Direitos e Democracia no. Novo Constitucionalismo Latino-americano

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1 Direitos e Democracia no Novo Constitucionalismo Latino-americano

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3 GUSTAVO FERREIRA SANTOS LENIO LUIZ STRECK MARCELO LABANCA CORRÊA DE ARAÚJO (Organizadores) Direitos e Democracia no Novo Constitucionalismo Latino-americano Belo Horizonte 2016

4 Álvaro Ricardo de Souza Cruz André Cordeiro Leal André Lipp Pinto Basto Lupi Antônio Márcio da Cunha Guimarães Bernardo G. B. Nogueira Carlos Augusto Canedo G. da Silva Carlos Bruno Ferreira da Silva Carlos Henrique Soares Claudia Rosane Roesler Clèmerson Merlin Clève David França Ribeiro de Carvalho Dhenis Cruz Madeira Dircêo Torrecillas Ramos Emerson Garcia Felipe Chiarello de Souza Pinto Florisbal de Souza Del Olmo Frederico Barbosa Gomes Gilberto Bercovici Gregório Assagra de Almeida Gustavo Corgosinho Jamile Bergamaschine Mata Diz Janaína Rigo Santin Jean Carlos Fernandes CONSELHO EDITORIAL É proibida a reprodução total ou parcial desta obra, por qualquer meio eletrônico, inclusive por processos reprográficos, sem autorização expressa da editora. Impresso no Brasil Printed in Brazil Arraes Editores Ltda., Jorge Bacelar Gouveia Portugal Jorge M. Lasmar Jose Antonio Moreno Molina Espanha José Luiz Quadros de Magalhães Kiwonghi Bizawu Leandro Eustáquio de Matos Monteiro Luciano Stoller de Faria Luiz Manoel Gomes Júnior Luiz Moreira Márcio Luís de Oliveira Maria de Fátima Freire Sá Mário Lúcio Quintão Soares Martonio Mont Alverne Barreto Lima Nelson Rosenvald Renato Caram Roberto Correia da Silva Gomes Caldas Rodolfo Viana Pereira Rodrigo Almeida Magalhães Rogério Filippetto de Oliveira Rubens Beçak Vladmir Oliveira da Silveira Wagner Menezes William Eduardo Freire Coordenação Editorial: Fabiana Carvalho Produção Editorial e Capa: Danilo Jorge da Silva Revisão: Responsabilidade do Autor Direitos e democracia no novo constitucionalismo latino-americano D598 / [organizado por] Gustavo Ferreira Santos, Lenio Luiz Streck, Marcelo Labanca 2015 Corrêa de Araújo. Belo Horizonte: Arraes Editores, p.209 ISBN: Constitucionalismo América Latina. 2. Direito constitucional América Latina. 3. América do Sul Integração econômica. 4. Democracia América Latina. 5. Cidadania constitucional. 6. Unasul Direitos. I. Santos, Gustavo Ferreira (org.). II. Streck, Lenio Luiz (org.). III. Araújo, Marcelo Labanca Corrêa de (org.). II. Título. CDD CDDir Elaborada por: Fátima Falci CRB/6-nº 700 Matriz Rua do Ouro, 603 Bairro Serra Belo Horizonte/MG - CEP Tel: (31) Filial Rua Senador Feijó, 154/cj 64 Bairro Sé São Paulo/SP - CEP Tel: (11) arraes@arraeseditores.com.br Belo Horizonte 2016

5 Sumário APRESENTAÇÃO... VII Capítulo 1 A CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA DE 1988, AS CONSTITUIÇÕES TRANSFORMADORAS E O NOVO CONSTITUCIONALISMO LATINO-AMERICANO Gilberto Bercovici... 1 Capítulo 2 PODER CONSTITUINTE E PODER DE REFORMA NO NOVO CONSTITUCIONALISMO LATINO-AMERICANO : AS LIÇÕES QUE PODEMOS TIRAR Gustavo Ferreira Santos Capítulo 3 EL NUEVO CONSTITUCIONALISMO LATINOAMERICANO: FUNDAMENTOS PARA UNA CONSTRUCCIÓN DOCTRINA Roberto Viciano Pastor e Ruben Martínez Dalmau Capítulo 4 DIREITOS FUNDAMENTAIS E CONSTITUIÇÃO: AS RESPOSTAS DO NEOCONSTITUCIONALISMO EUROPEU E DO NOVO CONSTITUCIONALISMO LATINO-AMERICANO João Paulo Allain Teixeira Capítulo 5 DEMOCRACIA E CONSTITUIÇÃO: A ALTERNATIVA PLURINACIONAL BOLIVIANA José Luiz Quadros de Magalhães Capítulo 6 O CASO RAPOSA SERRA SO SOL E O SIGNIFICADO DA CONSTITUIÇÃO NAS SOCIEDADES DEMOCRÁTICAS E PLURALISTAS Argemiro Cardoso Moreira Martins V

6 Capítulo 7 O SISTEMA INTERAMERICANO DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS E A SUA EFETIVIDADE NA QUESTÃO INDÍGENA: A ANÁLISE DO CASO DA CONSTITUICIÓN DE LA REPÚBLICA DEL ECUADOR Taysa Schiocchet e Denise Tatiane Girardon dos Santos Capítulo 8 NUEVO CONSTITUCIONALISMO LATINOAMERICANO, GIRO DECOLONIAL Y ECOLOGÍA POLÍTICA Alejandro Medici Capítulo 9 REFLEXÕES SOBRE O NOVO CONSTITUCIONALISMO LATINO-AMERICANO Lenio Luiz Streck e Fábio Corrêa Souza de Oliveira Capítulo 10 UNASUL: NOTAS SOBRE A INTEGRAÇÃO ENERGÉTICA E CULTURAL DA AMÉRICA DO SUL. OS DIREITOS DA MÃE TERRA E A PROPOSTA DO VIVER BEM RUMO À CIDADANIA PLANETÁRIA Germana de Oliveira Moraes Capítulo 11 CIDADANIA CONSTITUCIONAL: ORIGENS, CONTESTAÇÃO E PERSPECTIVAS RUMO A UMA CIDADANIA SUL-AMERICANA Daniela Mesquita Leutchuk de Cademartori e Sergio Cademartori Capítulo 12 O ESTADO DE COISAS INCONSTITUCIONAL: DA COLÔMBIA AO BRASIL Marcelo Labanca Corrêa de Araújo e Márcio Alexandre Diniz Cabral VI

7 Apresentação A história do constitucionalismo na América Latina inicia com uma aplicação artificial de experiências norte-americana ou europeia à região e chega, nos últimos anos, ao surgimento de um movimento político no qual a constitucionalização faz parte do núcleo. Na maior parte da nossa história constitucional, as elites políticas buscaram, mesmo que apenas nominalmente, adaptar versões dos documentos constitucionais nascidos nos movimentos políticos europeu e norte-americano. Os textos constitucionais dessa nova onda constitucionalista são marcados por profunda preocupação com democracia. O que tem vivido a América Latina, nesse campo, é uma constitucionalização que reflete pluralismos que até então tinham pouco ou nenhum reflexo na normatividade. Com as mais recentes constituições, o debate pode ser enriquecido, com a inserção de um conjunto de instrumentos de participação política direta e com a elevação a nível constitucional de conceitos dos povos originários, que são, por esse caminho, universalizados. Nos últimos anos, há uma certa descoberta, no Brasil, da originalidade dessa experiência constitucional recente latino-americana. Discussões sobre a relação constitucionalismo-democracia estavam adstritas, até então, ao debate sobre a tensão decorrente da vedação de decisão majoritária causada pela adoção de rigidez constitucional e sobre a questão da legitimidade e da jurisdição constitucional. Giravam em torno dos mesmos conceitos da matriz constitucionalista de origem europeia e norte-americana. Aqui, reunimos um conjunto de trabalhos construídos na tentativa de compreender o novo fenômeno constitucionalista em nosso continente. São pesquisadores de diferentes instituições, abordando diversos aspectos das novas instituições constitucionais. Uma primeira parte deste livro dá foco em questões de Teoria da Constituição. O texto de Gilberto Bercovici discute formas transformadoras de constitucionalismo, estudando algumas experiências nacionais, dentre elas as dos países com textos constitucionais classificados, pela literatura constitucional no novo constitucionalismo latino-americano, inseridos, para o autor, nessa categoria mais VII

8 ampla de constitucionalismo transformador. Faz uma abordagem sobre o Brasil, discutindo desafios econômicos e sociais que enfrenta, que pedem aportes para além do paradigma europeu tradicional. O texto de Gustavo Ferreira Santos discute o conceito de poder de reforma, questionando a forma como, mais comumente, esse poder é estudado em nosso país. Aproveita o texto a experiência dos países latino-americanos que fizeram recentemente constituições para apontar ali uma preocupação radical com legitimação, que não se repete em nosso debate constitucional. O texto de Roberto Viciano Pastor e de Ruben Martinez Dalmau trabalha com a compreensão desse processo histórico apontando para a possibilidade da construção de uma doutrina adequada a essa realidade. Enfatizam a natureza democrática dos processos constituintes e indicam nas constituições preocupações com democracia e inclusão de parcelas marginalizadas da sociedade, com instituições infiltradas por pluralismo e controle social. João Paulo Allain Teixeira discute respostas do neoconstitucionalismo europeu e do novo constitucionalismo latino-americano a questões de direitos fundamentais. A segunda parte trata da idéia de plurinacionalidade. O Artigo de José Luiz Quadros Magalhâes toma a experiência boliviana como referência para demonstrar insuficiências nas formas representativas de democracia e na organização estatal não plural. O autor afirma a necessidade de desenhos que respeitem a diversidade cultural existente nas sociedades, com formas de participação democrática que as democracias majoritárias não têm sido capazes de captar. A partir de outros referenciais, Argemiro Martins discute, a partir do estudo da decisão do Supremo Tribunal Federal do caso Raposa Serra do Sol, as condições para uma regulação constitucional da vida em sociedade em uma democracia pluralista. O trabalho de Taysa Schiocchet e Denise Tatiane Giradon dos Santos localiza a questão indígena no processo de internacionalização de direitos humanos. Nesse caminho, elege o caso do Equador como um momento no qual, além do processo de internacionalização da proteção, no nível constitucional houve um reconhecimento interno, com a previsão de um Estado plurinacional, destacando o trabalho essa coordenação entre proteção nacional e proteção internacional. Uma terceira parte, discute a contribuição do novo constitucionalismo latino-americano, dando ênfase à sua preocupação com a natureza. Os dois capítulos partem de uma discussão sobre especificidades das novas experiências constitucionais e adentram na discussão sobre a regulação constitucional da natureza para além dos clássicos paradigmas. Alejandro Medici demonstra que as experiências descolonais de Equador e Bolívia recolocam a discussão da relação sociedade-natureza, enfatizando o conceito de sumak kawsay (bem viver), presente nas duas constituições, forçando uma reflexão sobre a própria noção de desenvolvimento. No mesmo sentido, Lênio Steck e Fábio Corrêa Souza de Oliveira estudam as contribuições originais das recentes constituições latino-americanas e aponta um conjunto de novidades, dentre elas, o que parece VIII

9 revolucionário, o reconhecimento de direitos da natureza e dos animais, que viabilizam uma superação da visão antropocêntrica que marcou a história do Direito moderno. Por fim, uma quarta parte inclui as mudanças constitucionais em curso em processos de integração entre nações. Germana Moraes trabalha processos de integração entre países, especificamente, discutindo a partir da integração energética da Unasul questões envolvendo uma identidade latino-americana, que teria importantes aportes do chamado novo constitucionalismo latino-americano e apontaria para a possibilidade de uma cidadania planetária, influenciada por direitos da natureza e do bem viver, que as constituições de Equador e Bolívia consagraram. Daniela e Sérgio Cademartori discutem o conceito de cidadania a partir da consideração de uma possível cidadania sul-americana. Para isso, partem de conceitos tradicionais jurídico-políticos de cidadania e chagam à experiência de integração da UNASUL, demonstrando como são passíveis de questionamento os próprios vínculos entre cidadania e Estado nacional. Já Marcelo Labanca e Marcio Cabral analisam como o Estado de Coisas Inconstitucional, de origem colombiana, pode representar um traço do constitucionalismo latino que passa a tentar dar soluções criativas para os problemas regionais a partir de uma visão decolonial. Consideramos que essas contribuições ao debate podem suscitar novos estudos, abrindo a academia, no Brasil, para uma reflexão sobre o nosso papel no mundo, os limites de nossa experiência constitucional e as lições que as experiências dos nossos irmãos latino-americanos podem nos dar. Vamos ao debate. IX

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