LEITURA E FORMAÇÃO DE PROFESSORES: Concepções sobre leitura no curso de Pedagogia do IFC-Videira 1



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Transcrição:

LEITURA E FORMAÇÃO DE PROFESSORES: Concepções sobre leitura no curso de Pedagogia do IFC-Videira 1 Francielle Possera 2 ; Jane Suzete Valter 3 ; Marizete Bortolanzza Spessatto 4. INTRODUÇÃO No Brasil, temos um baixo nível de leitura na relação livro/habitante, em 2001 o nível de leitura estava em 1,8 livros por habitante/ano, em 2007 o nível subiu 4,7 habitante ano, mas o dado mais recente, de 2011 aponta que a média mais recente decaiu para 4,0 livros habitante/ano. Os dados são do último relatório, Retratos da Leitura no Brasil (2011), do instituto pró-livro, que busca identificar o perfil de leitores no Brasil. Na última década, o Brasil avançou na área da educação, ampliando o acesso ao ensino básico e superior, mas os dados levantados pelo Indicador de Alfabetismo Funcional (INAF) entre 2001 e 2011 demonstram que a realidade ainda está longe de proporcionar o pleno desenvolvimento da sociedade brasileira. Um dos principais fatores apontados como causa do analfabetismo funcional são os baixos índices de leitura. Embora tenhamos em torno de 90% da população alfabetizada, os indicadores de analfabetismo funcional ( 2011/2012) revelam que 27% da população brasileira com idade entre 15 e 64 anos é considerada analfabeta funcional. Alcançar uma melhoria nesses dados passa, fundamentalmente, pela ampliação dos índices de leitura e pela formação de professores, principalmente da educação básica que deve proporcionar a base de formação desses leitores sendo esta a chave de mudança nesse quadro. Tendo isso em vista, o curso de pedagogia, que forma alfabetizadores precisa formar profissionais comprometidos com a 1 Projeto financiado pelo Instituto Federal Catarinense 2 Aluno do Instituto Federal Catarinense - Campus Videira - Curso de Pedagogia - E-mail: franpossera@hotmail.com 3 Professora Orientadora do Instituto Federal Catarinense - Campus Videira - Curso de Pedagogia - E-mail: jane.valter@ifc-videira.edu.br 4 Professora Orientadora do Instituto Federal Catarinense - Campus Videira - Curso de Pedagogia - E-mail: m.spessatto@ifc-videira.edu.br

mudança nesses dados, essa preocupação é a motivadora dessa pesquisa, a qual propõe identificar o grau de proficiência em leitura dos ingressantes do curso de Pedagogia do IFC - Videira, visando subsidiar as ações do curso na formação desses sujeitos para o trabalho com o letramento na Educação Básica. Desta forma vai possibilitar aos docentes do curso de pedagogia, um olhar sobre o relacionamento prévio de seus estudantes com a leitura, o que favorece a criação de estratégias que ampliem a formação mais completa desses profissionais. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Este trabalho teve como abordagem teórica a pesquisa qualitativa que, segundo Lüdke e André (1986), caracteriza-se como pesquisa do tipo descritiva, com uma dimensão exploratória. Nessa abordagem se estuda a relação entre duas ou mais variáveis de um dado fenômeno, abordando quatro aspectos: descrição, registro, análise e interpretação de fenômenos atuais, objetivando o seu funcionamento no presente. Köcke (2003); Lakatos & Marconi (1990). Como campo de pesquisa, o estudo foi realizado no câmpus de Videira do IFC (Instituto Federal Catarinense), envolvendo como sujeitos de pesquisa os ingressantes nas turmas 2014 e 2015. A pesquisa foi desenvolvida em dois momentos. No primeiro, foi aplicado um questionário aos estudantes da turma 2014, visando identificar qual a sua familiaridade, hábitos e conhecimentos relacionados à leitura. A segunda etapa se deu com a aplicação de uma entrevista semiestruturada à 7 sujeitos definidos por adesão dos ingressantes do ano de 2015, esse instrumento segundo Triviños (1987, p. 146) tem como característica questionamentos básicos que são apoiados em teorias e hipóteses que se relacionam ao tema da pesquisa. Desta forma foi possível compreender as concepções de leitura e autoavaliação dos estudantes em relação à sua competência em leitura. A partir dos dados da pesquisa, foram construídas reflexões acerca do referencial teórico, visando apontar as reais condições dos estudantes que ingressam no curso, no que se refere à proficiência e concepções de leitura.

RESULTADOS E DISCUSSÕES Pensar a formação de leitores implica conhecer os processos históricos de acesso à leitura e a escrita. No Brasil, a educação foi sendo ofertada de acordo com as demandas do sistema produtivo, objetivando qualificar mão-de-obra para o mercado de trabalho e em pleno século XXI ainda não se resolveu o problema do analfabetismo. Segundo o IBGE 5, o índice nacional de analfabetismo em 2012 era de 8,7%, incluídas as pessoas de 10 anos ou mais. Nesse contexto são evidenciados inúmeros fatores que acabaram/acabam contribuindo para a manutenção do analfabetismo em nosso país conforme aponta a autora: Entre as condições sociais que explicam a persistência do analfabetismo no limiar do século XXI, podemos destacar: pobreza e desemprego, que impedem as famílias de mandarem seus filhos à escola, ou mantê-loa ali; trabalho infantil (dentro e fora de casa); qualidade insatisfatória de alguns sistemas educacionais e escolas municipais e estaduais; confusão entre campanha (necessariamente emergencial e provisória) e política de alfabetização. (CARVALHO, 2014, p.66) Considerando todos os avanços ocorridos na sociedade, há que se pensar a necessidade de avançar em relação a educação, no sentido de que não somente se forme para o mercado de trabalho, mas que se forneçam elementos para que de fato as pessoas possam atuar com criticidade sobre sua realidade. A leitura, além de proporcionar o acesso a informações, amplia as possibilidades de compreensão e de atuação na sociedade e é nessa perspectiva que formação de professores deve contribuir. Pensando na formação de professores que ensinarão a ler, trazemos à tona algumas questões como: o que precisa um professor para incentivar seus alunos a tomarem gosto pela leitura? O professor que não é leitor assíduo, consegue incentivar, de maneira efetiva, a leitura em seus alunos? Para conseguir refletir de modo mais efetivo e com os pés na realidade do curso de pedagogia do câmpus Vi- 5 As taxas de analfabetismo estão decrescendo, ainda que lentamente. Em 2002, 12,4%; de analfabetos maiores de 15 anos; em 2007, havia 10,1%; em 2008, 10,0%; em 2011, 8,6%. Informações do site www.ibge.gov.br

deira, uma versão anterior dessa pesquisa foi lançada no ano de inauguração do curso e obteve alguns resultados significativos, porém consideramos importante realizar novamente estudos nas turmas subsequentes, para que traçássemos um perfil de ingressos com o objetivo de propor algumas alternativas no decorrer da formação desses estudantes, de forma à contribuir com a formação de qualidade dos professores-alfabetizadores que concluirão o curso. Na primeira versão da pesquisa encontramos alguns dados que gostaríamos de expor ao lado dos encontrados esse ano, para depois poder estabelecer um debate sobre os mesmos. No que tange à frequência de leitura, os resultados apontam que: Tabela 1 Frequência de Leitura 2012-2013 2014-2015 Leem raramente 5,2 % 11% Leem de vez em quando 44,7% 23% Leem de uma a três vezes por semana 23,6% 43% Leem todos os dias 26,3% 23% Observando os dados, percebe-se que o número de leitores assíduos permanece parecido nas duas versões, o que se altera são as opções de vez em quando e de uma a três vezes por semana, isso mostra que as leituras esporádicas na segunda etapa da pesquisa deixam o lugar para um tempo reduzido, mas delimitado de leitura. É interessante verificar que em relação a primeira turma, a segunda amplia a frequência com que leem, porém não basta apenas considerar esse aspecto para afirmar que há maior aproveitamento ou gosto pela mesma, ou ainda, que somente esse aspecto defina a formação de leitores. Esses dados remetem à necessidade de ensinar-se a ler". E esse ensinar-se a ler, é de fundamental importância para professores que ensinarão a ler, o mesmo autor afirma que se a escola não transformar os alunos em leitores, ninguém mais o fará e ainda que as atividades de leitura e a escrita só fazem sentido se ensinadas de um leitor para outros leitores e escritores (GUEDES, 2006, p. 64). Logo um professor que não cultiva hábitos regulares de leitura terá dificuldades na atuação docente enquanto incentivador de leitura, para que não demarcar uma lacu-

na na formação dos educandos o mesmo precisa tornar-se consciente de ele mesmo ser um leitor. Quanto ao perfil do material lido, no ano de 2012-2013 a maior parte dos informantes, 37,7%, indicaram a leitura de livros como a preferida. Em 2014-2015 esse número subiu para 52%. Isso demonstra que, mesmo com todas as informações disponíveis nas mais variadas formas, a grande procura dos estudantes ainda tem sido os livros Não houveram grandes mudanças entre a pesquisa anterior, quanto as indicações de leitura: naquele ano 44% relacionavam-se a indicação de livros às sugestões de amigos. A escola foi a responsável pelas indicações para 25,58% das respostas e o incentivo dos pais foi citado por apenas 6,9%. Nesse ano 41% relacionaram as indicações aos amigos, 40% marcaram o item outra opção, 7% a escola e 2% atribuíram a indicação aos pais. Quando questionamentos sobre o acesso aos livros, os estudantes indicaram que: Tabela 2 Forma de acesso às leituras 2012-2013 2014-2015 Empréstimo de amigos 37,30% 45% Compra 33,90% 33% Bibliotecas 24,50% 18% Na pesquisa anterior, um dos dados mais preocupantes estava relacionado à compreensão da leitura. Quando questionados sobre se entendem o que leem, naquele ano 71% dos informantes, ingressantes de Pedagogia, disseram ter dificuldades de compreender o que leem. Nesse ano a porcentagem foi mais baixa, porém ainda merece muita atenção 51% dos ingressantes indicaram que não compreendem o que leem. Em relação a importância da leitura o autor afirma que Ler é uma atividade extremamente complexa e envolve problemas não só semânticos, culturais, ideológicos, filosóficos, mas até fonéticos (CAGLIARI, 1994, p.149). Os dados em relação à compreensão da leitura não diferem do que mostram os índices nacionais. Isso demonstra um ponto a ser pensado durante a formação desses estudantes. Por outro lado, a análise das entrevistas realizadas com os quatro sujeitos entrevistados, na primeira pesquisa, possibilitou a coleta de dados acerca da relação

dos mesmos com a leitura, após o ingresso no curso de Pedagogia. Todos afirmaram ter ampliado as leituras a partir da entrada no curso. Já nas entrevistas realizadas durante esse ano, esse fator se apresentou de forma ambígua, uma parte dos sujeitos apontou que lê mais desde que entrou no curso, tanto pela necessidade que uma graduação exige, como pelo acesso à uma biblioteca próxima: é uma oportunidade, porque lá onde eu moro não tem uma biblioteca assim, que eu possa pegar livro, e tem aqui um lugar que tem livro disponibilizado pra gente, pros alunos. (S1) 6 Porém, outra parte relacionou o ingresso no curso combinado aos demais afazeres, tornou-se uma sobrecarga, pois consome bastante tempo, e por isso tem mais dificuldades de ler depois que iniciaram a graduação: Agora trabalho, cuido de família e só tenho possibilidade de ler na faculdade, antes de dormir e no final de semana (...) Portanto um tempo menor do que eu possuía antes (S5) Sobre a característica mais importante para o professor que vai ensinar a ler e escrever, os entrevistados, na primeira entrevista foram unânimes em indicar a necessidade de que o professor seja, ele próprio, um leitor: Característica mais importante, que ele mesmo goste de ler e tenha muita paciência. (S2). Na entrevista realizada nesse ano, o maior apontamento foi em relação à paciência, algumas vezes relacionadas ao fato do professor ser leitor, mas não necessariamente. Neste ano, quando questionamos os estudantes sobre as estratégias que utilizariam para incentivar a leitura apareceram diversas estratégias, muitas delas, ligadas à apresentar o texto relacionado à figuras: O incentivo pode vir do professor trazer gravuras, histórias narradas para eles ouvirem no computador, assim possa parecer mais atraente. (S6), importante considerar uma resposta que difere das demais, trata-se do sujeito número 2, que já atua na escola e disse: Então, como eu trabalharia, eu estou tentando na verdade com os meus alunos, a conseguir incutir esse hábito de leitura, sinceramente, eu não consigo te responder agora porque eu estou com dificuldade. (S2). Diante dessa afirmação, percebe-se que quando o sujeito se depara com as situações reais da prática, é que realmente vai encontrar as dificuldades e é nessa perspectiva que a formação deve contribuir, para que esse 6 Para preservar a identidade dos entrevistados, eles serão nomeados como S1, S2, S3, S4... (sujeitos 1, 2, 3 e 4 respectivamente), de acordo com a ordem de gravação das entrevistas.

profissional enfrente essas situações com proposições que deem conta de resolver essas demandas. CONSIDERAÇÕES FINAIS Se ensinar a ler demanda ensinar-se a ler, como afirma Guedes (2006), devemos repensar a formação inicial dos professores. Os dados analisados nas duas entrevistas mostram que temos um caminho, para possibilitar através da formação de professores uma melhora nos índices nacionais de leitura, não bastam leituras fragmentadas ou, apenas, a escolarização da leitura (SOARES, 2006). É preciso que despertemos o gosto pela leitura, associado ao avanço com relação à compreensão do texto lido. Diante dos dados da pesquisa percebe-se a necessidade de ampliar o acesso e o gosto pela leitura, porém não basta apenas ampliar, mas também selecionar quais leituras são importantes. Além disso, essa prática deve contribuir no sentido de entendimento das pessoas que leem, para que de fato compreendam o que leram. Esse profissional vai ter uma significativa contribuição no que tange a formação de pequenos leitores, já que estará atuando diretamente com as crianças da educação básica. Nesse sentido faz-se necessário desenvolver o gosto pela leitura para que de fato esse profissional também desperte este gosto em seus alunos. É necessário fazer com que o curso de pedagogia possibilite, aos professores em formação, ampliar tanto o contato com os livros quanto a compreensão do texto lido. Na verdade, essa deveria ser uma preocupação de interesse à todos os cursos de licenciatura. Com os dados levantados nas duas edições da pesquisa, foi possível perceber que temos muito à avançar nesse aspecto e é necessário que o curso, amplie as possibilidades de leitura durante a formação. A leitura, além de proporcionar o acesso a informações, deve ampliar as possibilidades de compreensão e de atuação na sociedade e é nessa perspectiva que formação de professores deve ser pensada. O curso de Pedagogia precisa estar vin-

culado a uma formação do professor reflexivo, que avalie constantemente sua prática à luz da teoria, conseguindo assim construir uma práxis pedagógica. REFERÊNCIAS CAGLIARI, Luiz Carlos. Alfabetização e Linguística. 7.ed. São Paulo: editora scipione, 1994. CARVALHO, Marlene. Alfabetizar e letrar: um diálogo entre a teoria e a prática. 11.ed. Petrópolis: Vozes, 2014. GUEDES, Paulo Coimbra. A formação do professor de português que língua vamos ensinar? São Paulo: Parábola Editorial, 2006. INSTITUTO PRÓ LIVRO, Retratos da Leitura no Brasil. 3.ed. São Paulo, 2012. Disponível em: http://prolivro.org.br/home/images/relatorios_boletins/3_ed_pesquisa_retratos_leitura _IPL.pdf Acesso em: 04 jun. 2015. KATO, Mary. O Aprendizado da Leitura. São Paulo: Martins Fontes, 1999. LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos de metodologia científica. 2. ed. rev. e ampl. São Paulo: Atlas, 1990. LÜDKE, Menga; ANDRÉ, Marli. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo: EPU, 1986. SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica, 2006. TRIVIÑOS, Augusto Nibaldo Silva. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 1987.