CURSO DE PERÍCIA CONTÁBIL. 3ª Edição



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Transcrição:

CURSO DE PERÍCIA CONTÁBIL 3ª Edição 1

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ANTÔNIO GOMES DAS NEVES Contador, Perito, Professor de Legislação Trabalhista e Perícia Contábil na graduação e pós-graduação. CURSO DE PERÍCIA CONTÁBIL 3ª Edição 3

R EDITORA LTDA. Todos os direitos reservados Rua Jaguaribe, 571 CEP 01224-001 São Paulo, SP Brasil Fone (11) 2167-1101 www.ltr.com.br Julho, 2012 Versão impressa - LTr 4604.8 - ISBN 978-85-361-2237-3 Versão digital - LTr 7400.9 - ISBN 978-85-361-2270-0 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Neves, Antônio Gomes das Curso básico de perícia contábil / Antônio Gomes das Neves. 3. ed. São Paulo : LTr, 2012. A perícia : aspectos gerais e legais... O perito : aspecto legal... Bibliografia. 1. Perícia contábil 2. Perícia contábil Estudo e ensino I. Título. 12-08744 CDU-347.948:657 Índice para catálogo sistemático: 1. Perícia contábil : Processo civil 347.948:657

DEDICATÓRIA A Luis Filipe, que a 01 (um) ano me faz viver a doce experiência de ser vovô. Êh... Vôôô...!!! 5

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SUMÁRIO PREFÁCIO João Pedro Ayrimoraes Soares Júnior... 11 1. ASPECTOS CONCEITUAIS, LEGAIS E GERAIS 1.1. Perícia... 13 1.2. Perícia contábil... 13 1.3. Objetivo... 14 1.4. A perícia como prova... 14 1.4.1. Meios de busca da prova pericial... 16 1.5. Legislação e normas aplicadas... 17 1.5.1. Código de Processo Civil... 17 1.5.2. Decreto-Lei n. 9.295/46... 17 1.5.3. Normas contábeis... 18 1.5.4. Legislação e norma complementar... 19 1.5.4.1. CLT Consolidação das Leis do Trabalho... 19 1.5.4.2. Código de ética Resolução n. 803/96... 19 1.5.5. Doutrina... 21 1.6. Auditoria x Perícia diferenças e semelhanças... 21 1.7. Classificação da perícia... 22 1.7.1. Perícia judicial... 23 1.7.2. Perícia extrajudicial... 23 1.7.3. Perícia arbitral... 23 1.7.4. Perícia estatal... 24 1.7.5. Perícia voluntária... 24 1.8. O campo pericial... 25 1.8.1. Os fóruns judiciais... 25 1.8.2. Natureza das ações... 26 1.8.2.1. Perícias de mérito, essencialmente, contábil... 26 1.8.2.2. Outras perícias ligadas à gestão... 28 1.8.2.2.1. Perícia Trabalhista... 28 1.8.2.1.1.1. Aspectos peculiares aplicados à perícia trabalhista... 29 7

8 1.8.2.3. Perícias em processos de Sistema Financeiro de Habitação e empréstimos bancários... 31 1.8.2.3.1. Sistema Financeiro de Habitação SFH... 31 1.8.2.3.2. Empréstimos bancários... 32 1.8.2.4. Perícias em Liquidação de Sentença... 32 2. PERITO 2.1. Perito-Contador... 36 2.1.1. Formação legal... 36 2.1.2. Competência técnico-profissional... 37 2.1.2.1. Conhecimento de outras áreas... 39 2.1.3. Perfil ético-profissional do perito... 40 2.1.3.1. Impedimento e suspeição do perito... 43 2.1.3.1.1. Suspeição pelo CPC... 44 2.1.3.1.2. Impedimento pelas Normas Contábeis... 45 2.1.3.1.3. Suspeição pela NBC PP 01... 46 2.1.3.2. Penalidades impostas ao perito... 47 2.1.3.2.1. Afastamento do perito... 47 2.1.3.2.2. Ressarcimento de prejuízo e inabilitação... 48 2.1.3.2.3. Pena de reclusão... 48 2.6. Honorários do perito-contador... 50 2.6.1. Fatores considerados para estabelecimento dos honorários... 50 2.6.2. Como requerer o depósito dos honorários na Perícia Judicial... 53 2.6.3. Responsabilidade pelo pagamento dos honorários... 54 2.6.4. Do levantamento dos honorários na Perícia Judicial... 54 2.7. Assistente técnico ou perito-contador assistente... 55 2.7.1. Formação legal e função dos assistentes... 55 2.7.2. Ajuste nas condições de trabalho honorários... 57 3. A PERÍCIA JUDICIAL 3.1. Da requisição da perícia... 58 3.2. Do indeferimento da perícia... 58 3.3. Do preparo ou instrução do processo pericial... 59 3.3.1. Da nomeação do perito e procedimentos para instrução do processo pericial... 59 3.3.1.1. Escolha e nomeação do perito... 60

3.3.1.1.1. Da aceitação e apresentação da proposta de honorários... 60 3.3.1.1.1.1. Apresentação da proposta... 62 3.3.2. Apresentação de quesitos e assistentes... 62 3.3.2.1. Quesitos... 62 3.3.2.1.1. Quesitos Impertinentes... 63 3.3.2.1.2. Quesitos Suplementares... 64 3.4. Planejamento para execução dos trabalhos periciais... 65 3.4.1. Requisição de documentos, material e informações Diligências... 68 3.4.2. Relacionamento perito-contador e perito-contador assistente... 72 3.5. Laudo Pericial... 74 3.5.1. Estrutura do laudo... 74 3.5.2. Do prazo para entrega do laudo... 79 3.6. Manifestações sobre a perícia... 81 3.6.1. Dos pareceres dos peritos-contadores assistentes sobre o laudo... 81 3.6.2. Pedido de esclarecimentos... 82 3.6.3. Realização de nova perícia... 82 3.7. Resumo do ciclo operacional da perícia judicial Da nomeação do perito ao esclarecimento do laudo... 83 4. A PERÍCIA EXTRAJUDICIAL 4.1. Objetivo... 85 4.1.1. Para decisões administrativas... 85 4.1.2. Para instrução de processo judicial... 86 4.1.3. Operacionalização da perícia contábil... 86 4.2. Planejamento e execução... 87 4.2.1. Quesitos na perícia extrajudicial... 87 4.2.2. Laudo pericial... 88 4.2.3. Atuação dos assistentes técnicos... 88 5. ANEXOS 5.1. Laudo pericial contábil... 91 5.2. Normas Brasileiras de Contabilidade... 95 5.3. Artigos do CPC relacionados à perícia contábil... 125 5.4. Lei n. 12.249, de 11 de Junho de 2010... 128 5.5. Código de ética profissional do contador... 131 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS... 139 9

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PREFÁCIO Pela natureza técnica e complexidade da matéria envolvida, frequentes são os processos em que a adequada resolução do litígio depende dos esclarecimentos trazidos pela perícia contábil. De efeito, muitas vezes não se mostram suficientes os conhecimentos jurídicos dos usuais sujeitos do processo para o deslinde da causa. Nem as partes, nem os advogados, nem o Ministério Público, nem mesmo o juiz, possuem elementos para a completa cognição da demanda. E tal situação se revela de maneira particularmente tormentosa quando a causa versa questões afetas ao Sistema Financeiro da Habitação, Sistema Tributário Nacional, contratos bancários, desapropriação, leasing, benefícios previdenciários, entre outros temas de acentuada dificuldade. Em casos que tais a prática demonstra, somente o concurso da competente perícia contábil municia os sujeitos do processo das informações necessárias ao adequado conhecimento da lide. É bem verdade que não está o juiz adstrito ao laudo pericial (Código de Processo Civil, art. 436), podendo afastar ou mitigar suas conclusões, determinar a realização de nova perícia, apreciar livremente a prova. Mas todos aqueles que militam no foro sabem que muitos são os casos em que uma boa perícia pode apontar para uma correta solução do litígio. E boa perícia não apenas no sentido técnico, mas também, e, principalmente, no aspecto ético. É que o perito, como profissional da confiança do Juízo, jamais poderá descurar de trazer sempre a verdade, em toda sua profundidade e extensão, daquilo que lhe for dado a examinar. Tanto isso é imperioso que, a par dos preceitos ético-profissionais internos à corporação laboral (Conselhos Federal/ Regionais de Contabilidade), a própria legislação penal sanciona as condutas infringentes a esse dever (por exemplo: Código Penal, art. 342). Todos esses aspectos foram abordados neste Curso de Perícia Contábil, da lavra de Antônio Gomes das Neves. Com estilo leve e fluente, o autor, Contador e Professor Universitário de reconhecida competência, oferece as lições e procedimentos para a realização de uma boa perícia, seja no sentido técnico, seja no sentido ético. 11

Oxalá alcance esta obra larga aceitação nos meios acadêmicos e profissionais, com o que, não restam duvidas, aproveitaremos todos: juízes, promotores, advogados, contadores, jurisdicionados, estudantes, enfim, a sociedade inteira. João Pedro Ayrimoraes Soares Júnior Juiz Federal da Seção Judiciária do Estado do Piauí 12

1. ASPECTOS CONCEITUAIS, LEGAIS E GERAIS 1.1. PERÍCIA Segundo Aurélio, em seu Novo dicionário Aurélio da língua portuguesa, a palavra perícia tem como origem o termo em latim peritia, que significa habilidade, destreza. É exame técnico, científico. É, portanto, qualidade do profissional que tem elevado nível de conhecimento técnico. A doutrina contábil e jurídica atribui diversos conceitos para perícia. Há conceituação com base nos fins a que se destina, sendo, desta forma, conceituada como prova, evidência. Também é conceituada como técnica ou meio de busca da prova, tomando, assim, o conceito de exame, vistoria e investigação técnica. Perícia é, portanto, mecanismo técnico especializado para busca e alcance de prova, não alcançada por pessoa ou, mesmo, por profissional comum. 1.2. PERÍCIA CONTÁBIL É o exame, ou prova ou ainda investigação técnica que está ligada a fatos contábeis. É, portanto, a utilização de meios técnicos para busca de prova ligada ao patrimônio, aos registros dos atos e fatos de uma administração econômica do ponto de vista quantitativo e qualitativo. Com base nos aspectos conceituais citados, nos fatos que caracterizam como atividade profissional contábil, nos procedimentos operacionais e ainda nos meios em que se realizam, conceituamos Perícia Contábil, como sendo o conjunto de procedimentos técnicos envolvendo o exame, a vistoria, a indagação, a investigação, o arbitramento e a avaliação, que tem como objetivo esclarecer aspectos técnicos contábeis e demonstrar fatos para subsidiar na formação da convicção do juiz, tratando-se de perícia judicial, bem como mostrar ao interessado a realidade de um fato para tomada de decisão, tratando-se de perícia extrajudicial. No tocante à conceituação de perícia, a NBC TP 01, item 2, assim se expressa: 13

CONCEITO [...] 2. A perícia contábil constitui o conjunto de procedimentos técnico-científicos destinados a levar à instância decisória elementos de prova necessários a subsidiar à justa solução do litígio ou constatação de um fato, mediante laudo pericial contábil e/ou parecer pericial contábil, em conformidade com as normas jurídicas e profissionais, e a legislação específica no que for pertinente. 1.3. OBJETIVO Conforme já se expôs no próprio conceito, a perícia tem como objetivo investigar os fatos alegados e mostrar a verdade em torno dos mesmos. Ísis de Almeida, em sua obra Manual das Provas no Processo Trabalhista, conceitua prova como sendo a série de elementos constituintes dos autos de um processo que, em conjunto ou individualmente, conduzem ao conhecimento dos fatos, objeto da ação e da defesa, afirmando-lhes a veracidade e dando procedência às alegações das partes. É, portanto, de acordo com os ensinamentos do referido mestre, a demonstração da certeza, verdade e autenticidade de um fato. Desta forma, no litígio não se podem tomar como verdadeiros os fatos e argumentos trazidos aos autos e alegados pelas partes, na tese de pleito ou defesa. Através dos meios, técnicas e procedimentos admitidos, a perícia deverá apurar a verdade para dar conhecimento e convicção ao julgador ou às partes interessadas, para tomada de decisão, contemplando, de forma justa, o detentor do direito. Tem, portanto, a perícia, como objetivo, mostrar a verdade existente em torno dos fatos apresentados no litígio. A comprovação do fato ou da certeza objetiva dar convicção ao julgador para decidir, ou às partes interessadas, para tomada de decisão. 1.4. A PERÍCIA COMO PROVA Diversos são os meios de prova conhecidos e admitidos pela legislação brasileira. A prova é tratada no capítulo VI do Código de Processo Civil, que em seu art. 332 dispõe que são hábeis para provar a verdade dos fatos, todos os meios legais, bem como os moralmente legítimos. 14 Art. 332. Todos os meios legais, bem como os moralmente legítimos, ainda que não especificados neste Código, são hábeis para provar a verdade dos fatos, em que se funda a ação ou a defesa.

O referido capítulo indica como meios de prova os seguintes: O depoimento pessoal; A confissão; A exibição da coisa ou documento; A documentação; O testemunho; A perícia; A inspeção judicial. A perícia se constitui na mais robusta das provas ou meios de prova. Trata-se da evidenciação da verdade de forma técnica e científica. Reza o caput do art. 145 do CPC que, quando a prova depender de conhecimento técnico ou científico, o juiz será assistido por um perito. Art. 145. Quando a prova do fato depender de conhecimento técnico ou científico, o juiz será assistido por perito, segundo o disposto no art. 421. Na prova pericial, outras modalidades citadas podem servir como meio para o alcance da convicção do perito à medida que este, em busca da prova técnica, pode interrogar, vistoriar e examinar documentos, mediante diligências, conforme se constata pela leitura do art. 145 combinado com o art. 429, ambos do CPC. Art. 429. Para o desempenho de sua função, podem o perito e os assistentes técnicos utilizar-se de todos os meios necessários, ouvindo testemunhas, obtendo informações, solicitando documentos que estejam em poder de parte ou em repartições públicas, bem como instruir o laudo com plantas, desenhos, fotografias e outras quaisquer peças. A perícia é a modalidade de prova que não pode ser emitida por cidadão ou profissional comum, por se tratar de assunto técnico científico. A perícia não admite os termos eu acho, mais ou menos, eu entendo ou parece. O perito deve ter segurança de suas conclusões, baseado em fatos, para dar convicção ao julgador. A conclusão da prova é a convicção técnica da verdade mediante fatos e verdades. Apesar do caráter técnico e científico disposto no art. 145 do CPC, na prática, admitem-se casos em que a perícia não se torna obrigatória, pelo rigor técnico. Há casos em que não há obrigatoriedade da atuação do expert com conhecimento técnico, porém é impraticável, operacionalmente, ao magistrado e/ou auxiliares, tornando-se, portanto, neste caso, facultativa, a realização da perícia. 15

São casos que necessitam de levantamento de dados e informações, em que se faz necessária a realização de diligências externas e outros procedimentos que demandam longo tempo para execução, como levantamento de jornada de trabalho em cartão de pontos para averiguação do exercício de horas extras, ou ainda apuração do valor das vendas ou cálculos aritméticos, principalmente em liquidação de sentença, com grande número de beneficiários. 1.4.1. MEIOS DE BUSCA DA PROVA PERICIAL São procedimentos lícitos e cabíveis ou meios adotados pelo perito, em busca da prova pericial. 16 O art. 420 do CPC indica o exame, a vistoria e a avaliação Art. 420. A prova pericial consiste em exame, vistoria ou avaliação... A NBC TP 01, item 18 a 26, indica, além dos três citados, a indagação, a investigação, o arbitramento, a mensuração, a avaliação e a certificação. A referida norma conceitua cada um destes procedimentos que o perito utiliza para busca da prova ou, como indica a norma, para fundamentar suas conclusões, conforme mostramos a seguir: PROCEDIMENTOS [...] 18. Os procedimentos de perícia contábil visam fundamentar as conclusões que serão levadas ao laudo pericial contábil ou parecer pericial contábil, e abrangem, total ou parcialmente, segundo a natureza e a complexidade da matéria, exame, vistoria, indagação, investigação, arbitramento, mensuração, avaliação e certificação. 19. O exame é a análise de livros, registros das transações e documentos. 20. A vistoria é a diligência que objetiva a verificação e a constatação de situação, coisa ou fato, de forma circunstancial. 21. A indagação é a busca de informações mediante entrevista com conhecedores do objeto ou de fato relacionado à perícia. 22. A investigação é a pesquisa que busca trazer ao laudo pericial contábil ou parecer pericial contábil o que está oculto por quaisquer circunstâncias. 23. O arbitramento é a determinação de valores ou a solução de controvérsia por critério técnico-científico. 24. A mensuração é o ato de qualificação e quantificação física de coisas, bens, direitos e obrigações. 25. A avaliação é o ato de estabelecer o valor de coisas, bens, direitos, obrigações, despesas e receitas.

26. A certificação é o ato de atestar a informação trazida ao laudo pericial contábil pelo perito-contador, conferindo-lhe caráter de autenticidade pela fé pública atribuída a este profissional. 1.5. LEGISLAÇÃO E NORMAS APLICADAS A legislação brasileira e doutrina que trata de perícia são escassas. Consequentemente é escassa também a literatura que trata do tema. Vejamos a seguir a legislação vigente sobre o tema. 1.5.1. CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL No Código de Processo Civil, a matéria vigente que disciplina a perícia está disposta no título VIII, capítulo VI, seção VII, que trata da prova pericial, especificamente nos artigos de número 420 a 439 e no título IV, capítulo V, seção II que trata do perito especificamente nos arts. 145, 146 e 147. É importante ressalvar que a matéria disposta no CPC não é aplicada especificamente à perícia contábil, mas a todas as espécies, que ocorrem no processo judicial. Há inclusive dispositivos, não aplicados à perícia contábil a exemplo do art. 434 e outros que, não necessariamente, são aplicados, ou às vezes, tornam, se no mínimo, não recomendáveis, dependendo das circunstâncias, a exemplo do disposto no art. 431-A, considerando que o início efetivo da perícia contábil não se dá simplesmente com a carga e retirada dos autos, carecendo de planejamento, agendamento de diligências e demais procedimentos admitidos. Art. 434. Quando o exame tiver por objeto a autenticidade ou a falsidade de documento, ou for de natureza médico-legal, o perito será escolhido, de preferência, entre os técnicos dos estabelecimentos oficiais especializados. O juiz autorizará a remessa dos autos, bem como do material sujeito a exame, ao diretor do estabelecimento. (Alterado pela L-008.952-1994). Parágrafo único. Quando o exame tiver por objeto a autenticidade da letra e firma, o perito poderá requisitar, para efeito de comparação, documentos existentes em repartições públicas; na falta destes, poderá requerer ao juiz que a pessoa, a quem se atribuir a autoria do documento, lance em folha de papel, por cópia, ou sob ditado, dizeres diferentes, para fins de comparação. 1.5.2. DECRETO-LEI N. 9.295/46 O diploma legal de 24 de março de 1946 criou o Conselho Federal de Contabilidade e definiu as atribuições dos profissionais de contabilidade. 17