AVALIAÇÃO DO EFEITO SEDATIVO DE SUBDOSE DE XILAZINA POR MEIO DA FARMACOPUNTURA EM GATOS

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1 AVALIAÇÃO DO EFEITO SEDATIVO DE SUBDOSE DE XILAZINA POR MEIO DA FARMACOPUNTURA EM GATOS EVALUATION OF THE SEDATIVE EFFECT OF XYLAZINE SUBDOSE THROUGH FARMACOPUNTURA IN CATS Maurílio Kennedy Feitoza SOARES 1 ; Kalinne Duarte de Gonçalves MAYER 2 ; José de Jesus Cavalcante dos SANTOS 1 ; Kathryn Nóbrega ARCOVERDE 1 ; Ricardo Nilton d Ávila Lins TORRES 1 ; Simone BOPP³ 1 Estudante de graduação de medicina veterinária, Universidade Federal da Paraíba, mauriliokfsoares@gmail.com 2 Médica Veterinária Autônoma 3 Docente do Departamento de Ciências Veterinárias, Centro de Ciências Agrárias, Universidade Federal da Paraíba Resumo: A farmacopuntura consiste na injeção de subdoses de fármacos em acupontos, tais como o Yin Tang (IT), que é tradicionalmente utilizado por seus efeitos ansiolítico e tranqüilizante. Objetivou-se com este estudo avaliar os efeitos sedativos da utilização de subdose de xilazina no acuponto IT em gatos, bem como se o efeito produzido é similar, inferior ou superior ao obtido pela administração intramuscular (IM). Seis animais foram submetidos a quatro tratamentos em diferentes momentos: XIM - Xilazina 1mg/kg por via IM; XIT - 1/3 da dose de Xilazina no IT; B12IT - 0,33 mg/kg de vitamina B12 no IT; e B12IM, 1mg/kg vitamina B12 por via IM. Foram avaliados FC, FR, TR e o grau de tranquilização por meio da escala de CASSU et al. (2005) modificada, com escores variando de 0-3 para Alteração Comportamental (AC), Posicionamento Corporal (PC), Resposta à Manipulação (RM) e Protrusão da Terceira Pálpebra (TP) antes e aos 20, 40 e 60 min. após administração dos tratamentos. Observou-se que os tratamentos XIT e XIM diminuíram a FC, FR e TR, contudo sem diferença significativa e apresentaram sedação de moderada a satisfatória. Assim, conclui-se que a administração de xilazina em subdose no IT pode ser utilizada com o mesmo efeito obtido quando utilizada por IM em gatos sem causar risco à vida do animal. Palavras-chave: Acupuntura; felinos; yin tang; sedação. Keywords: Acupuncture; felines; yin tang; sedation. Anais do 38º CBA, p.0828

2 Introdução: A farmacopuntura é uma importante área da acupuntura que consiste na injeção de fármacos nos acupontos. Esta técnica pode potencializar os efeitos benéficos, sem aumentar os colaterais, o que leva a manutenção dos parâmetros vitais mais estáveis (LUNA et al., 2008). A utilização de hormônios, vitamina B12, antiinflamatórios e anestésicos nos acupontos tem bons resultados com doses ínfimas, além de poucos efeitos colaterais (ALVARENGA et al., 1998). O acuponto Yintang (IT) é utilizado em seres humanos que relatam sensação de relaxamento e tranquilidade, assim como nos animais, por seus efeitos ansiolíticos e tranquilizantes. Em todas as espécies animais localiza-se no ponto médio de uma linha traçada entre os cantos laterais dos olhos (SCHOEN, 2006). Materiais e Métodos: Após aprovação pela Comissão de Ética no Uso de Animais do Centro de Biotecnologia (CEUA-CBiotec) da UFPB, com o protocolo nº 0206/14, foram utilizados seis felinos adultos, com sexo, raça, idade e peso variáveis, considerados hígidos por meio de exame clínico e hemograma, provenientes de uma criadora da cidade de Areia - PB, previamente esclarecida sobre o procedimento. Os animais foram mantidos no Hospital Veterinário do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal da Paraíba, durante todo o período experimental (18 dias) onde permaneceram em gaiolas, com alimentação à base de ração comercial e água ad libitum. O estudo consistiu em quatro grupos experimentais e todos os animais foram submetidos aleatoriamente aos quatro tratamentos, com intervalo mínimo de 96 horas. A escolha dos grupos foi por sorteio. No grupo controle XIM, os animais receberam xilazina 2% na dose de 1mg/kg por via IM na musculatura semitendínea esquerda. No grupo XIT, os animais receberam um terço da dose preconizada de xilazina 2%, isto é, 0,333mg/kg, no acuponto Yin Tang. Os animais do grupo B12IT, receberam vitamina B12 no mesmo volume administrado no grupo XIT no acuponto Yin Tang. No grupo B12IM, os animais receberam vitamina B12 por via IM no mesmo volume administrado no grupo XIM. No dia do experimento, cada animal foi conduzido para o local de experimentação, previamente climatizado à temperatura de 23ºC, onde foram pesados em balança digital. Em seguida, esperouse 10 minutos de repouso, sendo na sequência aferidas as variáveis do momento basal (MB). Foram aferidos, durante um minuto, frequência cardíaca (FC) e Anais do 38º CBA, p.0829

3 frequência respiratória (FR), por auscultação com estetoscópio posicionado no quarto espaço intercostal esquerdo e por observação do gradil costal, respectivamente; Temperatura retal (TR) mensurada por termômetro clínico digital, e procedeu-se a avaliação do grau de tranquilização por meio da escala de CASSU et al. (2005) modificada onde foram enumerados escores de 0 à 3 para observação da alteração comportamental (AC), posicionamento corporal (PC), resposta à manipulação (RM) e protrusão da terceira pálpebra (TP). Após o MB, o fármaco de acordo com o grupo ao qual o animal pertencia foi aplicado. Após a administração, as variáveis foram mensuradas novamente aos 20 (M1), 40 (M2) e 60 (M3) minutos. Os avaliadores só tiveram acesso aos animais 10 minutos após administração do tratamento, garantindo que não houvesse conhecimento do grupo a ser estudado. Os dados paramétricos foram submetidos à análise de variância ANOVA seguida pelo Teste de Tukey para comparação entre os grupos nos diferentes momentos e entre os momentos dentro de cada grupo. Os dados não paramétricos foram submetidos à análise de variância ANOVA seguida pelo Teste de Kruskal-Wallis para comparação entre os grupos nos diferentes momentos e entre os momentos dentro de cada grupo. Todos os resultados foram expressos como média (X) e ± desvio padrão (S). As diferenças foram consideradas significativas quando p 0,05. Resultados e Discussão: FC, FR e TR não apresentaram diferença estatística significativa entre os grupos no momento basal, indicando que não houve interferência do ambiente e da temperatura da sala, a qual foi mantida em 23 C. Ainda na comparação da FC entre os grupos observou-se que em M1 e M2 os grupos B12IT (149 e 148 bpm) e B12IM (147 e 143 bpm) diferiram dos grupos XIT (96 e 91 bpm) e XIM (80 e 78 bpm), os quais apresentaram os menores valores e em M3, B12IT (149 bpm) e B12IM (141 bpm) apresentaram diferença somente em relação a XIM (78 bpm) que obteve a menor média. Nos grupos B12IT e B12IM não houve variação da FC ao longo do tempo, já nos grupos XIT e XIM houve diferença do MB para M1, M2 e M3, os quais não diferiram significativamente entre si. Nos grupos que receberam xilazina a FC ficou abaixo dos valores considerados fisiológicos para a espécie (120 a 240 bpm) (CAMACHO e MUCHA, 2008) com melhor recuperação do grupo XIT no M3 (113 bpm). Em relação a FR, não houve diferença significativa entre os grupos em MB e M1; já em M2 e M3 B12IT diferiu de XIT, sendo que os valores de FR foram maiores Anais do 38º CBA, p.0830

4 no grupo B12IT. A FR só variou ao longo do tempo no grupo XIT no qual M1 (29 mpm), M2 (25 mpm) e M3 (25 mpm) diferiram em relação ao MB (53 mpm), a qual deve ter ocorrido devido a um maior estado de relaxamento transmitido pelo fármaco. Alguns autores afirmam que a diminuição da FR é uma alteração esperada pela administração de xilazina (ANDRADE et al., 2008; GOMES et al., 2011). Os valores mais baixos de FR foram observados no grupo XIT em M1, M2 e M3, o que pode ser um indício do estado de sedação mais precoce e duradouro neste grupo, possivelmente devido à atividade do canal de acupuntura. Nos grupos que receberam vitamina B12 a resposta foi contrária aos outros tratamentos, apresentando aumento na FR, embora sem diferença estatística, que pode ter ocorrido devido ao estresse causado pelo tempo de permanência em avaliação. A TR não diferiu significativamente entre os grupos em MB e M1; já em M2 e M3 os grupos B12IT (38,9 e 38,8 0 C) e B12IM (38,9 e 39,1 0 C) apresentaram diferença significativa em relação à XIT (37,6 e 37,5 0 C) e XIM (37,3 e 37,0 0 C). Os grupos B12IT e B12IM não apresentaram diferença significativa ao longo do tempo. Já no grupo XIT MB (38,6 0 C) diferiu de M3 (37,5 0 C). No grupo XIM MB (38,0 0 C) e M1(38,1 0 C) apresentaram diferença significativa em relação a M3 (37,0 0 C). Pode-se observar que os grupos XIT e XIM demonstraram uma diminuição progressiva da TR após administração do fármaco, em contrapartida os grupos B12IT e B12IM permaneceram dentro dos padrões para a espécie. No que diz respeito ao grau de tranquilização observou-se que, como descrito na literatura, a farmacopuntura causou uma tranquilização nos animais de grau variado, produzindo um efeito similar à dose convencional. Não houve diferença significativa entre XIT e XIM na avaliação do grau de tranquilização, demonstrando que os dois métodos apresentaram resultados semelhantes em gatos. A indução de efeitos indesejáveis como êmese (50% dos animais do grupo XIT apresentaram êmese), bradicardia e hipotermia com a utilização da farmacopuntura pode ser devido à dose relativamente alta utilizada (30% da dose sistêmica preconizada). Conclusão: A subdose de xilazina aplicada no acuponto Yin Tang de gatos, produziu os mesmos efeitos sedativos quando comparada à sua aplicação intramuscular com a dose padrão. Dessa maneira, este protocolo pode se tornar uma alternativa de sedação na rotina clínica de gatos domésticos. Os resultados encontrados neste estudo são Anais do 38º CBA, p.0831

5 encorajadores, sugerindo pesquisas mais amplas com um maior número de animais, outros fármacos, doses e espécies. Referências: ALVARENGA, M. A.; FERREIRA, J. C. P.; MEIRA, C.; LUNA, S. P. L.; BURNS, P. J. Induction of luteolysis in mares utilizing a micro-dose of prostaglandin F2 alfa in the sacral lumbar space (Bai Hui accupoint). Journal of Equine Veterinary Science, Londres, v.18, n.3, p , ANDRADE, S. F.; FANTONI, D.T.; CORTOPASSI, S.R.G. ; ANDRADE NETO, J.P.; KANASHIRO. G.P. Terapêutica do sistema nervoso. In: ANDRADE, S.F. Manual de terapêutica veterinária. 3.ed. São Paulo: Roca, CAMACHO, A.A.; MUCHA, C.J. Semiologia do sistema circulatório de Cães e Gatos. In FEITOSA, F.L. F. Semiologia veterinária: A arte do diagnóstico. 2. ed. São Paulo: Roca, p CASSU, R. N.; CORDEIRO, M. O.; RODENAS, E. Avaliação do efeito sedativo e dose de indução anestésica do propofol sob diferentes medicações pré-anestésicas em gatos. Clínica Veterinária, São Paulo, v.10, n. 58, p , GOMES, V.H. et al.. Comparison of the sedative effects of morphine, meperidine or fentanyl, in combination with acepromazine, in dogs. Ciência Rural, Santa Maria Aug., v.41, n.8, p , LUNA, S.P.L. et al. Comparison of pharmacopuncture, aquapuncture and acepromazine for sedation of horses. Evidence-Based Complementary and Alternative Medicine, v.5, p , SCHOEN, Allen M. Acupuntura veterinária: da arte antiga à medicina moderna. 2.ed. São Paulo: Roca, 2006, 624p. Anais do 38º CBA, p.0832