso do solo visível. 2 O PROCESSO DE OCUPAÇÃO DO CERRADO E A AGROPECUÁRIA Coutinho (1990) diz que o Cerrado ocupa aproximadamente 1,8 milhões de km², cerca de 25% do território nacional, e abriga uma grande diversidade biológica. Entretanto, segundo Duarte (1998), a ocupação dos Cerrados, ocorrida nos anos compreendidos entre as décadas de 70 e 90, transformou consideravelmente o perfil da região, além de acelerar a diminuição da biodiversidade. As transformações tecnológicas no setor

3 rural, como a mecanização, a pecuária extensiva e a cultura de exportação, geraram impactos ambientais significativos. Segundo Alho e Martins (1995, p. 12) o modelo de ocupação agropecuária nas terras do Cerrado caracterizou-se principalmente pelo aumento de produção obtido graças à incorporação de novas terras e não por meio de ganhos em produtividade. Consequentemente, extensas áreas da região foram desmatadas. A ocupação no Cerrado começa na década de 20, com plantações de café em São Paulo. Segundo artigo do jornal O Popular (GILVANE, 2008), antes de 1930 e a partir desta década, percebe-se que a movimentação econômica da região limitava-se à exploração de minérios e da agropecuária tradicional, destinada à subsistência da população local e a exportação para a região Sudeste do Brasil. Na década de 40, a ocupação do Cerrado avança rumo ao Centro-Oeste brasileiro, quando se observam fortes razões para o desenvolvimento de Goiás, principalmente, mecanismos impulsionados por ações governamentais, pois o Governo Federal tinha interesse em favorecer a interiorização para promover a integração de Goiás no comércio nacional de mercadorias. Alho e Martins (1995, p. 19) afirmam que o crédito agrícola subsidiado teve grande influência na expansão da agropecuária no Cerrado devido a dois aspectos: um direto, relativo às expectativas de rentabilidade dos agricultores com acesso ao crédito, e outro, indireto, relativo ao preço da terra. As tecnologias estavam dirigidas às necessidades dos médios e grandes produtores, que tiveram amplo acesso a crédito subsidiado e optaram pelo plantio de culturas de rentabilidade, particularmente a soja (ALHO; MARTINS, 1995, p. 20). A construção de rodovias também teve papel fundamental no processo de ocupação e abertura do Cerrado, uma vez que tornou a região acessível e estimulou a incorporação de suas terras à agropecuária (ALHO; MARTINS, 1995, p. 25). Pode-se dividir a economia e a produção da região Centro-Oeste e do Estado de Goiás em duas fases: antes e depois da década de 1970. Dados do Senso Agropecuário de 1996, feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2008), mostram a diminuição das matas nativas nas propriedades particulares rurais de Goiás. Em 1985, elas cobriam 9,47% da área total dessas terras, caindo para apenas 0,3% em 1996. Estudos da Agência Ambiental do Estado de Goiás apontam que esse processo está ligado à expansão da agricultura e pecuária no estado. Um estudo feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (1997) revela que as matas nativas do Estado de Goiás diminuíram de 10,78%, em 1985, para 0,30% entre 1995

4 e 1996. E ainda, que as áreas para lavoura temporária aumentaram de 29,06% para 60,03% e as pastagens naturais diminuíram, de 39,81% para 21,61% entre 1985 e no período de 1995 e 1996, respectivamente, conforme descrito no Gráfico 1. Outro dado: os estabelecimentos com 1.000 hectares e mais, 4,9% dos estabelecimentos, detinham 47,1% da área. Gráfico 1 Situação do Bioma Cerrado entre 1985 e 1995-96. As pastagens plantadas tiveram notável expansão entre 1970 e 1985, passando de 8,7 milhões a 31 milhões de hectares. Por sua vez, a densidade de bovinos da região mais que dobrou no período, passando de 10,7 milhões de cabeças / km² em 1970 para 24,5 cabeças / km² em 1985 (ALHO; MARTINS, 1995, p. 30), conforme está demonstrado Gráfico 2.. Gráfico 2 Situação da agropecuária entre 1970 e 1985.

5 O maior obstáculo para o estabelecimento de uma pecuária bovina sustentável no Cerrado é a degradação da pastagem, quase sempre associada à deficiência de nutrientes no solo. Segundo o Centro de Pesquisa Agropecuária do Cerrado (2008) a produção de grãos, no Cerrado, baseia-se principalmente nos monocultivos da soja e do milho, com baixos índices de rotação. O manejo inadequado resulta, ao longo dos anos, em perda das características físicas, químicas e biológicas do solo. Segundo Alho e Martins (1995, p. 26), em 1985, as principais lavouras do Cerrado, a soja, o milho, o feijão, o café e a mandioca, ocuparam, em conjunto, 6,3 milhões de hectares, ou 74,3% da área total em lavouras (permanentes e temporárias). O Sudeste, Centro e Sudoeste do Cerrado goiano caracterizam-se por possuir acesso favorável em relação aos mercados dinâmicos do país e infra-estrutura básica relativamente desenvolvida. Em 1985, essa área já estava praticamente ocupada e seus estabelecimentos agrícolas alterados por processos agropecuários. Junto com o Mato Grosso do Sul, sul de Mato Grosso, Distrito Federal, Triângulo Mineiro e oeste de Minas Gerais era o maior produtor de soja, milho, café e feijão do Cerrado e tinha importante participação na produção regional de arroz e de mandioca; ademais, concentrava parcela amplamente majoritária do rebanho bovino da região (ALHO; MARTINS, 1995, p. 24). O Cerrado, de forma geral, era visto como área de reduzidíssimo potencial agropecuário. Hoje, no entanto, vem se desenvolvendo uma agricultura comercial moderna e de alta produtividade. Essa evolução ocorreu, de um lado, em resposta ao crescimento da demanda por produtos agrícolas e, por outro, ao desenvolvimento tecnológico conjugado com políticas agrícolas gerais e de desenvolvimento regional; tais como: o crédito agrícola subsidiado, o Programa para o Desenvolvimento do Cerrado (POLOCENTRO) e a política de preços mínimos (ALHO; MARTINS, 1995, p. 18-21). A partir da utilização das ferramentas de monitoramento ambiental foi possível traçar um mapa do desmatamento no estado, demonstrando o percentual de devastação e delimitando os pontos onde ainda existe concentração de mata nativa. Os números são alarmantes: metade dos municípios goianos (132 de um total de 246) possui menos de 20% de cobertura nativa do Cerrado, percentual de devastação considerado crítico e a partir do qual torna-se quase impossível reverter o quadro de perda da diversidade de espécies animais e vegetais. Em Goiás, apenas seis municípios ainda possuem mais de 80% de suas áreas preservadas. Os dados são do SIAD e da Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (SEMARH), que utilizam imagens de satélite para visualizar as regiões mais devastadas (MOREIRA, 2006).

6 Através do SIAD e suas imagens georeferenciadas é possível saber o ponto exato de degradação, visto que o sistema permite acompanhar quase que em tempo real o processo de desmatamento nas propriedades (GODOI, 2008). Entre os mais preservados estão os municípios da região do Nordeste Goiano, como Teresina de Goiás, com 98,4% de área de vegetação nativa remanescente, Cavalcante com 95,9%, e Colina do Sul com 88,5% (MOREIRA, 2006). Atuações em conjunto do LAPIG, da organização não-governamental Conservação Internacional e do Departamento de Ecologia da Universidade de Brasília (UnB) vêm permitindo mapear o Cerrado nos 11 Estados onde ele existe. As conclusões mais recentes apontam que ainda restam 60,5% de cobertura vegetal nativa, índice que se reflete positivamente na qualidade ambiental, nos processos erosivos e de assoreamento (GILVANE, 2008). A atividade agropecuária continua sendo a grande vilã do meio ambiente em Goiás. Prova disso são os baixos índices de cobertura vegetal nativa em cidades como Rio Verde (9,02%) e Santa Helena de Goiás (1,7%), que se destacam na produção regional e até nacional de grãos. Ocorre, do mesmo modo, a transformação de áreas verdes em pastos para a criação de gado. A produção de carvão vegetal também é outra atividade que contribui para a degradação do Cerrado. Neste caso, as irregularidades cometidas não atingem somente o aspecto ambiental, mas também questões trabalhistas e de saúde pública (MOREIRA, 2006). Godoi (2008) explica que manejos de terra ainda bastante arcaicos geram uma baixa produção. Por conseqüência, a propriedade se esgota rapidamente e exige que o produtor explore outras áreas. Godoi (2008) cita levantamento da EMBRAPA que mostra que 70% das pastagens brasileiras estão subutilizadas e afirma: indicadores nos mostram que se tivéssemos pastagens devidamente manejadas em Goiás, poderíamos quase dobrar nosso rebanho bovino sem nova área. Um trabalho em curso nas propriedades rurais do estado é a tentativa de aumentar a produtividade por área. Há também um outro fator que pode ser destacado: é o fato de que alguns municípios goianos, que tinham o Cerrado como uma preciosidade natural estão virando deserto, uma realidade que parecia ser impossível aos olhos daqueles que habitavam a região antes que a mesma fosse invadida pelos desmatadores. Duarte citado por Costa (2006, p.3) comenta que é triste ver o Cerrado goiano se transformar em deserto, por conseqüência do desmatamento, para fins de manejo de solo com culturas consideradas intrusas, as quais só contribuem para a aceleração do processo de desertificação do Cerrado. Os moradores de Serranópolis, ao invés de se depararem com o segundo maior bioma da América do Sul e o primeiro em diversidade no mundo, encontram quilômetros de

7 areia [...]. Serranópolis é apenas um exemplo do que está acontecendo em várias partes do Estado, principalmente nas regiões Nordeste, Sudoeste e Sudeste de Goiás, nos municípios de Posse, São Domingos, Alvorada, Rio Verde, Jataí, Chapadão do Céu, Acreúna, Catalão e Pires do Rio (DUARTE, 1997, p. 43). São processos comuns a erosão dos solos e a contaminação de aqüíferos. Além disso, a prática da agropecuária implica, forçosamente, em redução da biodiversidade em benefício de plantas e animais selecionados pelo seu valor alimentar e por outros aspectos. Desse modo, o equilíbrio desse novo ecossistema artificializado pela ação humana não poderá mais ser obtido naturalmente. Ele dependerá da ação contínua dos seres humanos. De acordo com Capra (1999), a influência da indústria petroquímica sobre a agricultura e a lavoura é semelhante à influência da indústria farmacêutica sobre a prática médica. Os agricultores, tal como os médicos, lidam com os organismos vivos (as plantas, os insetos, o solo etc). Assim como a indústria farmacêutica condicionou médicos e pacientes para acreditarem que o corpo humano necessita de contínua supervisão médica e de tratamento medicamentoso a fim de permanecer saudável, também a indústria petroquímica levou os agricultores a acreditarem que o solo e as culturas necessitam de infusões maciças de agentes químicos, supervisionadas por agrônomos e técnicos agrícolas, para se manterem produtivos. Embora esses pacotes tecnológicos tenham propiciado resultados positivos em relação à produção e à produtividade a curto e médios prazos, deve-se questionar os seus impactos distributivos e ambientais. Através das fontes pesquisadas percebeu-se que a situação atual da vegetação nativa do Cerrado é preocupante. Grande parte desse bioma foi ocupada por pastagens cultivadas e por práticas agrícolas, conforme mostra o Quadro 01. Quadro 01: Panorama do Uso e ocupação do solo do Cerrado em Goiás-2008. Ocupação com pastagens 39,1% Ocupação com agricultura 15,22% Remanescentes de vegetação nativa (incluído campos naturais para pastagens) 37% Taxa de desmatamento 0,21% a 0,86% por ano Área do bioma desmatada no estado de Goiás 22% Estimativa do desmatamento nos próximos anos 58 mil Km² Fonte: Laboratório de Processamento de Imagens (LAPIG) da Universidade Federal de Goiás (UFG), Conservação Internacional e Ministério do Meio Ambiente.

8 Até as remanescentes de vegetação nativa do Cerrado não estão totalmente fora deste contexto de vegetação usada para agropecuária, pois, os campos naturais também são usados como pastagens, como foi mostrado no Quadro 01. As previsões para os próximos anos são alarmantes: 58 mil Km² do Cerrado podem ser desmatados, se nada for feito para impedir. Segue um mapa (Figura 01) referente às áreas desmatadas com mais de 5 Km², no Estado de Goiás, no período de 2003 a 2004. As texturas ressaltam o conjunto de municípios responsáveis por 75% de todo o desmatamento no período (pontilhado) e a área abrangida pelo corredor ecológico Paranã-Pirineus (hachurado). No mapa da Figura 02, o período foi de 2004 a 2005, em municípios goianos com incremento agrícola superior a 5 Km². A textura (pontilhado) ressalta o conjunto de municípios responsáveis por 82% de todo incremento ocorrido no período. Figura 01 Municípios com área desmatada, entre 2003 e 2004, superior a 5 km 2. Figura 02 Municípios com incremento agrícola entre 2004 e 2005, superior a 5 km 2. Fonte: Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento (LAPIG) da Universidade Federal de Goiás (UFG). Comparando as figuras 01 e 02, observa-se que os desmatamentos detectados no período de 2003 a 2004 e os incrementos agrícolas ocorridos entre 2004 e 2005 concentramse nas microrregiões Sudoeste de Goiás (municípios de Rio Verde, Jataí e Mineiros) e entorno de Brasília (municípios de Cristalina e Luziânia).

9 A Figura 03 ilustra o incremento agrícola no Estado de Goiás nos anos de 2003 e 2004. A textura (pontilhado) ressalta o conjunto de municípios responsáveis por 75% de todo incremento ocorrido no período. Figura 03 Municípios com incremento agrícola, entre 2003 e 2004, superior a 5 km 2. Fonte: Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento (LAPIG) da Universidade Federal de Goiás (UFG). Nos desmatamentos mapeados no período de 2003 e 2004 na Figura 01 observam-se dois padrões principais de distribuição espacial, correspondentes às regiões Sudoeste e Nordeste (na qual se destaca o corredor ecológico Paranã-Pirineus), enquanto que na região Sudoeste, mais precisamente na microrregião Sudoeste de Goiás, estes desmatamentos estão em municípios com atividades agrícolas consolidadas (Exemplo: Rio Verde); no Nordeste Goiano, microrregiões Porangatu, Chapada dos Veadeiros e Vão do Paraná, os desmatamentos ocorrem em áreas com predomínio de pastagens e grande ocorrência de carvoarias. Conforme os resultados demonstrados e envolve, principalmente, áreas totais de até 5 Km² os dados de desmatamentos são preferencialmente correlacionados aos incrementos agrícolas observados entre 2003 e 2004. Há claros indícios de que a expansão agrícola entre 2004 e 2005 também ocorre sobre as áreas desmatadas no período anterior (2003 e 2004),

10 principalmente para os municípios onde a agricultura é a atividade econômica predominante e/ou cuja ocupação das terras é mais intensa. Apesar do Cerrado do território goiano ser bastante vasto, têm-se focos de destruição da cobertura vegetal para uso como pastagem e plantação. As questões financeiras geram todo este contexto, as plantações de cana-de-açúcar crescem a todo vapor para servirem de combustível para as novas usinas. A Figura 04 mostra claramente como a agricultura e as pastagens estão tomando conta de todo o Estado de Goiás. A ocupação antrópica está muito intensa. Dados do projeto Identificação de Áreas Prioritárias para a Conservação da Biodiversidade no Estado de Goiás (PDIAP) (SANO et al., 2006) indicam uma conversão da cobertura vegetal nativa da ordem de 65%. Se não houver políticas eficientes de gestão territorial e ambiental, nos próximos anos, um número significativo do Cerrado corre o risco de ser convertido. Figura 04 Localização e distribuição das classes de cobertura e uso da terra para o bioma Cerrado e Estado de Goiás, conforme os levantamentos realizados no âmbito das iniciativas PROBIO e PDIAP, respectivamente. Fonte: Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento (LAPIG) da Universidade Federal de Goiás (UFG).

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS 11 As mudanças que ocorreram na cobertura vegetal do Estado de Goiás são muito grandes, seja no período interanual ou intra-anual. Com a expansão das atividades agrícolas, da urbanização e do crescimento econômico, Goiás registra alterações profundas em sua cobertura vegetal nos últimos 30 anos. Isso se deve, em grande medida, às tecnologias e variedades de culturas desenvolvidas pela EMBRAPA e pela Empresa Goiana de Pesquisa Agropecuária (EMGOPA) para a região do Cerrado, que acabaram por promover uma acelerada substituição da cobertura vegetal natural por cultivos comerciais, em particular de milho e soja. Dentro do campo de cultura, o modo de produção conhecido mais eficaz, seria a rotação de culturas. Com essa prática, é possível ampliar, significativamente, a biodiversidade, alternando o cultivo de diversas espécies no mesmo espaço. Seu efeito benéfico é reconhecido há milênios, e a explicação científica para o fenômeno é, precisamente, o efeito preventivo de desequilíbrios, proporcionado pela biodiversidade, o que contribui para evitar o praguejamento. Desse modo, o uso de controladores químicos ou biológicos pode deixar de ser sistemático e contínuo. No entorno da agricultura, a recomendação é direcionada para o aumento da biodiversidade por meio de espaços reservados para remanescentes da flora e fauna nativas, como, aliás, está previsto no código florestal brasileiro. O conhecimento básico para a distribuição e articulação desses espaços está disponível, não apresentando nenhuma dificuldade. Ao longo prazo, os efeitos dessas práticas sobre a sustentabilidade e a produtividade dos ecossistemas agropecuários seriam claramente visíveis. O problema reside no fato de que, a curto prazo, a difusão dessas práticas agrícolas representa um custo, e a sociedade não pode exigir que este custo recaia inteiramente sobre os agricultores. É preciso, portanto, criar condições de consciência ecológica, de apoio técnico-científico e de financiamento que possam viabilizar a transição para uma verdadeira agricultura ecológica: a única capaz de atender às necessidades humanas de alimentos em quantidade e qualidade. Assim, sugere-se que haja promoção de projetos para a produção de sementes e mudas de espécies nativas, que sirvam de suporte a um programa de repovoamento de áreas degradadas. Programas de educação e sensibilização ambiental deverão ser perseguidos, principalmente junto àquelas comunidades vizinhas das áreas de preservação.

12 Sugere-se a criação de áreas de preservação permanente, principalmente nas áreas de baixa capacidade de uso, que deverão ser monitoradas por imagens de satélite, com pesquisa de campo e laudo de profissionais especializados. Há ações simples que os governantes e a sociedade civil devem exigir das agroindústrias, tais como: o respeito à legislação ambiental, ao principio da precaução no uso de defensivos e recursos hídricos, ao monitoramento e à comunicação de níveis de contaminação de córregos e rios. Há também ações corretivas e de recuperação de atividades degradantes que devem ser implementadas em parceria entre governos e empresas, a saber: a criação de unidades de conservação municipal, o reflorestamento e revitalização de nascentes e matas ciliares, a criação de brigadas florestais e centros de triagens e a implantação de um sistema verdadeiro de monitoramento ambiental, capaz de mensurar os avanços e fracassos das empreitadas. Usinas e pecuaristas devem ser notificados pelo Ministério Público e acordos de conduta devem ser formalizados visando não apenas a prevenção, mas a recuperação de áreas, principalmente nascentes e matas ciliares. Em contrapartida, o governo pode criar mecanismos de premiar estas iniciativas e reduzir e/ou restituir multas e sanções, dentro do âmbito legal. As usinas por sua vez precisam compreender a sustentabilidade como parte dos negócios, sobretudo com as perspectivas de exportação do álcool e açúcar, que encontram barreiras de todas as naturezas no mercado internacional. As certificações ambientais (ISO 14.000) e de responsabilidade social (IS0 26.000, ABNT 16001 e SA 8000) são cada dia mais exigidas e determinantes para os negócios. Ações simples podem evitar um futuro ainda mais crítico para esse bioma tão rico que é o Cerrado, este trabalho, despretensiosamente, deixa um alerta para toda a população e principalmente para os agropecuaristas, pois um dia o mesmo pode se esgotar.

4 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 13 ALHO, C.J.R.; MARTINS, E.S. De grão em grão o cerrado perde espaço, Cerrado impactos no processo de ocupação. WWF/PRO-CER (Documento para Discussão) Base de Dados Tropicais - BDT, 1995. CAPRA, Fritjof. O ponto de mutação. A ciência e a sociedade e a cultura emergente. TRD. Álvaro Cabral. São Paulo: Cultrise, 1999. p. 447. CENTRO DE PESQUISA AGROPECUÁRIA DO CERRADO. Embrapa Cerrados: Conhecimento, Tecnologia e Compromisso Ambiental. Disponível em: <http://www.cpac.embrapa.br>. Acesso em 11 de novembro de 2008. COUTINHO, L. M. Fire in the ecology of the Brazilian Cerrado. In: J.G.Goldammer. Fire in the tropical biota: ecosystem process global challenges. Berlim: Springer - Verlag, 1990. Cap. 6, p. 82-103. DUARTE, Laura Maria Goulart; BRAGA, Maria Lúcia de Santana [org]. Tristes cerrados: sociedade e biodiversidade: Brasília: Paralelo 15, 1998. p. 300. GILVANE, Silva. Desmatamento aumenta no Cerrado, O Popular, 22 de Junho de 2008. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Censo Agropecuário de 1995-1996. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/agropecuaria/censoagro/1995_1996/default.shtm> Acesso em: 31 de outubro de 2008. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (1997),www.ibge.gov.br acessado em 20 de outubro de 2008.

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