CAPÍTULO 4 ANIMAIS DE TRABALHO ÍNDICE 1. Histórico 2. Problemas de bem-estar 3. Pesquisa 4. Estratégias de proteção animal a) Campanhas legislativas b) Educação do consumidor c) Educação d) Assistência prática 5. Estudo de caso 6. Recursos adicionais 104
1 HISTÓRICO 2 Estima-se que a força de trabalho animal seja formada por cerca de 300 milhões de indivíduos e os números estão crescendo: por exemplo, o número de burros passou de 33,2 milhões para 42 milhões entre 1961 e 1997. No mesmo período, os búfalos passaram dos 87,5 milhões para 152,4 milhões. A maioria dos animais de trabalho é usada para transporte e agricultura. Muitas espécies estão envolvidas: mais comumente eqüídeos (cavalos, burros e mulas), bois e búfalos, mas também outros, como vacas, camelos, lhamas, iaques e elefantes. A maioria dos animais de trabalho vive em países em desenvolvimento. Abaixo apenas algumas das categorias de animais de trabalho: Animais usados na agricultura. Animais de transporte. Animais em terapia assistida. Animais para o cumprimento das leis. Animais para auxílio ou serviço. Animais de segurança. Animais utilizados por militares e de guerra. Animais de busca e resgate. Animais de pastoreio, guarda e caça. Em muitos países, apesar dos excelentes serviços prestados à população humana, os animais de trabalho são sobrecarregados e subvalorizados. São vistos mais como commodities do que como seres sencientes. Em toda parte do mundo os animais de trabalho podem ser o meio de sustento de uma família e, na maioria dos casos, o tratamento precário dado a eles é geralmente uma combinação de ignorância e falta de respeito. PROBLEMAS DE BEM-ESTAR Alguns dos problemas de bem-estar que podem afetar os animais de trabalho incluem: Muitas horas de trabalho com pouco descanso. Condições precárias de criação. Privação das necessidades comportamentais e sociais. Condições precárias de acomodação. Subnutrição. Ferrageamento ruim e manqueira. Selas, cangalhas e arreios mal projetados. Aprisionamento por cordas ou ferros. Transporte de carroças sobrecarregadas e inadequadas para rodovias (ou outras cargas). Métodos de treinamento cruéis. Falta de sombra. Falta de água. Manejo não humanitário. Falta de cuidados de saúde e veterinários. 105
Estresse de calor. Dispensa não humanitária na velhice ou exaustão. 3 PESQUISA Antes de iniciar um programa/projeto prático para animais de trabalho, pesquise o máximo que puder. Fazer um levantamento da população na área é crucial para o sucesso da iniciativa, uma vez que os recursos têm de atender a todos os animais de trabalho. Exemplo de lista de conferência para pesquisa: Tomadores de decisão: reunir-se com autoridades municipais e governamentais da área do projeto e conseguir seu apoio/aprovação. Ganhar o apoio de personalidades locais influentes, por exemplo: prefeitos ou governadores. Verificar a disponibilidade local de medicamentos veterinários e seus custos. A importação de certas drogas pode depender de aprovação do governo. Verificar a disponibilidade local de material e seus custos, por exemplo: material para arreios, carroças e ferraduras. Encontros com artesãos especializados, fabricantes de arreios, ferreiros etc e recrutamento de candidatos potenciais para treinamento e desenvolvimento. Conduzir avaliações de bem-estar nos animais que pretende ajudar. Isso é especialmente importante para projetos que envolvem intervenções veterinárias. Avaliações meticulosas em um dado número de animais na área do projeto identificarão questões prioritárias. Por exemplo: se uma porcentagem alta dos animais apresenta ferimentos provocados por arreios, então os modelos e os materiais usados seriam uma área a ser pesquisada e melhorada. Se uma porcentagem alta de animais está manca, talvez seja indício da necessidade de treinamento dos ferreiros. As avaliações de bem-estar também identificarão as áreas para treinamento e aperfeiçoamento. Todos os projetos devem incluir um item para educação, como, por exemplo, a prevenção é muito mais eficaz do que a cura. Conversar com os donos dos animais de trabalho. Eles vão falar de suas principais preocupações e problemas. Isso também ajudará a priorizar as necessidades e os objetivos do projeto. Também auxiliarão na seleção de pessoas locais adequadas para participar no projeto. A participação comunitária é um fator motivador por estender à comunidade um sentimento de responsabilidade pela iniciativa. Procurar um método eficaz de avaliação do progresso do projeto, para garantir que melhorias estejam sendo feitas tanto para os animais quanto para seus donos. 4 ESTRATÉGIAS DE PROTEÇÃO ANIMAL O movimento de proteção animal já se utilizou de várias estratégias para melhorar as condições de vida dos animais de trabalho. Abaixo seguem exemplos do que já foi e do que ainda pode ser feito: a) Campanhas legislativas Campanhas de alta visibilidade principalmente contra tratamento e condições aviltantes como eventos na mídia, manifestações, ações etc. 106
Investigações e exposição na mídia, como produção de documentários televisivos para um maior impacto da campanha. Trabalho junto às autoridades para implantação e execução de legislação e regulamentações de proteção animal para melhoria de condições. Para mais informações, veja Guidelines and Licensing Regulations for Riding Schools, Equine Tourist Establishments and Carriage Operators/Owners (Diretrizes e Regulamentações para Licenciamento de Escolas de Equitação, Estabelecimentos de Turismo Eqüino e Condutores/Donos de Carroças) da WSPA. Lobby junto a políticos e autoridades governamentais. b) Educação do consumidor Conscientizar turistas e viajantes sobre as questões que envolvem os animais de trabalho, por exemplo: evitar o uso de animais de carga e os passeios a cavalo ou de burro em lugares onde as condições são precárias e as cargas, pesadas. Trabalhar junto à mídia, principalmente por meio de documentários, para expor as questões e pedir melhorias. Divulgar informação em publicações direcionadas, por exemplo: por meio de artigos em revistas especializadas em viagens e estilo de vida. c) Educação Fornecer treinamento e educação aos donos sobre aspectos do bem-estar dos animais de trabalho. Abordar questões a respeito dos animais de trabalho em materiais e programas educacionais nas escolas. Abordar questões a respeito do bem-estar dos animais de trabalho no currículo das universidades de zootecnia e veterinária e fornecer recursos como os Conceitos de bemestar animal da WSPA. Incluir educação para o bem-estar animal em todos os programas vocacionais nas áreas onde animais de trabalho são usados. d) Auxílio prático Fornecer cuidados veterinários para os animais de trabalho. Fornecer treinamento e aperfeiçoamento de ferreiros. Ajudar na adoção de melhores carroças, amarras, arreios, selas etc. Estabelecer projetos envolvendo a participação da comunidade. Construir bebedouros e áreas de descanso em lugares estratégicos, por exemplo: ao longo das rotas de comércio. 5 ESTUDO DE CASO A Lampang Pony Welfare Organisation (LPWO) conseguiu melhorar o bem-estar e as condições de saúde da população de pôneis em Lampang, no Norte da Tailândia, com recursos muito limitados. Mais de 350 pôneis, usados no transporte de turistas em carruagens, sofriam de desnutrição e hiperparatireoidismo nutricional secundário (HPT), que descobriu-se ser causado por níveis desequilibrados de cálcio e fósforo em sua dieta. Os principais sintomas do HPT, ou cabeça grande, incluem: aumento do tamanho do nariz e da mandíbula inferior (devido à substituição de minerais nos ossos por tecidos 107
fibrosos), respiração ruidosa, manquidão, fragilidade de ossos e juntas, perda de dentes e de massa muscular. Dois pôneis sofrendo de HPT A LPWO iniciou um projeto para tratamento e monitoração da saúde dos pôneis e para uma melhor compreensão dos cuidados com a saúde e a nutrição por parte de seus donos. Um suprimento diário e barato de calcário deveria prevenir o HPT e, em casos já existentes, reduzir as complicações. Aproximadamente 250 pôneis participaram do programa geral de cuidados com a saúde, dos quais 149 foram incluídos na pesquisa e monitorados. Um programa de saúde e nutricional foi iniciado e muitos workshops foram organizados para salientar a importância do cálcio e as conseqüências da má-nutrição. Os donos dos animais também receberam rações de calcário a custo reduzido. Subseqüentemente, os pôneis foram examinados a cada três meses e sua absorção de cálcio e sinais clínicos de HPT foram registrados. O uso de cálcio dependeu da colaboração dos donos. No período entre agosto de 2003 e novembro de 2004, os donos reconheceram melhorias nas condições de saúde e desempenho de seus pôneis. Um melhor desempenho gera ganhos maiores, o que encorajou um número cada vez maior de proprietários a usar cálcio. O projeto mostra que é possível melhorar as condições de saúde dos pôneis no Sudeste da Ásia mesmo com recursos muito limitados..calcário barato pode equilibrar uma dieta tradicional de farelo de arroz e grama para prevenir, assim como curar, sintomas de HPT. A educação pode encorajar proprietários de cavalos a mudar hábitos antigos e os resultados positivos talvez estimulem outras pessoas a seguir o exemplo. 108
6 RECURSOS ADICIONAIS Websites Animal Concerns: Working Animals www.animalconcerns.org/topics.html?topicsku=2002130143200&topic= Working%20Animals&topictype=topic Carthorse Protection Association, South Africa www.wag.co.za/wagintro%20pages/cart%20horse%20protection/cart_horse_protection_ associatio.htm International Donkey Protection Trust www.thedonkeysanctuary.org.uk/site/1/home.html Society for the Protection of Animals Abroad www.spana.org The Brooke Hospital for Animals www.brooke-hospital.org.uk Livros The Behaviour of the Horse A. F. Fraser Editora: CAB International ISBN: 978-0851987859 Horse Healthcare (Funded by the Brooke Hospital for Animals) David Hadrill Editora: ITDG Publishing ISBN: 978-1853394867 Working Animals in Agriculture and Transport www.wageningenacademic.com/books/ts06.htm R.A. Pearson, P. Lhoste, M. Saastamoinen, W. Martin-Rosset (editors) ISBN: 978-9076998251 Recursos da WSPA Guidelines and licensing regulations for riding schools, equine tourist establishments and carriage operators/owners Alistair Findlay (2004) Disponível na sede da WSPA em Londres Cuidados Básicos para Eqüinos Disponível no escritório da WSPA da Costa Rica e na sede em Londres (2003) Cuidados para Eqüinos WSPA-Brazil 109