Disfunções sexuais nos três trimestres gestacionais
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- Alice Gomes Neves
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1 DOI: /ConsSaude.v16n Recebido em 6 ago / aprovado em 21 set Disfunções sexuais nos três s gestacionais Sexual dysfunction in three gestational trimesters Bruna da Silva Martins Köhler 1 ; Maíra Pereira Martins 1 ; Hedioneia Maria Foletto Pivetta 2 ; Melissa Medeiros Braz 2 1 Fisioterapeuta. Universidade Federal de Santa Maria UFSM. Santa Maria, RS - Brasil. 2 Doutor. Docente do Curso de Fisioterapia da Universidade Federal de Santa Maria UFSM. Santa Maria, RS - Brasil. Endereço para Correspondência Melissa Medeiros Braz Rua dos Andradas, 602, ap. 702 Centro Santa Maria RS [Brasil] melissabraz@hotmail.com Resumo Introdução: Dificuldades sexuais são bastante frequentes durante a gestação, pelas mudanças hormonais e emocionais deste período.objetivo: Avaliar a prevalência de disfunções sexuais nos três s gestacionais. Métodos: Pesquisa observacional com 140 mulheres de 7 unidades básicas de saúde de um município do interior do RS. Foram aplicadosuma ficha de avaliação e o Female Sexual Function Index. Foi realizada a estatística descritiva para representação dos grupos e o teste de normalidade de Kolmogorov-Smirnov para os testes de hipóteses com nível de significância de 5%. Resultados: Houve alta prevalência de disfunção sexual, com diferença entre o primeiro e o segundo s (p 0,018), e entre o primeiro e o terceiro s (p 0,014). Conclusão: Houve alta prevalência de disfunção sexual (33,04%), sendo os domínios mais afetados a satisfação (100%), lubrificação (94,69%), orgasmo (94,59%) e excitação (91,89%). Identificou-se aumento das disfunções sexuais com a evolução da gestação. Descritores: Disfunção sexual fisiológica; Gravidez; Prevalência. Abstract Introduction: Sexual difficulties are quite frequent during gestation, due to the hormonal and emotional changes of this period. Objective: To evaluate the prevalence of sexual dysfunction in the three gestational trimesters. Methods: Observational research with 140 women from 7 basic health units of a municipality in the interior of RS. An evaluation form and the Female Sexual Function Index were applied. Descriptive statistics were performed for group representation and the Kolmogorov-Smirnov normality test was used for hypothesis tests with a significance level of 5%. Results: There was a high prevalence of sexual dysfunction, with a difference between the first and second quarters (p 0.018), and between the first and third quarters (p 0.014). Conclusion: There was a high prevalence of sexual dysfunction (33.04%), with satisfaction (100%), lubrication (94.69%), orgasm (94.59%) and excitation (91.89%) being the most affected domains. It was identified an increase of the sexual dysfunctions with the evolution of the gestation. Key words: Sexual dysfunction physiological; Pregnancy; Prevalence. 360
2 Köhler BSM, Martins MP, Pivetta HMF, Braz MM Introdução As alterações fisiológicas ocorridas durante a gravidez, sejam elas sutis ou marcantes, estão entre as mais acentuadas que o corpo humano pode sofrer, o que gera medos, dúvidas, angústias, fantasias ou simplesmente curiosidade em relação às transformações ocorridas no corpo 1. Destacam-se as alterações hormonais, cardíacas, respiratórias e emocionais, que poderão afetar diretamente a relação conjugal, profissional e social da mulher 2,3. Em relação à função sexual durante a gravidez, considera-se que esta ainda é cercada por numerosos tabus movidos, muitas vezes, pela falta de conhecimento e preconceitos culturais, pessoais ou religiosos 2. Talvez por todos esses motivos, dificuldades sexuais são bastante frequentes durante este período, afetando entre 40 e 70% das mulheres em algumas culturas 3,4,5,6. Fatores emocionais relacionados à gestação que podem ser vivenciados tanto pela gestante como pelo parceiro também podem afetar a sexualidade feminina; entre tais fatores estão o ajustamento aos novos papéis sociais, a qualidade do relacionamento do casal, alterações de humor e a aceitação do sexo nesse período 7. Diante dos poucos estudos que relacionam a gestação e a função sexual, o objetivo do presente estudo foi investigar a prevalência de disfunções sexuais nos três s gestacionais. Métodos Pesquisa do tipo transversal, observacional, de caráter quantitativo, aprovada pelo Comitê de Ética e Pesquisa (CEP) institucional sob o número de protocolo , sendo o projeto original intitulado Impacto da incontinência urinária sobre a função sexual e qualidade de vida em gestantes. Trata-se de um recorte da pesquisa de origem dando ênfase ao aspecto da sexualidade e das disfunções sexuais. Foram avaliadas mulheres no período gestacional, com idades variando de 15 a 43 anos, que realizaram o pré-natal em unidades de Estratégias de Saúde da Família (ESF) de um município do interior do Rio Grande do Sul (RS), no período de junho de 2014 a março de As coletas dos dados foram realizadas junto a sete unidades de Estratégias de Saúde da Família, determinadas juntamente à Secretaria Municipal de Saúde, sendo selecionada uma unidade de saúde de cada região da cidade, onde existia o maior número de gestantes em acompanhamento pré-natal. A amostra foi constituída por 140 mulheres, considerando-se o cálculo amostral a partir do número de nascidos vivos na cidade de Santa Maria no mês de fevereiro de 2013 (DATASUS). Foram incluídas gestantes que manifestaram desejo em participar da pesquisa, primigestas ou multigestas, de gravidez única ou gemelar, em qualquer período gestacional. Foram excluídas gestantes que não residiam no município, mulheres com dificuldades de entendimento ou que não aceitassem participar da pesquisa, com gestação de alto risco, bem como aquelas que se declararam inativas sexualmente no período de desenvolvimento da pesquisa. A coleta dos dados foi realizada mediante contato das pesquisadoras com os profissionais responsáveis pelas equipes das Unidades Básicas de Saúde (UBS), a fim de agendar a avaliação das gestantes adscritas na área de abrangência, para a realização das visitas e/ou consultas de pré-natal. O convite para participar do estudo de forma voluntária foi realizado antes da consulta de pré-natal, após esclarecimentos do propósito da pesquisa em que a gestante lia e assinava o Termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE). Os seguintes questionários foram aplicados: para delinear o perfil uroginecológico e obstétrico das gestantes foi utilizada a ficha de avaliação adaptada de Etienne, Waitman 8 e Moreno 9, composta por 19 questões contendo dados sobre a história ginecológica, obstétrica, sexualidade e perdas urinárias da gestante. Posteriormente foi aplicado o FSFI (Female Sexual Function Index) ou índice da função sexual feminina, que é um Artigos Revisões de literatura 361
3 Disfunções sexuais nos três s gestacionais questionário validado na língua portuguesa, específico e multidimensional, para avaliar a resposta sexual feminina. O questionário é composto por 19 questões, que informam sobre cinco domínios da resposta sexual: desejo e estímulo subjetivo, lubrificação, orgasmo, satisfação e dor ou desconforto. Pontuações individuais são obtidas pela soma dos itens que compreendem cada domínio (escore simples), que são multiplicadas pelo fator desse domínio e fornecem o escore ponderado. A pontuação final (escore total: mínimo de 2 e máximo de 36) é obtida pela soma dos escores ponderados de cada domínio. Adotouse como ponto de corte do escore total do FSFI a pontuação de 26,55; a fim de predizer disfunções sexuais para este grupo. Para a análise dos domínios foram utilizados seguintes pontos de corte: Desejo: 4,28, Excitação 5,08, Lubrificação 5,45; Orgasmo: 5,05; Satisfação: 5,04 e Dor: 5, Os questionários foram aplicados pelos pesquisadores na sala de espera das UBS antes das consultas médicas pré-natal/triagem e/ou visitas acompanhadas pela agente comunitária de saúde, com um tempo, em media, de trinta minutos. Para a análise dos dados, foi realizada a estatística descritiva para representação dos grupos da pesquisa. Para a realização dos testes de hipóteses foi realizado inicialmente o teste de normalidade de Kolmogorov-Smirnov. Já para a análise das diferenças entre grupos, para variáveis simétricas foi utilizado o teste ANOVA de grupos independentes e para as assimétricas foi utilizado o Teste de Friedman. O post hoc utilizado foi o de Tukey. O nível de significância adotado foi de 5% para todos os testes e o software utilizado foi o SPSS 14.0 para Windows. Resultados Nas Unidades de ESF nas quais os dados foram coletados, foram abordadas 140 gestantes, com idades variando de 15 a 43 anos. No entanto, os dados foram coletados com 112 mulheres que atenderam os critérios de inclusão e exclusão. Do total da população estudada no período de coleta dos dados, 28 (20%) foram excluídas por referirem não terem vida sexual ativa. Das 112 gestantes, 14 (12,5%) estavam no primeiro gestacional, 33 (29,46%) no segundo e 65 (58,04%) no terceiro gestacional (Figura 1). Figura 1: Fluxograma de seleção da amostra. Quanto ao estado civil, 55 (49,11%) referiam ser solteiras, 55 (49,11%) casadas e 2 (1,78%) não responderam a essa questão. A Tabela 1 apresenta os dados de caracterização das gestantes quanto à faixa etária, idade gestacional e número de partos. Tabela 1: Caracterização da amostra Características Média e desvio padrão Idade (anos) 25,62 ± 5,90 Idade gestacional (semanas) 26,11 ± 8,82 Número de partos anteriores 1,02 ± 1,22 O escore do FSFI variou de 9,6 a 36,8, com predição para disfunção sexual para 37 (33,04%) gestantes. A tabela 2 apresenta a avaliação das gestantes pelo FSFI representada pela média e o desvio padrão do escore total e seus domínios. Dentre as gestantes com disfunção sexual (abaixo do ponto de corte de 26,55), apresenta-se cada domínio separadamente que indica o tipo de disfunção sexual presente, sendo que cada gestante pode apresentar mais do que um tipo de disfunção sexual. 362
4 Köhler BSM, Martins MP, Pivetta HMF, Braz MM Mesmo as gestantes que obtiveram escores totais acima do valor preditivo de disfunções sexuais (75) apresentaram ao menos um domínio específico negativamente afetado: desejo (15 gestantes), excitação (47 gestantes), lubrificação (65 gestantes), orgasmo (42 gestantes), satisfação (69 gestantes) e dor (27 gestantes). Tabela 2: Médias dos escores do FSFI e número de gestantes com disfunção sexual Domínios Média e desvio padrão Gestantes com disfunção (n) (%) Escore total 21,80 ±6, ,04 Desejo 4,86 ±1, ,27 Excitação 4,23 ±1, ,89 Lubrificação 4,60 ±1, ,69 Orgasmo 4,46 ±1, ,59 Satisfação 3,45 ±1, Dor/desconforto 5,38 ±1, ,16 A tabela 3 apresenta o quantitativo, e seu respectivo percentual, de gestantes com disfunção sexual por gestacional, representados por escore total e por domínios. Observa-se tendência ao crescimento das disfunções sexuais com evolução da gestação. Os domínios mais afetados foram orgasmo e satisfação, nos três s gestacionais. A tabela 4 apresenta a comparação dos escores do FSFI das gestantes por gestacional com o escore total e seus respectivos domínios. A média do escore total nos três s esteve acima do ponto de corte e não houve diferença estatisticamente significativa no escore total. A diferença encontrada entre os grupos em relação ao domínio dor foi significativa entre o primeiro e o segundo (p 0,018), bem como entre o primeiro e o terceiro (p 0,014), porém quando comparados o segundo com o terceiro não houve diferença significativa (p 0,900). Observou-se que a partir do segundo gestacional este grupo passou a apresentar disfunção sexual de dor. Tabela 4: Comparação dos escores do FSFI, total e por domínios, nas gestantes por gestacional Domínios Primeiro Trimestre (n = 14) Segundo (n = 33) Terceiro (n = 65) Escore total 28,60±3,25 26,55±5,27 26,86±5,73 0,839 Desejo 4,71 ±1,05 4,98 ±1,09 4,83 ±1,06 0,596 Excitação 4,31±1,04 4,20±1,28 4,23±1,38 0,990 Lubrificação 5,04±0,85 4,40±1,28 4,61±1,21 0,140 Orgasmo 4,63±0,91 4,29±1,20 4,52±1,26 0,416 Satisfação 3,51±0,50 3,39±1,14 3,46±1,05 0,877 Dor/ desconforto 6,40±1,32 5,28±1,80 5,21±1,86 0,037* *Estatisticamente significativo. p Artigos Revisões de literatura Tabela 3: Número e porcentagem de gestantes com disfunção sexual, representadas pelo escore total e domínios do FSFI, distribuídas por s gestacionais Domínios Primeiro n= 14 Segundo n=33 Terceiro n= 65 Escore total 3 (21,43%) 11 (33,34%) 23 (35,38%) Desejo 3 (21,43%) 7 (21,21%) 16 (24,62%) Excitação 3 (21,43%) 10 (30,30%) 21 (32,30%) Lubrificação 2 (14,28%) 10 (30,30%) 23 (35,38%) Orgasmo 8 (57,14%) 10 (30,30%) 22 (33,84%) Satisfação 8 (57,14%) 11 (33,33%) 23 (35,38%) Dor/desconforto 1 (7,14%) 7 (21,21%) 15 (23,08%) Discussão O presente estudo identificou que a prevalência de disfunção sexual feminina foi de 33,04%, dado inferior ao encontrado na pesquisa de Ninivaggio et al. 11, realizada com 627 gestantes com média de idade de 24.2 ± 5.1 anos. Destas, 36,3% das gestantes do primeiro, 36,8% das gestantes do segundo e 57% das gestantes do terceiro apresentavam disfunção sexual. Observou-se que a frequência de relações sexuais diminuiu com o decorrer dos s, enquanto a de disfunções 363
5 Disfunções sexuais nos três s gestacionais sexuais aumentou do primeiro para o segundo (p < 0,001) e do segundo para o terceiro (p < 0,001). As disfunções sexuais mais prevalentes foram de desejo, excitação e orgasmo. Pesquisa realizada na Egito 12 com 451 gestantes encontrou uma prevalência de 68.8% de disfunções sexuais nas gestantes pesquisadas. De acordo com a análise do FSFI, os escores de todos os domínios apresentaram uma redução significativa no período gestacional (22.5 ± 3.7) se comparados ao período pré-gestacional (30.5 ± 5.6). Porém, dado diferente foi observado em estudo brasileiro 13, em que houve disfunção sexual global de 31,7%, sendo mais prevalente em gestantes (40,4%) que em não gestantes (23,3%) (p=0,01). Quando analisados os domínios da função sexual, foram observadas diferenças significativas entre gestantes e não gestantes nos escores dos domínios desejo (p<0,0001), excitação (p=0,003), lubrificação (p=0,02), orgasmo (p=0,005) e satisfação (p=0,03). Em nossa pesquisa as médias dos domínios do FSFI excitação (4,20), lubrificação (4,40), orgasmo (4,29) e satisfação (3,39) foram menores no segundo em relação ao primeiro e terceiro s, sem diferenças significativas. Dado diferente foi observado no estudo de Gałązka et al 14, onde a pontuação do FSFI diminuiu ao longo dos s gestacionais em todos os domínios (excitação, lubrificação, orgasmo, satisfação, desejo e dor). A diminuição dos escores estava relacionada à diminuição do desejo sexual (p = ), relutância do parceiro em manter as relações sexuais (p = 0.002) e mudanças na aparência relacionadas à gravidez (p = 0.03). As disfunções sexuais foram mais comuns em primigestas no terceiro gestacional, relacionadas a insatisfações com o relacionamento. Pesquisa realizada no estado de Alagoas 2 com 41 gestantes com faixa etária entre 14 a 42 anos (média de 27,9 anos) observou que no primeiro gestacional o domínio desejo obteve o pior escore com 3,53 pontos, já em nosso estudo, este domínio manteve-se acima do ponto de corte em todos os s gestacionais. O domínio dor no estudo citado anteriormente 2, no segundo e terceiro s, apresentou menor pontuação, com 3,70 e 2,99 pontos, respectivamente, o que também foi encontrado em nossa pesquisa com pontuação de 5,28 (segundo ) e 5,21 (terceiro ), sendo o terceiro a menor pontuação. A elevada prevalência de disfunções sexuais no terceiro gestacional pode ser explicada pelas alterações físicas e emocionais do período gestacional, que podem dificultar a estimulação adequada das zonas erógenas, bem como estar associadas a conflitos conjugais, falta de atração pelo parceiro, ansiedade pelo bemestar fetal e fadiga. O bem-estar emocional geral e o sentimento de proximidade com o parceiro durante a gestação parecem ser preditores de problemas sexuais durante esta fase do ciclo sexual feminino 15. O estudo de Prado 13 comparou 181 mulheres não gestantes com 177 mulheres gestantes brasileiras nos três s gestacionais com o objetivo de avaliar a função sexual através do FSFI. Entre os domínios da função sexual, os mais prejudicados foram o desejo e a excitação, justificados por sintomas como náuseas, vômitos, fadiga, sonolência e sensibilidade corporal que as gestantes experimentam no início da gestação 16, bem como a mudança da autoimagem corporal que ocorre a partir do segundo gestacional. Quanto aos fatores relacionados com a disfunção sexual durante a gravidez, revisão integrativa 17 realizada com 68 estudos sobre esta temática encontrou, influenciando a função sexual de gestantes, as seguintes variáveis: alterações físicas e psicológicas relacionadas à gravidez, história obstétrica (número de filhos, número de gravidezes, tipos de parto, abortos), fatores sociodemográficos (idade, escolaridade, estado socioeconômico, idade gestacional), religiosos, culturais, vulnerabilidade, medos, mitos, tabus e crenças, conhecimento insuficiente, alte- 364
6 Köhler BSM, Martins MP, Pivetta HMF, Braz MM rações relacionais, na autoestima, na autoimagem e conflitos de valores. A atividade sexual no período gestacional já foi observada com preconceito, atribuído ao desconhecimento sobre o assunto. Até bem pouco tempo, a vida sexual ativa durante este período era considerada inadequada, quando a mulher deveria direcionar sua libido para os cuidados com a família 18. Ainda nos dias atuais, algumas gestantes vivenciam este conflito, o que pode gerar disfunções sexuais. Além disso, muitas das gestantes sentem vergonha e receio de expor suas disfunções sexuais para os profissionais de saúde durante o acompanhamento pré-natal 19. Desta forma, torna-se fundamental que os profissionais estejam preparados e sensibilizados para investigar e intervir ativamente sobre as questões relacionadas à função sexual na gestação. A disfunção sexual pode afetar negativamente a saúde e qualidade de vida da gestante, o que pode resultar em sofrimento pessoal, para o casal e a família. Assim, cabe aos profissionais de saúde desenvolver uma abordagem aberta sobre a sexualidade durante a gestação por meio da educação em saúde, de forma individual e coletiva. Neste sentido, grupos de gestantes tornam-se espaços de prevenção de disfunções sexuais e de promoção da saúde, na medida em que permite inserir a mulher, ativamente, em um processo de troca de experiências e diferentes saberes com os demais componentes do grupo e com o profissional de saúde 19. Quanto ao instrumento utilizado para avaliar a prevalência de disfunções sexuais (FSFI), revisão integrativa 17 realizada com 68 artigos em português, francês, espanhol e inglês, com data de publicação entre 2010 e 2014, observou que 56% dos estudos de abordagem quantitativa utilizaram este instrumento. O FSFI, por ser um instrumento de fácil aplicação, pode ser utilizado na prática clínica durante o pré-natal, a fim de auxiliar a abordagem dos profissionais de saúde com a gestante sobre questões sexuais, facilitando a interação entre a equipe, a grávida e o casal 20. Conclusão Os resultados da pesquisa demonstraram considerável prevalência de disfunção sexual nas gestantes (33,04%), sendo que houve uma tendência ao aumento da disfunção sexual com a evolução da gestação. Os domínios mais afetados no FSFI foram satisfação, orgasmo, lubrificação e excitação, seguidas de desejo e dor, onde foi constatado que o domínio dor foi o único que apresentou diferença estatisticamente significativa entre os s gestacionais. Assim, ressalta-se a importância do diálogo com a equipe interprofissional de saúde, visto que muitas vezes ocorre constrangimento das mulheres ao expor suas dúvidas, medos e queixas sexuais, exacerbando assim as disfunções sexuais no período gestacional. Referências 1. Boarolli M, Pacheco T, Ceretta LB, Birollo IVB, Amboni G, Gomes KM. Avaliação de estresse, depressão e ansiedade em um grupo de gestantes cadastradas na estratégia saúde da família do bairro São Sebastião, Criciúma. Rev Prog Res UNESC 2016; 3(1): Mann L, Kleinpaul JF, Teixeira CS, Mota CB. Influência dos sistemas sensoriais na manutenção do equilíbrio em gestantes. Fisioter. Mov. 2011;24(2): Macêdo LC, Carvalho HB, Medeiros SWM, Santos AMB, Katz L, Amorim MMR. Avaliação da função sexual em primíparas após parto vaginal e nuligestas. Rev Pesq Fis Fev;7(1): Küçükdurmaz F, Efe E, Malkoç O, Kolus E,Amasyalı AS, Resim S. Prevalence and correlates of female sexual dysfunction among Turkish pregnant women, Turk J Urol Sep; 42(3): Wallwiener S, Müller M, Doster A, Kuon RJ, Plewniok K, Feller S, Wallwiener M, Reck C, Matthies LM, Wallwiener C. Sexual activity and sexual dysfunction of women in the perinatal period: a longitudinal study. Arch Gynecol Obstet (2017) 295:873. Artigos Revisões de literatura 365
7 Disfunções sexuais nos três s gestacionais 6. Farias TC, Morais KCS, Cirqueira RP, Albuquerque LS, Ferreira JB. Incontinência urinária e disfunção sexual em gestantes. Id on Line Rev. Mult. Psic. 2017;11(38): Antonio JJZ, Silva A, Costa PPB, Jung D, Pereira CFP, Nunes EFC, Latorre GFS. Função sexual feminina, desgaste emocional por insatisfação sexual e inteligência emocional. Fisioter Bras 2016;17(6): Etienne AM, Waitman CM. Disfunções Sexuais Femininas. A Fisioterapia como Recurso Terapêutico. 1ª ed. São Paulo: LMP, p. 9. Moreno AL. Fisioterapia em Uroginecologia. 2ed. Barueri: Manole; Rosen R, Brown C, Heiman J, LeiblumS, Meston C, Shabsigh R, et al. The female sexual function index (FSFI): a multidimensional self-report instrument for the assessment of female sexual function. J Sex Marital Ther. 2000;26(2): Ninivaggio C, Rogers RG, Leeman L, Migliaccio L, Teaf D, Qualls C. Sexual function changes during pregnancy. Int Urogyn J. 2017;28(6): Ahmed MR, Madny EH, Ahmed WAS. Prevalence of female sexual dysfunction during pregnancy among Egyptian women. J Obst Gyn Res (40):4, Prado DS, Lima RV, Lima LMMR. Impacto da gestação na função sexual feminina. Rev Bras Ginecol Obstet. 2013; 35(5): Gałązka I, Drosdzol-Cop A, Naworska B, Czajkowska M, and Skrzypulec-Plinta V. Changes in the sexual function during pregnancy. J Sex Med 2015 Feb;12(2): Mathias AERA, Pitangui ACR, Arantes VA, Freitas HGV, Vilela FMF, Dias TG. Disfunção sexual: Avaliação de mulheres durante o terceiro gestacional. ABCS Health Sci. 2015; 40(2):75-79 ABCS Health Sci. 2015; 40(2): Bomfim IQM, Melro BCF. Estudo Comparativo da Função Sexual em Mulheres Durante o Período Gestacional. UNOPAR Cient Ciênc Biol Saúde 2014;16(4): Carteiro DMH, Sousa MR, Caldeira SMA. Indicadores clínicos de disfunção sexual em mulheres grávidas: revisão integrativa de literatura. Rev Bras Enferm [Internet] jan-fev;69(1): Lima AC, Dotto LMG, Mamede MV. Prevalência de disfunção sexual em primigestas, no Município de Rio Branco, Acre, Brasil. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 29(8): , ago, Camillo BS, Nietsche EA, Salbego C et al. Ações de educação em saúde na atenção primária.rev enferm UFPE on line.2016(10):supl. 6, Monteiro MN, Lucena EES, Cabral PU, Queiros Filho J, Queiroz J, Gonçalves AK. Prevalence of Sexual Dysfunction among Expectant Women. Rev Bras Ginecol Obstet 2016; 38(11):
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