As Mudanças Climáticas, a Redução das Emissões Oriundas de Desmatamento e as Áreas Protegidas



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Transcrição:

As Mudanças Climáticas, a Redução das Emissões Oriundas de Desmatamento e as Áreas Protegidas Brasília, 08 de outubro de 2009 Os participantes do seminário O Papel das Áreas Protegidas na Redução das Emissões Oriundas de Desmatamento concluíram que a criação e gestão eficiente das áreas protegidas, em conjunto com povos indígenas e comunidades extrativistas, têm um papel crucial na redução das emissões de gases do efeito estufa oriundas de desmatamento e degradação dos ecossistemas no Brasil. Elas oferecem também uma série de outros serviços e benefícios à sociedade. Elas representam vantagens econômicas e devem fazer parte de todas políticas, projetos e mecanismos para redução de emissões e adaptação às mudanças climáticas, bem como receber os investimentos e compensações econômicas a eles relativos, com destaque para as compensações econômicas (voluntárias, da cooperação ou de mercado, entre outras) pela redução das emissões oriundas de desmatamento e degradação dos ecossistemas. 1 É importante colocar o papel das áreas protegidas da Amazônia e de todo o Brasil dentro do contexto global dos esforços para redução das emissões de gases do efeito estufa: a crise ambiental climática não tem precedentes, na sua gravidade, por afetar todo o mundo, pela intensidade, pela relativa velocidade, por afetar sociedades, economia e conservação da natureza. Mesmo reconhecendo as responsabilidades históricas diferenciadas, e portanto defendendo a maior responsabilidade dos que historicamente emitiram mais, todos países devem contribuir para a minimização das mudanças climáticas; as emissões oriundas do desmatamento, degradação dos ecossistemas e uso do solo representam uma parcela importante das emissões de gases do efeito estufa (ao redor de 20% em nível mundial) e atualmente é a principal fonte de emissões no caso brasileiro (ao redor de 70%); o Brasil, por meio de instituições diversas e ações nos vários níveis, tem empreendido grande esforço e obtido resultados significativos na redução do desmatamento da Amazônia. Entretanto, é fundamental buscar a sustentabilidade desses esforços e resultados e estendê-los para as outras regiões do país; resultados de estudos recentes indicam que 40% da redução do desmatamento conseguida nos últimos (2004 2007) anos podem ser explicados pela criação de áreas protegidas (unidades de conservação e terras indígenas). Projetando seus serviços ecológicos para 2050, as áreas protegidas da Amazônia brasileira poderão representar 8 bilhões de toneladas de carbono equivalente não emitidas; isso tem sido possível pelo esforço significativo do Brasil em complexas e difíceis ações de redução do desmatamento, inclusive com a criação ou declaração de áreas protegidas (unidades de conservação e terras indígenas), as quais têm importância não só em nível local, mas no contexto mundial 2. Entretanto, os orçamentos alocados a essas e outras áreas protegidas em todo o Brasil são insuficientes para a sua implantação e gestão eficaz 3 ; e o potencial de continuidade e aumento do papel das áreas protegidas na redução de emissões de gases do efeito estufa e na nossa adaptação às mudanças climáticas, na Amazônia e em todo o Brasil 4, é grande, se houver definição de políticas adequadas e alocação de recursos suficientes.

A seguir apontamos algumas das vantagens da inclusão das áreas protegidas (criação ou declaração, implementação, consolidação e manutenção) e das comunidades tradicionais (reconhecimento e fortalecimento) nas políticas de combate ao desmatamento e na redução de emissões de gases do efeito estufa: resultados significativos comprovados em termos da contribuição das áreas protegidas para redução das emissões (com adicionalidade ) de CO 2 oriundas do desmatamento, sem que isso represente, no computo geral, deslocamento do desmatamento (sem vazamento, ao contrário, gerando efeito de sombra positivo, protegendo também o entorno das unidades de conservação e terras indígenas) 5 ; existência de aparatos institucionais, e também sociais em alguns casos, dedicados a sistemas de áreas protegidas, com incidências nos níveis nacional, estadual e local, facilitando a alocação de recursos de forma rápida e possibilitando gestão eficiente de unidades de conservação e terras indígenas e posterior monitoramento dos resultados. Em alguns casos há mecanismos diferenciados comprovadamente eficazes no recebimento e alocação de recursos, estáveis, com experiência significativa e com contabilidade própria, como, por exemplo, o Programa Áreas Protegidas da Amazônia (Arpa); a criação ou declaração de novas unidades de conservação ou terras indígenas, o seu fortalecimento e a sua efetiva gestão representam estratégias de resultados mais rápidos para diminuição de emissões de gases do efeito estufa além de outros resultados positivos, como a promoção de maior claridade e eficácia na situação fundiária nessas áreas protegidas, permitindo a concentração da solução dos problemas fundiários em outras áreas; o investimento ou custo por hectare de criação (ou declaração) e gestão (implementação ou fortalecimento e manutenção) eficaz das áreas protegidas é relativamente menor que outras iniciativas de redução de emissões, inclusive as outras iniciativas para redução das emissões oriundas de desmatamento, assim como a redução de emissões associadas à produção de energia, transportes, agricultura, indústria, entre outras, trazendo as áreas protegidas também outros benefícios que podem ser mais duradouros ainda que as áreas protegidas devam ser complementares a outras iniciativas, também necessárias; investir em áreas protegidas pode ser economicamente vantajoso, sobretudo (mas não somente) quando considerados os fluxos financeiros que poderão ser aportados por meio de mecanismos de compensação econômica por redução de emissões de CO 2, como aqueles que estão sendo discutidos junto à Convenção Quadro das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas e em outras esferas dentro e fora do país compensação econômica essa que pode ser oficial ou voluntária, por mecanismos de cooperação ou de mercado, entre outros meios 6 ; a probabilidade das florestas existentes nas áreas protegidas se manterem a longo prazo é alta, com resolução adequada de potenciais problemas sobre a permanência do carbono. Portanto, junto com outros serviços prestados pelas unidades de conservação e terras indígenas, os benefícios, inclusive econômicos, desta estratégia serão colhidos hoje e no futuro; o reconhecimento e o fortalecimento do papel das comunidades extrativistas e povos indígenas na conservação dos ecossistemas e na gestão das áreas protegidas, ainda que potencial ou compartilhada em alguns casos, facilita a implementação das políticas aqui mencionadas, torna os investimentos economicamente mais vantajosos e fortalece a resiliência da sociedade e dos ecossistemas às mudanças climáticas; além de colaborar com a minimização das mudanças climáticas, a redução do desmatamento e da degradação dos ecossistemas permite manutenção de uma série de outros valores que a

sociedade usufrui dos ecossistemas conservados, inclusive nossa necessária adaptação às mudanças climáticas. As áreas protegidas e comunidades tradicionais são instrumentos historicamente comprovados e mais eficazes para esses fins; a sua organização como sistemas de áreas protegidas, o fortalecimento da solidariedade entre as comunidades tradicionais e a sua integração na paisagem e nos objetivos de desenvolvimento sustentável atuam como minimizadores dos riscos de desmatamento, degradação de ecossistemas e de emissões associadas no presente e no futuro; e a eliminação do desmatamento, na Amazônia e em todo o Brasil, até 2015, está de acordo com os interesses nacionais e das comunidades locais que habitam as áreas de ecossistemas naturais. As áreas protegidas representam um bom negócio e múltiplos benefícios para a sociedade brasileira, merecendo os investimentos requeridos. Portanto, solicitamos ao governo federal brasileiro, aos governos estaduais e municipais, a entidades e diferentes segmentos da sociedade que considerem e incluam em suas políticas públicas de combate ao desmatamento e emissões de gases do efeito estufa os seguintes pontos: reconhecimento do papel das diferentes categorias de unidades de conservação, das terras indígenas e das comunidades extrativistas e povos indígenas na redução das emissões de gases do efeito estufa e na prestação de outros serviços a sociedade, inclusive na nossa adaptação às mudanças climáticas; apoio, inclusive econômico, às áreas protegidas e às comunidades tradicionais na preparação de nossa adaptação às mudanças climáticas, na defesa e fortalecimento das comunidades locais e indígenas e na proteção dos diversos valores da natureza e que são de interesse social; reconhecimento e inclusão de áreas protegidas e comunidades tradicionais na elaboração de políticas publicas, programas e projetos do governo federal, estaduais e municipais para a redução de emissões de gases do efeito estufa e para a compensação econômica pelos esforços a isso relacionados, assim como participação de comunidades locais extrativistas, povos indígenas, organizações não governamentais e cientistas na elaboração desses instrumentos; reconhecimento da importância de considerar as unidades de conservação e terras indígenas organizados em seus sistemas (e subsistemas), no caráter de solidariedade dos povos e na sua integração na paisagem e nos objetivos de desenvolvimento sustentável, fortalecendo-os (em lugar de considerar as áreas protegidas de forma isolada); desenvolvimento de políticas e mercados associados ao uso sustentável de recursos naturais, como cadeias econômicas florestais e extrativistas, e de produtos e serviços associados às áreas protegidas, como turismo, serviços ecológicos, pesquisas etc.; distribuição justa de benefícios oriundos dos esforços de redução de emissões de gases efeito estufa por desmatamento no Brasil, com prioridade às comunidades locais extrativistas e povos indígenas e às áreas protegidas, por sua histórica e contínua participação neste esforço de redução de emissões de gases do efeito estufa; reconhecimento e compensações econômicas em todo o Brasil, em todos os domínios ou biomas, por contribuições à redução de emissões do desmatamento e proteção da diversidade biológica; eliminação do desmatamento e da degradação dos ecossistemas em todo o Brasil até 2015;

fortalecimento do Sistema Nacional de Unidades de Conservação e do Código Florestal e inclusão na Política Nacional de Mudanças Climáticas da valorização e apoio às áreas protegidas pelo papel estratégico que exercem na redução da emissão de gases do efeito estufa e na nossa adaptação às mudanças climáticas, na Amazônia e em todo o Brasil; e uso efetivo do Fundo Amazônia como instrumento financeiro de apoio à redução das emissões por meio da experimentação e validação de mecanismos de esforços de redução das emissões e distribuição de compensações econômicas por esses esforços, incluindo o fortalecimento das capacidades associadas, de comunidades tradicionais, da sociedade civil, de entidades governamentais e de privados; as compensações econômicas pelos esforços adicionais de redução de emissões não devem substituir as usuais responsabilidades das instituições públicas e as alocações anuais públicas dos governos as áreas protegidas. Portanto, o reconhecimento da contribuição e a respectiva alocação de recursos preparatórios e de compensação econômica pela redução das emissões e outros serviços ambientais devem considerar: (i) (ii) (iii) (iv) (v) as necessidades imediatas e futuras de redução do desmatamento, da degradação dos ecossistemas e das emissões de gases do efeito estufa, além de colaborar com a manutenção dos serviços ecológicos; a minimização de riscos atuais e futuros, e portanto o fortalecimento dos sistemas de áreas protegidas e da solidariedade entre as comunidades tradicionais; o fortalecimento dos sistemas de áreas protegidas (não considerando cada uma de forma isolada, mas no seu conjunto, com sua gestão integrada, e a série de interações) e sua integração na paisagem; o fortalecimento dos sistemas sociais, particularmente por meio do fortalecimento das estratégias econômico-culturais das comunidades tradicionais e do provimento de serviços sociais; e os demais valores e serviços ecológicos e sociais prestados pelas áreas protegidas e pelas comunidades tradicionais. No âmbito das negociações internacionais para redução de emissões de gases efeito estufa solicitamos que o governo brasileiro se comprometa e ao mesmo tempo demande de outros países: a redução das emissões de gases do efeito estufa, em todas suas fontes, de forma significativa, o mais rápida e eficazmente possível; o reconhecimento dos esforços do Brasil na redução de emissões oriundas do desmatamento da Amazônia; garantia da sustentabilidade desses esforços e sua expansão para o restante do país, para outros domínios ou biomas, incluindo a eliminação da degradação de todos os ecossistemas; e a criação, desenvolvimento ou fortalecimento de políticas públicas e mecanismos financeiros para compensação econômica dos esforços, passados, presentes e futuros, para a redução do desmatamento e degradação dos ecossistemas e emissões associadas compensação econômica essa que pode ser oficial ou voluntária, por mecanismos de cooperação ou de mercado, ou por outros meios.

Em representação dos participantes: - WWF-Brasil - Instituto de Pesquisa Ambiental Amazônia - Fundação Linden para Conservação - Amigos da Terra Amazônia Brasileira - Centro de Trabalhadores da Amazônia (CTA) - Comissão Mundial de Áreas Protegidas (CMAP) da UICN - Confederação Nacional de RPPNs (Reservas Particulares do Patrimônio Natural) - Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS antigo Conselho Nacional de Seringueiros) - Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) - Fundação Ecológica Cristalino (FEC) - Fundação O Boticário de Proteção à Natureza (FBPN) - Fundação Pró-Natureza (Funatura) - Fundação Vitória Amazônica (FVA) - Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio) - Grupo de Trabalho Amazônico (GTA) - Instituto Centro de Vida (ICV) - Instituto Socioambiental (ISA) - Kanindé - Repams - The Nature Conservancy (TNC) - União Internacional pela Conservação da Natureza (UICN) Com participação dos gestores de unidades de conservação (tais como Estação Ecológica Terra do Meio, Reserva Extrativista Cazumbá-Iracema, Reserva Extrativista do Lago Cuniã, Estação Ecológica de Cuniã e Floresta de Jacundá (as três formando o potencial mosaico de Cuniã), Mosaico de Unidades de Conservação de Apuí, Parque Nacional do Jaú, Parque Nacional Juruena, Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque etc.) Com apoio ou participação de Ministério do Meio Ambiente (MMA), Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Fundação Nacional do Índio (Funai), Secretaria de Meio Ambiente do Mato Grosso (Sema-MT), Universidade Federal de Minas Gerais,, Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (Otca), RedParques (a rede latino-americana de autoridades nacionais de áreas protegidas), McKinsey Brasil. Também endossam: - Conservação Internacional do Brasil - Instituto de Pesquisa e Formação em Educação Indígena Iepé - 1 O seminário O Papel das Áreas Protegidas na Redução das Emissões Oriundas do Desmatamento foi promovido pelo WWF-Brasil (em representação da rede global WWF), em conjunto com o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) e o Linden Trust for Conservation, e teve a participação de mais de 60 pessoas, entre gestores de unidades de conservação, representantes de organizações da sociedade civil, de comunidades locais,

extrativistas e povos indígenas, ambientalistas, cientistas, todos interessados no desenvolvimento sustentável e defensores da qualidade de vida. (Ver informações e fazer download de apresentações e outros documentos no sítio web do WWF-Brasil (www.wwf.org.br, ou mais especificamente em http://www.wwf.org.br/?22140/governo-recebedocumento-sobre-reas-protegidas-e-clima) e links associados, sobretudo Ipam e WWF-Brasil.) Este seminário é uma continuação no esforço de discutir e defender o papel das áreas protegidas (unidades de conservação e terras indígenas) e das comunidades tradicionais (comunidades locais ou extrativistas e povos indígenas), preferencialmente em sinergia, na redução das emissões de gases do efeito estufa. Dessa forma, complementa o evento Desmistificando Redd: fortalecendo a participação dos povos indígenas e tradicionais nas discussões sobre mudanças climáticas, realizado pelo Ipam, em 11-12 de maio de 2009, em Brasília, Brasil, em colaboração com CND, Coiab, Coica e GTA, com apoio da Packard Foundation, Linden Trust e GTZ, e participação do WWF-Brasil, entre outros. (Ver informações e fazer download de documentos no sítio web do Ipam (www.ipam.org.br, ou mais especificamente em http://www.ipam.org.br/mais/agendaevento/id/19) e links associados.) Obviamente se relaciona também com os outros, muitos, debates nacionais e internacionais sobre o tema, mas particularmente com a oficina Connecting Amazon Protected Areas and Indigenous Lands to REDD Frameworks, realizada em 11-12 de fevereiro de 2009, na Stanford University, Palo Alto, Califórnia, EUA, organizada por WWF, Gordon and Betty More Foundation e o Linden Trust for Conservation. (Para acessar alguns dos materiais produzidos para essa oficina veja http://www.worldwildlife.org/science/stanfordgroup.html.) Ver algumas referências e alguns dados nesta e noutras notas. Soares-Filho, B.; Moutinho, P.; Nepstad, D.; Anderson, A.; Rodrigues, H.; Garcia, R.; Dietzsch, L.; Merry, F.; Bowman, M.; Maretti, C. C. & Hissa, L. (inédito) The role of protected areas in reducing carbon emissions from deforestation in the Brazilian Amazon. Soares-Filho, B. S.; Dietzsch, L.; Moutinho, P.; Falieri, A.; Rodrigues, H.; Pinto, E.; Maretti, C. C.; Scaramuzza, C. A. M.; Anderson, A.; Suassuna, K.; Lanna, M. & Araújo, F. V. de. 2009. Redução das emissões de carbono do desmatamento no Brasil: o papel do Programa Áreas Protegidas da Amazônia (Arpa). Brasília, UFMG, Ipam, WHRC e WWF-Brasil. 21 p. (http://assets.wwfbr.panda.org/downloads/arpa_relatorio_port_1_.pdf) Brasil, Ministério do Meio Ambiente. 2008 e 2009. Plano de Sustentabilidade Financeira do Sistema Nacional de Unidades de Conservação, I e II. Brasília, MMA. Funbio & ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade). 2009. Quanto Custa Uma Unidade de Conservação Federal?: uma visão estratégica para o financiamento do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (Snuc). /M. M. Muanis, M. Serrão, L. Geluda, C. B. A. Fonseca, P. E. C. Melo, R. C. Santos, F. Leite & D. Leite/. Rio de Janeiro, Funbio (Fundo Brasileiro para a Biodiversidade). 52 p. McKinsey. s/d [2009] Caminhos para uma economia de baixa emissão de carbono no Brasil. McKinsey & Company, São Paulo. 45 p. Soares-Fº, B. S.; Nepstad, D. C.; Curran, L. M.; Cerqueira, G. C.; Garcia, R. A.; Ramos, C. A.; Voll, E.; Macdonald, A.; Lefebvre, P. & Schlesinger, P. 2006. Modeling conservation in the Amazon basin. Nature 440, 520-523. Jenkins, C. N. & Joppa, L. 2009. Expansion of the global terrestrial protected area system. Biological Conservation (http://dx.doi.org/10.1016/j.biocon.2009.04.016). 2 Alguns números do Ministério do Meio Ambiente (Secretaria de Biodiversidade e Florestas, Diretoria de Áreas Protegidas) dão a importância do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (Snuc), do Brasil: - 1.641 unidades de conservação federais e estaduais; sendo 304 federais públicas, 532 estaduais públicas, além de 494 reservas particulares do patrimônio natural (RPPNs) vinculadas à esfera federal e 311 à esfera estadual; - 16,75% do território continental e 1,46% da área marinha; - aproximadamente 1,5 milhões de Km². 3 Estudos, como Pilares para Plano de Sustentabilidade Financeira do Sistema Nacional de Unidades de Conservação, I e II, liderados pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA-SBF-DAP) ou Quanto Custa Uma Unidade de Conservação Federal?, do Funbio com o ICMBio, estudos da TNC no Brasil com esses e outros parceiros, incluindo alguns sistemas estaduais de unidades de conservação, entre outros, mostram a necessidade de recursos financeiros. Eles trabalharam sob re a necessidade anual de recursos para custeio (pessoal, combustível, manutenção, contas etc.) e a necessidade geral de investimentos (infra-estrutura, aquisição de equipamentos, planejamento etc.). Às vezes tomaram por base o conjunto atual do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (Snuc), e noutras vezes buscaram projeções de necessidades ou propostas de cronograma de desembolsos.

De qualquer forma, além da necessidade de ampliação do conjunto e melhoria do funcionamento do sistema (e subsistemas) inclusive para alcançar as metas definidas pelo Brasil no esforço conjunto global de redução da perda da diversidade biológica e de estabelecimento de um sistema representativo de áreas protegidas, além dos papéis aqui apresentados a cerca da redução de emissões e apoio na adaptação às mudanças climáticas e outros serviços ecológicos, mesmo que fosse só para manter as perspectivas atuais, todos os estudos mostram a necessidade de se multiplicar imensamente os investimentos e os esforços de manutenção das unidades de conservação, em todo o Brasil. 4 Segundo primeiro exercício oficial de monitoramento do Cerrado pelo Governo Federal, o volume de desmatamento do Cerrado foi de 127,6 mil Km² entre 2002 e 2008, com um valor médio de 21.260 Km² por ano de desmatamento. O Ministério do Meio Ambiente estima que isso já representa volume de emissões de carbono comparável a da Amazônia. (Ver também web site do MMA.) 5 A probabilidade de ocorrer desmatamento dentro das áreas protegidas é nove vezes menor do que fora delas e essa probabilidade aumenta com a distância das áreas protegidas. Essa análise com buffers ao redor das áreas protegidas mostra o efeito de sobra positivo, isto é, que elas colaboram para a redução do desmatamento também no seu entorno. Quando a análise é feita com buffers maiores, tendendo a infinito, mostra o não deslocamento do desmatamento, e, portanto, o não vazamento. 6 O volume de recursos necessário pode parecer elevado quando considerado de forma isolada, no entanto se mostra como um bom investimento quando comparado com o valor dessas áreas e dos serviços ecológicos associados, ainda que só considerasse o potencial valor pela redução de emissões de carbono. Algumas projeções indicam que algo no entorno de 40% no máximo do valor do carbono (não emitido até 2050) seria o montante dos custos de criação, implementação e boa gestão das unidades de conservação, representando portanto vantagens econômicas da ordem de algumas dezenas de bilhões de dólares estadunidenses (até 2050) para o Brasil, novamente só com base no serviço ecológico de reduzir as emissões de carbono equivalente, sem falar nos potenciais ligados a proteção de mananciais de água, da paisagem e do turismo, de pesquisas sobre a diversidade biológica, de benefícios às comunidades locais e tradicionais, inclusive indígenas etc.