Trabalho apresentado no III Congresso Ibero-americano de Psicogerontologia, sendo de total responsabilidade de seu(s) autor(es).



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Transcrição:

PSICOLOGIA E POLÍTICAS PÚBLICAS DE GARANTIA DOS DIREITOS DO IDOSO: CONTRIBUIÇÕES METODOLÓGICAS Marluce Auxiliadora Borges Glaus Leão Universidade de Taubaté Taubaté, São Paulo, Brasil O paradigma contemporâneo de trabalho com idosos defende o envelhecimento com desenvolvimento e exige esforço de compreensão e intervenção interdisciplinar e multiprofissional. Neste trabalho, iniciado em 2001, as contribuições da Psicologia exemplificam seu compromisso social com as políticas em prol dos direitos da população idosa, em termos de autonomia, participação, cuidados, auto-realização e dignidade. Um Programa de Atenção Integral ao Envelhecimento, no âmbito da extensão universitária, estabeleceu como objetivo fortalecer a organização sóciopolítica e de cidadania de uma comunidade, para a criação de um Conselho Municipal de Idosos. Utilizou a metodologia do grupo focal junto aos coordenadores dos grupos de terceira idade e representantes de entidades locais, para diagnosticar os conflitos, fragilidades e potencialidades dessa rede social. Como estratégia de trabalho, realizou três fóruns para discussão do Estatuto do Idoso e trocas de experiências com membros de conselhos municipais de cidades vizinhas; criou espaços de convivência entre os grupos e de participação nas plenárias do poder legislativo; ampliou a interlocução entre as entidades; pesquisou o perfil de idosos de um projeto público e, desde 2003, coordena o encontro municipal de idosos da cidade. O maior protagonismo social dessa população resultou em amplo debate sobre o projeto de criação do conselho, que obteve aprovação em 2005, embora tenha sido homologado dois anos depois. PALAVRAS CHAVES: PSICOLOGIA, POLÍTICAS PÚBLICAS, IDOSOS 1. INTRODUÇÃO Questões emergentes como a luta pela defesa e garantia dos direitos do idoso brasileiro, especialmente suas múltiplas carências, representam um desafio para o conjunto das ciências e para a saúde pública. Requer modos de gestão e de construção de políticas públicas que, para além da assistência médico-curativa, considerem a saúde como produção social, e a autonomia dos indivíduos como fator essencial de

proteção e garantia dos determinantes desta saúde, conforme recomendações da OMS - Organização Mundial de Saúde (WHO,1984). Estes pressupostos são consoantes à perspectiva mais recente da Psicologia, enquanto ciência e profissão, assumindo um papel mais efetivo nas políticas públicas, especialmente em áreas pouco instituídas, como a do envelhecimento, contribuindo com reflexões e desenvolvimento de propostas sociais e de cidadania presididas pelo CFP - Conselho Federal de Psicologia (2008) e diretrizes da ABEP - Associação Brasileira de Ensino de Psicologia (2004). Este projeto, desenvolvido por uma docente da área de Psicologia, teve como principal desafio mobilizar a população para discussão das políticas públicas em âmbito local e fortalecer a autonomia da rede social. Para caracterizar-se uma ação de promoção de saúde, considerou alguns princípios citados pela OMS: intersetorialidade, participação social e ações multi-estratégicas (WHO, 1998). 2. OBJETIVO GERAL Fortalecer a organização sócio-política e de cidadania de uma comunidade, para a criação de um Conselho Municipal de Idosos. 3. ESTRATÉGIAS METODOLÓGICAS Inicialmente foi utilizada a técnica do grupo focal (MORGAN, 1997) junto a 25 convidados; 13 ficaram como observadores e 12 como representantes potenciais de entidades que lidam com idosos (área da saúde, educação, sociocultural, assistência e direitos) e coordenadores dos grupos de 3ª. idade locais, que debateram por 50 minutos as principais questões enfrentadas no trabalho com idosos e formas de encaminhamento. Foi feita uma pesquisa sobre o perfil de idosos de um grupo local; o redimensionamento de uma ação pedagógica da Universidade destinada à 3ª. idade; fóruns para discussão do Estatuto do Idoso e seminários sobre desenvolvimento político e de cidadania; uma capacitação de coordenadores de grupos de 3ª. idade; participação nas plenárias da Câmara Municipal; três encontros municipais de idosos, congregando várias entidades; participação no projeto de criação do conselho municipal de idosos. 4. RESULTADOS

A discussão no grupo focal gerou um diagnóstico sobre a realidade do trabalho com idosos na cidade, as dificuldades e precariedades de toda ordem, o desconhecimento dos trabalhos desenvolvidos entre as instituições e dos recursos locais disponíveis, a crença de que uma vez participante de um grupo, o idoso não podia freqüentar outros, a falta de um espaço social que conjugasse interesses de todos e o desconhecimento de mecanismos legais e públicos de proteção e ou garantia dos seus direitos. Surgiu do grupo o interesse em fazer um evento conjunto para ampliação deste debate com a comunidade, ficando esta moderadora responsável por sua organização, em parceria com as entidades presentes. Em 2001, um curso destinado à 3ª. idade foi redimensionado, passando a integrar as ações do Programa de Atenção Integral ao Envelhecimento, com abrangência para ações de gerontologia educacional e educação gerontológica. A falta de informações oficiais sobre a população idosa da cidade determinou, em 2001, a realização de uma pesquisa de levantamento sobre o perfil de idosos de um projeto público de 3ª. idade. De um universo de 850 participantes, foram abordados 530 deles, e os resultados confirmaram resultados de pesquisa com idosos no Brasil; o retrato de um segmento socialmente excluído. Em novembro de 2002, foi feito o 1º. Fórum universitário sobre o idoso: responsabilidade de todos, conclamando a comunidade acadêmica e civil para a emergência e desdobramentos desta questão. Simultaneamente, docentes da de outra área na universidade produziram dados sobre a realidade local de idosos institucionalizados e um guia de recursos existentes para idosos na cidade. Foi realizada uma capacitação para 70 coordenadores de grupos de 3ª. idade, com carga horária de 42h, abordando informações científicas sobre o idoso, a velhice e o envelhecimento, e habilidades humanas para lidar com grupos. Em 2003, ocorreu o 2º. Fórum de desenvolvimento político e de cidadania do idoso, enfatizando o recém criado Estatuto do Idoso. Realizou-se, ainda, o 1º. Encontro Municipal de Idosos, coordenado por este programa de extensão, com a parceria de cinco entidades locais representativas do idoso (SESC, SESI, Sindicato de Aposentados e Prefeitura Municipal), construindo uma agenda coletiva de comemorações de naturezas diversas e atualmente em sua quarta edição.

Para uma ampla divulgação do Estatuto do Idoso, o programa constituiu grupos locais de estudo e discussão, com apoio de docentes do Serviço Social e Direito que resultaram em dois seminários, participando membros de conselhos municipais de idosos de cidades vizinhas, para compartilhamento das trajetórias de lutas para a criação desta entidade, pela própria categoria etária. A partir de 2004, além da Universidade, outras entidades locais promoveram diversos espaços para informação, discussão e organização social dos idosos visando à criação do Conselho do Idoso. Uma comissão com representantes de entidades que trabalham com idosos foi incumbida de escrever o projeto deste conselho, projeto este protocolado junto ao Poder Executivo 15 de setembro de 2004. A estimulação para participação dos idosos nas plenárias da Câmara dos Vereadores, inclusive no debate do orçamento municipal, foi essencial para envolvimento dessa população nas questões de seu interesse. Em fevereiro de 2005, após a aprovação da Câmara Municipal, o representante do Poder Executivo sancionou e promulgou a criação do Conselho Municipal de Idosos da cidade, mas sua homologação ocorreu dois anos depois. 5. DISCUSSÃO Este trabalho demonstra como os saberes interdisciplinares são necessários para compreender e intervir nos desafios de uma vida hoje que exige mais participação, mas também exclui. Diante destas contradições, o idoso não se reconhece enquanto sujeito de direitos e de potencialidades; a família e a sociedade, desconhecem como operar as transformações; e o Estado não se dá conta de sua ineficiência endógena para conciliar os desafios e impactos dessas transformações para a seguridade, previdência e assistência social, entre outras políticas públicas. É nesta triangulação de questões que se inscrevem os desafios da Psicologia e o desenvolvimento deste projeto. Foi essencial eleger múltiplas estratégias para construir novos saberes e práticas frente a demandas, como a proteção e garantia dos direitos humanos dos idosos, considerando os recentes paradigmas de atenção à saúde pública e seu efetivo compromisso social com as mudanças da sociedade. Por ações multi-estratégicas, entende-se o envolvimento de diferentes disciplinas e dizem respeito à combinação de métodos e abordagens variadas, incluindo desenvolvimento

de políticas, mudanças organizacionais, desenvolvimento comunitário, questões legislativas, educacionais e do âmbito da comunicação. (SÍCOLI e NASCIMENTO, 2003, p.109). Os contextos de desigualdade e esforços para conscientização, frente às forças contraditórias e arraigadas no processo histórico-social da comunidade, nem sempre facilitaram o processo de mobilização dos grupos, mas urge conviver com os avanços e recuos do desenvolvimento, pois, não há como impor ou conceder a participação; (...) ela tem que ser conquistada e assumida por todos os envolvidos, de forma consciente e sentida como um processo contínuo. A participação não pode ser individual, mas coletivamente organizada, resultando na restauração da confiança, na esperança e na ânsia de compartilhar tanto os avanços como as dificuldades. (BORGES, 2003, p. 1041) A participação dos grupos nas plenárias da Câmara dos Vereadores resultou na revisão de um projeto de autoria de um vereador, que tramitara para a criação, também, de um conselho do idoso. Contudo, o projeto aprovado incluiu praticamente todo o texto apresentado pela sociedade civil, conjugando uma ideologia de velhice com desenvolvimento, em conformidade com a realidade local, os anseios da população e os dispositivos legais recém instituídos. A questão da intersetorialidade foi fundamental neste projeto, ou seja, vários atores com abertura para dialogar, estabelecer vínculos de co-responsabilidade e co-gestão pela melhoria da qualidade de vida da população e, principalmente, o envolvimento desta população no percurso do diagnóstico da situação à avaliação das ações implantadas. (CAMPOS, BARROS e CASTRO, 2004, p.744). A homologação da criação do Conselho Municipal do Idoso, dois anos depois, demonstra, no entanto, as dificuldades de legitimação da participação social, confirmando a importância dos mecanismos de controle social e apoio intersetorial, pois, (...) a relação entre a política social e cidadania não é imediata e, mesmo sendo ela sendo desejada pelos segmentos democráticos, observa-se uma contradição entre sua formulação e a execução dos

serviços sociais e a concessão dos direitos, principalmente onde a seletividade trai o princípio da universalidade que rege o direito social. (BARBALET apud BORGES, 2003, p. 1038). 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS O marco conceitual desta prática não restringiu a questão do idoso à saúde, trabalhou para que as políticas públicas convergissem para o seu bem estar numa acepção mais ampla. Por meio de ações multi-estratégicas e de forma intersetorial, o programa investiu na participação do idoso em fóruns do seu interesse, propiciou seu trânsito entre as entidades, maior visibilidade social das possibilidades de sua inserção em diferentes contextos. Procurou instrumentalizar a comunidade para um maior protagonismo social e busca de melhorias nos vários âmbitos da vida, haja vista sua contribuição na criação do conselho de idosos, como importante equipamento de controle social. Conclui-se que o saber e as práticas do psicólogo, quando alinhadas à concepção de saúde para além do modelo biomédico, propiciam intervenções e análises críticas dos fenômenos sociais em curso e desenvolvimento dos indivíduos. 7. REFERÊNCIAS ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENSINO DE PSICOLOGIA. Diretrizes Curriculares. 2004. Disponível em: http://www.abepsi.org.br/web/diretrizes.aspx. Acesso em 21 de maio 2009. BORGES, Cláudia Maria Moura - Gestão participativa em organizações de idosos: instrumento para a promoção da cidadania. In: FREITAS, Elizabeth Viana et al. Tratado de geriatria e gerontologia. Rio de Janeiro: Guanabara, 2002. Cap.124, p.1037-1041. CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Envelhecimento e Subjetividade: desafios para uma cultura de compromisso social / Conselho Federal de Psicologia, Brasília, DF, 2008. Disponível em: http://www.pol.org.br/pol/export/sites/default/pol/publicacoes/publicacoesdocumento s/livro_envelhecimentofinal.pdf. Acesso em 05 maio 2009.

GASTÃO, Wagner Campos; BARROS, Regina Benevides de; CASTRO, Adriana Miranda de. Avaliação de política nacional de promoção da saúde. Ciência & Saúde Coletiva, 9(3):745-749, 2004. MORGAN, David. Focus group as qualitative research. Sage Publications, 1997. SÍCOLI, Juliana Lordello; NASCIMENTO, Paulo Roberto - Promoção de saúde: concepções, princípios e Operacionalização. Comunicação, Saúde, Educação, 7(12):101-122, fev 2003. WORLD HEALTH ORGANIZATION. Discussion document on the concept and principles. In:. Health promotion: concepts and principles, a selection of papers presented at Working Group on Concepts and Principles. Copenhagen: Regional Office for Europe, 1984. p.20-23. WORLD HEALTH ORGANIZATION. Health promotion evaluation: recommendations to policymakers. Copenhagen: European Working Group on Health Promotion Evaluation, 1998. Marluce A. Borges Glaus Leão é psicóloga, coordenadora do Programa de Atenção Integral ao Envelhecimento e docente no curso de Psicologia da Universidade de Taubaté.