A SOLIDÃO DA AMÉRICA LATINA NA GRANDE IMPRENSA BRASILEIRA Curso Comunicação Comunitária Portal Gens Prof. Ms. Alexandre Barbosa alexandre@latinoamericano.jor.br abril/08
Quais os fatores que dão pouco espaço quantitativo e qualitativo à América Latina, no noticiário da grande imprensa? Porque as estirpes condenadas a cem anos de solidão não tinham uma segunda oportunidade sobre a terra. Gabriel García Márquez - A cobertura dos furacões - A biblioteca popular no Jd. Filhos da Terra Siento al caminar toda la piel de América en mi piel... Todas las voces, todas, todas las manos, todas, toda la sangre puede ser canción en el viento. Canta conmigo, canta, hermano americano. Armando Tejada Gómez
Metodologia Há duas construções históricas: a história das classes dominantes e a história das classes subalternas. O jornalismo da grande imprensa exerce a mesma prática da historiografia oficial, construída pelas elites: destaque aos ambientes palacianos e aos centros do poder e do capital; tem olhos apenas para o eixo EUA-Europa; despreza e criminaliza os movimentos sociais e as periferias O jornalismo da grande imprensa reproduz a história dos vencedores enquanto o jornalismo alternativo se baseia na história das classes subalternas. De nuevo quieren manchar mi tierra con sangre obrera. Los que hablan de libertad y tienen las manos negras. Quieren ocultar la infamia que legaron desde siglos... Victor Jara
Quilombo dos Palmares Versão Oficial. A fuga prejudicava o desenvolvimento da economia agrícola, por isso o quilombo deveria ser combatido duramente. Canudos Versão Oficial Os fanáticos seguidores de Conselheiro pregavam contra a República. Precisavam ser combatidos. Versão das classes populares Em resposta à opressão da escravidão, os quilombolas criaram um sistema de repúblicas. Enquanto a elite acabava com o solo do Nordeste com a monocultura de cana-de-acúcar, os negros do Quilombo plantavam algodão, milho, mandioca, feijão, legumes, batatas e frutas. Versão das classes populares O massacre empregado em Canudos pelo Exército brasileiro, que cortou a cabeça de Conselheiro e assassinou os últimos lutadores de Canudos mostra que o exemplo de sublevação e reforma agrária não seria aceito novamente.
Ditadura Militar Versão Oficial Os guerrilheiros eram terroristas a serviço do comunismo internacional que queriam acabar com o desenvolvimento brasileiro. Precisam ser presos em nome da Lei de Segurança Nacional. Versão das classes populares A ditadura militar brasileira provocou a morte de 320 militantes de esquerda, intelectuais e estudantes, sendo 144 desaparecidos ; centenas de baleados, 50.000 prisões, a maioria arbitrárias, milhares de exilados. Torturas e espancamentos cruéis.
Hipótese A exclusão da América Latina no noticiário da grande imprensa deve ser explicada na intersecção de 2 eixos de análise: Eixo 1 Ambiente sócio-histórico-cultural Eixo 2 O mundo do jornalismo Quadro Teórico de Referência Eixo 1 Antonio Gramsci, Beatriz Sarlo, Carlos Nelson Coutinho, Darcy Ribeiro, Eduardo Galeano, Emir Sader, Frantz Fanon, José Carlos Mariátegui, Karl Marx, Michael Löwy, Albert Memi, Michel de Certeau, Octavio Ianni, René Dreifuss, Tulio H. Donghi. Eixo 2 Adelmo Genro Filho, Beatriz Kushnir, Bernardo Kucinski, Ciro Marcondes Filho, Ignacio Ramonet, José Arbex Jr., Maria Nazareth Ferreira, Nelson W. Sodré, Perseu Abramo, Pierre Bourdieu.
Antonio Gramsci Intelectual italiano, criador do conceito de intelectual orgânico, forneceu as bases para a formulação dos conceitos de cultura das classes populares como resistência à cultura dominante. Beatriz Sarlo Intelectual argentina. Estudiosa dos fenômenos do mercado cultural contemporâneo. Descreve muito bem como a nova ordem capitalista deteriora os espaços públicos onde se poderia cultivar a possibilidade de novas formas de comunicação que abrangessem não só o que é relevante para o mercado.
Maria Nazareth Ferreira - professora da USP, coordenadora do Centro Brasileiro de Estudos Latino-Americanos (Cebela). Autora de obras sobre imprensa operária no Brasil e sobre Comunicação na América Latina. Um dos trabalhos mais importantes é a Comunicaçao (Des) Integradora na América Latina. A imprensa alternativa é a responsável, como afirma Maria Nazareth Ferreira, por registrar a história das classes subalternas. Se não fosse pela imprensa alternativa, hoje não seria possível conhecer a fundo a história das primeiras greves operárias, da perseguição aos comunistas e as guerrilhas urbanas.
Eixo 1 Ambiente sócio-histórico histórico-culturalcultural A formação da América Latina Oficial e da América Latina Popular; América Latina Oficial - Nação burguesa, dominante, branca e estrangeira, dos grandes centros, planícies e litorais. Utiliza o discurso do poder, do mercado. Dominantes para dentro, dominadas para fora. América Latina Popular - Camponesa e operária; indígena, negra e mestiça. Dispersa na sociedade, nas serras, nos rincões e nos pântanos. Está nos movimentos sociais. Faminta de pão, de sapatos e de luz. A exploração pela América Latina Oficial e o preconceito com a América Latina Popular. Processo de americanização da América Latina Oficial; Criminalização e desqualificação dos movimentos sociais; Globalização de mercados: a América Latina Oficial é uma comunidade de consumidores dos produtos do eixo Europa/EUA. Estou aqui para contar a história. Da paz do búfalo até as fustigadas areias da terra final, nas espumas acumuladas de luz antártica, te busquei, pai meu, jovem guerreiro de treva e cobre, Pablo Neruda
A AMERICANIZAÇÃO DO BRASIL
Sedução do Brasil Objetivo da burocracia norte-americana: tornar o Brasil aliado dos EUA no combate ao Nazismo. Não por intervenção, mas por sedução ão. Sedução Se o Governo, a população e as instituições brasileiras considerassem o modelo de desenvolvimento capitalista norteamericano o ideal, o Brasil se tornaria um aliado natural dos EUA. Política da Boa Vizinhança criação da fábrica de ideologias. Uso do rádio, cinema e revistas que difundiam, no Brasil, o desenvolvimento econômico e cultural dos EUA. * O processo de sedução coincide com a transformação da imprensa em indústria jornalística stica. * Concomitante ou até responsável pela massificação do rádio. * A indústria do cinema construiu modelos a serem seguidos.
Mão dupla: criações da indústria cultural norte-americana para incentivar a burguesia estadunidense a investir no processo de sedução brasileiro e cativar ainda mais a América Latina. Disney e a fábrica de ideologias: esforço de guerra. Carmem Miranda: alinhamento com os EUA e simpatia dos norteamericanos: produto da indústria ianque
Uso do lead EFEITOS A primeira notícia redigida segundo a técnica da "pirâmide invertida" teria aparecido no The New York Times em abril de 1861. A partir da segunda metade no século XX, alguns dos mais importantes periódicos latino-americanos passaram a publicar notícias das agências norte-americanas, redigidas segundo esse modelo. Nesse período, essa técnica se espalhou gradativamente, tendo chegado no Brasil exatamente em 1950, pela iniciativa do jornalista Pompeu de Sousa. Rádio.1941 Repórter Esso. Notícias escritas pela agência da Esso e depois pela UP. GENRO FILHO, Adelmo. O segredo da pirâmide - para uma teoria marxista do jornalismo. Porto Alegre, Tchê, 1987. pp. 183-202. Conceito de jornalismo atual: jornalismo informativo. Por trás do conceito de objetividade está o fato de que o jornalismo é um produto do capitalismo.
Eixo 2 O mundo do jornalismo Óculos dos jornalistas: a grande imprensa enxerga as categorias de interesse da América Latina Oficial mercado, centro do capitalismo (Europa e EUA) e despreza, ou criminaliza, a América Latina Popular. Relações de trabalho: Os óculos dos jornalistas tornam-se os óculos das empresas jornalísticas em que trabalham. Mito da imparcialidade: a fantasia do jornalismo objetivo da grande imprensa disfarça o fato de ser o aparelho ideológico da América Latina Oficial. Me volví para Santiago sin comprender el color con que pintan la Noticia cuando el pobre dice NO, Violeta Parra Exploração do trabalho: menor tempo de reflexão e obsessão pelo furo. Agências de notícias: sediadas nos países vencedores da História controlam o jornalismo internacional e transportam os óculos imperialistas para os que dependem de seu material. Formação acadêmica: desconhecimento da cultura, da geografia, da sociedade e da História da América Latina desde o ensino básico.
Considerações Finais A América Latina Popular e a América Latina Oficial são excludentes. Se a historiografia oficial e a grande imprensa desprezam a América Latina Popular, criminalizam e desqualificam os movimentos populares e disfarçam a ideologia dominante pelo mito da objetividade jornalística, resta à América Latina Popular manifestar-se pelas mídias alternativas. Aimprensa alternativa tem a tarefa de documentar a história,os movimentos sociais, o cotidiano e a cultura da América Latina Popular e tentar livrá-los da exclusão e do esquecimento. Estabelece-se uma guerra de guerrilhas entre a imprensa das classes subalternas e a grande imprensa. Ustedes que ya escucharon la historia que se contó no sigan allí sentados pensando que ya pasó. No basta solo el recuerdo, ya no basta con llorar. No es tiempo de lamentarse, cuando es tiempo de luchar.
Se a grande imprensa é assim...
... esta é a imprensa alternativa
A grande imprensa e a mídia alternativa Grande imprensa: Aparelhos ideológicos das elites do país. A elite pode ser proprietária ou financiadora dos veículos da imprensa. Em cada momento histórico a elite assume uma posição, refletida nos meios de comunicação. A grande imprensa brasileira é feita PELA elite e PARA a elite. Imprensa alternativa: É a responsável pela recuperação da história dos vencidos e dos excluídos Atua numa guerra de guerrilhas com a grande imprensa. Sofreu com a repressão aos movimentos sociais e manifestações populares. É acusada de partidarismo, como se a grande imprensa também não fosse. Esta imprensa, para KUCINSKI não está ligada a políticas dominantes, é uma opção entre duas ideologias reciprocamente excludentes, é a única saída para situações de exclusão e incorpora o desejo de protagonizar as transformações sociais. A América Latina popular é retratada apenas nesta imprensa.
ALAI Agência Latino-americana americana de Informação www.alainet alainet.org
ADITAL Agência Frei Tito de Informação para a América Latina www.adital adital.com..com.br
Agência Carta Maior www.agenciacartamaior agenciacartamaior.com..com.br
LATINOAMERICANO www.latinoamericano latinoamericano.jor.br
Exemplos do uso da comunicação por um movimento social Rádio, via web Revista Jornal
Os movimentos sociais devem fortalecer seus veículos de comunicação - Se a grande imprensa é a mídia da América Latina Oficial, a imprensa alternativa, como mídia da América Latina Popular, deve assumir explicitamente sua ideologia: falar para e sobre os excluídos, realizar reportagens de qualidade, fora da cartilha norte-americana, e ter olhos não só para os demais países latino-americanos como para as periferias do Brasil. Investir na formação acadêmica dos jornalistas - diminuir o peso das disciplinas técnicas, atrelando-as às disciplinas teóricas, críticas e de reflexão. Incluir a América Latina Popular como componente de estudo e debate. Desenvolvimento de intelectuais orgânicos da América Latina Popular - passa pela erradicação da fome e da pobreza, implantação da reforma agrária, pelo desenvolvimento sustentável, pela eliminação da corrupção e pela preservação e fortalecimento da cultura,do folclore dos movimentos sociais. Novas frentes de estudo estruturar o processo de formação de militantes dos movimentos sociais e jornalistas para desenvolver novas mídias com óculos para a América Latina Popular. Tenemos razones puras, tenemos por qué pelear. Luchemos por los derechos que todos deben tener. Luchemos por lo que es nuestro, de nadie mas ha de ser. Cantata Santa María de Iquique
Cantata Santa María de Iquique Canción final - Luis Advis Ustedes que ya escucharon la historia que se contó no sigan allí sentados pensando que ya pasó. No basta solo el recuerdo, ya no basta con llorar. No es tiempo de lamentarse, cuando es tiempo de luchar. Quizás mañana o pasado o bien, en un tiempo más, la historia que han escuchado de nuevo sucederá. [...] Tenemos razones puras, tenemos por qué pelear. Tenemos las manos duras, tenemos con qué ganar. Unámonos como hermanos que nadie nos vencerá. Si quieren esclavizarnos jamás lo podrán lograr. La tierra será de todos también será nuestro el mar. Justicia habrá para todos y habrá también libertad. Luchemos por los derechos que todos deben tener. Luchemos por lo que es nuestro, de nadie mas ha de ser.