A Arte em Roma A Arquitetura
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- Vítor Adriano Mota Silveira
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1 1 A Arte em Roma O aparecimento da cidade de Roma está envolto em lendas e mitos. Tradicionalmente indica-se, para a sua fundação, a data de 753 a.c. Sabe-se, porém, que a formação cultural do povo romano deveu-se principalmente aos gregos e etruscos, que ocuparam diferentes regiões da Itália entre os séculos XII e VI a.c. A arte romana, portanto, sofreu duas fortes influências: a da arte etrusca, popular e voltada para a expressão da realidade vivida, e a da Greco - helenística, orientada para a expressão de um ideal de beleza. A Arquitetura Um dos legados culturais mais importantes que os etruscos, deixaram aos romanos foi o uso do arco e da abóbada nas construções. Esses dois elementos arquitetônicos - desconhecidos na Grécia - permitiram aos romanos criar amplos espaços internos, livres do excesso de colunas, próprio dos templos gregos. Antes da invenção do arco, o vão entre uma coluna e outra era limitado pelo tamanho da travessa. E esse tamanho não podia ser muito grande, pois quanto maior a viga, maior a tensão sobre ela. E a pedra, que era o material mais resistente usado nas construções, não suporta grandes tensões. E por isso que os templos gregos eram repletos de colunas, o que reduzia muito o espaço de circulação. O arco foi, portanto, uma conquista que permitiu ampliar o vão entre uma coluna e outra, pois nele o centro não se sobrecarrega mais que as extremidades e, assim, as tensões são distribuídas de forma mais homogênea. Além disso, como o arco é construído com blocos de pedra, a tensão comprime esses blocos, dando-lhe maior estabilidade.
2 2 Arco Romano Mas no final do século I d.c., Roma já havia superado essas duas influências - a grega e a etrusca - e estava pronta para desenvolver criações artísticas independentes e originais. A moradia romana A planta das casas romanas era rigorosa e invariavelmente desenhada a partir de um retângulo básico. Planta de uma casa romana. A porta de entrada, que ficava de um dos lados menores do retângulo, conduzia ao átrio, um espaço central com uma abertura retangular no telhado. Essa abertura permitia a entrada da luz, do ar e também da água da chuva, que era coletada num tanque - o implúvio - colocado exatamente sob o vão do teto. Em linha reta em relação à porta de entrada, e dando para o átrio, ficava o tablino, aposento principal da casa. Os outros cômodos também davam para o átrio, mas sua disposição era menos rigorosa. Átrio de uma casa romana.
3 3 Ao entrar em contato com os gregos, durante o período helenístico, os romanos apreciaram muito a flexibilidade e a elegância das moradias gregas. Mas admiraram sobretudo o peristilo que havia no pátio de muitas casas. Como eram zelosos de suas tradições, os romanos não quiseram alterar muito a planta de suas casas, mas encontraram uma solução para incorporar os elementos que admiravam: acrescentaram, nos fundos da casa, um peristilo em torno do qual se dispunham vários cômodos; o restante da construção seguia o esquema tradicional. Peristilo romano Os romanos costumavam erigir seus templos num plano mais elevado e a entrada só era alcançada através de uma escadaria construída diante da fachada principal. Estes elementos arquitetônicos - pórtico e escadaria - faziam com que a fachada principal fosse bem distinta das laterais e do fundo do edifício. Não tinham, portanto, a mesma preocupação dos gregos, de fazer com que os lados do templo - à frente, o fundo e as laterais - se equivalessem dois a dois em sua arquitetura. E Entretanto, como os romanos apreciavam os peristilos externos dos templos gregos, procuraram acrescentá-los também ao modelo tradicional de seu templo. Um exemplo disso é a Maison Carré, construída em Nîmes, na França, no final do século I a.c.. Maison Carré, Nîmes, França.
4 4 Nessa construção, além dos elementos romanos típicos - a escadaria, o pórtico e as colunas - os arquitetos, por meio da introdução de meias colunas embutidas nas paredes laterais e na do fundo, criaram um falso peristilo. Mas nem todos os templos resultaram da soma da tradição romana e dos ornamentos gregos. Enquanto a concepção arquitetônica grega criava edifícios para serem vistos do exterior, a romana procurava criar espaços interiores. O Panteão, construído em Roma durante o reinado do Imperador Adriano, é certamente o melhor exemplo dessa diferença. Vista interna do Panteão, séc. II. Planejado para reunir a grande variedade de deuses existentes em todo o Império, esse templo romano, com sua planta circular fechada por uma cúpula, cria um local isolado do exterior onde o povo se reunia para o culto. Essa nova concepção arquitetônica do templo - que será também a do cristianismo - explica porque o Panteão é um dos únicos templos pagãos que hoje é ocupado por uma igreja cristã. A concepção arquitetônica do teatro Graças ao uso de arcos e abóbadas, que herdaram dos etruscos, os romanos construíram edifícios - sobretudo anfiteatros - muito mais amplos do que teria permitido a simples influência da arquitetura grega. Esses anfiteatros, destinados a abrigar muitas pessoas, alteraram bastante a planta do teatro grego. Assim, nos edifícios destinados à apresentação de espetáculos, os construtores romanos, usando filas sobrepostas de arcos, obtiveram apoio para construir o local destinado ao público - o auditório. Com isso, não precisaram mais assentá-lo nas encostas de colinas, como faziam os gregos. A primeira conseqüência dessa solução arquitetônica foi a possibilidade de construir esses edifícios em qualquer lugar, independentemente de sua topografia.
5 5 Além disso, o povo romano apreciava muito as lutas dos gladiadores. Essas lutas compunham um espetáculo que podia ser apreciado de qualquer ângulo. Portanto, não havia mais necessidade de um palco de frente para o auditório, disposto em semicírculo. Este foi outro motivo que levou os romanos a inventarem o anfiteatro. Esta construção caracteriza-se por um espaço central elíptico, onde se dava o espetáculo, e circundando este espaço, um auditório, composto por um grande número de filas de assentos, formando uma arquibancada. Vista aérea do Coliseu Assim era o Coliseu, certamente o mais belo dos anfiteatros romanos. Externamente o edifício era ornamentado por esculturas, que ficavam dentro dos arcos, e por três ordens de colunas gregas. Essas colunas, na verdade, eram meias colunas ficavam presas à estrutura das arcadas. Portanto não tinham a função de sustentar a construção, mas apenas de ornamentá-la. A Pintura A maior parte das pinturas romanas que conhecemos hoje provém das cidades de Pompéia e Herculano, que foram soterradas pela erupção do Vesúvio em 79 d.c. Os estudiosos da pintura existente em Pompéia classificam a decoração das paredes' internas dos edifícios em quatro estilos. O primeiro não se refere propriamente à pintura, pois era costume no século II a.c. recobrir as paredes de uma sala com uma camada de gesso pintado; que dava a impressão de placas de mármore. Mais tarde, alguns pintores romanos perceberam que o
6 6 gesso podia ser dispensado, pois a ilusão do mármore podia ser dada apenas pela pintura. Primeiro estilo - da Villa di Arianna A descoberta da possibilidade de se criar, por meio da pintura, a ilusão de um bloco saliente conduziu ao segundo estilo, pois, se era possível sugerir a saliência, podia-se também sugerir a profundidade. Os artistas começaram então a pintar painéis que criavam a ilusão de janelas abertas por onde eram vistas paisagens com animais, aves e pessoas. Outras vezes, pintavam um barrado sobre o qual aparecem figuras de pessoas sentadas ou em pé, formando uma grande pintura mural. Segundo estilo, Vila dos mistérios, Pompéia.
7 7 No final do século I a.c. esse estilo começa a ser substituído por outro - o terceiro -, que pôs fim ao interesse por representações fiéis à realidade e valorizou a delicadeza dos pequenos detalhes. Terceiro estilo, Casa de Lucretius Fronto, Pompéia. Entretanto, os romanos abandonaram essa tendência e voltaram às pinturas que simulam a ampliação do espaço. Só que nesse retorno, os artistas procuraram combinar a ilusão do espaço, do segundo estilo, com a delicadeza do terceiro. Essa síntese é o chamado quarto estilo e pode ser admirado numa sala da casa dos Vettii, em Pompéia. No centro de cada parede há um painel de fundo vermelho, tendo ao centro uma pintura, geralmente cópia de obra grega. Do lado esquerdo, do direito e acima desse painel existem pinturas que sugerem um espaço exterior, mas não se trata mais de paisagens da vida cotidiana, e sim de cenários teatrais. Quarto estilo, Casa Dei Vettii, Pompéia.
8 8 Ora de maneira tosca, mas alegre, ora de maneira segura e brilhante, os pintores romanos misturaram realismo de imaginação, e suas obras ocuparam grandes espaços nas construções, complementando ricamente a arquitetura. A escultura Os romanos eram grandes admiradores da arte grega, mas, por temperamento, eram muito diferentes dos gregos. Por serem realistas e práticos, suas esculturas são uma representação fiel das pessoas e não a de um ideal de beleza humana, como fizeram os gregos. No entanto, ao entrar em contato com os gregos, os escultores romanos sofreram forte influência das concepções helenísticas a respeito da arte, só que não abdicaram de um interesse muito próprio: retratar os traços particularizadores de uma pessoa. O que acabou ocorrendo foi uma acomodação entre a concepção artística romana e a grega. Isso pode ser melhor compreendido quando observamos a estátua do primeiro imperador romano, Augusto, feita por volta de 19 a.c. Augusto de Prima Porta, 19 A.C. Apesar de o escultor ter usado o Doríforo, de Policleto, como ponto de referência, foram feitas alterações, adaptando a obra ao gosto romano. Assim, o artista procurou captar as feições reais de Augusto, e vestiu o modelo com uma couraça e uma capa romanas. Além disso, posicionou a cabeça e o braço do imperador de tal forma, que ele parece dirigir-se firmemente aos seus súditos. Essa preocupação de representar elementos bem determinados pode ser observada não só nas estátuas dos imperadores, mas também nos relevos esculpidos nos monumentos erguidos para celebrar algum feito importante do Império Romano. E
9 9 verdade que os gregos também ornamentaram sua arquitetura com relevos e esculturas, mas estas sempre representaram fatos mitológicos e intemporais. Ao contrário disso, os relevos romanos especificavam nitidamente o acontecimento e as pessoas que dele participaram. Dentre os monumentos comemorativos destacam-se a Coluna de Trajano e a Coluna de Marco Aurélio. A Coluna de Trajano, construída no século I da era cristã, narra as lutas do imperador e dos exércitos romanos na Dácia. O imenso número de figuras esculpidas em relevo faz dessa obra um importante documento histórico em pedra. Mas, devido à expressividade das figuras e das cenas, esse monumento tem também um grande valor artístico. Detalhe da coluna de Trajano Menos de um século depois foi erguida a Coluna de Marco Aurélio, para celebrar o êxito dos romanos contra um povo da Alemanha do Norte. O relevo dessa coluna é mais profundo e também mais emocional. Detalhe da Coluna de Marco Aurélio.
10 A arte dos romanos revela-nos um povo possuidor de um grande espírito prático: por toda parte em que estiveram, estabeleceram colônias e construíram casas, templos, termas, aquedutos, mercados e edifícios governamentais. Depois das primeiras décadas do século III, os imperadores romanos começaram a enfrentar tanto lutas internas pelo poder quanto a pressão dos povos bárbaros que, cada vez mais, investiam contra as fronteiras do império. Por isso, as preocupações com as artes diminuíram e poucos monumentos foram realizados para o Estado. Era o começo da decadência do Império Romano que, no século V - precisamente em 476 -, perde o domínio do seu vasto território do Ocidente para os invasores germânicos. 10
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