A FALTA DUMA POLÍTICA DE INSTALAÇÕES JUDICIÁRIAS
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1 Direcção: Pedro Costa Azevedo Colaboração: Andreia Azevedo Ribeiro Na edição deste mês, apresentamos um texto do Sr. Dr. João Mariz, Vice Presidente do Conselho Distrital do Porto da Ordem dos Advogados, acerca da necessidade de criar uma política de instalações judiciárias. A FALTA DUMA POLÍTICA DE INSTALAÇÕES JUDICIÁRIAS Notícias recentes dão nos conta da preocupação que se vive no meio forense da Maia, com a iminência de concretização dum projecto de transferência das instalações judiciárias (Tribunal, serviços do Ministério Público, «Serviço Casa Pronta», Conservatórias) para a zona industrial do concelho, numa freguesia limítrofe, afastados do centro urbano, sem transportes acessíveis e eficazes. O desacerto da solução parece não merecer grandes comentários. Mas suscita nos uma reflexão sobre a política (ou antes a falta duma política) de instalações do judiciário no Ministério da Justiça. Ao longo dos últimos anos, têm sido trazidas a público diversas situações de decisões precárias e inadequadas, todas passando pelo arrendamento de instalações não construídas de raiz, por remedeios temporários, justificadas pela premência dos problemas. São situações que pura e simplesmente se deixaram arrastar, até se tornarem insustentáveis e justificarem por si próprias aquilo que é a todos os títulos injustificável. O Ministério prefere o arrendamento à construção de edifícios estudados e pensados para a Justiça. E o resultado está à vista: são soluções precárias que se eternizam, são edifícios inadequados e inaptos, inseguros e que não servem a uma justiça de qualidade. São imóveis que se arrendam e depois se encerram, ficando meses e anos sem utilização, a pagar uma renda contratualizada, cara, a cujo compromisso o Estado não consegue fugir. Numa altura em que tanto se propala a necessidade de investimento público para relançar a economia, não devemos pensar apenas nos transportes e nas barragens. A Justiça é fundamental para o desenvolvimento económico. Mas é preciso que não haja confusões: um tribunal não é propriamente uma fábrica. Colocar o pólo da Justiça numa zona fabril, num edifício de serviços e centro comercial, demonstra que ou anda tudo num desnorte ou outros interesses se sobrepõem aos da justiça. O parque judiciário deve merecer um estudo e planificação cuidados, para que se encontrem soluções estáveis e adequadas. A modernização da Justiça não passa só pelos meios telemáticos, passa também pelos meios humanos e pelas instalações. Começou se pelo que era mais simples, mais barato e mais visível mas o resto não é para descurar. João Mariz Vice Presidente do Conselho Distrital do Porto
2 JURISPRUDÊNCIA. Acórdão do Tribunal Constitucional n.º 16/2010 de (Proc. n.º 142/09) Neste acórdão, o TC julgou inconstitucional, por violação do artigo 32.º, n.º 1, da Constituição, a interpretação do artigo 380.º, em conjugação com o artigo 411.º, n.º 1, ambos do Código de Processo Penal, segundo a qual o pedido de correcção de uma decisão, formulado pelo arguido, não suspende o prazo para este interpor recurso dessa mesma decisão. De acordo com a fundamentação expendida pelo tribunal, "o pedido de correcção da sentença surge porque o seu destinatário (arguido) a considera errónea, obscura ou ambígua" e " até ser proferida decisão quanto a esse pedido, o requerente está (ou pode estar) colocado num estado de incerteza quanto aos termos finais da sentença em relação à qual tem que definir o seu interesse em recorrer e, na hipótese afirmativa, conformar o teor do seu recurso". Pelo que, concluiu o tribunal, "a interpretação questionada, segundo a qual o prazo para interposição do recurso continua a correr, a partir do termo inicial fixado no artigo 411.º, mesmo quando o arguido requeira a correcção da sentença ao abrigo do artigo 380.º do CPP, é inconstitucional, por revelar uma estruturação do processo penal incompatível com o direito ao recurso, consagrado no artigo 32.º, n.º 1, da Lei Fundamental". Tal interpretação "sacrifica desnecessária e excessivamente a efectividade do direito ao recurso uma garantia pessoal do arguido, revestida de toda a força jurídico constitucional que às garantias desta natureza cabe".. Acórdão do Tribunal Constitucional nº 17/2010 de O TC, com esta decisão, não julgou inconstitucionais as normas constantes dos arts. 113º, n.º 9, e 313º, n.º 3, ambos do CPP, na interpretação segundo a qual o arguido, que prestou no processo termo de identidade e residência, não tem de ser notificado por contacto pessoal do despacho que designa data para a audiência de julgamento, podendo essa notificação ser efectuada por via postal simples para a morada indicada pelo arguido nesse termo. O entendimento deste acórdão é de que é necessário conciliar o princípio da celeridade processual com o direito do arguido à presença e intervenção nos diferentes actos processuais, designadamente, na audiência de julgamento. Ora, a solução normativa da notificação por via postal simples, se não é capaz de assegurar, com uma certeza absoluta, que o arguido teve conhecimento da data designada para a realização do julgamento, oferece garantias suficientes de que o respectivo despacho é colocado na área de cognoscibilidade do arguido em termos de ele poder exercer os seus direitos de defesa, até porque o receptáculo postal para o qual é remetida a notificação pelo funcionário judicial e no qual é realizado o depósito pelo distribuidor postal é exclusivamente escolhido e indicado pelo próprio arguido. Além disso, acrescenta ainda que o depósito da carta pelo distribuidor postal não gera nenhuma presunção inilidível de notificação em caso de erro do distribuidor postal e é rodeada de algumas cautelas processuais. Por último, fundamentou o TC que ainda que as garantias previstas para uma dada
3 fase processual não possam ser completamente postergadas com base na invocação de garantias previstas para a fase processual subsequente, não se pode deixar de relembrar que a defesa do arguido ausente é sempre assumida pelo defensor e, que nesse caso, a lei exige a notificação da sentença ao arguido por contacto pessoal, estando assim minimamente acauteladas as garantias de defesa, incluindo o direito ao recurso (artigos 333.º, n. os 5 e 6, e 334.º, n.º 4, do CPP).. Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça de (Proc. 346/1998.P1.S1) Através deste acórdão, o STJ, invocando o efeito directo das directivas comunitárias e o princípio da interpretação conforme, decidiu que o Fundo de Garantia Automóvel é obrigado a indemnizar um lesado decorrente de um acidente de viação ocorrido em , que era o terceiro passageiro de um veículo automóvel cuja lotação máxima era de duas pessoas, pese embora o art. 7.º, nº 4, al. d), do Dec. Lei nº 522/85, então vigente, e que, designadamente, excluía da garantia de seguro obrigatório quaisquer danos aos passageiros transportados em contravenção ao disposto no nº 3 di art. 17.º do C. Estrada, na altura, em vigor. Baseando se no acórdão do TJCE, de , caso Elaine Ferrel, este aresto defende que a interpretação conforme ao fim prosseguido pela, já vigente ao tempo do acidente, 3.º Directiva Automóvel (Directiva 90/232/CEE do Conselho de ), ( ) exclui o entendimento de que expressão daquela alínea d) do artigo 7.º, ao remeter para o artigo 17.º do, então vigente, Código da Estrada, inclua os passageiros que, sendo dois, transitem num só assento.. Acórdão do Tribunal Central Administrativo Sul de (Proc /09) Este acórdão julgou como meio processualmente idóneo o requerimento de injunção que, após ter sido deduzida oposição, foi remetido para o Tribunal Administrativo e Fiscal territorialmente competente para distribuição como acção administrativa comum e em que era exigido o pagamento de uma dívida resultante de uma transacção comercial e em que era devedora uma pessoa colectiva concessionária de serviços públicos. De acordo com a presente decisão, o procedimento previsto no DL nº 32/2003, de 17/2, nomeadamente no respectivo artigo 7º, prevê que o atraso de pagamento em transacções comerciais, nos termos nele previstos, confere ao credor o direito a recorrer à injunção, independentemente do valor da dívida. A situação retratada nos autos encontra se abrangida na previsão daquele diploma, que transpôs para o direito interno a Directiva nº 2000/35/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 29 de Junho, que veio estabelecer medidas de luta contra os atrasos de pagamento em transacções comerciais, regulamentando todas as transacções comerciais, independentemente de terem sido estabelecidas entre pessoas colectivas privadas a estas se equiparando os profissionais liberais ou públicas, ou entre empresas e entidades públicas, tendo em conta que estas últimas procedem a um considerável volume de pagamentos às empresas, regulamentando deste modo todas as transacções comerciais entre os principais adjudicantes e os seus fornecedores e subcontratantes.. Acórdão do Tribunal da Relação de Coimbra de (Proc. n.º 7494/06.9TBLRA.C1) A questão fundamental deste acórdão prende se com o facto de saber se a junção,
4 ordenada pelo tribunal, de facturas emitidas por uma sociedade comercial, bem como das declarações periódicas de I.V.A. apresentadas pela mesma à Administração Tributária, é admissível face ao princípio do segredo da escrituração mercantil e ao disposto nos arts. 42º e 43º do Código Comercial, que regulam as formas de aceder àquela. Ora, a Relação de Coimbra, partindo do pressuposto de que "salvo expressa disposição legal nesse sentido, nunca é permitida a cópia, reprodução, requisição ou apreensão dos documentos de escrituração sem a anuência da entidade cuja escrita é examinada", entendeu que "o tribunal não pode, livremente, a seu livre critério, aceder aos elementos da escrita comercial, a não ser nos termos exarados nos arts. 42º e 43º do Código Comercial, já que estas normas, de natureza substantiva, se mantêm em vigor por não terem sido revogadas pelo CPC de 1961". Pelo que, concluiu a Relação, "a diligência probatória visada é diferente da consignada no art. 43º do Código Comercial, pois foi requerida a junção aos autos de documentos que fazem parte da escrita mercantil da Ré, que esta não autorizou, nem expressa ou tacitamente". Assim sendo, prescreveu este tribunal que a junção ordenada das facturas emitidas e das declarações periódicas de I.V.A. viola o disposto nos artigos 42 e 43 do Código Comercial. Assim, aquela Relação, no uso do dever de substituição consagrado no art. 715.º, n.º 1 do CPC, e atento o disposto nos arts. 265.º, n.º 3 do CPC e 43.º do Código Comercial, ordenou o exame da escrita comercial dessa mesma sociedade, o qual "deverá ser feito nos estritos termos consignados no normativo inserto no artigo 43º do Código Comercial, e de harmonia com o preceituado no artigo 582º e segs. do CPC". LEGISLAÇÃO Neste mês, destaque apenas para os seguintes diplomas: Lei n.º 1/2010 de Procede à primeira alteração à Lei n.º 29/2009, de 29 de Junho, que «Aprova o Regime Jurídico do Processo de Inventário e altera o Código Civil, o Código de Processo Civil, o Código do Registo Predial e o Código do Registo Civil, no cumprimento das medidas de descongestionamento dos tribunais previstas na Resolução do Conselho de Ministros n.º 172/2007, de 6 de Novembro, o Regime do Registo Nacional de Pessoas Colectivas, procede à transposição da Directiva n.º 2008/52/CE, do Parlamento e do Conselho, de 21 de Março, e altera o Decreto Lei n.º 594/74, de 7 de Novembro», estabelecendo um novo prazo para a sua entrada em vigor. Decreto Lei n.º 5/2010 de Actualiza o valor da retribuição mínima mensal garantida para Portaria n.º 12/2010 de Aprova a tabela de actividades de elevado valor acrescentado para efeitos do disposto no n.º 6 do artigo 72.º e no n.º 4 do artigo 81.º do Código do IRS. Portaria n.º 55/2010 de Regula o conteúdo do relatório anual referente à informação sobre a actividade social da empresa e o prazo da sua apresentação, por parte do empregador, ao serviço com competência inspectiva do ministério responsável pela área laboral.
5 Portaria n.º 65 A/2010 de Terceira alteração à Portaria n.º 1538/2008, de 30 de Dezembro, que altera e republica a Portaria n.º 114/2008, de 6 de Fevereiro, que regula vários aspectos da tramitação electrónica dos processos judiciais.
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