Os desafios da maternidade: aprendendo a ser mãe de adolescente em tempos de Baleia Azul.

Transcrição

1 Os desafios da maternidade: aprendendo a ser mãe de adolescente em tempos de Baleia Azul. Eu sempre soube que esse dia iria chegar, mas nunca imaginei que seria tão complicado! Quando escutei isso de uma cliente, meu filho ainda tinha 4 anos e eu vivia aqueles lindos anos de fantasias e descobertas da infância. Ainda brincava de vilã, enquanto ele acreditava ser o homem aranha ou curava seus hematomas nas pernas com compressas de gelo, após o jogo de futebol. Mas, passados dez anos, o discurso dela veio à tona. A ADOLESCÊNCIA chegou! Quando escrevo sobre os desafios, não considero que esse seja um momento ruim, ou difícil da maternidade. O que penso ser desafiador é educar um adolescente em um ambiente e em uma cultura tão diferente da que vivi. Na minha adolescência os grandes dilemas eram sobre como convencer meus pais a deixar-me ir à festa de quinze anos da minha amiga e voltar a meia noite, ou sobre como juntar dinheiro para comprar aquele tênis novo da modinha e, meu mundo, na maioria das vezes, resumia-se ao meu bairro, aos amigos do prédio e da escola em que estudava. O universo em que percebo meu filho e tantos outros adolescentes com quem convivo diariamente na clínica é muito diferente do que vivi na adolescência e o dos pais, ainda distante da realidade dos filhos. Existe uma enorme ansiedade experimentada pelas famílias em relação a chegada da adolescência, porém, a medida que os filhos vão crescendo e deixam de apresentar comportamentos tão próximos ou de carinho e gentilezas, os pais acabam afastando-se. E esse afastamento muitas vezes acontece porque simplesmente não sabemos reagir a tantas mudanças, que acaba por sinalizar negligência, desamparo e falta de afeto. São inúmeras as perguntas que as famílias fazem sobre como conduzir a relação e como ajudar o adolescente a enfrentar possíveis problemas como sexualidade, drogas, violência, agressões e limites. Outro ponto é sobre como os pais sentem que devem cumprir a sua tarefa de educar estabelecendo seu papel em uma sociedade tão diferente da que viveram. Há algumas semanas temos presenciado discussões acerca da realidade experimentada por muitos jovens sobre a possibilidade do suicídio. Mas será que esse assunto é algo novo na adolescência ou na nossa sociedade? Ou simplesmente o seriado 13 Reasons Why ou o Jogo da Baleia Azul trouxeram à tona uma condição que estava perdida para muitas famílias

2 que era: Olhe para seu filho adolescente! Não é porque ele cresceu que ele não precisa de você! Não vou discutir aqui questões que estão sendo muito bem expostas pela mídia e pelas redes sociais sobre a maneira como a série tem escancarado o problema, uma vez que também não concordo com a exposição do suicídio de forma tão romantizada e/ou como uma vingança. O principal objetivo desse texto é discutir a relação que os pais e mães tem estabelecido com seus filhos. É preciso entender que, nessa fase da vida, o adolescente tende a desidealizar os pais e busca por outras figuras de referência. Não é à toa que as minhas músicas são tão chatas para o meu filho. Outro dia eu quis ser legal com ele e busquei um cantor que eu pensava ser moderno e que poderia agradá-lo. Foi grande a minha surpresa e desilusão quando ele disse: nossa mãe, eu odeio esse Ed Sheeran! Eu simplesmente não reagi. Disselhe que estava tentando gostar um pouquinho do que achava que ele gostava e que era uma pena ter errado. Perguntei sobre uma outra música que ele preferia e aguentei pacientemente ouvir um mix de música eletrônica e um nome de um DJ super estranho que não consigo lembrar para contar. Mas a minha maior surpresa foi acordar no outro dia, com meu celular despertando, ao lado da cama, com a música do Ed Sheeran e, ele, na porta do quarto dizendo: E aí mãe? Gostou? Fiz essa surpresa para você! Quando lembro dessa situação pergunto-me se seria preciso uma longa e chata discussão sobre o tipo de música que meu filho gosta, se o que realmente importava para ele, era a minha atenção. E é nesse ponto que percebo que muitos pais erram. Perdem tempo com longos sermões sobre como a vida era na sua adolescência e não conhecem o tempo dos filhos. Não sabem o que eles assistem ou do que gostam e muitos, nem sabem o que os filhos fazem. Só conseguem percebe-los diante da exposição midiática de outros tantos adolescentes que mais do que pedir por socorro, estão simplesmente pedindo por presença e valorização. Aproveitando a comemoração do dia das mães, vou propor aqui um jogo muito interessante que foi lançado na Internet, como uma resposta positiva ao jogo da baleia azul. Em uma página lançada por dois amigos, eles propuseram aos adolescentes que apresentassem comportamentos reforçadores e positivos, de valorização, aproximação, autoestima e respeito. A página foi chamada de Baleia Rosa e, em poucos dias, conseguiu alcançar mais de 2 mil seguidores. Aproveitando o ensejo, porque não olhar para as atividades propostas e sugerir que mães e pais pudessem também colocar em prática tais comportamentos?

3 A principio você pode até pensar, mas eu não estou fazendo isso naturalmente, parece esquisito, mas é preciso entender que, partindo do princípio de que todos os nossos comportamentos são aprendidos, é preciso exercitar uma relação mais próxima e saudável com nossos filhos. Então, para quem topar a atividade, vamos lá! Nas próximas páginas estão algumas dicas propostas pela página Baleia Rosa e que foram transpostas para a relação entre mães, pais ou quaisquer outras pessoas que desejam aproximar a relação com um adolescente. Vale a pena destacar que, se vocês não estão acostumados a fazer algumas dessas coisas, a princípio ele ou ela poderá achar um pouco estranho. Não desista porque, no fundo eles gostam e precisam de atenção e carinho.

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5 Se você quiser procurar por mais algumas dicas, acesse a página Baleia Rosa no Facebook. Kellen M Escaraboto Fernandes é Psicóloga Clínica e trabalha no Iacep há aproximadamente 13 anos. Iniciou sua vida profissional como professora de Educação Infantil e encantou-se pelo desenvolvimento das crianças. Querendo entender melhor como elas pensavam e aprendiam, buscou uma graduação em Psicologia. Nos últimos anos de faculdade iniciou seu trabalho como Psicóloga Escolar e aprofundou-se em Educação Especial, Psicopedagogia, Psicologia Comportamental. Sua última formação foi em Neuropsicologia. A escola a levou à clínica e, durante 15 anos, atuou nessas duas instâncias, além de trabalhar como educadora na graduação e pós-graduação, contribuindo especialmente para a formação de professores e futuros psicólogos. Acredita que nasceu mais que uma psicóloga, uma pessoa que ama estar com outras pessoas e contribuir para que elas sejam felizes!