Discurso proferido pelo deputado GERALDO RESENDE (PMDB/MS), em sessão no dia 11/02/2014. MAMOGRAFIA EM UMA SÓ MAMA: IGNORÂNCIA OU MONSTRUOSIDADE Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, No último dia 05 de fevereiro, o Conselho Federal de Medicina, o Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem, a Federação Brasileira de Associações de Ginecologia e Obstetrícia e a Sociedade Brasileira de Mastologia se posicionaram de forma crítica à Portaria 1.253, publicada pelo Ministério da Saúde no Diário Oficial da União do dia 13 de novembro do ano passado. Esta portaria estabelece uma idade para a realização de mamografia que exclui 40% dos casos de tumores no Brasil, como também as regras para a realização da abominável mamografia unilateral.
Os dois equívocos presentes na publicação, além de serem ilegais, pois contrariam a Lei 11.664/08 - que norteia a realização de exame mamográfico a todas as mulheres a partir dos 40 anos de idade, também condena a morte mais de 20 mil mulheres, que não serão diagnosticadas a tempo de serem salvas no Brasil. A portaria condiciona o financiamento de mamografia bilateral para rastreamento segundo o Fundo de Ações Estratégicas e Compensações (FAEC) para pessoas com idade recomendada pelo Ministério da Saúde, ou seja, entre 50 a 69 anos. A mamografia de Rastreamento é aquela recomendada às pessoas que não tem sintomas. O autor deste regramento deve ter tomado como base os dados de outros países, que não o Brasil. Eu não posso acreditar que um profissional da área da saúde pode, em sã consciência excluir de um exame 40% do seu público em potencial. O câncer de mama é um dos mais frequentes e a principal causa de morte por câncer em mulheres no Brasil e no mundo. A mamografia é o
principal exame para detectá-lo precocemente. O Instituto Nacional do Câncer (INCA) estima que 57 mil novos casos sejam diagnosticados no país em 2014. De forma geral, a Organização Mundial de Saúde (OMS) tem ressaltado a necessidade de prevenção às neoplasias, doença que deve atingir 24 milhões de pessoas até 2035. A incidência global do câncer de mama aumenta progressivamente. De 641.000 casos, em 1980, passou para 1.643.000, em 2010, sendo responsável por 27% dos novos casos de câncer diagnosticados em mulheres. Desse total, cerca de dois terços ocorreram em mulheres acima de 50 anos, principalmente nos países desenvolvidos. Já nas mulheres abaixo dos 50 anos (entre 15 e 49 anos), a incidência de câncer de mama foi duas vezes maior nos países em desenvolvimento, conforme dados da Comissão Nacional de Mamografia. Estando o Brasil no grupo de países em desenvolvimento, a população abaixo dos 50 anos está ainda mais exposta ao risco. No Brasil, de acordo com o Inca, a mamografia e o exame clínico das mamas são os métodos preconizados para o rastreamento na rotina da
atenção integral à saúde da mulher. Para as mulheres de 40 a 49 anos, a recomendação é o exame clínico anual e a mamografia diagnóstica em caso de resultado alterado. O Inca recomenda que o exame seja feito a cada dois anos por mulheres entre 50 e 69 anos, ou segundo recomendação médica. Apesar de a incidência ser menor nas mulheres com menos de 49 anos, os tumores têm crescimento rápido. Pesquisas internacionais concluíram que quase 20% das mortes por câncer de mama e 34% dos anos de expectativa de vida perdidos por câncer de mama ocorreram em mulheres abaixo de 50 anos. Outra medida abominável da portaria é a existência da indicação da mamografia diagnóstica, aquela onde a paciente apresenta sintomas, em apenas uma mama. Quando a mulher identifica um nódulo em um determinado seio, pode estar ignorando um tumor de menos de um centímetro em outra, este com cerca de 95% de chances de cura, porém, ao longo de cinco esta chance diminui para 13%.
É absurdo aventar a possibilidade de prescrever mamografia em uma das mamas apenas. Depois da portaria ter entrado em vigor, muitos municípios já estão ora restringindo o acesso ao exame, ora autorizando a mamografia de um seio em um instituto e a mamografia do outro seio em outro instituto. Esta portaria certamente foi elaborada por alguém que não tem afinidade com a área da saúde, ou que não prioriza a saúde da mulher. Ainda quero crer em erro técnico e não em monstruosidade e perversão. Em 2010, no Brasil, morreram 12.705 mulheres e 147 homens em decorrência do câncer de mama. Em 2011, foram 13.225 mortes pela doença. A mamografia é o único método de rastreamento que demonstrou ser capaz de promover uma redução absoluta da mortalidade nos casos de câncer de mama, ou seja, em torno de 50%. A criatividade para se estabelecer regras absurdas deveria ser canalizada para resolver o problema de mais de 50% dos municípios brasileiros que ainda não tem mamógrafos; para o planejamento de campanhas educativas, pois, em alguns lugares do País
67% das mulheres desconhecem o valor da mamografia e 30% dos exames realizados são de baixa qualidade inviabilizando a feitura de um laudo. As entidade que citei no início de meu pronunciamento já entraram na Justiça contra esta portaria. Como médico ginecologista e obstetra faço coro a esta ação. A Portaria 1.253 está na contramão das promessas de campanha do atual Governo comandado por uma mulher, que tem em seus ministérios diversas ministras e certamente não se atentou a um detalhe de tamanha gravidade. Muito obrigado pela atenção. Deputado GERALDO RESENDE (PMDB/MS)