É através da cronologia do cotidiano que a crônica é inserida na vida, criando um espaço privilegiado para leitura deleite e a recriação.
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- Liliana Gesser Peralta
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1 A CRÔNICA
2 É através da cronologia do cotidiano que a crônica é inserida na vida, criando um espaço privilegiado para leitura deleite e a recriação. Estejam convidados a conhecer o mundo fascinante da crônica, surpreender-se em saber que ela não é de agora, mas que os tempos sempre foram de crônica. 01
3 Antes de nos aprofundarmos em nossa aula, veremos a origem da palavra crônica: O elemento radical dessa palavra vem do grego chronos, que significa tempo. Na tradução clássica, o deus Chronos representava o tempo! Esse mesmo elemento está presente em muitas palavras, como cronograma e cronômetro.
4 Crônica social? Você já leu uma crônica esportiva? Imagem: Botix / Creative Commons Attribution-Share Alike 3.0 Unported Imagem: Wevertoncordeiro / Creative Commons Attribution-Share Alike 3.0 Unported Crônica policial? Como já deve ter percebido, o foco do nosso estudo é: Produção textual - crônica. Imagem: AnselmiJuan / GNU Free Documentation License/acessado
5 Crônica refere-se a um gênero textual que aparece em certos jornais e revista e tem um espaço reservado para uma determinado assunto. Boa parte do público leitor é fanático por esse tipo de texto. Muitas vezes, os que se interessam por esportes gostam de ler a crônica esportiva. Um outro exemplo são as pessoas que leem jornais ou revistas para saberem o que está se passando com as socialites; isso é uma crônica da moda! Portanto, diariamente, encontramos crônicas sobre os mais variados assuntos.
6 Elementos da crônica A linguagem da crônica: - clara e objetiva; - irônica; - crônica ou séria; - não escolhe assunto, fala sobre tudo; - conversa com todos; - retrata o pitoresco das cenas; - aparecem nas revistas e principalmente em jornais; - apresenta-se nos diários pessoais.
7 Estrutura da crônica - É um texto dissertativo que veicula pontos de vista do autor fazendo reflexões. - Enfoca fatos reais, podendo retratá-los ou não. - Uso de linguagem padrão sem possibilidade de ambiguidade, deverá ser claro e objetivo, algumas vezes, poderá assumir um tom informal. - Descritivo, retratando de forma verbal, as pessoas e os fatos. Selecionando os aspectos mais relevantes e significativos.
8 - É descritivo, pois a pretensão é despertar no ouvinte leitor a completa impressão do objeto, pessoa ou espaço que está sendo descrito. - O texto é narrativo, quando se refere aos fatos acontecidos. - Texto curto, leve ou humorístico, algumas vezes, crítico, mostra o dia a dia da sociedade. - Uso de recursos linguísticos, como, por exemplo, as conjunções.
9 - Parte de um fato, destacando a particularidade sobre o cotidiano como ponto de partida para a produção textual. - DICA: - Observe a organização do texto, se está adequada à utilização dos sinais de pontuação e a sua intenção, pois os gráficos serão significativos para o que se pretende transmitir para o leitor. - É indispensável que consiga perceber a particularidade que há, de exclusivo, de fascinante, ou até mesmo engraçado nas situações do cotidiano pelas quais passam para que então produza uma boa crônica..
10 Devido à linguagem apresentada na crônica e à maneira de como os temas são abordados, encontramos as características da crônica em diversos gêneros textuais. As semelhanças percebidas nos gêneros, remete-nos à ideia de que, durante a história, sempre se escreveu a crônica. Seja nas histórias que apresentam um romântico ou herói, um nobre ou plebeu. As pessoas sempre retrataram seu modo de viver em sua época. Apropriando-se de um tipo de texto breve, contanto histórias e tecendo comentários. Atualmente, alguns compositores ainda fazem isso. Eles observam e retratam os fatos do cotidiano. Alguns de maneira poética, lírica acompanhados por músicas.
11 OS REPENTISTAS FAZEM CRÔNICAS QUANDO, EM VERSOS, CANTAM O COTIDIANO DA POPULAÇÃO. CHEGANÇA Sou Pataxó, sou Xavante e Cariri, Ianonami, sou Tupi Guarani, sou Carajá. Sou Pancararu, Carijó, Tupinajé, Potiguar, sou Caeté, Ful-ni-o, Tupinambá. Depois que os mares dividiram os continentes quis ver terras diferentes. Eu pensei: "vou procurar um mundo novo, lá depois do horizonte, levo a rede balançante pra no sol me espreguiçar". Eu atraquei num porto muito seguro, céu azul, paz e ar puro... Botei as pernas pro ar. Logo sonhei que estava no paraíso, onde nem era preciso dormir para se sonhar. Mas de repente me acordei com a surpresa: uma esquadra portuguesa veio na praia atracar. De Grande-nau, um branco de barba escura, vestindo uma armadura me apontou pra me pegar. E assustado dei um pulo da rede, pressenti a fome, a sede, eu pensei: "vão me acabar". me levantei de borduna já na mão. Ai, senti no coração, o Brasil vai começar. Antonio Nóbrega e Wilson.
12 OBSERVE A LETRA DA MÚSICA DE GILBERTO GIL, NELA SÃO APRESENTADOS ELEMENTOS DE CRÔNICA, DESCREVENDO UMA PROCISSÃO, ATRAVÉS DELA PODEMOS FAZER REFLEXÕES REFERENTES ÀS SITUAÇÕES DE UM POVO SOFRIDO DO SERTÃO. Procissão (Gilberto Gil) Olha lá Vai passando A procissão Se arrastando Que nem cobra Pelo chão As pessoas Que nela vão passando Acreditam nas coisas Lá do céu As mulheres cantando Tiram versos Os homens escutando Tiram o chapéu Eles vivem penando Aqui na Terra Esperando O que Jesus prometeu E Jesus prometeu Coisa melhor Pra quem vive Nesse mundo sem amor Só depois de entregar O corpo ao chão Só depois de morrer Neste sertão Eu também Tô do lado de Jesus Só que acho que ele Se esqueceu De dizer que na Terra A gente tem De arranjar um jeitinho Pra viver Muita gente se arvora A ser Deus E promete tanta coisa Pro sertão Que vai dar um vestido Pra Maria E promete um roçado Pro João Entra ano, sai ano E nada vem Meu sertão continua Ao Deus dará Mas se existe Jesus No firmamento Cá na Terra Isso tem que se acabar Imagem: Carlos.anjos.lopes / Creative Commons Attribution-Share Alike 3.0 Unported
13 Momento num café A crônica não está presente apenas nas músicas. Antes disso, pode-se encontrála na poesia, em busca de um lirismo reflexivo. Segue um exemplo do poema de Manuel Bandeira, cronista tanto em prosa como em versos. Dele, há vários poemas- -crônicas, como este : Quando o enterro passou Os homens que se achavam no café Tiraram o chapéu maquinalmente Saudavam o morto distraídos Estavam todos voltados para a vida Absortos na vida Confiantes na vida. Um no entanto se descobriu num gesto largo e demorado Olhando o esquife longamente Este sabia que a vida é uma agitação feroz e sem finalidade Que a vida é traição E saudava a matéria que passava Liberta para sempre da alma extinta
14 A crônica, na maioria dos casos, é um texto curto e narrado em primeira pessoa, ou seja, o próprio escritor está "dialogando" com o leitor. Isso faz com que a crônica apresente uma visão totalmente pessoal de um determinado assunto: a visão do cronista. Geralmente, as crônicas apresentam linguagem simples, espontânea, situada entre a linguagem oral e a literária. Isso contribui também para que o leitor se identifique com o cronista, que acaba se tornando o porta-voz daquele que lê.
15 AS FORMAS COMPOSICIONAIS DA CRÔNICA O caráter episódico Modo como o cronista exprime seu jeito pessoal de ver as coisas. O lirismo Os episódios casuais do cotidiano vivido por seres comuns é que se tornam os heróis do gênero.
16 O amor acaba. Numa esquina, por exemplo, num domingo de lua nova, depois de teatro e silêncio; acaba em cafés engordurados, diferentes dos parques de ouro onde começou a pulsar; de repente, ao meio do cigarro que ele atira de raiva contra um automóvel ou que ela esmaga no cinzeiro repleto, polvilhando de cinzas o escarlate das unhas; na acidez da aurora tropical, depois duma noite votada à alegria póstuma, que não veio; e acaba o amor no desenlace das mãos no cinema, como tentáculos saciados, e elas se movimentam no escuro como dois polvos de solidão; como se as mãos soubessem antes que o amor tinha acabado; na insônia dos braços luminosos do relógio; e acaba o amor nas sorveterias diante do colorido iceberg, entre frisos de alumínio e espelhos monótonos; e no olhar do cavaleiro errante que passou pela pensão; às vezes acaba o amor nos braços torturados de Jesus, filho crucificado de todas as mulheres; mecanicamente, no elevador, como se lhe faltasse energia; no andar diferente da irmã dentro de casa o amor pode acabar; (...) (trecho da crônica O amor acaba. Paulo Mendes Campos. In: O amor acaba. Editora Civilização Brasileira Rio de Janeiro, 1999, pág. 21)
17 Leio no jornal a notícia de uma mulher que pariu no corredor do Hospital Fêmina. Jovem, negra, pobre, pariu no corredor do hospital, com poucos socorros, em pleno banco estofado, em meio a enfermeiras, médicos e pacientes. Somente abriu as pernas e deu à luz. Pariu no corredor do hospital. Gritou por ajuda, clamou por assistência médica. No entanto, o tempo não pôde esperar e acabou parindo em pleno corredor. Gestante pariu no corredor de hospital. A enfermeira disse que havia falta de quartos. Fêmina apresentava super lotação de parturientes. E a pobre negra somente abriu as pernas e deu à luz. Eis que de seu ventre surge um menino magro. De muito peso não é, mas tem peso de homem, de obra de ventre de mulher. É uma criança pálida e franzina. Mas tem a marca de homem, marca de humana oficina. Pariu no corredor do hospital. Entre diversas enfermeiras, médicos e pacientes. Mulher pobre. Sozinha. Miserável. Gestante. Jovem demais. Negra. Baixo nível. Ignorante. Um bicho, uma coisa - não foi tratada como digna parturiente. E pariu no corredor do hospital. E eis que de seu ventre salta uma criança pequena. É tão bela como um sim numa sala negativa. Não é responsabilidade dos profissionais, nem do hospital, nem das autoridades. O que têm a ver com o fato? Deixa a mulher parir em pleno corredor. E ela, o que faz? Jovem e destemida dá à luz sobre um banco estofado, sem recursos e com pouco auxílio. E eis que de seu ventre nasce o menino. Somente após o ocorrido, a jovem é amparada. Nos braços, o rebento abençoado infecciona a miséria com vida nova e sadia.
18 Escrevendo uma crônica Então, já falamos muito sobre crônica. E aí, bateu uma vontade de se tornar um cronista? Seguem umas dicas para você elaborar uma excelente crônica. Titulo sugestivo: o título tem que chamar a atenção do leitor. O que ele sugere? Apenas pelo titulo já dá para inferir o assunto da crônica? Cenário curioso: eleve seu pensamento e imagine as pessoas com quem você convive, os lugares que frequenta, quais os assuntos que circulam no lugar onde você vive e, principalmente, o que tenha ocorrido no dia a dia que mais lhe chamou atenção. Foco narrativo: você deverá escolher qual será o seu ponto de vista a apresentar. Escreverá em 1º pessoa (eu vi, eu senti) ou será autor personagem? Ou vai escrever na 3º pessoa (eles sentiram, ele fez)? Personagem: deverá determinar o número de personagens que haverá em sua crônica. Serão reais ou feitos da imaginação? Poderá você ser uma delas?
19 Escrevendo uma crônica Enredo: será feito a partir de um fato narrado de um episódio banal do dia a dia? Descrição narrada de que forma? Tom: poético, humorístico, irônico ou reflexivo. Tempo: jamais deverá esquecer que a crônica acontece em um curto espaço de tempo, poderá ser em minutos, horas... Desfecho: como será o final da sua crônica? Aberto, surpreendente ou conclusivo?
20 Ao terminar de escrever a sua crônica, faça uma revisão de seu texto, observando se ele apresenta todos os elementos do seguinte roteiro: Foi colocado o título? Está claro: quem são as personagens? o que ocorreu (o fato)? onde tudo aconteceu? quando ocorreu o fato? o modo como tudo aconteceu? por que tudo ocorreu? (motivos) o desfecho do texto? É possível identificar com clareza o começo, meio e fim do texto? O diálogo, se houver, foi reproduzido corretamente? (Dois pontos, parágrafo e travessão) Há respeito às margens? As ideias estão organizadas em parágrafos? Há aproveitamento adequado das linhas? Há erros de ortografia? Quais? Há algum trecho de difícil compreensão?
21 Pronto! Acredito que após todas as explicações e exemplos de crônicas, você já possui ideias prontas na sua mente e deseja colocá-las em prática. Portanto, escreva, leia, revise e reescreva se for preciso. Poderá pedir que alguém leia a sua crônica e dê uma opinião, tenha uma excelente produção textual! Sucesso com sua crônica!
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