Boletim Econômico Edição nº 56 fevereiro de 2015 Organização: Maurício José Nunes Oliveira Assessor econômico Pela revogação das Medidas Provisórias 664 e 665 As duas medidas visam economizar R$ 18 bilhões para os cofres públicos e cobrir o déficit fiscal de R$ 20 bilhões do ano de 2014 1
A Crise fiscal do governo Déficit primário é o primeiro registrado desde 1997 e alcança R$ 20 bilhões com contas de estados e municípios O Rombo nas contas públicas O governo federal fechou 2014 com o primeiro rombo nas contas do chamado governo central, que inclui o desempenho do Tesouro Nacional, Previdência Social e Banco Central, em toda a série histórica, iniciada em 1997. Apesar do superávit de R$ 1,03 bilhão em dezembro, o buraco no ano chegou a R$ 17,2 bilhões. O primeiro déficit fiscal em 18 anos será ampliado com a inclusão do resultado das contas de estados e municípios. O rombo deve chegar a R$ 20 bilhões. O inédito déficit fiscal resultou de uma frustração de receitas combinado a um aumento das despesas federais. Esta foi a base da estratégia de política econômica do primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff: desonerações de impostos a alguns setores e aumento de gastos como forma de estímulo ao crescimento da economia. (PIB). O rombo fiscal de 2014 altera também a forma como se convencionou chamar a poupança para pagar os juros da dívida pública nas últimas duas décadas. Em vez de superávit primário, o dado do ano passado constituiu um déficit primário. Com menos recursos canalizados para essa poupança, o endividamento 2
aumentou. A dívida bruta, indicador definido como principal pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, teve um forte aumento no ano passado: saltou do equivalente a 56,7% do PIB no fim de 2013 para mais de 63% do PIB. Reverter esta deterioração das contas públicas é a principal missão do segundo mandado da Presidente Dilma. Vai ser necessário buscar credibilidade junto ao mercado para um novo arrocho da política fiscal Desde 2012, o governo entrega uma economia de recursos inferior ao prometido. Parte da piora nas contas públicas nos últimos meses do ano passado escancara a correção das pedaladas fiscais. Sob investigação do Tribunal de Contas da União (TCU) e do Ministério Público Federal (MPF), o governo iniciou em setembro um processo de despedalada. Isto é, começou a ser corrigidos os atrasos nos repasses do Tesouro aos bancos, como forma de melhorar artificialmente as despesas federais. O caso mais flagrante de despedalada nas contas públicas ocorreu na Previdência Social. Um dos principais focos de atrasos do Tesouro foi com as aposentadorias. Como comprovou o TCU, o Tesouro atrasou os repasses de recursos ao INSS, que, por sua vez, adiou a transferência do dinheiro aos bancos. Sustentado nesses atrasos, o governo manteve até novembro uma projeção de déficit da Previdência de R$ 40 bilhões. Apenas no limite corrigiram essa projeção para R$ 49 bilhões negativos. Quando o resultado da previdência social foi divulgado, apresentouse um rombo de R$ 56 bilhões. O rombo oficial terminou sendo 30% superior ao previsto originalmente e foi registrado graças à correção dos atrasos. O resultado fiscal só não foi pior porque o governo ampliou o uso dos dividendos pagos pelas empresas estatais ao Tesouro. Em 2014, as estatais pagaram R$ 18,9 bilhões em dividendos, volume 9,5% superior ao do ano anterior. O BNDES foi o principal responsável, ao recolher R$ 9 bilhões ao Tesouro, sendo seguido pela Caixa, que pagou R$ 4,3 bilhões. O Tesouro também tomou o dobro de dividendos da Petrobras entre 2013 e 2014 - foram R$ 2 bilhões no ano passado. 3
Resultado fiscal fica R$ 100 bilhões abaixo do prometido Apesar de todas as manobras contábeis, as contas do governo fecharam com um resultado R$ 100 bilhões menores do que o prometido pela equipe econômica em 2014. O governo saiu de uma meta de R$ 80 bilhões para as contas do chamado governo central fixada para 2014 para um déficit de R$ 20 bilhões efetivamente registrados. Os dados divulgados indicam que o governo conseguiu uma margem de manobra de R$ 161,74 bilhões para administrar o resultado negativo nas contas do governo no passado. Essa é a soma das despesas pagas do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) - R$ 57,69 bilhões - e das desonerações tributárias, de R$ 104,04 bilhões em 2014. Com a flexibilização da meta fiscal prevista na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), aprovada pelo Congresso Nacional no final do ano passado, o governo poderá abater esse volume de gastos da meta. Foi essa mudança que garantiu à presidente Dilma Rousseff cumprir oficialmente a meta fiscal para fins legais, mesmo entregando um déficit primário - o primeiro da série histórica no acumulado do ano. A lei deu carta branca para o governo - que 4
poderia ter registrado déficit de R$ 80 bilhões e ainda assim cumprir a meta do ano passado. Com o déficit de R$ 20 bilhões registrado em 2014 nas contas do governo central, o governo consumiu R$ 100 bilhões dessa margem de manobra de R$ 161,74 bilhões aprovada pela mudança na LDO, sobrando R$ 61,74 bilhões. O resultado fiscal de 2014 ainda está pendente, porque o governo terá de administrar uma eventual necessidade de corrigir passivos antigos, caso o relatório do Tribunal de Contas da União (TCU) sobre manobras contábeis seja aprovado. As medidas contidas nas MPs 664 e 665 I As alterações trabalhistas 1. O Seguro desemprego O Governo mal tomou posse e já adotou medidas que tornarão mais rigoroso o acesso da população a uma série de benefícios trabalhistas e previdenciários, entre eles seguro-desemprego e pensão por morte. As Medidas Provisórias (MPs), que na prática significam uma reforma previdenciária, passam a valer imediatamente, mas precisam ter a validade confirmada pelo Congresso Nacional no prazo de até 120 dias. Entre as mudanças definidas está a triplicação do período de trabalho exigido para que o trabalhador peça pela primeira vez o segurodesemprego. Será elevado de seis meses para 18 meses o período seguido de trabalho para que os recursos sejam liberados ao contribuinte que acaba de ficar desempregado. Segundo dados do Governo 74% do seguro-desemprego estão sendo pago para quem está entrando no mercado de trabalho. Agora, o trabalhador terá que trabalhar um ano e meio para ter esse direito. Para solicitar o benefício pela segunda vez, o trabalhador terá que ter 5
trabalhado por 12 meses seguidos. Na terceira solicitação, o período de trabalho exigido continuará sendo de seis meses. 2. O abono salarial Outro benefício que será limitado pelo governo é o abono salarial, que equivale a um salário mínimo vigente e é pago anualmente aos trabalhadores que recebem remuneração mensal de até dois salários mínimos. Atualmente o dinheiro é pago a quem tenha exercido atividade remunerada por, no mínimo, 30 dias consecutivos ou não, no ano. Com a medida provisória, só poderá obter o benefício o trabalhador que tenha exercido atividade por seis meses.o benefício da forma como é hoje trata de forma igual quem trabalha 30 dias em um ano e quem trabalha o ano inteiro. Agora a carência para receber o salário mínimo, em vez de um mês, passa a ser de seis meses. 6
II As alterações previdenciárias 1. A Pensão por morte Os critérios para obter pensão por morte também ficarão mais rigorosos e o valor por beneficiário será reduzido. As novas regras não se aplicam a quem já recebe a pensão. O governo vai instituir um prazo de carência de 24 meses de contribuição do segurado para que o dependente obtenha os recursos. Atualmente, não é exigido tempo mínimo de contribuição para que os dependentes tenham direito ao benefício, mas é necessário que, na data da morte, o segurado esteja contribuindo. 7
Será estabelecido ainda um prazo mínimo de 02 anos de casamento ou união estável para que o cônjuge obtenha o benefício. A atual legislação não estabelece prazo mínimo para a união. Também foi anunciado um novo cálculo que reduzirá o valor da pensão, reduzindo do patamar de 100% do salário de benefício para 50% mais 10% por dependente até o limite de 100% e com o fim da reversão da cota individual de 10%. Pelas medidas provisórias editadas pela presidente Dilma Rousseff, deixará de ter direito a pensão o dependente condenado pela prática de crime que tenha resultado na morte do segurado. Atualmente, o direito de herança já é vetado a quem mata o segurado, mas não havia regra com relação à pensão por morte. Outra mudança é a vitaliciedade do benefício. Cônjuges jovens não receberão mais pensão pelo resto da vida. Pelas novas regras, o valor será vitalício para pessoas com até 35 anos de expectativa de vida atualmente quem tem 44 anos ou mais. A partir desse limite, a duração do benefício dependerá da expectativa de sobrevida. Desse modo, o beneficiário que tiver entre 39 e 43 anos receberá pensão por 15 anos. Quem tiver idade entre 33 e 38 anos obterá o valor por 12 anos. O cônjuge com 28 a 32 anos terá pensão por nove anos. Quem tiver entre 22 e 27 anos receberá por seis anos. E o cônjuge com 21 anos ou menos receberá pensão por apenas três anos. 2. O Auxílio-doença O governo também mudou as normas para concessão do auxíliodoença. Hoje o valor é pago pelo Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) ao trabalhador que ficar mais de 15 dias afastado das atividades. Com a edição da MP, o prazo de afastamento para que a responsabilidade passe do empregador para o INSS será de 30 dias. Além disso, será estabelecido um teto para o valor do auxílio equivalente à média das últimas 12 contribuições. 8
O Governo muda sua doutrina econômica Depois de um primeiro mandato de conotação estritamente populista e intervencionista, onde o Estado aprisionou o mercado, represou as tarifas públicas, ampliou os programas assistencialistas, adotou desonerações tributárias que reduziram a receita do governo e, o que foi pior, aumentou os gastos públicos de maneira irresponsável e eleitoreira. No segundo mandato, o governo está se caracterizando por uma guinada neoliberal, de arrocho nas contas públicas e de liberdade no para o setor privado. Com as contas no vermelho, inflação crescente, déficit fiscal, déficit no comércio internacional e com o setor industrial quebrado o novo governo de Dilma caminha na contra mão de seu primeiro mandato. O ano de 2015 será, pois, de aperto fiscal e monetário em que os trabalhadores terão que pagar a conta da crise. O aumento da carga tributária será um dos instrumentos do governo para tentar colocar a casa em ordem. Mudanças trabalhistas e previdenciárias já estão em vigor. Alterações no seguro desemprego, na pensão 9
por morte, no auxílio doença, dentre outras, vieram para dificultar o acesso aos benefícios sociais por parte dos trabalhadores da ativa e dos aposentados e pensionistas do Brasil. Os trabalhadores sofrerão também com a liberalização dos preços da energia, dos combustíveis e encarecimento do financiamento imobiliário. O crédito pessoal irá para o espaço e o poder aquisitivo dos salários deverá ficar paralisado. 10