EXPERIÊNCIAS E SENTIDOS NA INICIAÇÃO CIENTÍFICA
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- Oswaldo de Paiva Amaral
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1 EXPERIÊNCIAS E SENTIDOS NA INICIAÇÃO CIENTÍFICA Mariane Sousa Pinto 1 (UERJ) maris.sousa95@gmail.com A pesquisa científica deve estar associada à prática do ensino, é o que sugere Paulo Freire; para ele não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino (2013, p.30), visto que estas práticas não apenas se encontram, porém, perpassam-se; pode-se inferir, portanto, a relevância no diálogo entre ensino/pesquisa na formação de nível superior, quando o envolvimento do sujeito com a construção do conhecimento potencializa o aprendizado, visto que, segundo Kirsch (2007, p.36), a iniciação científica se mostra como um caminho para desenvolver o pensamento crítico e reflexivo dos acadêmicos. Mediante tais perspectivas, este trabalho investe na compreensão da relevância do ensino vinculado à pesquisa a partir das experiências de ex-bolsitas de iniciação científica (UERJ/FAPERJ/CNPq) que participaram de pesquisas realizadas pelo grupo de pesquisa Infância, Juventude, Leitura, Escrita e Educação, coordenado pela Professora Dr.ª Márcia Cabral da Silva (UERJ). Propõe-se entender a inserção de tais indivíduos no campo através de seus testemunhos 2, bem como de uma análise de suas trajetórias acadêmicas. Diante da proposta apresentada, é preciso, mesmo que brevemente, investir numa problematização no que tange aos aspectos diferenciadores entre os conceitos de memória e História. Com base em Philippe Joutard (2007), é possível dizer que a memória é individual e seletiva. Desta forma, o que será lembrado ou esquecido terá como filtro a relação direta e afetiva do indivíduo com o passado; exatamente por este perfil afetivo e individual, 1 Graduando-se em Pedagogia pela Faculdade de Educação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ); é bolsista de iniciação científica (CNPq) no grupo Infância, Juventude, Leitura, Escrita e Educação, coordenado pela Professora Dr.ª Márcia Cabral da Silva 2 Entende-se como testemunho, com base nos estudos de Danuèle Voldman (2002, p.256), o discurso que se anuncia como tal e se submete ao julgamento da história.
2 os relatos memorialísticos são, por vezes, desconsiderados nas pesquisas históricas. Se, por um lado, a memória é marcada pela afetividade, a História possui um caráter de distanciamento. Portanto, o historiador busca apreender diferentes perspectivas de um fato, mediante o uso crítico de fontes diversas. Jacque Le Goff (1990) também chama a atenção para as perturbações da memória e para uma falta ou a perda, voluntária ou involuntária, da memória coletiva (p. 425) e para como a memória e os esquecimentos são fonte de poder. Desta maneira, desenvolver um estudo a partir da memória de indivíduos, ou mesmo de uma coletividade, requer a compreensão das aproximações e afastamentos entre memória e história, bem como uma abordagem crítica, tendo em vista o cruzamento de fontes com os relatos colhidos; sendo, pois, o que se buscou neste trabalho. Optou-se por um modelo de entrevista semidireta (BONAZZI, 2002), a qual permitisse ao entrevistado relatar suas experiências como bolsista de iniciação científica. Primeiramente, de forma livre; posteriormente, foi pedido que respondesse a perguntas mais diretas que pudessem oferecer detalhes técnicos de sua permanência no grupo de pesquisa referido, como tempo de permanência no grupo e título de pesquisas das quais participou; além de questões que se mostravam essenciais na investigação proposta e que poderiam ser esquecidas num relato livre, a exemplo disso, cita-se a construção de conhecimentos que se deram a partir da atuação direta como bolsistas ou sobre os possíveis contatos com metodologias e aparatos históricos, anteriores ao período como bolsista de IC 3. Até o dia em que este trabalho foi finalizado, quatro, dos cinco ex-bolsistas aos quais foram solicitados os relatos, haviam concedido a entrevista; as outras fontes utilizadas foram: arquivo do grupo de pesquisa Infância, Juventude, Leitura, Escrita e Educação e informações disponíveis no currículo lattes dos entrevistados. Por fim, durante esta exposição, para nível de identificação dos entrevistados, serão utilizadas as iniciais: A, R, D e M. Embora se tenha dado início às entrevistas com relatos livres, o que se materializou em falas ora extensas, ora médias ou curtas exemplificando as diferentes formas de 3 Tal sigla refere-se à expressão iniciação científica
3 revisão das experiências vividas pretende-se iniciar a efetiva exposição e análise dos dados levantados por um panorama geral da inserção dos bolsistas no grupo supracitado. Apresenta-se, pois, tal panorama nas tabelas seguintes: A. Período de inserção no grupo como bolsista: Conhecimento prévio sobre metodologias e aportes teóricos no campo historiográfico: Trabalhos publicados ( ): 3 Artigo aceito para publicação 4 ( ): 1 Cooperação nas pesquisas: 1 e 2 Título de monografia: Trajetórias de Leitura em um Curso de Formação de Professores R. Período de inserção no grupo como bolsista: Conhecimento prévio sobre metodologias e aportes teóricos no campo historiográfico: Trabalhos publicados ( ): 3 Cooperação nas pesquisas 5 : 1 e 2 Título de monografia: Um panorama da biblioteca escolar: história, funcionamento e sujeitos Período de inserção no grupo: D. 4 Na ausência do campo artigo aceito para publicação nas tabelas seguintes, considerar a inexistência de publicação deste tipo no período analisado. 5 A numeração indicada refere-se às seguintes pesquisas, respectivamente: (1) A Leitura do Jovem: Concepções e Práticas; (2) Leitura para meninas e moças nas coleções da Livraria José Olympio Editora ( ) Fase I; (3) Leitura para meninas e moças nas coleções da Livraria José Olympio Editora ( ) Fase I.
4 Conhecimento prévio sobre metodologias e aportes teóricos no campo historiográfico: Trabalhos publicados ( ): 2 Cooperação em pesquisas: 1 e 2 Título de monografia: Leitura e Literatura Infantil na Primeira República M. Período de inserção no grupo: Conhecimento prévio sobre metodologias e aportes teóricos no campo historiográfico: Trabalhos publicados ( ): 6 Artigo aceito para publicação ( ): 2 Cooperação em pesquisas: 2 e 3 Título de monografia: O feminino, a formação identitária e literária em As Três Marias, de Rachel de Queiroz (1939) Numa primeira análise das tabelas apresentadas, destaca-se o período de inserção dos bolsistas no grupo; a menor permanência (D) foi de um ano, o que se mostra positivo, visto que o espírito científico deve formar-se enquanto se reforma (Bachelard, 1996, p.29), ou seja, o conhecimento científico não se constituiu numa primeira e única experiência, mas transforma-se e molda-se a partir da revisão e reapropriação do que já foi produzido. A, que participou do grupo de estudo que deu início ao grupo de pesquisa Infância, Juventude, Leitura, Escrita e Educação, relata que os colegas que chegaram depois, tiveram que recuperar leituras iniciais do grupo, o que acabava se tornando mais uma oportunidade para que eu e outros participantes mais antigos revisitássemos as discussões. Pode-se afirmar, portanto, que os bolsistas tiverem um período considerável para entrar em contato e se apropriarem das metodologias, bem como arcabouços teóricos, antes desconhecidos; além disso, infere-se que os estudos eram comumente revistos e reapropriados de acordo com as necessidades do grupo.
5 Em entrevista, M, assim como os demais entrevistados, destaca que o fato da pesquisa histórica pressupor leituras e procedimentos muitos específicos, no início, a adaptação foi complicada. Porém, como aparecem também em outros relatos, o fato de terem uma orientadora presente e solidária às dúvidas e questões propostas os auxiliou a superar tais dificuldades e, como afirma D, a fazer um recorte mais objetivo e que pudesse contribuir para o estudo (realizado). Desta maneira, o papel da orientadora mostra-se fundamental, ao passo que esta é responsável por ajudar a elucidar questões, indicar possibilidades e caminhos na pesquisa. Um indício de que os então bolsistas se apropriaram de conceitos e procedimentos históricos, sendo capazes de produzir novos conhecimentos que é um dos objetivos dos programas de IC é a produção de monografias no campo da História da Educação; sobre tal produção, M salienta que, após tantos anos sendo bolsista de IC, elencar um tema para a monografia, pesquisar, manipular fontes e escrever foram processos mais fáceis. Questão similar também foi levantada por R. Assim, pode-se afirmar que os alunos, a partir de leituras pertinentes e uma prática reflexiva e bem orientada, puderam contribuir para o avanço do conhecimento em seu campo de estudo. O desenvolvimento da leitura e da escrita é um ponto comum em todas as falas, seja em resposta às perguntas formuladas ou no relato livre; todos os bolsistas entrevistados indicaram que suas experiências de leitura e escrita como bolsistas foram, e ainda são, diferenciais em suas práticas. D, por exemplo, cita que percebe grande dificuldade de colegas de trabalho para elaborar relatórios; no entanto, diz fazê-lo com maior facilidade e objetividade, indicando que deve tal desempenho à experiência como bolsista de IC na graduação, visto que havia rotinas de relatórios e escrita constante de artigos. Kirsch (2007) afirma que uma atividade de estudo, como é o caso da iniciação científica, diferencia-se de outras tarefas por promover a transformação do indivíduo; afirmação que se mostrou real neste estudo. Além do que já foi citado, as entrevistas indicaram que além de resultados imediatos, como o fato de apreenderem novos conhecimentos e terem a graduação em Pedagogia enriquecida pelas práticas científicas, os ex-bolsistas consideram suas experiências de iniciação científica, principalmente ao que se refere à participação em fóruns acadêmicos, percussoras do interesse pelos estudos de pós-
6 graduação, que em dois casos diferentes (A e R) já resultou em especializações e mestrados acadêmicos. Ademais, a experiência como bolsistas se apresentou como produtora de uma reflexão da atuação como professores. A, por exemplo, relata que a pesquisa a constituiu como docente na mesma medida que os estágios, pois sua prática, principalmente ao que se refere à pesquisa A Leitura do Jovem: Concepções e Práticas, requeria fazer o exercício de delegar, ouvir e não ocupar o espaço central. Como derivação desse aprendizado, afirma que tende, como docente, a também dar voz aos estudantes e abrir-se para aprender com eles. Desta maneira, busca criar um espaço similar ao que era proposto durante as pesquisas que participou, um espaço propício à troca e à escuta, onde poderia ser, em suas palavras, um indivíduo criativo e produtor. Por fim, salienta-se num momento de crise econômica, em que a verba dedicada à pesquisa tem sido constantemente ameaçada por cortes e atrasos de bolsas, a exemplo da má administração de recursos do Estado do Rio de Janeiro a importância de iniciativas que indiquem a relevância da pesquisa na universidade e a contribuição que as bolsas concedidas a alunos possuem no desenvolvimento do conhecimento científico. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: BACHELARD, Gaston. A formação do espírito científico: contribuição parra uma psicanálise do conhecimento. Rio de Janeiro: Contraponto, 1996 BONAZZI, Chantal de Tourtier. Arquivos: propostas metodológicas. In: FERREIRA, Marieta de Moraes. AMADO, Janaína (orgs). Usos & abusos da história oral. 5ª Ed. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 2002 JOUTARD, Philippe. Reconciliar história e memória. Escritos: revista da Casa de Rui Barbosa, Rio de Janeiro: Edições Casa de Rui Barbosa, ano 1, p LE GOFF, Jacques. História e memória. Campinas: SP Editora da UNICAMP, 1990
7 VOLDMAN, Danuèle. A invenção do depoimento oral. In: FERREIRA, Marieta de Moraes. AMADO, Janaína (orgs). Usos & abusos da história oral. 5ª Ed. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 2002 KIRSCH, Deise Becker. A iniciação científica na formação inicial de professores: repercussões no processo formativo de egressas do curso de Pedagogia. 111f. Dissertação (Mestrado em Educação). Centro de Educação, Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria RS, 2007
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