I. A DESCOBERTA DA FOTOGRAFIA E DO CINEMA



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I. A DESCOBERTA DA FOTOGRAFIA E DO CINEMA CAPITULO I O cinema como o conhecemos hoje, somente se tornou possível depois da descoberta da fotografia mas como veremos mais adiante, mesmo de uma forma primitiva e rude, ele já se desenvolvia sob a forma de imagens (desenhos) em movimento muito tempo antes da fotografia ser descoberta. De fato, é uma falácia comum pensarmos que cinema é meramente fotografia em movimento. Como veremos nos capítulos a seguir, o cinema é um fenômeno muito mais complexo do que normalmente se pensa possuindo elementos da música, da palavra, da linguagem gestual e de outras formas de comunicacão. Estas questões no entanto, virão na sua devida ordem pois de início precisamos analisar a descoberta do que foi sem dúvida uma das mais importantes contribuições para a cultura do Século XX - a descoberta da Fotografia que também é um dos pré requisitos para o cinema O desejo da fotografia ou alguma coisa semelhante, parece ser intrínseco ao homem -um instinto quase-. O desenho e a pintura na sua forma mais básica não são mais nem menos, do que manifestações do grande desejo de RETRATAR O MUNDO que todos nós possuímos desde a infância e que é comum tanto nos primitivos quanto nos civilizados. Historicamente, sabemos que mesmo antes de existir a escrita os primitivos ja se comunicavm por meio de desenhos (Ver fig. 1.). Mas mesmo depois que a escrita foi inventada tanto o desenho como a pintura continuaram a ser de enorme importância. Isto devese ao fato de que as imagens comunicam em níveis diferentes aos da palavra seja ela ecrita ou falada. Mas é verdade também que tanto a pintura quanto o desenho não conseguiam satisfazer a vontade de muitos artistas de retratar o mundo com o maior realismo possível. O fato é que enquanto não existiu a fotografia muitas - muitíssimas pessoas - estavam insatisfeitas com o que se podia fazer com o desenho e a pintura sobre tudo em matéria de REALISMO. A busca da minúcia, da espontaneidade da perspectiva são tão antigas quanto o desenho. A fotografia representa justamente o detalhe, a minúcia, a perspectiva, a luz, o momento fugaz, a espontaneidade, e a velocidade que muitos procuravam mas não conseguiam por outros meios. Não é de hoje a afirmação que a invenção da fotografia LIBERTOU a pintura para encontrar a sua verdadeira vocação expressiva. Poderíamos até afirmar que do ponto de vista de um determinismo histórico, a humanidade estava fadada a descobrir a fotografia ou alguma coisa semelhante porque não desistiria dessa busca até chegar ao que procurava. Nas próximas páginas iremos ver rápidamente como foi a busca deste meio até hoje insuperádo de registrar imagens de incrível perfeição e realismo. 12 x7 cm Foto Vanessa F.M. Harell figfig. 1.1. Fotografia de Pintura Rupestre nas cavernas de Jataí Goiás. Estima-se que alugumas destas imagens tenham mais de onze mil anos. Poderiamos refletir de como seria difícil fazer uma descrição precisa destes desenhos se não existisse a fotografia. 1

2. OS PRINCÍPIOS DA FOTOGRAFIA A). O Principio da Câmara Escura de Orifício Podemos reduzir a três, os princípios que possibilitaram a descoberta da fotografia. Estes três princípios já existiam muito tempo antes da fotografia ser inventada mas foi necessário reuni-los de forma coerente para que essa invenção pudesse vir à tona. Eles são: A). O PRINCÍPIO DA CÂMARA ESCURA DE ORIFÍCIO, B). O PRINCÍPIO DA FOTOSENSIBILIDADE, C). OS PRINCÍPIOS DA ÓPTICA. Foram estes princípios que possibilitaram a descoberta da fotografia mas não podemos esquecer que existiram múltiplos outros fatores conjunturais, históricos e culturais que também contribuíram de forma decisiva para essa descoberta. O mundo estava pronto para a descoberta da fotografia somente no momento em que ela veio e não antes. Da mesma maneira que Edison não poderia ter feito a descoberta da vitrola ou da lâmpada incandescente antes que existisse o telégrafo ou o arco voltaico, a fotografia não poderia ser descoberta sem que esses e outros importantes requisitos para a completa unificação dos princípios viessem à tona.a verdade é que a busca do processo fotográfico é tão antigo quanto o desejo de representar visualmente o mundo, os objetos, os acontecimentos e os semblantes que consideramos importantes. Mas o caminho para a descoberta da fotografia como todas as outras descobertas dependeu de diversas outras descobertas Vejamos mais detalhadamente cada um desses três princípios básicos e como cada um deles contribuiu para a descoberta completa da fotografia. O principio da câmara escura de orifício é uma invenção anônima e data dos tempos mais remotos. Para sermos mais claros não se sabe quando foi inventada nem por quem. Uma das comprovações mais antigas que temos da sua utilização prática segundo o historiador alemão, Klaus Opten Hoefel é da observação de uma eclipse solar pelo sábio árabe Ibn Al Haitam, na corte de Constantinopla no ano 1038. O princípio porém, é muito mais antigo pois já era conhecido na Grécia antiga quando Aristóteles (384-322 A.C.) fez uma discrição da formação de imagens durante a passagem da luz por pequenos orifícios. Na Itália, o progresso da câmara escura foi grande a partir de sua divulgação nos escritos de Leonardo da Vinci (1452-1519). Da Vinci foi o primeiro a fazer uma discrição precisa do fenômeno da câmara escura. Posteriormente esta passou a receber diversos refinamentos um dos quais foi a introdução de uma lente convergente no lugar do orifício para dar uma imagem muito mais nítida e brilhante. Originalmente, a câmara escura de orifício era uma 9.5X 4 cm Fig.1. 2. O principio da Camara escura de Orificio é de origem desconhecida e data dos tempos mais remotos como mostra esta gravrura datada de 24 de Janeiro de 1544 com a inscrição:solis Designium. caixa ou mesmo um quarto escuro (de onde o nome câmara), no qual uma das paredes possuía um pequeno orifício por onde passava um filete de luz. Este filete de luz penetrando pelo pequeno orifício projetava na parede oposta, uma imagem do que se encontrava do lado de fora.(ver Figura 1.2.) As pesquisas sobre a natureza da Câmara Escura de Orifício intensificaram-se nos séculos XVII e XVIII. No século XVIII, houve grande interesse por todo tipo de princípio científico e os nobres mais esclarecidos faziam encontros para os quais convidavam os grandes pensadores da época. Na França a 2

exemplo disto, Madame de Staël, esposa do célebre matemático do mesmo nome, realizava freqüentes senácles para os quais convidava figuras como Montesquieu, Voltaire, Diderot, Rousseau, D Holbach, La Mettrie e outros. Até meados e fins do século XVIII (veja figs. 3.e 4.) câmaras escuras de inúmeros formatos eram utilizadas para ampliar transparências e desenhos e mesmo para o retrato pelos artistas da época, mas até esse momento ninguém havia encontrado uma forma de gravar as imagens formadas dentro da Câmara escura a não ser pelo desenho. Devemos notar bem aqui que todos esses avanços são indícios de uma emergente voracidade de ver. As lunetas, os telescópios, os microscópios, a câmara escura, a gravura, a pintura representam nesta época uma crescente necessidade do homem de ver e de conhecer o seu mundo desde o microcosmos até o macrocosmos. É esta época que representa o início da cultura visual do século XX e é caracterizada pela busca do conhecimento através da verificação empírica (o método científico). É interessante notar que o crescente uso ao qual foi submetida a câmara escura nos séculos XVII e XVIII, como um aparelho auxiliar na execução de esboços e desenhos contribuiu muito para reforçar as pesquisas em torno de como melhorar e sobretudo fixar a imagem por ela produzida. Figura1. 3. O princípio da câmara escura em gravura do seculo XVII. Note-se a 12 X 8.4 cm imagem projetada de forma invertida comprovando que os raios de luz se propagam em linha reta. Figura 1. 4. Gravura mostrando a câmara escura já munida e uma objetiva sendo utilizada para copiar desenhos. Note-se bem que ela está montada encima de trilhos para movimentá-la de forma a conseguir diferentes níveis de ampliacão. Figura1. 5. Esta câmara escura com objetiva, espelho e vidro despolido data de 1820 e estava exposta no Museu da Imagem e do Som. Fotografia do autor. 12 X 6.2 cm 6 x 8 cm 3

B. O princípio da Fotossensibilidade: B.1. Johann Heinrich Schulze A busca para encontrar algum material que permitisse fixar as imagens produzidas pela câmara escura vêm dos tempos mais antigos. Naturalmente foi necessário que a ciência da química se desenvolvesse para que algumas descobertas nesse sentido, pudessem ser feitas. Embora ninguém o soubesse, mesmo o próprio descobridor, um passo importantíssimo na descoberta da fotografia foi dado em 1727. Nesse ano, o experimentador alemão Johann Heinrich Schulze publicou os resultados de pesquisa na qual constatava que umas folhas de papel por ele tratadas com nitrato de prata enegreciam quando expostas à luz do dia. Mas, como relata o historiador alemão Klaus Op Ten Hoefl, O Prof.Johann Heinrich Schulze tinha tudo em mente menos fazer descobertas fotográficas; a sua intenção era a fabricação de pedras luminosas de fósforo. O trabalho do Prof. Schulze foi publicado sob o título DE COMO DESCOBRI O PORTADOR DA ESCURIDÃO AO TENTAR DESCOBRIR O POR- TADOR DA LUZ. Obviamente Schulze referia-se ao fato de o material por ele tratado escurecer com a ação da luz em lugar de brilhar como ele desejava. Nunca lhe ocorreu que na realidade ele havia dado o primeiro passo para descobrir o verdadeiro portador da luz - a Fotografia. Schulze, como bom cientista fez novas experiências para certificar-se que era realmente a ação da luz que causava essa transformação na prata mas não levou o seu trabalho além desse ponto e nunca lhe ocorreu de tentar formar uma imagem na câmara escura. Além disto, Schulze também não teve sucesso na tentativa de encontrar algum processo de interromper o enegrecimento da prata quando submetida à luz. FiFig.6. Johann Heinrich Schulze. Em 1727 foi ele quem descobriu a fotossensibilidade dos sais de prata. CAPITULO I B.2. ThomasWedgewood Em 1802, quase cem anos depois de Shulze, o inglês Thomas Wedgewood, descreveu um processo semelhante ao de Schulze que também utilizava nitrato de prata e que ele descrevia como belo e prático quando utilizado para copiar gravuras sendo que carecia somente de alguma forma para fixar as imagens. Wedgewood, embora tenha aplicado o princípio da fotossensibilidade da prata à produção de imagens também falhou na tentativa de encontrar um agente fixador. Na época em que Wedgewood relatou as suas experiências no começo do século XIX, já existiam inúmeros experimentadores em diversos países do mundo, a maioria sem saber os uns dos outros, mas todos unidos no propósito de descobrir alguma forma de fixar a imagem produzida dentro da câmara escura. C. O Princípio da Óptica Este terceiro e último princípio não pode ser subestimado na sua importância para a descoberta da fotografia. Não se sabe ao certo quando é que a câmara escura deixou de ter um orifício e passou a incorporar uma lente. Este passo no entanto foi de grande importância uma vez que a lente produz uma imagem muito mais nítida e brilhante. Quem conhece o princípio da câmara escura de orifício sabe como a imagem produzida por este meio é fraca e sem nitidez. As lentes convergentes estão entre as mais antigas que conhecemos e temos notícias de que o Veneziano BÁR- BARO foi o primeiro a colocar uma lente convergente na câmara escura no século XV. É importante lembrarmos que nos séculos XVII e XVIII foram feitos grandes avanços na óptica. Nesta época as idéias de Copernico eram avidamente discutidas e as lunetas e telescópios já eram muito populares e amplamente utilizados. 4

Nessa época, os primeiros protótipos de microscópios desenvolvidos pelo holandês Leeuwenhoeck também já haviam sido largamente difundidos. É desta época que data também a teoria dos micróbios. A questão da óptica tem muito a ver com aquilo que mencionamos mais cedo, a vontade de olhar. Tanto os avanços técnicos como a liberalização do pensamento possibilitaram aos pensadores da época olhar para o cosmos de uma maneira nova e imaginativa. Como exemplos disto podemos citar também o conto fantástico Viagem à Lua do escritor e poeta Cyrano de Bergerac e Micromégas de Voltaire. Enfim poderiamos afirmar que tanto tecnologicamente como intelectualmente rompe-se a barreira entre o mundo antigo e o moderno. A DESCOBERTA DA FOTOGRAFIA I. JOSEPH NICEPHORE NIEPCE Foi o francês, Joseph Nicephore Niepce, quem produziu para a humanidade a primeira fotografia permanente da história. Niepce procurava desde 1793 alguma forma de copiar gravuras e desenhos. As suas pesquisas o levaram a experimentar com uma grande variedade de materiais fotossensiveis. Em 1822, ele consegui realizar a cópia de uma gravura em metal sobre vidro, processo ao qual ele deu o nome de HELIOGRAFIA. Quatro anos mais tarde, em 1826, ele consegui fazer a primeira fotografia durável da história expondo uma chapa sensibilizada com asfalto e exposta durante oito horas. Como fixador ele usou um ácido a urina. Apesar da enormidade dessa descoberta, ainda hoje este fato importante é ignorado por 90% da humanidade (Ver figuras. 7 e 8). Nota: O processo da Daguerreotipia consistia no uso de uma chapa de cobre sensibilizada por uma fina camada de prata preparada numa câmara especial contendo iodo em estado gasoso. O iodo combinava-se com a prata para formar iodeto de prata, um material fotossensível. A imagem latente resultante era depois revelada com vapor de mercúrio aquecido por uma chama embaixo da chapa. O resultado era uma fotogravura de altissima qualidade. 8.5 x 5.3 cm Figura 1. 7. A primeira fotografia da historia realizada por Joseph Nicephore Niepce. Fig.1. 8. Joseph Nicephore Niepce (1765-1833). II. JAQUES MANDÉ DAGUERRE Niepce associou-se em 1829 a um pintor de paisagens e gravurista, Jaques Mandé Daguerre. Este dedicado artista, procurava um meio mais fácil e realista de fazer gravuras. Depois do falecimento de Niepce Daguerre passou a realizar experiências com o químico Dumas e desde cedo abandonou os lentos processos desenvolvidos pelo sócio. Após vários anos de experiências, em agosto de 1839, Daquerre apresentou um novo processo a L Acadêmie des Sciènces et Beaux Arts de Paris. (Fig. 10.) O processo provou-se revolucionário, fez imediato sucesso e ficou conhecido como Daguerreotipia. Por solicitação do próprio Daguerre, a técnica foi divulgada livremente ao mundo sem quaisquer direitos autorais. Em compensação Daguerre recebeu uma pensão vitalícia do governo francês. Apesar de revolucionário, o processo era muito trabalhoso (Ver Box nesta página). A complexidade e periculosidade do manuseio dos reagentes químicos junto com a lentidão da sensibilidade do processo limitavam enormemente as possibilidades temáticas das primeiras daguerreotipias. Apesar disto, nada impediu o tremendo desenvolvimento e popularidade da técnica.. Uma Daguerreotipia era uma fotogravura feita numa chapa de cobre e não havea meios de reproduzi-la. Mesmo assim, poucos meses depois da sua divulgação Daguerreotipos já estavam sendo realizados na Europa, América e nos mais recônditos lugares do mundo. 5

Agrande popularidade da qual gozou a daguerreotipia foi o resultado deste ser o primeiro processo prático de fotografar. Mesmo assim, devido às dificuldades do processo já mencionadas, os primeiros Daguerreotipos sofriam de severas limitações temáticas (eram de prédios, monumentos, natureza mortas e cenas de rua). O retrato era particularmente difícil de executar devido ao fato que os tempos de exposição eram muito longos (em excesso de 45 a 30 minutos). Isto requeria uma tremenda paciência por parte dos modelos que precisavam se manter perfeitamente imóveis, frequentemente sustentados por armações de ferro durante os longos tempos de exposição. É por isto que em algumas das daguerreotipias mais antigas, não se pode distinguir se a pessoa retratada está de olhos abertos ou não pois por imóvel que a pessoa pudesse se mater era impossível parar de piscar. Estes tempos de exposição foram rapida e progressivamente sendo reduzidos na medida em que a técnica ia sendo aperfeiçoada. Menos de um ano depois, Godard em Londres, anunciou uma técnica muito mais rápida. Até 1841, o tempo de exposição para uma daguerrreotipia já havia sido reduzido para dez ou quinze segundos.cabe ressaltar que a daguerreotipia 12 x 6.5 cm Figura 1. 9. A Daguerreotipia foi o primero processo prático de se fotografar. Apesar de suas múltiplas dificuldades e até perigos este processo teve uma açeitação generalizada e muito rápida. Figura 1.10. Jaques Mandé Daguerre (1787-1851) Inventor da Daguerreotipia 6.5 x primeiro 5 processo prático de fotografar que foi durante anos o mais po- cm pular do mundo. era um processo análogo a gravura, ou melhor o tipo de gravura conhecido como aquaforte, era em essência uma fotogravura. Cada imagem era uma só chapa de cobre e prata, produzida por um processo bastante lento e caro. Não havia até então um meio prático de fazer cópias de uma daguerreotipa. Quem quisesse dois retratos teria que posar igual número de vezes. Também não era possível a esta altura imprimir uma fotografia numa revista ou num jornal. Os meios de imprensa dependiam ainda do trabalho de desenhistas e gravuristas para ilustrar as suas publicações. III. WILLIAM HENRY FOX-TALBOT E O PROCESSO NEGATIVO- POSITIVO. OInglês, William Henry Fox-Talbot, trabalhando independentemente das experiências de Niepce e Daguerre, desenvolveu um processo fotográfico análogo ao dos dois pesquizadores franceses porém muito mais barato e prático. Em 1839 quando Talbot soube do trabalho de Daguerre, ele apresentou apressadamente o resultado das suas pesquisas à Academia Real da Inglaterra para garantir os direitos ao seu processo. Diferentemente desses pesquisadores, Talbot foi o primeiro a utilizar um negativo de papel do qual era possível tirar cópias positivas por contato. Foi esta a grande contribuição de Talbot, pois foi o seu processo que possibilitou a fotografia em série. A maior desvantagem do processo de Talbot porém era que o seu negativo de papel não permitia cópias com a mesma qualidade dos daguerreotipos. Talbot como outros antes dele não conseguiu desenvolver um método adequado para aplicar a prata sensível ao vidro. Mesmo assim, o progresso feito por Talbot 6

foi considrável tornou o seu processo batizado pela mãe como Talbotipia altamente popular.a Talbotipia em 1841 já conseguia concorrer em popularidade com a Daguerreotipia. Deve se dizer que houve processos e acusações de plágio entre ambos os rivais mas Talbot perdeu quase todas e não viu jamais os lucros do seu trabalho. Anos mais tarde, o francês Gustave Le-Gray refinou a técnica imergindo os negativos de papel num banho de cera para torná-los mais transparentes. IV. Hercules Florence e a fotografia no Brasil Devemos mencionar aqui também a contribuição do franco-brasileiro, Hércules Florence, cujo trabalho e perspicácia por muito tempo ficaram desconhecidos. Florence trabalhou independentemente dos pesquisadores europeus e conseguiu resultados surpreendentemente avançados. Foi ele quem segundo o seu biógrafo Boris 12 x 7 cm Kossoy, utilizou a palavra fotografia antes mesmo de Niepce. Sem sombra de dúvida, os maiores inimigos de Florence não foram os seus concorrentes e contemporâneos mas o esquecimento e a solidão aos quais são frequentemente relegados os pesquisadores no Brasil. De fato, Florence utilizou sais de prata e produziu fotografias. A verdade é que tanto Florence como outros pesquisadores chegaram muito perto de descobrir a fotografia mas não tiveram a oportunidade de registrar as suas descobertas perante as instituições oficiais como o fizeram Niepce, Daguerre e Fox -Talbot. É consenso geral que Niepce foi o primeiro a tornar públicas as suas descobertas e portanto é considerado o inventor da fotografia. Isto de forma alguma desmerece o trabalho realizado por outros pesquisadores no resto do mundo. Sem dúvida é pensando nisto que Boris Kossoy escreve à respeito de Florence:..." segundo ele mesmo, que seguidamente repete o fato de seu isolamento em relação aos centros culturais e científicos...florence desenvolve seus estudos no campo da foto- Fig. 1.11. Uma Talbotipia realizada por Talbot em 1840 CAPITULO I Figura 1.12. William Henry Fox-Talbot (1800-1877) grafia utilizando-se das propriedades dos sais de prata como substâncias sensíveis à luz. Na verdade se Florence não pode ser considerado o descobridor da fotografia ele deveria ser ao menos citado como um dos seus descobridores coisa que poucos historiadores se mostram dispostos a fazer até o presente momento. Não sendo historiador e portanto não me sentido sujeito ao rigor histórico que talvez se impinge sobre outros e desejando fazer uma justiça reparadora coloco aqui ao letitor a necessidade de reconhecer o importante trabalho da vida e obra de Hercules Flrorence. 7

Apesar das desvantagens, já mencionadas, o processo dava melhores resultados qua qualquer outro processo conhecido até então e acabou sendo o mais utilizado durante os próximos vinte anos. Este processo deu início àqueles fotógrafos que saiam para o campo munidos de câmara, tripé, barraca escura para servir de laboratório junto com vidros e banheiras para os reagentes.as dificuldades de se fazer fotografia de paisagem eram enormes mas é justamente desta época que datam alguns dos registros mais memoráveis de expedições, accidentes, guerras, catastrofes e outros eventos que são testemunhos vivos de momentos da história que de outra maneira estariam completamente perdidos, e da coragem e inventividade dos primeiros fotógrafos. Ë desta época que datam as fotografias de Roger Fenton (1819-1869) e outros. Figura 1. 13. Hercules Florence (1804-1879) e cópia de seus manuscritos V. FREDERICK SCOTT-ARCHER E A CHAPA ÚMIDA Em 1851, outro Inglês, Frederik Scott Archer, obteve êxito com um processo que logo derrubou a Daguerreotipia e a Calotipia juntas. O processo apresentava grandes vantagens em relação aos processos anteriores pois utilizava um negativo de vidro (com a qualidade da Daguerreotipia) e possibilitava a tiragem de inúmeras cópias (a vantagem da Calotipia), com um custo baixo e materiais muito menos perigosos. Este processo introduzido por Scott-Archer na Inglaterra e quase que simultaneamente por Gustave Le-Gray na França possuía a única desvantagem de ter que ser preparado e revelado em estado úmido. O processo utilizava um colódio*, que era aplicado, ao vidro, e devia ser exposto na câmara escura ainda em estado húmido. Esta era a sua principal desvantagem e incômodo. 6.2 x10.1 cm Fig1. 14. Ao lado temos a Imagem do fotógrafo itinerante carregando os materiais do seu ofício (Tripé, barraca, câmara, reagentes e todos os acessórios). Esta imagem tornou-se popular à partir do momento em que foi inventado o processo úmido por volta de 1865. *Colódio 8

VI. RICHARD LEACH-MADDOX: A CHAPA SECA A fotografia externa somente se tornou mais fácil à partir do ano 1871, quando Richard Leach-Maddox, um amador Inglês introduziu a emulsão de gelatina. Este processo foi rapidamente aperfeiçoado e ficou conhecido como chapa seca. A invenção da chapa seca foi de tremenda importância para a fotografia. Os fotografos poderiam ficar muito mais a vontade para se concentrar no assunto deixando todos os preparativos complicados de lado. Evidentemente a chapa seca beneficiou muito mais a fotografia externa. A época da chapa seca é caracteriazada princpalmente pelos negativos de vidro que também eram usados com os processos humidos. Entre 1871 e 1885 muita pesquisa foi feita para encontrar novos suportes para a emulsão seca entre os quais o nitrato de celulose foi um dos preferidos. 12.5 x 7 cm Figura 1.16. Imagem de George Eastman e a Câmara de Caixinha por ele inventada. Eastman fez pela fotografia o que Bill gates fez pela informática 12 x 7 cm Figura 1.15. Os conhecimentos necessários para a produção de fotografias pelo processo humido barravam um sem numero de usuários. Tudo isto iria acabar com a introdução da chapa seca. Acima vemos o material de um "retratista de paisagens". VII. GEORGE EASTAMAN E O FILME EM ROLOS J á em 1888, a Eastman Kodak Company revolucionou a fotografia com a introdução de filmes em rolos. Uma verdadeira panacéia para a época, foi o lançamento conjunto de uma pequena câmara de caixinha. Com esta forma de marketing a fotografia atingia a sua vocação popular e encontrava-se finalmente ao alcance de pessoas inexperientes de todos os poderes aquisitivos. "Você tira as fotos...nos fazemos o resto" dizia o lema da Kodak. Se Bill Gates tem algum precursor na história certamente esta pessoa é George Eastman. Da mesmma forma que gates fez com o microcomputador, este visionário também se preocupou em levar a tecnologia da fotografia da forma mais simples possível para dentro do lar de cada pessoa. É a ele que devemos o que hoje é conhecido por fotografia popular. 9

Nadar phtogrphe de paris Figura 1.17. A imagem a esquerda é uma gravura mostrando o famoso fotógrafo parisiense Nadar num balão a ar quente fotografando a cidade numa de suas arriscadas aventuras fotográficas. Fig 1.19. A fotografia sempre atraiú as pessoas interessadas em captar cenas sem serem apercebidos o que deu origem a camaras escondidas em clips de gravata, relógios e até chapeus como mostra a imagem ao lado. Le Chapeau Photographique Fotografo Brasil Fig. 1.18. Fotográfia de um estúdio da época em que aparece placa de aviso; "As encomendas serão pagas adiantadas" Fig.1.20. Retrato de familia. Daguerrotipia 10

SEGUNDA PARTE OS ANTECEDENTES DO CINEMA I. ROGET E A TEORIA DA PERSISTÊNCIA DA VISÃO Mesmo antes de Niepce ter conseguido realizar a primeira fotografia da história, o matemático inglês, Peter Mark Roget já anunciara perante a Royal Academy of Sciences, a sua TEORIA SOBRE A PRESISTÊNCIA DA VISÃO COM RESPEITO A OBJETOS EM MOVIMENTO (1824). Esta teoria fundamentava-se no fato de que qualquer imagem que atinge a retina dos olhos, não desaparece instantaneamente mas demora um determinado tempo para se esvanecer. Este fenômeno é também conhecido por retenção retiniana. Se uma segunda imagem é subitamente introduzida diante da visão, substituindo a primeira, as duas imagens se fundem dando a impressão de ser uma só. II. O THAUMOTROPO DE J.A. PARIS Um brinquedo desenvolvido por John Ayrton Paris em 1826 demonstrava com eloquente simplicidade o principio da retenção da imagem pela retina. Este simples brinquedinho científico recebeu o nome de Thaumótropo (em alguns livros Tahumatrópio) consistia num cartão redondo com dois desenhos diferentes, um de cada lado. Num dos lados havia o desenho de uma gaiola, no outro um passarinho. Quando o cartão era posto à girar por intermédio de barbantes ou elásticos (Veja a ilustração 21.), as duas imagens pareciam se fundir e o passarinho ficava dentro da gaiola. Este fenômeno fisiológico da percepção humana é o fundamento da animação, do cinema, e da televisão. A teoria de Roget despertou ávido interesse em toda Europa e foram empreendidas inúmeras experiências para comprovar a sua veracidade. O significado disto é que mesmo antes da fotografia tornar-se uma realidade, a teoria e os meios para a animação de desenhos já apontavam na direção do que viria a se tornar cinema quando as duas coisas pudessem ser unificadas. Fig. 1.21. O Thaumotropo de J.A. Paris (1826). Este pequeno brinquedo baseado na teoria de Roget sobre a persistência da visão desencadeou serias pesquisas que levaram àinvenção de outros aparelhos mais complexos e eventualmente a descoberta da animação e do cinema. 11

O cientista belga J.A. Plateau, fez a completa consolidação do fenômeno da persistência da visão em 1829 e introduziu em 1832 o Fenakistiscópio o primeiro aparelho a animar uma série de desenhos. Lembremos que o Thaumotropio somente fundia duas imagens uma na outra mas não dava a ilusão do movimento. A teroria de Roget teve o efeito de sucitar um ávido interesse por todo tipo de inventos e resultou em inúmeras experiências para comprovar a sua veracidade na América e Europa trazendo a tona progressos incalculáveis. Isto quer dizer que, a teoria e os meios para a animação de desenhos capazes de criar a ilusão do movimento, já estavam sólidamente estabelecidos mesmo antes da fotografia tornar-se um meio prático de registrar imagens. J.A. Plateau foi o primeiro a consolidar a teoria do fenômeno mas eventualmente outros aparelhos como o Zootropio e depois o Praxiscópio assim como o Praxinoscópio de Émile Reynaud conseguiam efeitos de animacão de desenhos bastante sofisticados. Fig. 1.22. III. J. A PLATEAU E AS PRIMEIRAS ANIMAÇÕES O Fenakistiscópio o primeiro aparelho a animar uma série de desenhos pela persistência da visão. (Encyclopedia of film and T.V) IV. EMILE REYNAUD,O PRAXINOSCÓPIO E O TEÁTRO OPTICO. Foi na realidade Émile Reynaud quem mais contibuiu nesta epoca para o aperfeiçoamento da técnica de animação de desenhos primeiramente com a sua lanterna mágica que recebeu o nome de Praxinonscópio, e depois com o complexo Theâtre Optique. Os filmes de Reynaud criaram sensacão na europa e apresentavam deliciosas estorinhas animadas e roteirizadas pelo inventor. Algumas das fitas desenhadas e coloridas à mão atingiam tal nível de sofisticação que muitas contavam com mais de setecentos desenhos e displumham de projecão dupla de fundo e acão (Veja ilustracão). Reynaud mostrou seus desenhos por toda europa por muitos anos até que a invencão do cinema o levou ao anonimato. Com a eclosão do cinema, Reynaud encontrouse abandonado por seu público não mais atradido pela fantasia dos seus desenhos e sim pelo realismo e acabou por destruir a maioria de suas fitas jogandoas no rio Sena e sumindo da vida pública para sempre. É um fato lamentável que este génio não tenha percebido as possibilidades que o cinema le oferecia pois foi na verdade um dos pais do desenho animado e portanto o grande precursor de Émile Cohl na França e de Walt Disney na América. ( Imagem: Encyclopedia of Film and T.V) Fig. 1.23. O complexo e sofisticado Theâtre Optique de Émile Reynaud. Note-se bem que o sistema de espelhos permitia a projeção de um fundo fixo emquanto que um segundo sistema móvel projetava a fita com a ação.1.) Espelho de imagem principal 2.) Lanterna de projeção de fundo 3)Tambor facetado de espelhos. 4) fita translúcida com desenhos. 5)Tela de retro projeção. 6) objetiva Projetora7) espelho refletor 8) lanterna de projeção da imagem móvel. 12

OS PESQUISADORES; V. EDWEARDE MUYBRIDGE Em quanto que alguns como Reynaud seguiam pelos caminhos do desenho animado, outros pesquisadores continuaram a levar a frente as suas experiências junto à fotografia na busca de um meio de reproduzir o movimento. Torna-se necessário mencionarmos que a fotografia nos anos 1850 e 1860 sofre diversos avanços tecnológicos 1. e temáticos 2. tanto na Europa como nos Estados Unidos possibilitando o aumento das modalidades praticávies de fotografia. Este fato certamente contribuiu para que certos pesquisadores pudessem levar as suas experiências à frente. O engenheiro americano Coleman Sellers, foi provavelmete o primeiro a tentar uma animação de fotografias com o Kinematoscópio inventado por ele em 1861. Mas, sem dúvida foi o pesquisador angloamericano Edwearde Muybrige quem encontrou a forma mais criativa de fazer esse tipo de registro. Por volta de 1873, Muybridge, com a ajuda financeira do Governador da California, Leland Stanford iniciou as suas experiências utilizando uma bateria de 24 cameras fotográficas disparadas em sequencia para registrar a corrida de um cavalo. A forma simples e direta com que Muybridge resolveu o problema técnico rendeu-le o dinheiro oferecido pelo Governador (que desejava ganhar uma aposta sobre o fato de se o cavalo em galope fica sem uma só pata apoiada no chão). 1. As emulsões fotograficas eram constantemente m elhoradas e se tornavam cada vez mais sensíveis. Foi também durante esta época que obturadores capazes de maior precisão e possibilitando tempos de exposição muito mais curtos foram desenvolvidos. 2. Os melhoramentos tecnológicos evidentemente possibilitaram uma nova variedade de temas outrora impossiveis para os fotógrafos que trabalhavam com emulsões lentas e sem obturador. Os cavalos de Muybridge e as aves em movimento de Marey são exemplos destes avanços. O desafio e a recompensa, lançados pelo Governador propunham de vez por todas por fim a essa dúvida quanto á dinâmica do galope equino. Graças à fotografia e à inventividade de Muybrige, essa questão foi resolvida para sempre. O aparelho montado por Muybridge embora rude e primitivo mostrou que a nova tecnologia da fotografia podia ser utilizada para resolver uma série de questões técnicas e científicas. Nessa época não existia ainda uma câmara que pudesse disparar várias fotografias em sequëncia mas Muybridge montou uma fileira de câmaras mais simples. O próprio cavalo foi o dispositivo de disparo rompendo as linhas na sua passagem e disparando as câmaras. Ver fig.23. 14.25 x8 cm Fig 1.24. A ilustração acima mostra a técnica utilizada por Muybridge para conseguir uma sequencia rápida de fotografias de forma a fazer um registro preciso do galope de um cavalo. As camaras estão alinhadas a esquerda e os disparadores presos a barbantes aque são rompidos pela passagem do cavalo. O efeito e de disparar cada câmara no instante em que o cavalo se encontra diante do capmpo de visão da objetiva. 13

VI. ETIENNE MAREY Estimulado pelas experiências do anglo-americano Muybridge, o fisiologo e inventor francês, Dr. Jules Eienne Marey criou o que ele msmo chamava de uma espingarda fotográfica. Este engenhoso aparelho com o qual Marey conseguia fotografar aves em voo e outros animais em movimeto, é provavelmente o mais antigo exemplo que temos de uma máquina desenhada específicamente para fazer uma série de exposições fotográficas. O revolver fotográfico de Marey era técnicamene muito mais avanaçado que a bateria de câmaras de Muybridge pois era um só aparelho, era altamente móvel e disparava em intervalos controlados pelo operador mediante um gatilho. Com esse aparelho Marey podia expor doze fotogramas em pouco mais de um segundo num disco redondo e seguir os movimentos do seu alvo, coisa que era impossível de fazer com as duzias de camaras fixas de Muybridge. Outra vantagem; o mesmo disco uti- 10. x 6 cm lizado na câmara- revolver servia para a projeção em sequencia depois da revelação das imagens. Fig.1.25. A espingarda fotográfica de Etienne Marey. (Fonte British Museum) A contribuicão de marey foi de incalculável importáncia no desenvolvimento do cinema e aparelhos subsequentes por ele inventados chegaram a ser verdadeiros protótipos de filmadoras como as conhecemos hoje. As pesquisas de Marey que se concentravam em torno da fisiologia e dos moviemtos dos animais o levaram a desenvolver uma câmara fotográrfica portátil munida de um obturador rotativo que permitia sucessivas exposicões estrboscópicas de objetos em movimento. ( Em 1894 ele introduziu um aparelho capaz de fazer sequências em camara lenta de até 700 fotogramas por segundo.) Fig 1.26. O disco inserido no revolver (1.) As imagens registrdas no disco (2.) (Encyclopedia of film and T.V) VII. THOMAS EDISON E O KINETOSCÓPIO No mesmo ano em que a Kodak lançava o filme em rolos, o inventor norteamericano Thomas alva Edison apresentava ao público a sua mais recente invenção; a vitrola. Edison já havia visto as fotografias animadas de Muybridge e até a havia conversado com ele. Nesse mesmo ano ele passou a realizar experiências com uma longas tiras de filme que ele requisitara ao George Eastman. Por falta de tempo para desenvolver o projeto pessoalmente, Eastman entregou-o ao seu assistente William Kennedy Laurie Dickson. Dickson não menos intuitivo do que seu chefe criou um sistema de furos nas bordas do filme para garantir o perfeito posicionamento de cada fotograma o seu avanço e registro. 14

O filme inventado por Dickson tinha 35m de largura, e o sistema de furos é o mesmo utilizado até hoje. Este importante detalhe já havia aparecido em alguns dos produtos criados por Marey e até nos desenhos animados de Reynaud mas encontrava-se pela primeira vês sistematizado de forma coerente. Em menos de um ano, exatamente a 6 de outubro de 1889, Dickson projetou um filme de uns dois minutos de duração e no qual ele mesmo aparecia e FALAVA!. Dickson havia juntado uma vitrola ao KINETOSCÓPIO, fazendo do primeiro filme da história um filme sonoro. O aparelho logo batizado de Kinetoscópio foi comercializado na forma de uma máquina de diversão individual. Nem Edison nem o seu assistente parecem ter percebido que seria possível projetar as imagens numa tela assim aproveitando um público maior em lugar de numa telinha visível por uma só pessoa de cada vez. Não sabemos ao certo o que Edison pensava em relação a sua invenção, mas ele não percebeu a importância e o impacto emocional de um espetçaulo em massa. Nos dois anos seguintes surgiram nos Estado Unidos centenas de salões onde as pessoas podiam assistir filmes curtos colocando uma moeda no Kinetoscópio. Edison patenteou a sua invenção em 1891, mas também não teve a visão de fazé-la valer mundialmente. Como era de se esperar, logo surgiram cópias e imitações do Kinetoscópio em toda Europa. Na Alemanha, Max Sklandowsky lançou o BIOSKOP, baseado no aparelho de Edison. Porém, nem todos se limitaram a simplesmente reproduzir a invenção do americano pois as experiências de de Muybridge e Marey haviam estimulado um interesse geral por parte de inventores em todas as partes do mundo. Na Inglaterra, por exemplo, o inventor Robert Paul modernizou o conceito do Kinetoscópio lançando uma câmara portátil (a câmara de Edison era de proporções enormes) e introduziu o movimento de Cruz de Malta utilizado até hoje em muitos projetores e camaras do mundo. O fato é que uma vez realizado o sonho do fenómeno cinematográfico, faltava apenas descobrir o seu potencial como espetáculo pelo desenvolvimento da técnica e de sua linguagem. Fig. 1.27. O Kinetoscópio era um projetor de filme concebido no nível puramente individual sendo que uma só pessoa por vez podia desfrutar do espetáculo. Temos os seguintes principais mecanismos: (1) O visor, (2) feixe luminoso, (3) o sistema de obturação, e (4) a tira de filme sem fim (film loop). As setas mostram a direção do movimento da fita. (Encyclopedia of film and T.V) Fig 1.27. Maquina de projeção de Edison utilizaba uma érie de roletes em forma de anél sem fim para passar uma fita de aproximadamente 3 minutos para um só individuo de cada vez (Encyclopedia of film and T.V) 15

A INVENÇÃO DO CINEMA VIII. OS IRMÃOS LUMIÈRE Poderia-se afirmar que a dupla Dickson/Edison foi responsável pela descoberta do cinema técnicamente mas foram os irmãos Louis e Auguste Lumière os inventores do cinema espetáculo. Já mencionamos o fato de Edison não ter percebido o lado público do cinema embora ele tenha sido muito perspicaz em enxergar o lado consumidor. Os irmãos Lumière (por incrível que pareça o nome significa LUZ!), iniciaram a sua carreira na cidade de Lyon no ano 1870 onde o pai um rico industrial, (portanto um burguês), abriu para eles uma casa de serviços fotográficos. Louis sempre um ávido inventor, não teve descanso depois de ter visto o primeiro Kinetoscópio numa feira em Paris no ano de 1894. Não é possível especular até que ponto os Lumière se inspiraram na invenção de Edison mas duas coisas são certas, a primeira é que não ha dúvida que o KINETOSCÓPIO mostrou a eles o caminho certo, e a segunda é que eles souberam magnificamente evoluir e aprimorar o conçeito.o protótipo do CINEMATOGRAFO apresentado pelos Lumière era em muitos pontos superior ao Kinetoscópio. A simplicidade das operações era tal que pouca experiência era necessária para aprender a utilizá-lo. Fig. 1.28. Desenho do Cinematógrafo (1897) sendo utilizado como projetor. Ve-se a direita do operador a lâmpada (não havia ainda luz eletrica) que projetava um feixe de luz. Este feixe atravessava o filme e era projetado atravez do mecanismo da câmara e a objetiva para uma tela que se encontrava alguns metros a frente. A manivela era o sistema de transporte tanto para projeções como para tomadas pois não existiam ainda os motores eletricos ou mesmo de corda. CAPITULO I Ainda mais importante; o Cinematógrafo, como foi apelidado, era bastante portátil e desempenhava as funções de câmara, projetor e copiadora. Qualquer pessoa que entende um pouco de cinema pode apreciar estas vantagens uma vez que de posse de um Cinematógrafo em sua configuração modular era possível realizar, copiar, e projetar um filme com um só aparelho. Este fato foi importantíssimo para disseminação do cinema na sua fase pre-industrial em que roteirista, fotografo, e diretor eram geralmente uma pessoa só. Além disto, o Cinematógrafo projetava a imagem numa tela grande, coisa que o Kinetoscópio era incapaz de fazer. A diferença era a seguinte; um Kinetoscópio levava 150 minutos para passar uma fitinha de 3 muitos para 50 pessoas uma a uma individualmente. Um cinematógrafo levava 3 minutos para fazer a projeção para o mesmo grupo de 50 pessoas levando 49 vezes menos tempo e tendo a mesma redução de desgaste no seu mecanismo!. Além do mais a reação grupal era intrinsecamente diferente da individual. (Encyclopedia of film and T.V) Este aspecto foi logo verificado pelos irmãos Lumière na estreia do cinematógrafo que por falta de um espaço mais adequado deu-se no Grand Café Boulevard dês Capucines em 29 de dezembro de 1895. O filme mostrava entre outras coisas a chegada de uma locomotiva na estação de Lyon. Tão forte foi o impacto e tão inusitada a sensação, que sofisticados cavalheiros e finas damas da sociedade francesa por pouco não se atropelaram os uns aos outros na tentativa de fuga que se seguiu à cena em que o trem se aproxima em direção da tela. Assim é que nasceu o cinema espetáculo de uma forma ingênua, inesperada e totalmente espetacular! 16

Fig 1.30. A esquerda: Sequencia do fotogramas da Chegada do Trem em Lyon dos Irmãos Lumière Fig 1.29. A direita: O delicioso e idilico "Café du Matin" com o pequeno Lumière. Uma das primeiras fitas rodadas pelos irmãos inventores da setima arte. Fig. 1.31. A esquerda: Detalhe da cena que movimentou París e o mundo nas suas primeiras projeções: A Chegada do Trem em Lyon 17