Universidade Aberta do Brasil Universidade Federal de Juiz de Fora Curso de Pedagogia UAB/UFJF. Adilson Célio Barbosa.

Transcrição

1 Universidade Aberta do Brasil Universidade Federal de Juiz de Fora Curso de Pedagogia UAB/UFJF Adilson Célio Barbosa Memorial do Curso Trabalho apresentado como requisito parcial de avaliação da disciplina Memorial do Curso ministrada pela Profª. Drª. Léa Stahlschmidt Pinto Silva para o 8º período de Pedagogia da UAB/UFJF. Tutora a distância: Juliana de Sousa Lima Santa Rita de Caldas 2011

2 Lá estava eu, bem colocado profissionalmente em minha cidade, Congonhal, mais uma entre tantas pequenas cidades neste Sul de Minas Gerais. Fiquei sabendo de um curso de Pedagogia que funcionaria em Santa Rita de Caldas, pela UFJF Universidade Federal de Juiz de Fora, modalidade a distância, achei tudo novo, embora já tivesse licenciatura em História e Geografia. Vi nesta oportunidade uma continuação de meus estudos e bases teóricas para o meu exercício profissional. Além de conhecer gente nova, outras idéias, e possuir o contato com uma instituição federal, que tanto quis, mas não me tinha sido possível. Pensei que estava sozinho em minha cidade no vestibular, mas chegando lá encontrei mais cinco colegas, todas professoras, logo éramos seis. Agora sim, será mais fácil, tenho companhia para dividir os momentos que tenho pela frente. Fomos à aula inaugural no polo e depois teríamos outra na própria Universidade. Tudo era novidade e se constituía belo, mas no momento de estudar iniciaram as dificuldades. Não tinha computador, minhas colegas todas trabalhavam e os horários de eram dificilmente compartilhados. Comecei freqüentando o Tele-Centro, mas o responsável pouco me ajudava, dizia que não entendia como funcionava aquele tipo de curso e eu que apenas sabia acessar o site do Orkut, fiquei quase sem entender nada. Confundia participações nos fóruns com o envio de tarefas e o primeiro período foi muito difícil. Embora as tutoras dissessem que se constituía da simples participação na plataforma, para mim, parecia coisa de outro mundo. Logo no final do primeiro período, três alunos já haviam desistido, mas lá fui eu ao encontro das primeiras provas, fiquei em recuperação, mas no final consegui ser aprovado e animei, fiquei incentivado na continuação do curso. No segundo período já consegui me enturmar com os colegas de turma e quanto ao ambiente virtual já me apresentava mais relacionado, distinguindo as participações dos fóruns e das tarefas, como acessar os textos, enfim logo fui superando o contato com a tecnologia digital e com a modalidade do curso em EAD. Aproveitava o máximo do tempo que tinha para estudar, a diretora da escola em que trabalhava me proporcionou a impressão dos textos para estudo e os meus acessos sempre eram realizados na lan house. Lá encontrava alguns alunos e os funcionários ficaram surpresos com minha participação, era o único freguês que ia lá para estudar, um deles foi interagindo comigo nas dificuldades que possuía em arquivar e enviar as tarefas me

3 ajudando muito. Tive que aprender a estudar ouvindo músicas, pois ali havia muita conversa e todos ouviam músicas também. Precisei me adaptar a mais esta situação. Assim prossegui minha caminhada pela plataforma, iniciaram-se as oficinas no polo. Foram momentos onde conhecíamos o tutor a distância pessoalmente o que proporcionava uma aproximação maior com a turma. Os momentos presenciais no polo, proporcionados pelas oficinas, foram fundamentais como incentivo. A turma me achava animado e me enviava recados para que eu não faltasse, assim fomos construindo laços amigáveis, conhecendo a realidade um do outro. Construímos histórias engraçadas, divertidas e claro algumas discussões também, mas as oficinas sempre constituíram um ambiente agradável de enriquecimento pessoal, profissional e acadêmico. Algumas colegas de minha cidade acharam difícil continuar o curso e foram desistindo. Tentava incentivá-las, não queria ficar sozinho, mas fiquei. O único dos alunos de minha cidade que não possuía computador e acesso à internet, mas continuei na caminhada. Havia algumas disciplinas que chamavam mais minha atenção, principalmente àquelas relacionadas às ciências humanas, nelas eu me destacava nas participações e tarefas. Vários tutores foram fundamentais no incentivo a sempre estar atento a prazos, participações e postagens das tarefas. A dedicação da maioria dos tutores se constituiu em grandes momentos, sendo um diferencial para vencermos obstáculos, dificuldades em alguns conteúdos e para a permanência no curso. Pois sempre houve momentos em que desanimei, pensava que não iria conseguir dominar os conteúdos nas avaliações, e este apoio foi fundamental na minha caminhada acadêmica. Vieram os estágios, onde pude ir ao encontro do mundo infantil na realidade escolar. Algumas vezes o desânimo em realizá-lo vinha, mas quando chegava no ambiente escolar o mundo lá fora ficava de lado, eu vivia a realidade compartilhada com os professores e com as crianças. Depois fiz o estágio com alunos adultos na Educação de Jovens e Adultos - EJA. Os PIP Projetos de Intervenção Pedagógica foram momentos gratificantes, pois queria oferecer o melhor de mim, realizar uma apresentação que marcasse um diferencial para a vida daquela turma tão especial para o sistema escolar e às vezes deixadas de lado pela escola. Nos momentos dos estágios a tutora a distância foi essencial, elogiando muito meus planejamentos para a execução dos mesmos. Mas a documentação do estágio era uma exigência que inicialmente

4 achava complicada, mas talvez fosse o comodismo e o excesso de atividades profissionais e familiares que me conduziam a tal opinião. Mas muitos acontecimentos pessoais influem em nossa caminhada acadêmica, e uma delas foi o falecimento de minha mãe, quando cursava o quinto período, já estava no mês de outubro, as provas semestrais se aproximando e as dificuldades aumentaram muito, foi o momento mais difícil. Tive muito apoio de amigos e dos colegas de turma, mas a minha vida simplesmente mudou de um minuto para outro. Lógico que me emociono agora, aqui, escrevendo sobre minha vida acadêmica no curso. Em minha casa residíamos somente nós dois e logo veio a solidão. A falta de vontade de continuar e a necessidade de realizar algo que fizesse o tempo passar. Mas eu não tinha condições de pensar em realizar tarefas, fóruns, documentos de estágio e, ainda por cima, aliados à falta de um computador. Mas consegui ir caminhando mais devagar, os resultados daquele período não foram tão satisfatórios, em algumas disciplinas fiquei em dependência e outras eu consegui ser aprovado. Até hoje sinto esse vazio pela morte de minha mãe, principalmente nas noites, embora o contato com o curso preencha um pouco o espaço vazio que ficou em minha casa. Quando estava cursando o final do sexto período consegui adquirir um computador, e aí sim, ninguém mais me segurou. Os colegas começaram a elogiar que eu não parava de participar dos fóruns, sendo geralmente o primeiro a postar as mensagens, foram momentos eufóricos e de grande proveito em minha aprendizagem. Fiquei mais familiar no contato com os professores, tutores e colegas, e com as postagens a minha participação no curso proporcionou momentos de grande aproveitamento. Posso até realizar um divisor de tempo em meu curso, o antes e o depois da aquisição do computador. Pois o segundo momento consistiu realmente em plenas participações e momentos de estudo e entrosamento com todos. Foi muito bom a oportunidade que tive na aquisição do mesmo, pois estudando viajo no mundo virtual da plataforma e preencho o vazio que tenho de minha querida e estimada mãe. Neste momento, em que me dou conta que se aproxima o término do curso, as lágrimas molham o meu rosto e chego a pensar que hoje estou sozinho, meus irmãos cada um possui sua vida, e o curso passou a existir como se fosse minha família. Sinto estar no final e agora realizando meu Memorial. Foram muitos momentos agradáveis,

5 que superaram as dificuldades que passei para realizar meus estudos. Quando participo das oficinas, surgem discussões e questionamentos sobre a realização de uma formatura e parece que para mim estas formalidades perderam o sentido. Mas, em respeito aos colegas pelos quais tenho muito apreço, digo que pretendo participar também, mas sei que será um momento difícil, pois quem mais deveria estar ao meu lado fisicamente estará ausente: minha mãe. Ela era professora aposentada, formou-se no período em que existiam no Brasil as escolas que ofereciam o curso Normal. Deixou para mim seu anel, o qual uso e pretendo apresentá-lo como objeto de orgulho na formatura. Ele é lindo, modelo feminino, mas isto não me importa, porque seu valor constitui um orgulho para mim a lembrança que tenho, todo em ouro branco, uma pedra de turmalina verde rodeada de brilhantes com o Escudo Brasileiro de um lado e do outro um livro com um bico de pena. Será a formatura um momento sagrado em poder usá-lo. Concretizar este curso representa para mim um motivo de orgulho, o mesmo que minha mãe tinha em contar as suas histórias de seu tempo de normalista. Como era bom! Quanto às perspectivas profissionais, quanto ao exercício da profissão de pedagogo penso no momento em continuar como professor, gosto muito do contato com os alunos e acredito que minha missão está dentro da sala de aula, ali me sinto realizado profissionalmente. Quando chego a escola e vejo que está cheia de alunos o meu mundo se transforma, o calor humano que cada aluno traz é significativamente importante em minha atuação profissional e em minha vida pessoal. Viajo com meus alunos através dos conteúdos e atividades que vamos realizando. O curso me proporcionou uma nova visão do que é um educador, sua atuação social e as condições que temos como formadores de opiniões, contribuindo para um mundo melhor. Na sala de aula exerço a minha cidadania e procuro desenvolver na turma os aspectos de participação e atuação cidadã que devemos possuir, como saber criticar, saber analisar situações, possuir visões diferenciadas e capazes de serem transformadas conforme a necessidade de onde estamos inseridos, além da visão que o curso nos proporcionou quanto à ação política, pedagógica e cultural que podemos possuir no ambiente escolar. O conhecimento de quanto o sistema educacional possui em autonomia atualmente, como a construção e elaboração do Projeto Político e Pedagógico, a atuação do Colegiado, dos Conselhos de Escola e de Classe, e a atuação que devemos possuir com a comunidade, intervindo em seus interesses e necessidades. Hoje sinto que tenho muito mais do antes do inicio do

6 curso para contribuir com o espaço e a vida escolar, tanto dos professores, quanto dos alunos e da comunidade. Sinto estar no final do curso, no início parecia que quatro anos seria muito tempo, mas hoje vejo que passou tão rápido e como foi proveitoso o enriquecimento intelectual, cultural, social e o respeito à diversidade que cada um possui. Também o apoio que sempre tive, foi um ganho valioso. Pretendo continuar estudando, dentro de minhas possibilidades profissionais e financeiras, é gratificante vencer barreiras e obstáculos, além de aumentar o ângulo de visão que possuímos sobre a Educação e a Sociedade. Pois este curso contribuiu muito na transformação dos olhares que tinha antes para o processo educativo. Gosto muito das ciências humanas, não sei se terei oportunidade em realizar uma pós-graduação ao nível de Strictu Sensu, mas pretendo realizar estudos que envolvam o ambiente escolar relacionado à sociedade. Penso em realizar uma nova graduação em Ciências Sociais, me especializando em Antropologia, ou algo em torno do envolvimento da Arte com a Sociedade, que foram as disciplinas que mais colaboraram para o meu envolvimento. Pena que a primeira disciplina frequentei antes da aquisição do computador, já a segunda foi após a compra do mesmo. Considero esse fato um divisor de águas no meu desempenho no curso. Entretanto, posso afirmar que todo o curso de Pedagogia se constituiu em vitórias, de minha cidade éramos seis alunos, hoje só eu sobrevivi. De minha família restou a lembrança e o incentivo que minha mãe proporcionava aos meus estudos; de meus alunos e da escola em que trabalho possuo hoje uma visão diferenciada sobre eles. E a nível pessoal, hoje sou uma pessoa transformada profissional e pessoalmente, tenho uma visão ampliada do papel do professor, enxergo no aluno uma pessoa que traz uma bagagem de contribuições para o processo de aprendizagem. É numa relação de compartilhamento que o crescimento do aluno rumo ao sucesso conta com a minha atuação, e esse crescimento se faz presente porque construímos juntos uma historia onde ambos somos vencedores.