GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA: PESQUISA COM ESTUDANTES DE UMA ESCOLA PÚBLICA DE CRUZ ALTA/RS

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1 GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA: PESQUISA COM ESTUDANTES DE UMA ESCOLA PÚBLICA DE CRUZ ALTA/RS KRABBE, Elisete Cristina 1 ; SANTOS, Alaides de Abreu 2 ; SANTOS, Nataeli Pereira 2 ; GARCES, Nathália Billig 2 ; RECKTENWALD, Rafaela da Rosa 2 ; AUGUSTO, Talia Hahn 2 ; JACOBY, Laura 3 ; CARVALHO, Themis Goretti Moreira Leal 4 RESUMO Na adolescência ocorrem diversas modificações, exigindo maior atenção dos profissionais da saúde e uma das preocupações destes profissionais é a gravidez não planejada na adolescência. O objetivo deste estudo foi descrever o perfil das mães e de suas gestações durante a adolescência, a fim de constatar quantas adolescentes gestantes havia e quantas já passaram por esse período durante a adolescência, com propósito de levar conhecimento para que atitudes sejam tomadas em relação a uma gravidez não planejada. Foi realizado um estudo exploratório e descritivo, com alunas do Ensino Médio e Técnico Profissionalizante, matriculadas no ano de 2017 e que estão ou estiveram grávidas durante a adolescência. Das 29 estudantes que foram mães adolescentes ou que estão grávidas 55% (n=16) não planejaram sua gravidez, 76% (n=22) estavam estudando quando engravidaram sendo que destas 48% (n=10) tiveram que deixar a escola após engravidar. Os métodos contraceptivos mais conhecidos pelas adolescentes foram pílula e camisinha, respectivamente. A gravidez na adolescência é uma realidade, sendo necessárias políticas públicas voltadas à prevenção, e acompanhamento ao adolescente e a criança, visto que a maioria das gravidezes durante a adolescência não são planejadas. Palavras- Chave: Gravidez. Adolescência. Perfil. Mães. ABSTRACT In adolescence, several modifications occur, requiring greater attention from health professionals and one of the concerns of these professionals is unplanned pregnancy in adolescence. The purpose of this study was to describe the 1 Acadêmica do 10 semestre do Curso de Fisioterapia da Universidade de Cruz Alta - UNICRUZ. Participante do Núcleo de Pesquisa em Saúde Coletiva. Bolsista PIBEX/UNICRUZ. eli7krabbe@gmail.com. 2 Acadêmicas do Terceiro Semestre do Curso de Biomedicina da UNICRUZ. Participantes do Núcleo de Pesquisa em Saúde Coletiva. Bolsistas voluntárias. alaides.abreu@hotmail.com; naty.dossantos_5@hotmail.com; nathaliabgarces@hotmail.com; rafaelarrecktenwald@hotmail.com; talia.hahnaugusto@gmail.com. 3 Acadêmica do Terceiro Semestre do Curso de Farmácia da UNICRUZ. laura_jacoby@hotmail.com. 4 Prof.ª Adjunta do Centro de Ciências da Saúde e Agrárias da Universidade de Cruz Alta- UNICRUZ. Líder do Núcleo de Pesquisa em Saúde Coletiva da UNICRUZ, técnica científica do Centro de Atendimento ao Educando CAE/Tupanciretã-RS. carvalhothemis@gmail.com - Orientadora da pesquisa. ISSN v.5, n.1, 2017, p

2 profile of the mothers and their pregnancies during adolescence, in order to verify how many pregnant adolescents there were and how many already passed for this period during adolescence, with the purpose of bring knowledge, to what actions are taken in relation to an unplanned pregnancy. An exploratory and descriptive study was carried out, attending High School and Professional Technician, enrolled in 2017 and who are or were pregnant during adolescence. Of the 29 students who were teenager mothers or who were pregnant 55% (nº= 16) did not plan their pregnancy, 76% (nº = 22) were studying when they became pregnant, of which 48% (nº = 10) had to leave school after becoming pregnant. The contraceptive methods most known by the adolescents were pill and condom, respectively. Adolescent pregnancy is a reality, requiring public policies aimed at prevention and follow-up of adolescents and children, since most pregnancies during adolescence are not planned. Keywords: Pregnancy. Adolescence. Profile. Mothers. INTRODUÇÃO Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei n. 8069/90, adolescente é todo indivíduo com idade entre 10 e 18 anos, porém para a Organização Mundial da Saúde (OMS), esse período envolve jovens entre 10 e 19 anos (CERQUEIRA-SANTOS, et al. 2010). O desenvolvimento da sexualidade faz parte do crescimento do indivíduo, em direção a sua identidade adulta. Para Mendes, et al. (2011), devemos [...] considerar, ainda, as repercussões e o impacto da iniciação sexual tão precoce, muitas vezes agravada pela falta de conhecimento, reflexão e consciência crítica sobre seu comportamento mediante o sexo. Modificações do padrão comportamental dos adolescentes, no exercício de sua sexualidade, vêm exigindo maior atenção dos profissionais de saúde, devido a suas repercussões, entre elas a gravidez precoce (HERCOWITZ, 2002). Pinto, et al. (2016) relata que a gravidez na adolescência é um fato complexo. Em razão de suas repercussões, faz-se necessária uma ação conjunta da sociedade e também uma visão mais crítica com relação aos programas de prevenção da gravidez. De acordo com o Ministério da Saúde (BRASIL, 2017): A gravidez na adolescência teve uma queda de 17% no Brasil segundo dados preliminares do SINASC (Sistema de Informação sobre Nascidos Vivos) do Ministério da Saúde. Em números absolutos a redução foi de nascidos vivos de mães entre 10 e 19 anos em 2004 para em A região com mais filhos de mães adolescentes é o Nordeste ( %), seguido da região Sudeste ( %). A região Norte vem em terceiro lugar com ISSN v.5, n.1, 2017, p

3 (14%) nascidos vivos de mães entre 10 e 19 anos, seguido da região Sul ( %) e Centro Oeste ( %). Ainda, segundo o Ministério da Saúde (BRASIL, 2017), 66% das gravidezes em jovens adolescentes são indesejadas, e para tentar diminuir ainda mais esse número tem sido realizado diversas divulgações de ações em educação sexual e direitos reprodutivos, como a distribuição da pílula combinada, anticoncepção de emergência, minipílula, anticoncepcional injetável mensal e trimestral, e diafragma, assim como preservativo feminino e masculino. Para Dias e Teixeira (2010), a gravidez na adolescência pode implicar em diversas situações, como o abandono da rotina escolar, atritos familiares, sonhos e planos muitas vezes são adiados ou não mais realizados bem como o distanciamento de círculos de convivência. Desta forma, o objetivo deste trabalho foi descrever o perfil das mães e de suas gestações, conhecimento sobre métodos contraceptivos e atitudes referentes à gestação durante a adolescência, das alunas do Instituto Estadual de Educação Professor Annes Dias, localizado na cidade de Cruz Alta/RS. METODOLOGIA A pesquisa é um estudo exploratório e descritivo, que foi realizado com alunas do gênero feminino que estavam grávidas ou que já foram mães na adolescência, até o mês de maio de 2017, frequentadoras do Ensino Médio e Técnico Profissionalizante (Enfermagem, Secretariado, Contabilidade e Administração) do IEE Professor Annes Dias, matriculados no presente ano, totalizando 29 alunas. ISSN v.5, n.1, 2017, p

4 Figura 1: Aplicação do questionário. Fonte: Autoral A coleta de dados foi realizada através da aplicação de um questionário, elaborado pelos autores, e validado por profissionais da área, aplicado de forma individual em sala de aula. Nele constavam questões sobre o planejamento do filho, relacionamentos familiares, consultas e conhecimento sobre os métodos contraceptivos. A análise dos dados foi realizada sob a forma de percentuais, utilizando-se o software estatístico Microsoft Excel. Para o atendimento a Resolução 466/2012, denominadas Diretrizes e Normas Regulamentadoras de Pesquisa Envolvendo Seres Humanos, o projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UNICRUZ - CAAE: Não houve risco à saúde física ou psicológica dos participantes da pesquisa e, a fim de manter a confidencialidade das informações, os questionários não contêm nomes. ISSN v.5, n.1, 2017, p

5 Figura 2: Equipe Pesquisadora - Reflexão e discussão dos resultados na escola Fonte: Autoral RESULTADOS E DISCUSSÕES A pesquisa teve uma amostra total de 29 alunas que foram ou são gestantes durante a adolescência. 94% (n= 27) das adolescentes tiveram sua primeira gravidez entre 15 e 19 anos, porém o maior índice encontra-se na faixa dos 17 aos 19 anos, totalizando 77% (n=22), conforme Tabela 1. No estudo de Pinto (2016) também foi verificado que 95,6% das mães adolescentes estavam na faixa etária também foi verificado que 95,6% das mães adolescentes estavam na faixa etária dos 15 aos 19 anos. No momento, 35% (n=10) da população da nossa amostra cursam o Técnico em Enfermagem, sendo que a idade atual das mulheres pesquisadas varia de 16 a 52 anos, conforme descrito na Tabela 1. ISSN v.5, n.1, 2017, p

6 Tabela 1: Representação das idades da primeira gravidez e idades atuais da amostra pesquisada. Idades da primeira gravidez % Idades atuais % >40 14 TOTAL 100 TOTAL 100 Fonte: Autoral Em relação ao estado civil das adolescentes: quando engravidaram 83% (n=24) estavam junto com o companheiro, sendo que destas, 38% (n=9) encontravam-se casadas. Atualmente 45% (n=13) da amostra estão casadas. No estudo realizado por Pinto, et al. (2016), em relação à situação conjugal, constatouse que 62,3% estão junto com o companheiro, sendo 45,5% em união estável e 16,8% casadas. Podemos verificar em nosso estudo um elevado índice de adolescentes que não planejaram a gestação, totalizando 55% (n=16). Durante a descoberta da gravidez, 76% (n=22) estavam estudando e destas, 48% (n=10) tiveram que deixar o ambiente escolar após engravidar. Para Dias e Teixeira (2010), a gravidez reflete negativamente nos índices de evasão escolar, diminuindo o nível de escolaridade da mãe, pois nem sempre a mãe consegue retornar aos estudos após a gravidez e consequentemente diminui as oportunidades futuras. Guerra, Heyde e Mulinari (2007), reportaram em seu estudo que as mães adolescentes, em muitos casos, acabam se afastando do ambiente escolar para poder complementar a renda familiar. Para Farias e More (2012), a adolescente fica limitada não somente aos estudos, mas também em outras atividades que são importantes para o desenvolvimento como lazer, planejamento do futuro profissional e ingresso na carreira tão sonhada. Referente ao relacionamento com os pais, as entrevistadas afirmaram que 83% (n=24) possuem um bom relacionamento com suas respectivas mães e 69% (n=20) com seus pais. ISSN v.5, n.1, 2017, p

7 Na adolescência, os pais são fundamentais para que eles possam auxiliar nas dúvidas e nos momentos difíceis. Segundo Paris, Mengarda e Frizzo (2012) existem diversos estudos que relatam que o suporte da família é significativo para vivenciar uma gestação, particularmente na fase da adolescência. Quanto ao acompanhamento do pré-natal, constatou-se que 97% (n=28) das entrevistadas realizaram o acompanhamento e observou-se que 55% (n=16) realizaram mais de 6 consultas durante a gestação, conforme descrito na Gráfico 1. No estudo de Pinto, et al. (2016) com relação ao número de consultas de pré-natal, 75,5% da amostra pesquisada realizou 6 consultas ou mais, estando um pouco acima dos valores encontrados em nosso estudo. Gráfico 1: Número de consultas realizadas durante a gestação. 60% 40% Quantas consultas fez durante a gestação? 34% 55% 20% 0% 7% Menos de 3 3 a 6 Acima de 6 Não respondeu 3% Fonte: Autoral O pré-natal é muito importante durante a gestação, pois através dele podem-se detectar problemas em casos existentes, e seu principal objetivo é acolher a mulher desde o início da gravidez, assegurando no fim da gestação, o nascimento de uma criança saudável e a garantia do bem-estar materno e neonatal (BRASIL, 2006). Se o início precoce do pré-natal é essencial para a adequada assistência, o número ideal de consultas permanece controverso. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o número adequado seria igual ou superior a 6 (seis). Pode ser que, mesmo com um número mais reduzido de consultas (porém, com maior ênfase para o conteúdo de cada uma delas) em casos de pacientes de baixo risco, não haja aumento de resultados perinatais adversos (grau de recomendação A). Atenção especial deverá ser dispensada às grávidas com maiores riscos (grau de recomendação A). As consultas deverão ser mensais até a 28ª semana, quinzenais ISSN v.5, n.1, 2017, p

8 entre 28 e 36 semanas e semanais no termo (grau de recomendação D). Não existe alta do pré-natal (BRASIL, 2013). Sobre o conhecimento dos métodos contraceptivos, em nosso estudo, 86% (n=25) informaram que conhecem a pílula e 75% (n=22) sabem que o uso da camisinha auxilia na contracepção, conforme descrito no Gráfico 2. Para Santos e Nogueira (2009) em seu estudo, 87% dos jovens declararam conhecer os métodos contraceptivos, porém 70% tiveram a primeira relação sexual sem nenhuma proteção. O texto menciona ainda que, entre as jovens que conversaram com seus parceiros sobre contracepção, houve um maior índice de uso de contraceptivos na primeira relação e os índices de gravidez foram menores. No Gráfico 2 também verificamos uma baixa porcentagem de conhecimento sobre os demais métodos contraceptivos, notando que se faz necessário políticas de educação em saúde para que os jovens tenham um maior conhecimento sobre os diversos métodos e que desta forma os índices de gravidez não planejada na adolescência continuem a diminuir, conforme citado anteriormente. Gráfico 2: Conhecimento dos Métodos Contraceptivos 86,21% Conhecimento dos Métodos Contraceptivos 75,86% 34,48% 20,69% 10,34% 6,90% 34,48% 20,69% 24,14% Fonte: Autoral CONCLUSÃO ISSN v.5, n.1, 2017, p

9 Com o desenvolvimento desse projeto pode-se certificar que a maioria das adolescentes grávidas não teve sua gravidez planejada e a incidência do maior número de gravidez deu-se entre os dezessete e dezenove anos. A maioria das mulheres entrevistadas desconhecem os diversos métodos contraceptivos existentes, sendo necessária a realização de ações de esclarecimento e expansão de novas informações para garantir a segurança das adolescentes, em relação a gravidez não planejada. Notou-se também que a grande maioria das jovens teve apoio da figura materna e/ou paterna, porém mesmo assim foi elevado o número de jovens que deixaram de frequentar a escola após a gravidez. Portanto, a gravidez na adolescência é uma realidade, sendo necessárias políticas públicas voltadas à prevenção e ao acompanhamento da adolescente e da criança. Nesse sentido além do apoio familiar, os serviços de saúde, educação e assistência social precisam envolver-se para garantir que a adolescente possa dar continuidade no seu processo de formação social e pessoal. REFERÊNCIAS BRASIL. Estatuto da criança e do adolescente: Lei federal nº 8069, de 13 de julho de Disponível em: < Acesso em: 29 jul CERQUEIRA-SANTOS, E. et al. Gravidez na adolescência: análise contextual de risco e proteção. Revista Psicologia em Estudos, Maringá, v. 15, n.1, p , jan./mar DIAS, A. C. G.; TEIXEIRA, M.A.P. Gravidez na adolescência: um olhar sobre um fenômeno complexo. Paidéia, Ribeirão Preto-SP, v. 20, n. 45, p , jan./abr FARIAS R, MORE COO. Repercussões da gravidez em adolescentes de 10 a 14 anos em contexto de vulnerabilidade social. Psicologia: Reflexão e Crítica, Porto Alegra, v. 25, n. 3, p , GUERRA, A.F.F.S.; HEYDE, M.E.D.; MULINARI, R.A. Impacto do estado nutricional no peso ao nascer de recém-nascidos de gestantes adolescentes. Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia, São Paulo, v. 29, n. 3, p , ISSN v.5, n.1, 2017, p

10 HERCOWITZ, A. Gravidez na adolescência. Ped. Med. v.38. n.8, p , ago MENDES, S. S. et al. Saberes e atitudes dos adolescentes frente à contracepção. Revista Paulista de Pediatria, São Paulo, v. 29, n. 3, p , set MINISTÉRIO DA SAÚDE. ÁREA TÉCNICA DE SAÚDE DA MULHER. Pré-natal e Puerpério: atenção qualificada e humanizada, manual técnico. Brasília-DF, MINISTÉRIO DA SAÚDE. Gravidez na adolescência tem queda de 17% no Brasil Disponível em: < Acesso em: 29 jul MINISTÉRIO DA SAÚDE. SECRETARIA DE ATENÇÃO À SAÚDE. DEPARTAMENTO DE ATENÇÃO BÁSICA. Atenção ao pré-natal de baixo risco. Brasília-DF, PARIZ, J.; MENDARGA, C.F.; FRIZZO, G.B. A atenção e o cuidado à gravidez na adolescência nos âmbitos familiar, político e na sociedade: uma revisão da literatura. Revista Saúde e Sociedade. São Paulo, vol. 21, n. 3. jul./set PINTO, K. R. T. F. et al. Gravidez na adolescência: perfil das mães e sua gestação. Revista Uningá Review, Londrina, vol. 27, n. 2, p.09-14, jul-set SANTOS, C.A.C.; NOGUEIRA, K.T. Gravidez na adolescência: falta de informação? Revista Adolescência & Saúde, p.48-56, abr ISSN v.5, n.1, 2017, p