VIVEIRO ESCOLAR: LABORATÓRIO VIVO PARA O ESTUDO DA ECOLOGIA DA RESTAURAÇÃO. Cleiciane Antunes Duque* 1, Laura da Silva Ramos¹.
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1 VIVEIRO ESCOLAR: LABORATÓRIO VIVO PARA O ESTUDO DA ECOLOGIA DA RESTAURAÇÃO Cleiciane Antunes Duque* 1, Laura da Silva Ramos¹. 1 Instituto Federal de Mato Grosso, Licenciatura em Ciências da Natureza, Campus São Vicente. Rua Jurucê, nº 1241, Centro, CEP: Jaciara MT *cleiciduque@gmail.com, lauritaramosgarcia@gmail.com. Resumo:Na sub-bacia de São Lourenço, onde a cidade de Jaciara MT está inserida, o desmatamento ultrapassa 70%. O cerrado está sendo ameaçado devido a diversos fatores antrópicos, colocando em risco a existência e a biodiversidade das matas ciliares. Nesse contexto, o Viveiro Escolar da Escola Antônio Ferreira Sobrinho é de suma importância tanto para sensibilização ambiental como para o reflorestamento. Esta pesquisa teve como objetivos identificar as espécies arbóreas do viveiro recomendadas para a restauração de matas ciliares e sugerir conteúdos de Biologia, Matemática, Química e Física que podem ser desenvolvidos por meio de aulas práticas no viveiro, estimulando a cidadania participativa. Por meio de revisão bibliográfica foram identificadas 31 espécies arbóreas entre nativas e exóticas. Também foram identificados os grupos ecológicos, indicação para recuperação de matas ciliares não alagáveis ou alagáveis, bem como tipo de solo e pluviosidades adequados para o desenvolvimento de cada espécie. Foram sugeridos um total de 19 conteúdos que podem ser trabalhados de forma prática no viveiro escolar. A proposta é que a comunidade escolar se aproprie desses conhecimentos para enriquecer o processo de ensino-aprendizagem e assim almejar uma sociedade sustentávelcom um olhar diferenciado para o meio ambiente. Palavras-chave:Viveiro educador, espécies arbóreas, ensino-aprendizagem. 1. INTRODUÇÃO A substituição de espécies nativas por não nativas que caracteriza o processo de homogeneização do ambiente (McKinney, 2002), a substituição de ambientes naturais por seminaturais ou artificiais se intensificaram no bioma Cerrado a partir da década de 70. Na sub-bacia de São Lourenço que constitui a bacia do Alto Paraguai, onde a cidade de Jaciara está inserida, o desmatamento ultrapassa 70% (Werle, 2015). O elevado nível de desmatamento pode prejudicar o fluxo de escoamento da água como já vem sendo observado na região. Estes dados indicam o não cumprimento da legislação ambiental 12963
2 2 em vigor no qual afirma que 35% das áreas de Cerrado, 80% da reserva legal de florestas e 50% das áreas de transição não devem ser desmatadas (Werle, 2015). A perda do Cerrado ocorre devido à produção agropastoril, o que é o caso de grandes áreas no entorno da cidade de Jaciara, Mato Grosso.O processo histórico de conversão de ecossistemas nativos para uso agropecuário resultou na degradação de áreas ambientalmente frágeis como é o caso das matas ciliares. Este processo de eliminação das matas resultou num conjunto de problemas ambientais. Apesar de ser obrigatória sua proteção conforme descrita no Código Florestal, as matas ciliares continuam sendo afetadas por fatores como abertura de estradas, construção de hidrelétricas, agricultura e pecuária.dentre as diferentes formas de reverter a degradação ambiental, a restauração prevê o restabelecimento dos processos ecológicos para reconstrução dos ecossistemas, o que depende de elevada diversidade de espécies nativas (Martins 2007). Nesse contexto, os viveiros educadores além de disseminar conhecimentos sobre a ecologia da restauração para estudantes do ensino fundamental e médio ao associar a dimensão educadora à produção de mudas (Brasil 2008), podem contribuir na própria restauração da mata ciliar na sub-bacia do São Lourenço aoproduzir mudas de espécies arbóreas nativas. Para que isto ocorra de forma ordenada, torna-se necessário identificar a importância ecológica das espécies presentes no viveiro. Portanto, a sistematização de informações sobre cada espécie presente em um viveiro educador pode ser útil para duas funções correspondentes ao objetivo deste trabalho: a identificação de espécies para a restauração de matas ciliares e o desenvolvimento de práticas pedagógicas que estimulem a organização de sociedades sustentáveis tendo como base os conteúdos ministrados na área de Ciências. 2. METODOLOGIA Este trabalho foi desenvolvido no Viveiro educadorimplantado na Escola Estadual Antônio Ferreira Sobrinho, cidade de Jaciara - MT. O viveiro ocupa uma área de 0,1 ha, contem irrigação, canteiros, sementeira e mudas de espécies arbóreas. Foram identificadas todas as espécies arbóreas por meio de livros de Botânica, artigos científicos e colaboração do identificador botânicolibério Amorim Neto. Para cada espécie foi definido: grupo sucessional (Pioneira, secundária inicial, secundária tardia e clímax), número de indivíduos, se nativa do cerrado, ocorrência em mata ciliar, meses de produção de sementes tipo de solo adequado e precipitação.essas informações 12964
3 3 podem ser úteis tanto para a educação como para reflorestamentos nas redondezas de Jaciara. A partir das informações científicas obtidas sobre as espécies, foi estabelecida uma relação entre o conteúdo ministrado nas disciplinas de física, química, biologia e matemática com o viveiro. O público-alvo foram professores e estudantes do ensino médio da referida escola, professores e estudantes do curso de Licenciatura em Ciências da Natureza do Instituto Federal de Mato Grosso. 3. RESULTADOS E DISCUSSÕES A partir da organização das informações cientificas sobre as espécies arbóreas do viveiro, foram contabilizados 3109 indivíduos, um total de 31 espécies sendo 25nativas do Cerrado e 6 exóticas (Tabela 1). Das espécies nativas foram identificadas21 pioneiras e 7 não pioneiras.também foram identificadas as espécies recomendadas para a recuperação de mata ciliares em áreas não alagável, e/ ou de (Tabela 1).A definição dos meses em que há produção de sementes é uma informação essencial para orientar as coletas em árvores matrizes nas proximidades de Jaciara. Ainda foram listadas a precipitação pluvial média anual e tipos de solos ideais para cada espécie encontrada no viveiro (Tabela 1). As espécies exóticas são: Azadirachta indica (Nim), Calycophyllum spruceanum (Benth.) (mulateiro), Ceiba petandra(l.) Gaertn. (paineira), Dalbergia brasiliensis Vogel (Jacarandá), Licania tomentosa(benth.) Fritsch (Oiti), Syzgium jambolanum Lam. (Jamelão). Esta pesquisa sobre a ecologia de espécies arbóreas presentes no viveiro facilitará o trabalho de recuperação de matas ciliares que pode ser realizada pela comunidade escolar nos arredores do município de Jaciara, associada ao principal fator que é o de contribuir com o processo educativo e do fortalecimento de uma sociedade sustentável. Uma sociedade sustentável deve tomar da natureza apenas o que ela pode reparar. Os viveiros inseridos nas escolas proporcionam uma educação crítica e diferente ao debater a temática socioambiental (BRASIL, 2008). Para auxiliar no processo ensinoaprendizagem foram identificados conteúdos com potencial para desenvolver aulas práticas no viveiro (Tabela 2). Aulas com temas associados ao meio ambiente auxiliam na formação de cidadãos com ideias claras a respeito do futuro, o que é base para alcançarmos uma sociedade sustentável. Pesquisas recentes orientam aulas de campo (em ambiente escolar ou não) como visitas ao viveiro para o desenvolvimento de aulas 12965
4 4 (Junior & Vargas 2014, Lima & Braga 2014, Menegazzo et al. 2014). Umas das práticas pedagógicas orientadas no Viveiro é a produção de mudas arbóreas. O estudante tem acesso às informações ecológicas e à utilidade de cada espécie no processo de recuperação de áreas degradadas. O estudo in loco contribui para o aprendizado, pois o estudante tem a possibilidade de entrar em contato direto com o objeto de estudo (Lima & Braga 2014). As práticas pedagógicas no viveiro também estimulam o respeito e o cuidado com o meio ambiente, com o olhar diferenciado para a sustentabilidade.agregar a pesquisa de espécies arbóreas com as aulas ministradas em sala de aula contribuirá para formação de adolescentes com pensamento científico crítico e autônomo (Tabela 2). 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS É esperado que a identificação de espécies para a restauração de matas ciliares e de conteúdos com potencial para o desenvolvimento de diversas práticas pedagógicas no viveiro desperte a participação do individual e do coletivo no viveiro educador mantido pelo Projeto Mata Viva na Escola Estadual Antônio Ferreira, Jaciara - MT. AgradecimentosAo Instituto Federal de Mato Grosso pela bolsa de extensão concedida à primeira autora (Edital IFMT - PROEX 055/ 2015), à Escola Estadual Antônio Ferreira Sobrinho e ao projeto Mata Viva pelo apoio ao projeto de extensão. 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Secretaria de Articulação Institucional e Cidadania Ambiental. Departamento de Educação Ambiental. Viveiros educadores: plantando vida. Brasília: MMA, JÚNIOR, A. J. V.; VARGAS, I. A. de. Saberes tradicionais sobre plantas medicinais: interfaces com o ensino de botânica. Imagens da Educação, v.4, n.3, p , LIMA, R. A.; BRAGA, A. G. S. A relação da educação ambiental com as aulas de campo e o conteúdo de biologia no ensino médio. REGET/UFSM, v.18, n.4, p , MARTINS, S. V. Recuperação de matas ciliares. 2 ed. Viçosa- MG: CPT, 2007 MCKINNEY, M.L. Urbanization, Biodiversity and Conservation. BioSciense, V. 52 (10): , MENEGAZZO, N. S. et. al. O Horto Florestal Tote Garcia como instrumento pedagógico para o Ensino de Ciências e Matemática: revelando possiblidades e limites. Revista Amazônica de Ensino de Ciências Areté, Manaus, v.7, n.13, p ,
5 5 WERLE,H. J. S. Desmatamento em Mato Grosso: uma realidade impactante. Diário de Cuiabá. Site: http/ Data de acesso: 14/06/2015, Tabela 1- Espécies arbóreas nativas do Cerrado presentes no Viveiro Educador, EscolaAntonio Ferreira Sobrinho, Jaciara - MT Espécies arbóreas Número de Grupo Mata Nome Popular indivíduos ecológico ciliar Indicação de área Produção de sementes Precipitação anual (mm) Anadenanthera falcata (Benth.) Speg. Angico 120 P X não alagável AGO- SET arenoso Acacia polyphylla DC. Monjoleiro 40 P (Si) X não alagável AGO- SET pedregoso Astronium fraxinifolium Schott. Gonçaleiro 24 P (Si) X não alagável OUT- NOV arenoso, argiloso Bauhinia forficata Link Pata-de-vaca 70 P (Si) X não alagável JUL- AGO pedregoso Buchenavia tomentosa Eichler Mirindiba 62 P (Si) não alagável AGO- SET argiloso Caesalpinia ferrea Mart. Ex Tul. Pau-ferro 50 P (Si) X não alagável JUL- SET arenoso Cedrela odorata Ruiz & Pav. Cedro 50 P X MAI- JUN argiloso Cecropia pachystachya Trécul Embauba 8 P X Croton urucurana Baill. Sangra d'água 100 P X MAI- JUN Tabela 2 Conteúdos de Biologia, Matemática, Física e Química com potencial de desenvolvimento de aulas práticas em um viveiro educador. Solo arenoso, francoargiloso FEV- JUL arenoso, argiloso Dipteryx alata Vogel Linnaea Cumbaru 8 NP (St) X não alagável SET- OUT arenoso Enterolobium contortisiliquum (Vell.) Morong Timbauva 600 P (Si) X não alagável JUN- JUL argiloso Genipa americana L. Jenipapo 150 NP ( C ) X NOV- DEZ argiloso Guazuma ulmifolia Lam. Mutamba 60 P X não alagável AGO- SET 800 arenoso Inga uruguensis Hook. Et Arn. Ingá 120 P (Si) X DEZ arenoso Luehea paniculata Mart. Açoita-cavalo 30 P (Si) X não alagável NOV argiloso, fertil Myracrodruon urundeuva Allemão Aroeira 100 NP (St/ C) X não alagável SET- OUT argiloso/ arenoso Plathymenia reticulata Benth. Vinhático 100 P (Si) X não alagável AGO- SET arenoso Sapindus saponaria L. Saboneteiro 70 NP X SET- NOV arenoso Tabebuia aurea (Silva Manso) Benh. Ipê-amarelo 250 P X não alagável SET - NOV argiloso Tabebuia chrysotricha (Mart. ex DC.) Stanley Ipê amarelo 11 P (Si) X não alagável SET- OUT argiloso Tabebuia roseoalba (Ridl.). Sandwith Ipê-branco 454 NP X não alagável OUT- NOV 1600 cascalhento Tabebuia avellanedae Lor. ex Griseb. Ipê-rosa 300 NP ( C) X não alagável OUT- NOV argiloso Triplaris americana L. Pau formiga 256 P X Vitex cymosa Bertero ex Spreng. Tarumã 50 NP X Zygia cauliflora (Willd.) Falso ingá 26 P X NOV- JAN arenoso Biologia Matemática Física Química Cadeia alimentar Funcionamento de um ecossistema Diversidade de seres vivos, Espécies em extinção Noções de sistemática evolutiva e filogenética Vírus de plantas, Fungos Conjuntos (noções elementares, operações com conjuntos, conjuntos numéricos) Operações com conjuntos: União e interseção Geometria Espacial (Áreas e volume do cilindro reto) Introdução à Estatística (Frequência, medidas de dispersão) Matemática financeira (Porcentagem) Grandezas e vetores (Sistema Internacional de Unidades) Movimento circular: (velocidade Angular) Mecânica -Trabalho (conceito de trabalho Mecânica - Gravitação Mecânica - Densidade JAN- MAR arenoso, argiloso arenoso, argiloso Ligações químicas, interações intermoleculares e propriedades dos materiais de origem natural Termoquímica (Energia solar, fotossíntese, óleos vegetais) Equilíbrio químico (solos ácidos, escala de ph) Químicas dos medicamentos (espécies arbóreas medicinais) 12967
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