Euro: e se a Alemanha sair primeiro?
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- Zilda Aleixo Almeida
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1 Euro: e se a Alemanha sair primeiro?
2 António Goucha Soares Euro: e se a Alemanha sair primeiro?
3 Introdução Aconstrução europeia terá sido uma das maiores realizações do período subsequente ao termo da Segunda Guerra Mundial. Ter conseguido envolver países inimigos num projeto de crescente integração económica englobando uma dimensão política foi um momento de rutura com a precedente história europeia de de- A ideia de uma Europa unida terá sido o melhor antídoto para superar os ancestrais antagonismos entre as grandes potências continentais, que se haviam revelado insolúveis desde a segunda metade do século XIX. Observada no seu todo, a integração europeia é entendida como uma história de sucesso, não se con- -
4 10 E U R O : E S E A A L E M A N H A S A I R P R I M E I R O? bém permitido acabar com as barreiras no comércio entre países europeus, promover a livre circulação de pessoas, de serviços e capitais, eliminar as fronteiras internas entre diferentes países, instituir a ideia de cidadania comum, promover direitos de todas as minorias, vorecer um espaço de ensino superior alargado e criar uma moeda única para um largo número de países. Analisada a nível interno, a construção europeia é um processo cravejado de espinhos, com sucessivas crises económicas, políticas, quando não mesmo exis- um cenário ininterrupto de crises fortaleceria o espírito da nova Europa em formação. Como se o adubo da própria ideia europeia assentasse na dialética que a - em crise, num processo em crescendo em termos quantitativos, e dos seus conteúdos. uma crise que terá causado danos profundos no projeto europeu, com uma digestão mais delicada, porventura irrealizável. Com efeito, a crise do euro provocou um estremeção sem precedentes na solidez do processo a resiliência da ideia europeia terá sido testada, nem os fundamentos da integração terão sido questionados de forma tão clara. Com efeito, nos longos anos por que se estendeu a crise do euro diversos foram os momentos em que a
5 I N T R O D U Ç Ã O 11 cebido que seis décadas de integração poderiam não bastar para fazer dela um sucesso irreversível. - - dos ingredientes que alimentaram a combustão da cri- de integração europeia haviam sido crises que tinham envolvido apenas os Estados-membros, e as instituições europeias. Desde Maastricht, os cidadãos poderão também ter sido associados de forma pontual a momentos de crise europeia, sobretudo nas situações relativas aos novos tratados. Em todo o caso, esses acontecimentos - -membro, sem interação com os demais. relevância preponderante em todo o processo político: a vox populi resolvida na sua fase inicial, com custos que teriam sido mais reduzidos, porque os líderes políticos de alguns países da Zona Euro desencadearam uma escalada inédita de acusações no confronto não apenas de outros Estados-membros, como também dos cidadãos dessas sua própria população, que se revia nesse tipo de clivagem. A partir do momento em que o argumentário ca, passando a incluir os nacionais de outros Estados-
6 12 E U R O : E S E A A L E M A N H A S A I R P R I M E I R O? -membros, é natural que os cidadãos visados pelas acusações dos governantes de outros países se sintam sas da sua dignidade, desencadeando um mecanismo de confronto verbal numa base nacional. Assim, a crise do euro foi acompanhada, desde em particular entre Grécia e Alemanha, mas também pelo antagonismo crescente entre os respetivos cidadãos, e da opinião pública desses Estados. Terá sido, por certo, a primeira vez que uma crise no âmbito da construção europeia transbordou para fora dos limites estreitos da classe política envolvida na discórdia, e da burocracia comunitária. A crise do euro foi acompanhada pelo contraste acentuado entre a atitude do ci- seu governo, e a indignação do povo grego perante as adversidades resultantes da gestão política europeia da crise. Este último sentimento alastraria a mais po- euro contagiava outros países periféricos. O contraste não apenas entre governos, mas também entre cidadãos de países da Zona Euro, numa escalada verbal que recuperava velhos estereótipos e preconceitos nacionais, provocaria natural erosão na Com efeito, um dos efeitos colaterais da crise terá sido a regressão causada na ideia base do processo de integração, qual fosse, igualdade entre povos, entreajuda, compreensão e solidariedade. A partir do momento em
7 I N T R O D U Ç Ã O 13 que os meios de comunicação social dos países envol- raram antigos chavões que amachucavam a dignidade - comprometido de forma inabalável. Por isso, a crise do euro será o momento que melhor simboliza o começo de uma tendência difusa, mas gradual, de desintegração europeia. Como se o processo de construção europeia tivesse atingido o seu limite peu composto por uma amálgama de Estados e instituições começasse a dar sinais de saturação. Apesar dos novos elementos que a crise do euro revelou desde os seus primórdios, os problemas que afetavam a moeda única, e a Grécia em particular, foram apresentados na sua dimensão técnica, para que fossem apenas acessíveis a iniciados em política monetária. Pelo que a crise da dívida soberana grega era um to de peritos. A Europa não estaria diante de um assunto que fosse percetível pelo comum dos cidadãos, como técnica das questões monetárias. rante as negociações sobre a união económica e mo- -
8 14 E U R O : E S E A A L E M A N H A S A I R P R I M E I R O? contornos essenciais da união monetária foram de- principais potências europeias, que escapou ao debate público sobre os acordos de Maastricht. A atenção dos média não foi além das diferentes fases da união monetária, da dimensão institucional da moeda única e, sobretudo, dos critérios de convergência nominal que deveriam ser preenchidos para a entrada no pelotão da frente. Em comparação com a conferência intergovernamental sobre a união política europeia, seguida de forma razoável pela comunicação social e pela opinião pública dos Estados, a conferência paralela sobre a união monetária passou ao lado do escrutínio público, o que aumentou a opacidade das suas decisões. - mas que a Grécia enfrentava eram apresentados como sendo resultado dos seus comportamentos no âmbito da política orçamental. Por conseguinte, as autoridades gregas deveriam reverter de forma célere essa si- dos parceiros europeus, e das instâncias internacionais. - outros países da Zona Euro foram sendo contagiados, e fazer perigar o próprio processo de integração seria apenas revelada numa fase sucessiva.
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