A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL



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Transcrição:

A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL Autora: Gleyce Kelly de Souza e co-autora: Taciene Kelly Lino de Souza Universidade Federal de Pernambuco-UFPE. gleyce_kelly29-09@hotmail.com e taci_kel3@hotmail.com RESUMO: Este artigo aborda a importância do brincar na educação infantil. Reflete sobre o surgimento da educação infantil em seu contexto histórico, as transformações da concepção de infância, bem como o brincar na construção da identidade das crianças na educação infantil. Nesta perspectiva, faremos um levantamento bibliográfico sobre a modalidade de educação infantil, do conceito de criança e da importância do ato de brincar atrelada a análise documental e de leis que regem o ensino infantil. Os resultados apontam para o desafio dos docentes em promover um espaço que favoreça o desenvolvimento infantil pleno, em contrapartida com a infraestrutura e a gestão atual. Palavras- chave: Brincar, Educação infantil, Infância. ABSTRACT: His article discusses the importance of play in early childhood education. Reflects on the emergence of early childhood education in its historical context, the transformations of the concept of childhood as well as play in the construction of identity of children in early childhood education. In this perspective, we review the literature on the mode of early childhood education, the concept of childhood and the importance of the act of playing the linked document analysis and laws governing children's education. The results point to the challenge of teachers in promoting an environment that fosters the full child development, in contrast with the current infrastructure and management. Keywords: Play. Early childhood education. Childhood

1. INTRODUÇÃO 2. O SURGIMENTO DA EDUCAÇÃO INFANTIL Falar da creche ou da educação infantil é muito mais do que falar de uma instituição, de suas qualidades e defeitos, da sua necessidade social ou da sua importância educacional. É falar da criança. De um ser humano, pequenino, mas exuberante de vida. (DIDONET, 2001). No princípio os cuidados da criança sempre estiveram sob a responsabilidade de seus pais e familiares, onde cabia dos mesmos, o dever de tornar essas crianças partes do sistema de tradição e ensinar-lhes regras e normas para sua vivência, além de acreditar que era através do convívio com adultos que as crianças se desenvolviam. Com os inúmeros avanços surgidos no Brasil, como a imigração para a cidade e a inserção das mulheres no campo de trabalho, surgiu a necessidade de organizar uma instituição onde pudessem deixar seus filhos protegidos. Foi daí, então que criou as creches, os asilos e orfanatos. Mas, essas creches não só surgiram para cuidar e educar as crianças, cujo seus pais estavam inseridos no mercado de trabalho, um dos elementos bastante forte para a sua criação foi à necessidade de acolher crianças órfãs de pais, seja por motivo de morte ou abandono. Neste último caso, essas crianças abandonadas estavam muitas vezes por serem filhos de mulheres solteiras, que, para evitar o olhar de vergonha da sociedade optaram por abandonar seus filhos financiando a vaga nesta instituição. Outro fator para a sua existência se deu também para criar uma solução para os problemas de alguns homens, ou seja, retirando dele a responsabilidade de paternidade fazendo dessas instituições apenas um caráter assistencialista. No final do século XIX e início do século XX, alguns setores da sociedade defenderam que era possível não só atender às mães trabalhadoras que não tinham onde e com quem deixar seus filhos, mas também a implantação dos jardins de infância, por trazer vantagens para o desenvolvimento infantil. Devido ao processo de implantação da industrialização, a inserção de mão de obra feminina na indústria que, aliás, era enorme, e a chegada dos imigrantes

Europeus ao Brasil. O movimento operário tornou-se mais forte, onde fizeram com que eles começassem a se organizar e reivindicar melhores condições de trabalho. Os donos das fábricas, por seu lado, procurando diminuir a força dos movimentos operários, foram concedendo certos benefícios sociais e propondo novas formas de disciplinar seus trabalhadores. Eles buscavam o controle do comportamento dos operários, dentro e fora da fábrica. Para tanto, vão sendo criadas vilas operárias, clubes esportivos e também creches e escolas maternais para os filhos dos operários. O fato dos filhos das operárias estarem sendo atendidos em creches, escolas maternais e jardins de infância, montadas pelas fábricas, passou a ser reconhecido por alguns empresários como vantajoso, pois mais satisfeitas, as mães operárias produziam melhor. (OLIVEIRA, 1992, p. 18). Com o passar dos tempos, essas instituições ficaram sendo cada vez mais visada pelos trabalhadores, passando a ser reivindicada como direito de toda e qualquer mulher trabalhadora. Foi aí que surgiram outras instituições, mas dessa vez, privadas onde cada criança ficava em seu quadrado. As instituições públicas atendiam às crianças das camadas mais pobres com o intuito de cuidar, que partiam de uma ideia de carência e as instituições particulares, de cunho pedagógico, além dos cuidados davam importância à socialização e ao preparo para o ensino regular, educação, criatividade e desenvolvimento infantil. 3. CONCEITO DE INFÂNCIA O conceito de infância é uma criação humana e que teve alterações em sua definição, ao longo da história. As crianças só eram reconhecidas quando começavam a fazer as mesmas tarefas dos adultos, expressando assim alguma identidade, enquanto os adultos não possuíam preparação prévia para lidar com elas. Dentro disto as crianças eram vistas como adultos imperfeitos. (CALDEIRA, pág. 4). O conceito de infância como conhecemos hoje é uma definição construída recentemente. Antes do século XVI, a criança não era reconhecida como sujeito de direito no seu lugar dentro da história, na sociedade e dentro da sua própria família. Só na Idade Moderno, no séc. XVII, surgindo o sentimento de família, sendo este inseparável do sentimento de infância. (TRAMER, pág. 18).

A questão da infância hoje em dia é muito contraditória, pois teoricamente é dito que todas as crianças são iguais, criando um ideal de infância abstrato, que na prática só funciona para as crianças burguesas, e as outras crianças são marginalizadas, mal vistas. Então esse conceito de criança atual vai depender da classe social em que a criança se encontra. Com isso podemos afirmar que o conceito de infância surge com a Revolução Industrial e a sociedade capitalista. Segundo Tramer, contextualiza o surgimento da infância com o capitalismo, após a Revolução Industrial, a criança começa ser vista como um ser singular, que precisa ser reconhecida em sua particularidade e impõe-lhes papéis que antes não existia. Analisando os estudos pedagógicos, Tramer aponta duas concepções de infância, através da pedagogia tradicional e da pedagogia moderna, conhecida também como pedagogia nova. Na pedagogia tradicional a criança é vista como corrompida e pela educação ela vai ser disciplinada, enquanto que na pedagogia nova, a criança é pura e a educação vai só preservar a natureza inocente da criança. O conceito de criança criado atualmente precisou ter passado por muitas conquistas, através dos movimentos sociais e políticas públicas voltadas para a infância e a educação infantil e nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, a criança é definida como: Sujeito histórico e de direitos que, nas interações, relações e práticas cotidianas que vivencia, constrói sua identidade pessoal e coletiva, brinca, imagina, fantasia, deseja, aprende, observa, experimenta, narra e constrói sentidos sobre a natureza e a sociedade, produzindo cultura. 4. O BRINCAR E A EDUCAÇÃO INFANTIL Quando analisamos a trajetória da importância do brincar num contexto histórico e cultural vemos as diversas influências teóricas e metodológicas ao longo do tempo, entre alguns educadores que abordaram este tema podemos citar o educador alemão Friedrich Froebel (1782-1852) como sendo um dos precursores a considerar a

brincadeira como um recurso no caminho para a aprendizagem. De acordo com Vygotsky: (1896-1934) era no jogo e no brinquedo que a criança aprendia a agir no cognitivamente. Antigamente a educação da criança era voltada exclusivamente para os cuidados higiênicos e alimentícios, pois o surgimento das creches e pré-escolas estava atrelado a incorporação das mulheres à força de trabalho assalariado, na organização das famílias, num novo papel da mulher [...] (BUJES, KAERCHER, 2001), entretanto, atualmente podemos considerar que a educação da criança perpassa por um direito instituído ao ato de brincar como sendo uma ação inerente à sua essência infantil, de modo a favorecer situações imaginárias, comunicar-se e compreender o mundo ao seu redor. De modo que o brincar ou a brincadeira, considerados com o mesmo significado neste artigo, é uma atividade essencial para o desenvolvimento da criança, haja vista, ser iniciada e conduzida pela criança com a finalidade de tomar decisões, expressar sentimentos e valores, conhecer a si mesma, as outras pessoas e o mundo em que vive. (BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS DE CHECHE, 2012, p. 11). Portanto o brincar precisa ser visto como um direito de todas as crianças porque é vital para o seu desenvolvimento e bem estar, e quando este direito é aplicado de forma integral, isto é, utilizando todos os sentidos, habilidades físicas, capacidade mental, habilidades sociais e emocionais, atende às crianças de todas as idades e temperamentos. O brincar infantil ainda é visto de modo restrito, devido à concepção de que o brincar depende unicamente do sujeito brincante, que não demanda de planejamento, de registro, da intencionalidade do educador, ou seja, de práticas pedagógicas mediadoras, bem como de um ambiente propenso ao desenvolvimento infantil. Tal equívoco corresponde ao fato de que a criança precisa de orientação mediadora a fim de aprender determinadas brincadeiras e suas regras, após esta orientação, a criança será capaz de imitar e recriar seu brincar acrescentando suas experiências e perspectivas brincantes. De fato a afirmação supracitada está em consonância com os objetivos da proposta pedagógica das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (2010) onde a mesma ressalta a importância de garantir a criança acesso a [...] brincadeira, à

convivência e à interação com outras crianças (p.18). Portanto ao brincar, o desenvolvimento infantil pode alcançar níveis mais complexos por causa das possibilidades de interação entre os pares numa situação imaginária, pela negociação de regras de convivência e de conteúdos temáticos (WAJSKOP, 1995, p.67). 5. METODOLOGIA Referente ao tipo de pesquisa, o estudo caracteriza-se pela forma qualitativa visto que foi realizado por meio da análise de uma ação humana e social (o brincar). Os resultados obtidos foram expressos em forma da transcrição de entrevistas e documentos oficiais, por meio do processo indutivo. Acerca dos objetivos da pesquisa, consideramos que se trata de uma pesquisa exploratória, pois o foco do estudo é investigar a relevância do brincar na educação infantil sob o olhar docente. Além disso, saber como os professores estão implementando o brincar em sua rotina escolar. Sendo quatro escolas municipais da cidade do Recife o foco de nossa pesquisa, onde foram distribuídos questionários a cinco professoras da educação infantil, buscando fomentar questões como: O que você entende por educação infantil? O que é infância? Qual a importância do brincar na educação infantil? Os questionários foram constituídos por perguntas abertas, para que as entrevistadas pudessem explicar amplamente seus pontos de vistas, acerca do tema analisado. A partir da consideração e da análise dos questionários aplicados, buscamos estudar com afinco os aspectos dos objetivos da pesquisa a fim de perceber a importância do brincar na educação infantil. 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS O estudo mostrou que, na visão dos professores, a educação infantil constitui-se a fase inicial da educação infantil, sendo legalizada e obrigatória devido a fatores como:

uma forma de garantir os direitos básicos da criança, já que o Estado não consegue atuar na esfera privada da família e devido ao crescimento da mão de obra feminina, as mulheres necessitam de um local seguro a fim de deixar os filhos durante o expediente de trabalho. Além de considerar a infância como a fase inicial para o desenvolvimento humano saudável. Nesta pesquisa analisamos, mediante as respostas obtidas, a rotina dos profissionais, onde foi possível observar que a mesma é marcada pelo acolhimento, por rodas de conversas e pelo brincar livre com uma função pedagógica e social, tendo na interação das crianças, dentro e fora da sala de aula, os objetivos prioritários, a saber: a construção da autonomia e o desenvolvimento de habilidades que estimulem a imaginação. Deste modo, o brincar é visto primeiramente como uma forma natural, ou seja, da natureza infantil, como uma forma de se relacionar com o meio, com o outro e consigo, favorecendo sensações e emoções fundamentais para o desenvolvimento infantil. Também foi possível analisar que os docentes acreditam que cabe aos professores (as) a função de organizar os espaços de modo a possibilitar diversas formas do brincar infantil, ou seja, o brincar livre com brincadeiras de movimento, isto é, corda, bola, colchões, etc, ou o brincar de faz de conta, casinha, cabana, bonecas, etc. É fundamental que o professor seja sensível à infância, que queira preservar e valorizar o impulso de vida que há em toda criança, tendo para com ele cuidado e não atitudes de sufocamento. Entretanto foi observado o desafio existente em adaptar o espaço físico com as necessidades físicas, pedagógicas e emocionais das crianças, haja vista ser um objetivo primordial da proposta na educação infantil, o desenvolvimento integral das mesmas. Notamos a necessidade de atrelar o discurso que favorece o brincar livre e imaginativo com a prática docente, incluindo suas limitações estruturais e em sua gestão atual.

7. REFERÊNCIAS BUJES, Maria Isabel E. Escola infantil: Pra que te quero? In: CRAIDY, Carmem; KAERCHER, Gládis E. Educação infantil: pra que te quero? Porto Alegre: Artmed, 2001, p.15. Brasil. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Diretrizes Curriculares Nacionais Para a Educação Básica. - Brasília, 2010 Básica. Secretaria de Educação. Brasília: MEC, SEB, 2010. Educação. Ministério da- Brinquedos e Brincadeiras de Creche- Manual de Orientação Pedagógica. Brasília, 2012. WAJSKOP, Gisela. O brincar na educação infantil. Caderno de Pesquisa, São Paulo, n.92, p.62-69, Fev.1995. DIDONET, Vital. Creche: a que veio, para onde vai. In: Educação Infantil: a creche, um bom começo. Em Aberto/Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais. v 18, n. 73. Brasília, 2001. p.11-28. OLIVEIRA, Zilma Moraes R. Creches: Crianças, faz de conta & Cia. Petrópolis, RJ: Vozes, 1992.