RAÍZES ITALIANAS NO DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA, : PIONEIRISMO ECONÔMICO E IDENTIDADE

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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ NÚCLEO DE ALTOS ESTUDOS AMAZÔNICOS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DO TRÓPICO ÚMIDO Marília Ferreira Emmi RAÍZES ITALIANAS NO DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA, : PIONEIRISMO ECONÔMICO E IDENTIDADE Belém 2007

2 UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ NÚCLEO DE ALTOS ESTUDOS AMAZÔNICOS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DO TRÓPICO ÚMIDO Marília Ferreira Emmi RAÍZES ITALIANAS NO DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA, : PIONEIRISMO ECONÔMICO E IDENTIDADE Tese apresentada como requisito parcial para a obtenção do grau de Doutor em Ciências: Desenvolvimento Socioambiental Orientador: Prof. Dr. Luís Eduardo Aragón Belém 2007

3 UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ NÚCLEO DE ALTOS ESTUDOS AMAZÔNICOS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DO TRÓPICO ÚMIDO Marília Ferreira Emmi RAÍZES ITALIANAS NO DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA, : PIONEIRISMO ECONÔMICO E IDENTIDADE Tese apresentada como requisito parcial para a obtenção do grau de Doutor em Ciências: Desenvolvimento Socioambiental. Defesa: Belém (PA), 31 de agosto de 2007 Banca Examinadora Prof. Dr. Luis Eduardo Aragón NAEA/UFPA, Orientador Prof. Dr. Francisco de Assis Costa NAEA/UFPA, Examinador interno Prof. Dr. Fábio Carlos da Silva NAEA /UFPA, Examinador interno Prof. Dr. Gilberto de Miranda Rocha IFCH /UFPA, Examinador externo Profa. Dra. Aurélia Castiglioni CFCHN /UFES, Examinadora externa

4 A minha mãe Yolanda e ao meu marido Giovanni, filhos de imigrantes italianos que fizeram da Amazônia extensão de sua pátria. A minhas filhas, Giovanna e Gabrielle, que com amor cultivam valores deixados por seus antepassados. A meu pai Octacílio, com muita saudade.

5 AGRADECIMENTOS Ao professor Luis Aragón, pela competência e profissionalismo que marcaram sua orientação, pelo encorajamento e manifestações de amizade dispensados ao longo do trabalho. Aos professores do curso de doutorado pelas discussões fundamentais para a tese e pelos ensinamentos transmitidos. Ao professor Vittorio Cappelli, da Universidade da Calábria, estudioso da imigração calabro-lucano-campano, pelas informações, sugestões e fornecimento de material bibliográfico de grande importância para a pesquisa. À professora Maddalena Tirabassi, da Fundação Giovanni Agnelli, que gentilmente permitiu acesso à publicações dessa instituição. À professora Aurelia Castiglioni, da Universidade Federal do Espírito Santo, pela atenção, apoio, sugestões de leituras, em minha visita a essa instituição em Ao Dr. Arnaldo Russo, Vice-Cônsul da Itália em Manaus e à Sra. Roberta Maiorana, Vice-Cônsul da Itália em Belém, pelo apoio recebido. À Sra. Rita Nascimento, secretária do Vice-Consulado da Itália em Manaus, pelo empenho na localização de descendentes de imigrantes italianos nessa capital. Ao Sr. Giuseppe Peschechera, secretário do Vice-Consulado da Itália em Belém, pela tradução de documentos, por facilitar acesso a dados dos arquivos do Vice-Consulado e por toda a ajuda recebida. Aos filhos de imigrantes italianos, que pela paciência e interesse demonstrados em seus depoimentos permitiram penetrar no universo dessa imigração. Agradecemos particularmente à Sra. Pina Falesi (in memoriam), que transmitiu tantas lembranças de seus familiares. À sra Nicoletta Crispino, memória viva de boa parte das famílias italianas que se radicaram em Belém. Um agradecimento especial aos que disponibilizaram fotografias e outros documentos de seus arquivos pessoais: Dino Priante, Francisco Mileo, Pedro Crispino, Giuseppina Emmi, Raphael Faraco e Ítalo Falesi. Aos amigos Igor Almeida e Fernando Pinheiro da Cruz pelo apoio em vários momentos da pesquisa. Ao Albano Gomes, pela dedicação na revisão do texto.

6 A minha mãe Yolanda, pelo exemplo de coragem e incentivo. Aos meus irmãos e irmãs, de modo particular à Tereza, pelo suporte recebido na realização do doutorado. Ao Giovanni, à Giovanna e à Gabrielle que, com compreensão, carinho e dedicação, têm participado de todas as emoções vividas na elaboração da tese.

7 Toda viagem destina-se a ultrapassar fronteiras, tanto dissolvendoas como recriando-as. Ao mesmo tempo que demarca diferenças, singularidades ou alteridades, demarca espaço e no tempo um eu nômade, reconhecendo as diversidades e tecendo as continuidades. Octavio Ianni Ricordarsi del proprio passato portarselo sempre dietro è forse la condizione necessaria per salvaguardare, come si suol dire, il proprio io. (Recordar-se do próprio passado, trazê-lo sempre consigo é talvez a condição necessária para salvaguardar, como costuma dizer-se, o próprio eu.) Milan Kundera

8 RESUMO Estudo sobre a contribuição dos imigrantes italianos no processo de desenvolvimento da Amazônia, no período , a pesquisa implicou na reconstrução da história social dessa imigração privilegiando as relações sociais, econômicas e políticas desse processo. Ao lado de uma preocupação mais estrutural, procurou-se investigar as raízes do processo migratório, destacando também a história das famílias de imigrantes. Espacialmente o estudo centrou-se na Amazônia, privilegiando os estados do Pará e do Amazonas onde a presença italiana foi mais numerosa. A pesquisa teve suporte documental e estatístico em censos demográficos, anuários estatísticos, arquivos primários, registros de viajantes, registro de pesquisadores e memória social expressa em entrevistas e depoimentos de descendentes de imigrantes. A pesquisa identificou dois segmentos ou grupos de imigrantes italianos que foram contemporâneos em sua vinda para a região: um veio para as colônias agrícolas e outro para diversas cidades amazônicas. Houve número significativo de comerciantes ou de artesãos trabalhando por conta própria nas cidades. A atividade comercial nos núcleos urbanos contribuiu para a ascensão social dos emigrados e seus descendentes e foi, em grande parte, complementar à atividade desenvolvida em pequenas fábricas. Os imigrantes italianos tiveram significativa participação no setor de beneficiamento de plantas oleaginosas, na fabricação de calçados, no setor da construção naval e no estado do Amazonas destacaram-se no início do século XX, como plantadores de guaraná e fabricantes de guaraná em bastão. Palavras-chave: imigração italiana, colônias agrícolas, comerciantes, identidade, guaraná.

9 ABSTRACT As a study of the contribution of Italian immigrants to the development of the Amazon between 1870 and 1950, the research sought to reconstruct the social history of Italian migration privileging social, economic and political relations. Taking a more structural approach, the author sought to investigate the roots of the migratory process, highlighting also the history of immigrants families. The study focused on the Amazon, with emphasis on the States of Pará and Amazonas where the Italian presence was concentrated. The research relied on the demographic censuses, statistical yearbooks, primary files, travelers registers, researchers registers and social memory expressed in the interviews and statements of immigrant descendants. The research identified two contemporaneous groups of Italian immigrants: one group migrated to agricultural colonies while the other migrated to Amazonian cities. There was a large number of merchants or artisans working independently in the cities. Involvement in urban commercial and manufacturing activity contributed to the social ascension of the immigrants and their descendants. The Italian immigrants had a significant participation in the oil seed processing sector, shoe production, and naval construction. In the State of Amazonas they distinguished themselves at the beginning of the 20th century, as guaraná planters and producers of guaraná sticks. Key-words: Italian immigration, agricultural colonies, merchants, identity, guaraná.

10 LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Planta da Colônia Annita Garibaldi, Figura 2 - Colônia Ianetama, Figura 3 - Mapa da Itália por divisão regional Figura 4 - Carta de Chamada de Giacomo Antonio Priante Figura 5 - Folha de Identificação para pedido de visto em passaporte estrangeiro de Giacomo Priante, Figura 6 - Mapa do baixo Amazonas, com destaque feito pela autora para os municípios que receberam o maior número de comerciantes italianos

11 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Tabela 2 - Tabela 3 - Tabela 4 - Tabela 5 - Tabela 6 - Tabela 7 - Tabela 8 - Entrevistados segundo nacionalidade, profissão, sexo, idade, família e cidade de destino Depoimentos espontâneos, local de envio do depoimento, família do depoente, cidade de destino da imigração da família.. 25 Entrada de imigrantes no Brasil, segundo as principais nacionalidades no período de População brasileira e estrangeira presente nos censos de População brasileira e estrangeira presente no Brasil, segundo as principais nacionalidades, nos censos de 1920, 1940 e População estrangeira nas províncias e nos estados nos censos de População estrangeira nas províncias e nos estados nos censos de Percentagem de estrangeiros em cada censo, da população da província e estado Emigrantes italianos para o Brasil, conforme a procedência regional. Períodos e Tabela 9 - Presença de italianos por estados em Tabela 10 - Entrada de estrangeiros no porto de Belém, Tabela 11 - População estrangeira no Pará e no Amazonas conforme a nacionalidade, Tabela 12 - Entrada de colonos em Benevides, segundo a nacionalidade Tabela 13 - Famílias italianas trazidas por Salvador Nicosia em Tabela 14 - Famílias italianas trazidas por Salvador Nicosia em 1899, conforme local de origem Tabela 15 - Composição das famílias trazidas por Nicosia em Tabela 16 - Colônias agrícolas existentes no Pará Tabela 17 - Distribuição da população italiana presente nos principais municípios receptores do estado do Pará, no censo de Tabela 18 - Distribuição da população italiana presente nos principais municípios receptores do estado do Amazonas, no censo de

12 Tabela 19 - Famílias calabresas, lucanas e campanas que chegaram até o início do século XX ao Pará e ao Amazonas, segundo região de origem Tabela 20 - Fazendas de italianos localizadas no estado do Pará por município, Tabela 21 - Comerciantes italianos estabelecidos na praça de Belém, segundo ano de chegada e região de origem, Tabela 22 - Estabelecimentos comerciais de italianos em Belém, fundados entre 1899 e Tabela 23 - Estabelecimentos industriais pertencentes a estrangeiros em 1920 nos estados do Amazonas e do Pará Tabela 24 - Comerciantes italianos estabelecidos em municípios do baixo Amazonas, segundo ano de chegada, região de origem e município de destino Tabela 25 - Estabelecimentos de comerciantes italianos localizados no baixo Amazonas, fundados entre 1888 e Tabela 26 - Comerciantes italianos estabelecidos no estado do Amazonas, segundo a região de origem, ano de chegada e município de destino Tabela 27 - Estabelecimentos comerciais de italianos no Amazonas, segundo município, ano de fundação e tipo de atividade,

13 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO A ITÁLIA NO CONTEXTO DAS GRANDES MIGRAÇÕES INTERNACIONAIS AS RAZÕES DA MIGRAÇÃO: A INTEGRAÇÃO DOS CONHECIMENTOS NA ANÁLISE DO PROCESSO MIGRATÓRIO OS MOVIMENTOS MIGRATÓRIOS E A EXPANSÃO DO CAPITALISMO EUROPEU A ITÁLIA EMIGRANTISTA O BRASIL DOS IMIGRANTES BRASIL COMO RECEPTOR DE VÁRIOS FLUXOS MIGRATÓRIOS OS IMIGRANTES NA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA OS ITALIANOS NO PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA AS TRAJETÓRIAS DOS ITALIANOS A IMIGRAÇÃO DE ITALIANOS NA AMAZÔNIA A IMIGRAÇÃO DIRIGIDA ÀS COLÔNIAS AGRÍCOLAS NA AMAZÔNIA NO FIM DO IMPÉRIO A política de imigração e colonização A colônia de Benevides NA PRIMEIRA REPÚBLICA A política de imigração e colonização Colônia Anita Garibaldi Colônia de Outeiro Colônia de Ianetama ITALIANOS NAS CIDADES AMAZÔNICAS ORIGEM AS CIDADES DE DESTINO TRAJETÓRIAS E ESTRATÉGIAS MIGRATÓRIAS CONTRIBUIÇÃO DA IMIGRAÇÃO DE ITALIANOS À ECONOMIA AMAZÔNICA INSERÇÃO DE ITALIANOS NO SETOR PRIMÁRIO INSERÇÃO DE ITALIANOS NO SETOR SERVIÇOS INSERÇÃO DE ITALIANOS NO COMÉRCIO E NA INDÚSTRIA Na capital paraense

14 6.3.2 No Baixo Amazonas No Estado do Amazonas A IDENTIDADE REDEFINIDA DE ITALIANOS NA AMAZÔNIA AS ASSOCIAÇÕES A IMPRENSA A POLÍTICA CONCLUSÕES E DESAFIOS DE PESQUISA REFERÊNCIAS ANEXOS

15 15 1 INTRODUÇÃO A imigração italiana para a Amazônia tem sua gênese nos movimentos migratórios derivados da expansão do capitalismo europeu em direção à América. No Brasil, as marcas da presença desses imigrantes na estrutura e na dinâmica populacional das várias regiões apresentam-se de forma diferenciada. As motivações dessas diferenças são resultantes da combinação de uma multiplicidade de fatores envolvidos no duplo movimento de emigração e imigração, que determinam as estratégias individuais e de grupos bem como a capacidade das diversas regiões brasileiras de acolher os imigrantes e promover sua inserção no contexto econômico e social. Nesta tese trata-se de estudar a vinda de italianos na época designada como Grande Imigração, mas para uma região muito distante daquelas que concentraram o grande fluxo migratório europeu, as regiões Sul e Sudeste e talvez por isso, com poucas referências na literatura que trata da imigração italiana no Brasil. Milhares fizeram um movimento migratório para a região Norte. Em 1920, os italianos constituíram quantitativamente a terceira nacionalidade européia nos estados do Pará e do Amazonas, nos quais somente foi suplantada pelos portugueses e espanhóis. Entretanto, não se conhece um estudo que realize com profundidade uma análise da historiografia sobre a imigração italiana na Amazônia e que reflita sobre o significado e a contribuição dessa corrente migratória no processo de construção da sociedade, na política e na economia regional, na introdução de novos padrões culturais, enfim uma investigação sobre os padrões de integração desse grupo na vida nacional. A constatação de que essa Amazônia, terra de imigrantes, é até o presente, pouco conhecida motiva e justifica estudar as raízes italianas no desenvolvimento dessa região.

16 16 Os primeiros deslocamentos de italianos para a Amazônia estão relacionados com o auge da borracha amazônica, eles vieram em sucessivas levas, podendo-se identificar dois grupos que apesar de contemporâneos na época de chegada (final do século XIX) se diferenciam quanto às razões norteadoras da migração, à composição social, à origem regional e às áreas de destino dentro da Amazônia. Um desses grupos emigrou com destino às colônias agrícolas, enquanto outro se dirigiu para diversas cidades amazônicas. São poucas as referências sobre esses fluxos migratórios na vasta literatura que trata da presença de italianos no Brasil. Existem esparsas informações sobre famílias de agricultores, que no final do século XIX, através de imigração subsidiada, vieram povoar as colônias agrícolas de Ianetama e Anita Garibaldi, localizadas ao longo da estrada de ferro Belém-Bragança. Essa presença é referida, sem maior aprofundamento, como uma experiência mal sucedida no sentido do desenvolvimento da atividade agrícola e da fixação local desses imigrantes (CENNI, 2003; TRENTO, 1989). Quanto aos italianos que vieram para as cidades amazônicas as referências são ainda mais escassas e pontuais. Tanto Cenni como Trento consideram que a imigração italiana para as cidades do Norte reduziu-se a um número muito limitado de indivíduos, entre os quais artesãos, comerciantes e poucos operários; uma imigração que segundo Trento, era espontânea, temporária e inconsistente, que teria vindo para a região no rastro da economia da borracha. Mas, relatos de viajantes do início do século XX (RONCA, 1908; ALIPRANDI; MARTINI, 1932) trazem elementos que de certo modo negam o caráter temporário, inconsistente e individual da imigração italiana nas cidades amazônicas. Eles informam sobre a presença de um grupo de famílias que se firmou no setor mercantil

17 17 de Manaus, de Belém e de outros municípios paraenses, sobretudo na região do baixo Amazonas. Alguns componentes desse grupo também estiveram presentes nos primórdios da indústria paraense (início do século XX), com a instalação de pequenas fábricas de calçados e de bebidas conforme foi registrado por Costa (1924). Esses primeiros italianos formaram um grupo que criou raízes por ter definido uma posição - embora secundária - nas atividades mercantis e profissionais na Amazônia. Entre outras, alinham-se no Pará as famílias Grisolia, Conte, Falesi, Verbicaro, Mileo, Calderaro, Florenzano, Vallinoto, Megale, Priante, Savino, Cerbino, Libonati e Tancredi e no Amazonas, as famílias Russo, Calderaro, Aronne, Cantisani, Celani, Biondin, Pelosi, Conte, Limongi, Cardelli, Desideri e Faraco. Investigar até que ponto a inserção desses italianos constituiu um diferencial econômico, político, social e cultural na Amazônia constituiu a questão central desta pesquisa. A busca de respostas a esse questionamento e a outros a ele relacionados implicou na reconstrução da história social dessa imigração do fim do século XIX às primeiras décadas do século XX privilegiando as relações sociais, econômicas e políticas desse processo. Ao lado de uma preocupação mais estrutural, procurou-se investigar as raízes do processo migratório, destacando também a história das famílias de imigrantes. A pesquisa foi norteada pelos seguintes pressupostos: 1) Os imigrantes italianos inseriram-se em condições diferenciadas no desenvolvimento do comércio e de serviços em certas áreas da Amazônia, o que se relaciona com a organização social do grupo; 2) A identificação das posições sociais ocupadas por categorias de imigrantes da Itália guarda relação com as hierarquias sociais internas (intra-grupo) e externas dos campos de negócios, profissionais e de mudanças em diversos contextos da história da Amazônia; 3) O fortalecimento da comunidade italiana em

18 18 algumas cidades da Amazônia (Belém, Manaus e cidades do baixo Amazonas) foi motivado pela existência de redes familiares formadas pelos primeiros imigrantes que aí se estabeleceram e foi alimentada pela chegada de parentes das mesmas regiões e províncias de origem. O recorte temporal do estudo ( ) cobre momentos significativos: a chegada dos primeiros imigrantes (fim do século XIX) e a intensificação da imigração ( ), em que a maioria ainda acalentava enriquecer na Amazônia e voltar para seu país. Num terceiro momento, os imigrantes vieram sob outras circunstâncias e dificuldades decorrentes da Segunda Guerra Mundial. Segue-se a trajetória de grupos familiares até A partir dessa década, registra-se sensível declínio da imigração italiana no Brasil e na Amazônia, ativa-se a integração da Amazônia ao Centro-Sul do país, a dispersão dos grupos e a ênfase nas carreiras profissionais. Espacialmente, o estudo centra-se na Amazônia, privilegiando os estados do Pará e do Amazonas onde a presença italiana foi mais numerosa e onde podem ser encontrados muitos descendentes da segunda geração desses imigrantes. As reflexões realizadas sobre o movimento emigração-imigração se aproximam dos aportes desenvolvidos por Sayad (1998) quanto à dupla dimensão de fato coletivo e de itinerário individual, que de forma dialética esse movimento populacional comporta. A esse pensamento são incorporadas contribuições recentes de historiadores italianos, entre os quais, Cappelli (2005; 2006; 2007), Tirabassi (2005; 2006) e da ítalo-americana Gabbacia (1997, 2005), sobretudo na discussão sobre a inclusão de fatores culturais entre as razões da emigração italiana. Sobre imigração italiana no Brasil as pesquisas de Bassanezi (1995; 1998), Alvim (1986; 2000), Constantino (1991; 1999; 2000), Castiglioni (1996; 1998) Castiglioni e Colbari

19 19 (2003) constituem aportes importantes para se pensar em imigrações italianas, no plural, devido às singularidades dos vários processos de imigração nas diferentes regiões brasileiras. As reflexões sobre a construção e a reconstrução da identidade dos italianos na Amazônia tiveram importante apoio em Barth (1976) e Seyferth (2005). A pesquisa teve suporte documental e estatístico em censos demográficos ( ), anuários estatísticos, arquivos primários, registro de viajantes, registro de pesquisadores e memória social. Nos censos demográficos, fonte tradicional dos estudos populacionais, a população estrangeira é tomada como uma unidade para a coleta de dados. São poucos os registros dos estrangeiros conforme nacionalidade específica, o que constitui um fator limitante na recuperação da demografia dos italianos. Segundo Mortara, O recenseamento mais fidedigno, anterior ao último, de 1940, é o de 1872, realizado antes do início das imigrações de grande amplitude, que caracterizaram os cinco últimos lustros do século XIX e os três primeiros do XX. No recenseamento de 1890 a apuração dos estrangeiros ficou irreparavelmente afetada pelas apressadas interpretações das normas da nova Constituição referentes à naturalização. O recenseamento de 1900 ficou inacabado e foi completado mediante conjeturas. O de 1920 teve êxito muito melhor, mas parece que os dados sofreram, antes da publicação algumas correções, que, visando aproximá-los da verdade, de fato os afastaram dela. Entretanto, o último recenseamento do Brasil, o de 1940, tendo sido realizado conforme a diretriz rigorosa de fotografar a situação real, sem retoques, ofereceu uma base certa, que dantes faltava, para a execução do indispensável trabalho de revisão crítica dos levantamentos e das estimativas anteriores (MORTARA, 1950, p. 323). Embora reconhecendo os limites dos recenseamentos apontados por Mortara (1950), em estudo sobre a imigração italiana no Brasil, Bassanezzi (1998) considera que essa fonte não deve ser descartada, sua importância reside na possibilidade de

20 20 permitir comparação dessa presença nos vários estados da federação, uma vez que têm abrangência nacional. Para o estudo da imigração italiana na Amazônia, mesmo levando em conta os limites apontados por Mortara (1950) e as observações de Bassanezzi (1998), os dados dos censos revelaram-se úteis no sentido de mostrar a diferenciada presença de italianos em estados que são englobados na categoria outros, nos estudos sobre imigração italiana no Brasil. Por outro lado, o censo de 1920, cuja legitimidade dos dados é questionada pelos pesquisadores anteriormente referidos, em se tratando de Amazônia é muito importante, pois se refere ao momento de maior intensificação da presença italiana na região, como foi reportado em relatos de viajantes, em depoimentos e em outras fontes, além de permitir situar esse fluxo migratório no conjunto dos estrangeiros que se deslocaram para a Amazônia. A pesquisa no acervo da antiga Repartição de Terras e Colonização do Pará que se encontra no Arquivo Público do Pará constituiu fonte importante para obtenção de dados sobre as famílias que vieram para as colônias agrícolas de Ianetama, Garibaldi e Outeiro. Essa documentação manuscrita, datada de 1899, apesar de incompleta e em precário estado de conservação, pela riqueza das informações contidas quanto à identificação das famílias, a origem regional, composição do grupo familiar, entre outras, foi muito útil nesta pesquisa. A reconstituição do processo migratório para as cidades amazônicas foi dificultada pela ausência de registro nominal da entrada desses imigrantes nas capitais, ponto de partida para as cidades de destino. Boa parte da documentação que existia na sede do Consulado do Pará foi destruída, em 1942, em meio à onda de perseguições aos imigrantes italianos, alemães e japoneses no contexto da

21 21 Segunda Guerra Mundial 1. Entretanto, nos arquivos do atual Vice-Consulado do Pará, tivemos acesso a registros manuscritos, com informações detalhadas sobre algumas famílias, essas informações aliadas aos dados obtidos nas entrevistas e em depoimentos e complementadas com os relatos de viajantes, constituíram rico material de análise. A pesquisa nos arquivos da Junta Comercial do Pará (JUCEPA) revelou-se útil na complementação e atualização alguns dados sobre as firmas comerciais dos italianos. Entretanto, o acesso aos dados dos arquivos da JUCEPA foi dificultado pela sistemática utilizada no processamento das informações. As firmas são agrupadas por município, ano e tipo de atividade comercial, entretanto não se registra a nacionalidade dos titulares. Desse modo poucas firmas de italianos puderam ser identificadas. Entre os relatos de viajantes italianos, consultamos o Dalle Antille alle Gujane e all Amazzonia (Das Antilhas às Guianas e à Amazônia) do capitão Gregório Ronca, oficial da marinha militar italiana que em 1905, percorreu as Antilhas e as Guianas subindo o rio Amazonas até Iquitos no Peru. Em seu longo relatório Ronca (1908) descreve as comunidades italianas encontradas, entre elas, as de Belém, Santarém, Óbidos e Manaus, centrando suas observações nas atividades comerciais desses emigrantes. Os relatos foram importantes para confirmar a existência de comunidades italianas espalhadas em vários municípios da região no início do século XX e de um comércio que não se restringia apenas à borracha, mas a outros produtos regionais como cacau, castanha e pirarucu. As informações entretanto, são 1 Até o início do século XX, havia um vice-consulado italiano em Belém e uma agência consular em Manaus. Em 1929 o consulado italiano que tinha sede na Bahia foi transferido para Belém, a agência consular de Manaus foi elevada a vice-consulado e foi criada a agência consular de Óbidos. Essa situação permaneceu até o fim da Segunda Guerra Mundial, quando em 1946, as representações diplomáticas da Amazônia reduziram-se a dois vice-consulados, o de Belém e o de Manaus e passaram à jurisdição de Recife (TRENTO, 1989), situação que permanece até hoje.

22 22 genéricas e bastante limitadas quanto à época de chegada desses italianos, à identificação das famílias e à localização dos estabelecimentos comerciais. Outro interessante relato de viagem foi o produzido por Aliprandi e Martini (1932). Apesar do título Gli Italiani nel Nord Del Brasile - Rassegna delle vite e delle opere della stirpe itálica negli stati del nord brasiliano (Os italianos no Norte do Brasil - Resenha da vida e do trabalho do povo italiano nos estados do Norte do Brasil), traz na realidade informações sobre empresas comerciais de origem italiana em diversos estados do Norte e do Nordeste, do Amazonas à Bahia. A riqueza de dados encontrados nesse trabalho ajudou na reflexão sobre as estratégias migratórias, as trajetórias, a composição familiar, os ramos comerciais e outros aspectos da vida dos italianos nas cidades amazônicas, embora restritos à situação que se encontravam em A principal limitação dessa resenha reside no caráter nitidamente político da publicação. Como sua circulação esteve sob a responsabilidade do então Consulado da Itália de Belém no ano do décimo aniversário do regime fascista, os autores procuraram, de acordo com a visão oficial do governo italiano da época, enfatizar a participação dos imigrantes italianos nos partidos fascistas, como se essa fosse única opção política de toda a colônia italiana da Amazônia, nessa época. Por meio da imprensa, tivemos oportunidade de contextualizar a atuação das associações de imigrantes italianos. Os jornais da década de 1930, sobretudo A Folha do Norte de 1933/1934, registram não só a participação dessas associações em eventos sociais, como também fornecem indícios da existência de uma certa competição entre os membros das duas principais associações que congregavam os italianos do estado do Pará, a Società Italiana di Beneficenza e a Unione Italiana d Istruzione e Mutuo Soccorso.

23 23 As pesquisas de Levy (1974) e de Trento (1998) forneceram dados estatísticos importantes sobre a evolução da imigração italiana no Brasil, permitindo situar a imigração italiana no contexto das grandes migrações internacionais. Sobre as colônias agrícolas instaladas no Pará no fim do Império e início da República, a principal fonte de dados estatísticos foi o trabalho de João da Palma Muniz (1916). A esse importante trabalho, agregamos as contribuições de Cruz (1955) e os resultados da pesquisa de Penteado (1967), da qual se reproduziu nesta tese as plantas das colônias Anita Garibaldi e Ianetama. Com as entrevistas construiu-se o que se chamou de memória social da imigração italiana na Amazônia. Trata-se de depoimentos de italianos e de descendentes da segunda geração (alguns com mais de 80 anos) que não somente conhecem a história de suas famílias, como também de outras que com elas conviveram e das quais não localizamos descendentes. Essa memória social foi importante no fornecimento de informações sobre trajetórias e estratégias migratórias, relações familiares, casamentos, associações, atividades econômicas, sobre o cotidiano desses imigrantes nas cidades amazônicas no início do século XX. No quadro a seguir relacionamos elementos que compõem o perfil dos entrevistados. Eles pertencem à segunda geração dos que chegaram à região até a década de A idade e a diversidade das cidades de destino dos imigrantes nortearam a escolha desses entrevistados. A maioria das entrevistas foi realizada em Belém, local da residência atual dos entrevistados. Em alguns casos, outros meios foram utilizados como telefone, e cartas (Tabela 1).

24 24 Tabela 1 - Entrevistados segundo nacionalidade, profissão, sexo, idade, família e cidade de destino da imigração familiar Número da entrevista Nacionalidade do entrevistado Profissão/ ocupação que exerce ou exerceu Idade Sexo Família Cidade de destino da imigração da família Data da entrevista 1 Ítalo-brasileiro Engenheiro 56 M Priante Óbidos/PA Brasileira Professora 72 F Emmi Belém/PA Brasileiro Advogado 72 M Mileo Oriximiná/PA Ítalo-brasileira Administradora 65 F Tancredi Juruti/PA Brasileira Comerciante 84 F Falesi Belém/PA Brasileiro Engenheiro 50 M Megale Alenquer/PA Italiana Dona de casa 83 F Guaglianone Juruti/PA Italiana Comerciaria 81 F Crispino Belém/PA Brasileiro Comerciante 82 M Cerbino Belém/PA Brasileira Comerciante 87 F Pollaro Faro/PA Brasileiro Advogado 75 M Crispino Belém/PA Brasileira Professora 80 F Calderaro Santarém/PA Mileo 13 Brasileiro Jornalista S/I M Ferrari Óbidos/PA Brasileiro Advogado 76 M Faraco Maués/AM Brasileiro Médico 51 M Russo Manaus/AM Brasileiro Comerciante 80 M Magaldi Maués/AM Fonte: Arquivo da autora, 2005/2007. Observou-se grande interesse por parte dos entrevistados no resgate e registro das histórias de suas famílias, inclusive disponibilizando fotografias e documentos (passaportes, carta de chamada, arquivos pessoais). Houve casos de recebermos pelo correio ou por meio eletrônico, dados complementares aos depoimentos. Registra-se ainda uma fonte de dados não prevista no início da pesquisa e que funcionou com uma fonte complementar às entrevistas. Trata-se de depoimentos voluntários de descendentes de italianos, que morando no Pará, em outros estados e até mesmo no exterior, ao tomarem conhecimento da realização da pesquisa mandaram espontaneamente, através de , depoimentos sobre suas

25 25 famílias. Pela importância das informações neles contidas, uma vez que em alguns casos referiam-se a imigrantes que pela época de chegada e ausência de informação em qualquer fonte, dificilmente poderia se registrar essa presença, resolveu-se incorporar esse material nas análises (Tabela 2). Número Tabela 2 - Depoimentos espontâneos, local de envio do depoimento, família do depoente, cidade de destino da imigração da família Local de envio do depoimento Família Cidade de destino da imigração Data 1 Abaetetuba/PA Calliari Parente Abaetetuba/PA Estados Unidos Frediani Benevides/PA Castanhal/PA Marigliani Belém/PA Rio de Janeiro/RJ Calderaro Juruti/PA Aracaju/ SE Nicodemo Santa Izabel/PA Recife/PE Schivazappa Belém/PA Belém/PA Aliverti Belém/PA Fonte: Arquivo da autora, 2005/2007. A apresentação dos resultados da pesquisa está relacionada com os questionamentos inicialmente colocados e os que foram suscitados ao longo da pesquisa. Desse modo a tese está composta, além desta Introdução por seis capítulos: A Itália no contexto das grandes migrações internacionais; O Brasil dos imigrantes; A imigração dirigida às colônias agrícolas; Os italianos nas cidades amazônicas; Contribuição dos italianos à economia amazônica; A identidade redefinida de italianos na Amazônia e, finalmente as conclusões do estudo.

26 26 2 A ITÁLIA NO CONTEXTO DAS GRANDES MIGRAÇÕES INTERNACIONAIS Por que as pessoas migram? Por que no período da chamada Grande Migração, milhares de europeus entre eles os italianos deixaram o velho continente em direção à América? A resposta a esses questionamentos remete a uma discussão mais ampla sobre uma das grandes questões envolvidas nos sucessivos processos de globalização, ou seja, a mobilidade de pessoas e grupos que constitui um fenômeno conjuntamente demográfico, político, social e cultural. Orientamos nossas reflexões neste capítulo, examinando como a questão referente às causas da imigração tem sido colocada no âmbito das ciências sociais, seguida de uma análise sobre o movimento migratório para a América no contexto da expansão do capitalismo europeu, para finalmente situar as razões do emigrantismo italiano na literatura especializada sobre imigração italiana. 2.1 AS RAZÕES DA MIGRAÇÃO: A INTEGRAÇÃO DOS CONHECIMENTOS NA ANÁLISE DO PROCESSO MIGRATÓRIO A realidade migratória na história da humanidade é antiga. Ela abrange não somente os movimentos populacionais do Velho Mundo, como também os de conquista do Novo Mundo. Entretanto, o uso do termo emigração para caracterizar a saída de contingentes populacionais de determinado território e do termo imigração para indicar a entrada desses contingentes em outro território, está ligado aos deslocamentos populacionais intercontinentais que se acentuaram no fim do século XIX e de modo especial no início do século XX, quando se tornou corrente na historiografia contemporânea identificar como migrações internacionais os movimentos demográficos do período conhecido como Grande Imigração (GIRON,1999).

27 27 Para Richmond (1988), a migração constitui um campo de estudos interdisciplinares. Esse pensador destaca importantes contribuições de arqueólogos, antropólogos, historiadores, geógrafos, demógrafos, economistas, psicólogos sociais e cientistas políticos sobre os movimentos populacionais ao longo da história. Entre essas contribuições, elenca os estudos sobre a influência do comércio na distribuição das populações e dos contatos entre as culturas, a mensuração das relações espaciais de imigrantes e grupos étnicos em regiões selecionadas, as conseqüências das remessas dos pagamentos enviados pelos imigrantes aos países de origem, as questões relativas à semelhança de motivações que leva umas pessoas se deslocarem no espaço e outras não e as causas políticas das relações internacionais. Sayad (1998) chama atenção para os diferentes espaços que o processo migratório comporta, considerando que a imigração não se circunscreve apenas ao espaço físico, embora este seja o mais visível. Esse espaço é constituído pelas relações sociais que os homens mantém entre si e com a natureza, por esse motivo é qualificado nos planos social, econômico, político e cultural, entre outros. Além destes existe ainda um espaço real e um espaço imaginário no qual a ruptura das relações é sentida em diferentes graus. A existência de vários espaços imbricados no processo migratório credenciaria compreender a imigração como um fato social total, uma vez que Todo o itinerário do imigrante é, pode-se dizer, um itinerário epistemológico, um itinerário que se dá, de certa forma, no cruzamento das ciências sociais, como ponto de encontro de inúmeras disciplinas, história, geografia, demografia, economia, direito, sociologia, psicologia social e até mesmo das ciências cognitivas, antropologia em suas diversas formas, lingüística, sociolingüística, ciência política etc. (SAYAD, 1998, p.15).

28 28 A constatação da existência desses vários espaços qualificados tem permitido diferentes leituras da imigração por estudiosos das Ciências Sociais, como Geografia, Demografia Histórica, Sociologia, Economia etc. que não são leituras excludentes, ao contrário, as fronteiras entre elas sugerem cada vez mais a importância da integração de conhecimentos na compreensão do processo migratório. As grandes migrações européias dos fins do século XIX, não constituíam no pensamento dos clássicos da sociologia, segundo Richmond (1998) um problema relevante de estudo. Para esse pensador, tanto Malthus, como Marx, Durkheim e Weber consideravam que tal como a urbanização e a industrialização, a migração também seria resultante do processo de desenvolvimento do capitalismo. Entretanto, cada um desses pensadores conduzia a explicação dos movimentos migratórios de maneira peculiar, conforme a síntese de Richmond apresentada a seguir. Para Malthus a superpopulação da Europa era responsável pela emigração de pessoas que, fugindo da pobreza e da miséria, dirigiam-se à América, uma vez que em seus países de origem não havia tecnologia que permitisse alimentar uma população que crescia em ordem geométrica. Marx, discordando da visão determinista de Malthus quanto à inevitabilidade da situação de pobreza, situava a emigração dentro de uma perspectiva de antagonismo de classes, fruto da expansão capitalista. Era a sede de lucro dos capitalistas que resultava no rebaixamento dos salários, um dos principais elementos motivadores das emigrações. Assinalava que nesse processo o Estado através de medidas como os movimentos de cercamentos (enclosures), as autorizações de

29 29 partida e assistência estatal aos deslocamentos (passagens subsidiadas) de certo modo forçava a emigração de camponeses e de pequenos proprietários. Durkheim considerava o processo migratório como nocivo e problemático para os imigrantes, uma vez que resultava na quebra dos laços de solidariedade mecânica que os unia em suas comunidades de origem. A integração na sociedade de destino que significava a passagem para a solidariedade orgânica, apoiada numa divisão social do trabalho e interdependência econômica, muitas vezes era acompanhada por uma quebra no sistema de valores comuns. O resultado desse quadro poderia conduzir a condutas patológicas como delinqüência, suicídio e vários tipos de conflito, nas sociedades de destino. Weber também via a imigração como um fator de desagregação social e chamava atenção para o valor da religião ética protestante não só como condição necessária para acumulação do capital como também para disciplinar a força de trabalho que passava a constituir novas classes e grupos étnicos (RICHMOND, 1988). Refletindo sobre essas contribuições consideramos que embora no pensamento desses autores a migração seja vista como conseqüência do capitalismo, o diferencial reside no entendimento da situação de pobreza do emigrante: causa natural, individual, inevitável (Malthus) ou produto de uma relação social de desigualdade (Marx) ou ainda nas conseqüências dessa situação como fator de desagregação social (Durkheim e Weber). Os crescentes movimentos populacionais da Europa em direção à América, verificados no início do século XX, levaram os sociólogos norte-americanos a transformar o tema da migração num objeto de estudo cujo referencial principal foi a produção da Escola de Chicago. Nesses estudos, que faziam fronteira com a

30 30 História, a Psicologia Social e a Antropologia a preocupação principal dos sociólogos não era com as causas da imigração, mas estava centrada no modo como ocorreriam os processos de adaptação, aculturação e assimilação dos grupos de imigrantes na sociedade americana. Para esses teóricos haveria uma completa assimilação estrutural e cultural, o chamado melting pot (RICHMOND, 1988). Richmond conclui afirmando que não existe consenso entre os sociólogos, na identificação das causas das migrações. Trabalhando com micro ou macro níveis de análise, esses cientistas sociais estão divididos de um modo geral entre aqueles que desenvolvem suas reflexões dentro de uma tradição positivista enfatizando a natureza voluntária da ação humana e do pensamento individual nas decisões da imigração e os que trabalham dentro de uma perspectiva de antagonismos de classes nas raízes do processo migratório, enfatizando o caráter social do processo migratório. Chamando a atenção para a falta de consenso em torno das causas da imigração, o historiador Herbert Klein (2000) sugere que a resposta ao questionamento proposto esteja relacionada com o peso e o equilíbrio dos fatores de expulsão e de atração. Entre os primeiros, estariam as condições econômicas, as perseguições às minorias decorrentes de sua nacionalidade ou crença religiosa e muito raramente ao espírito de aventura. Considerando as condições econômicas como o principal fator de expulsão seria necessário saber por que essas condições mudam e identificar os fatores determinantes do agravamento da situação que torna os emigrantes potencialmente incapazes de enfrentá-la. Entre os fatores determinantes estariam (1) o acesso à

31 31 terra e portanto ao alimento; (2) a variação da produtividade da terra e (3) o número de membros da família que precisam ser alimentados. As grandes migrações dos séculos XIX e XX seriam, portanto, para o historiador, o resultado de uma combinação desses três fatores. A chamada transição demográfica, iniciada na Europa ocidental em meados do século XVIII, isto é, um período no qual as taxas de mortalidade decresceram progressivamente ao mesmo tempo em que persistiram taxas altas de natalidade, teria exercido grande influência nas migrações uma vez que o crescimento da população pressionava o setor agrícola dos diversos países. Por outro lado, nesse contexto, a atração principal exercida pelo continente americano era a disponibilidade de terra e a oferta de trabalho. A possibilidade de conseguir suas próprias fazendas, de modo particular, exercia forte atração para os imigrantes que vislumbravam enriquecer e depois voltar a seu país de origem. Partindo de um outro ponto de vista, o sociólogo argelino Abdelmaleck Sayad (1998) considera que a análise da imigração implica em pensar a sociedade como um todo, não só em sua dimensão diacrônica, numa perspectiva histórica, como também em sua extensão sincrônica, levando em conta o funcionamento das estruturas sociais. A determinação das causas da imigração implica em ter presente o movimento de emigração e imigração em sua dupla dimensão de fato coletivo e itinerário individual, ou seja, a trajetória e as experiências singulares dos emigrantes/imigrantes. A imigração é, pois, um processo social de mobilidade de grupos que se origina em estruturas sociais espacialmente delimitadas. Mas, esse processo social contempla e nele têm lugar, diferentes trajetórias com suas particularidades, permitindo desse modo que se perceba a diferenciação entre e

32 32 dentro dos vários fluxos migratórios, na qualidade de emigrante e na condição de imigrante. Conforme o mesmo autor, na análise da imigração, o ponto de partida deve ser constituído pelo estudo da emigração, isto é, o estudo das condições sociais que a produziram e das transformações destas mesmas condições que vão resultar nas transformações da emigração. A seguir viria o estudo das condições de existência na imigração, permitindo desse modo incorporar à análise os novos espaços trilhados pelo imigrante na sociedade que o acolheu e as mudanças decorrentes dessa inserção. Finalmente Sayad (1998) conclui que, do ponto de vista da sociedade de destino, as causas mais apontadas para a imigração seriam o déficit demográfico, a forte expansão econômica de determinados períodos e a estrutura do mercado de trabalho. Sem desconsiderar a importância desses fatores, afirma o autor, esse modo de explicação seria mais adequado se fosse lembrado que antes de nascer para a imigração a condição inicial é a de emigrante, por isso as causas devem ser buscadas primeiramente na sociedade de origem que determinou sua condição de emigrante. Aproximando-nos dessas reflexões de Sayad, consideramos pertinente no estudo sobre as raízes italianas no desenvolvimento da Amazônia conduzir a investigação sobre esse segmento migratório, situando-o no contexto das grandes migrações internacionais, destacando os diferentes fatores que na pátria-mãe os conduziram à condição de imigrantes, bem como analisar as diferenciações individuais e de grupo que condicionaram as diversas trajetórias desses imigrantes. Aceitando como pressuposto que as migrações internacionais do fim do século XIX e início do século XX foram resultantes do processo de expansão do

33 33 capitalismo, as contribuições de Sayad permitem examinar as causas da imigração italiana para a Amazônia, escapando de uma análise em que se busca uma determinação mecânica, reduzida exclusivamente a fatores econômicos mas, numa relação dialética, em que a multiplicidade de fatores envolvidos, demanda uma análise interdisciplinar das migrações. 2.2 OS MOVIMENTOS MIGRATÓRIOS E A EXPANSÃO DO CAPITALISMO EUROPEU Os países europeus vivenciaram ao longo do século XIX diferentes processos de transição demográfica, caracterizados pelo contemporâneo aumento das taxas de natalidade e o decréscimo das taxas de mortalidade resultando na aceleração do crescimento demográfico. Esses processos aliados às mudanças pelas quais passava o capitalismo, em decorrência da Segunda Revolução Industrial, trouxeram como resultado uma acentuação nas emigrações européias a partir da segunda metade do século XIX. Apesar da desaceleração posterior do crescimento vegetativo da população, o significativo progresso técnico da indústria e, seguido pelo verificado na agricultura na maioria dos países europeus contribuiu para gerar um excedente demográfico que a economia não tinha capacidade de absorver. Esse excedente foi canalizado para o continente americano. Desse modo as migrações internacionais transoceânicas têm sua gênese na reestruturação produtiva do capitalismo que possibilitou a integração econômica mundial apoiada no progresso técnico dos transportes e das comunicações (HOBSBAWM, 1977).

34 34 Embora desde o século XVI se assistisse ao deslocamento de populações européias em direção à América é a partir do século XIX que esse movimento vai se intensificar. Segundo Klein (2000), esse deslocamento apresenta quatro grandes períodos. O primeiro, chamado de Velha Imigração, vai do século XVI até 1880; o segundo de 1881 até a Primeira Guerra Mundial é conhecido como Grande Imigração; o terceiro que é considerado como declínio da migração internacional vai da eclosão da Primeira Guerra Mundial até a Segunda Grande Guerra. O quarto é o cenário pós-guerra. No período da Velha Imigração 11,8 milhões de europeus se deslocaram para a América. Esse grupo constituído basicamente por camponeses irlandeses e alemães e em menor número italianos dirigiu-se em sua maioria para os Estados Unidos, Canadá, Brasil e Argentina. Nesse período deu-se ainda a chegada forçada de africanos, tendo o Brasil como principal país receptor. Tendo absorvido durante o século XVIII, 1,9 milhões de africanos, de 1810 até o fim do tráfico negreiro, o Brasil recebeu mais 1,1 milhão desses estrangeiros (KLEIN,2000). A penúltima década do século XIX vai marcar um momento importante na migração européia. Nos fins do século XIX e, sobretudo nas duas primeiras décadas do século XX, assistiu-se uma intensificação do movimento migratório. Esse período ficou conhecido como da Grande Migração, movimento populacional que teve como condicionantes o avanço tecnológico (energia a vapor, cabo telegráfico transatlântico, ligações ferroviárias), possibilitando aos europeus informações sobre as condições de emprego e de acesso à terra nos países americanos. Nessa época, a terra na Europa era cara e a mão-de-obra era barata. O inverso se dava nos países americanos, o que motivava a busca por essas terras.

35 35 Os principais países de destino dos 31 milhões de imigrantes que chegaram à América de 1881 a 1915 foram Estados Unidos que receberam 21 milhões, Argentina (4,2 milhões), Brasil (2,9 milhões) e Canadá (2,5 milhões). Esse período vai marcar importante mudança na origem desses imigrantes. Apesar de os países europeus tradicionais como a Irlanda e a Alemanha continuarem a ter posição destacada no movimento emigratório, alguns países do Sul e do Leste europeu passaram a se destacar como exportadores de trabalhadores. Da Itália vieram cerca de 7,7 milhões de trabalhadores, do Império Austro-húngaro 4,2 milhões, da Espanha 3,2 milhões, da Rússia e Polônia 2,5 milhões e, de Portugal um milhão, que se dividiram entre os Estados Unidos e o Brasil que recebeu cerca de 80% desses emigrantes portugueses (KLEIN, 2000). A mudança nas regiões de origem desses imigrantes está diretamente relacionada com mudanças ocorridas nos vários países europeus: a transição demográfica aconteceu tardiamente na Europa oriental e meridional e os governos tornaram-se mais inclinados a apoiar a emigração, motivados pelo crescimento da pressão sobre a terra e a população (KLEIN, 2000). Esse período foi marcado pela imigração maciça de italianos provenientes, inicialmente, da Itália setentrional, de onde muitos já haviam emigrado para outros países europeus. Mas, no início do século XX é a Itália meridional que vai entrar e se firmar nesse processo migratório. Conforme o mesmo autor, essa imigração italiana caracterizava-se por ser composta de jovens adultos do sexo masculino que procuravam emprego temporário ou permanente no país de destino. Eles objetivavam acumular poupança para desfrutar melhores condições de vida em sua pátria. Isso implicava em aceitar até mesmo trabalho de baixo status, porque os salários eram melhores do que

36 36 receberiam em seus países de origem pelo desempenho das mesmas atividades. Alguns foram beneficiados por essa estratégia o que lhes permitiu o regresso aos países de origem. Para outros, à medida que assimilavam novas culturas a expectativa direcionou-se no sentido de alcançar mobilidade social na América. Esses imigrantes mandaram buscar suas famílias ou suas noivas européias. Apesar da primeira geração ser endogâmica em seus arranjos matrimoniais, à medida que começaram a integrar-se ao ambiente americano esse padrão foi se modificando. Na história das migrações internacionais, a Primeira Guerra Mundial constituiu um momento marcante. A eclosão do conflito em 1914 trouxe como conseqüência a brusca diminuição dos fluxos migratórios para a América. Em 1920 assistiu-se uma retomada nesse movimento sem, contudo se aproximar da intensidade com que se davam as imigrações no período anterior à guerra. Entre os fatores determinantes dessa situação estão a queda dos preços de produtos primários americanos no mercado mundial, e o início da Grande Depressão. Após 1929, esses fatores contribuíram não só para limitar os mercados de trabalho nacionais como também para criar um sentimento anti-estrangeiro que contribuiu para tornar as políticas migratórias dos países americanos, cada vez mais restritivas (KLEIN, 2000). Por outro lado, algumas mudanças ocorridas na Europa desestimulavam a emigração. Entre elas o surgimento de um novo nacionalismo, a queda das taxas de natalidade, a expansão dos mercados locais decorrente da chegada da industrialização à Europa oriental e meridional. Todos esses fatores contribuíam para que a pressão a emigrar fosse diminuída. Durante a Segunda Guerra Mundial registrou-se o mais baixo índice de emigração de todo o período. O pós-guerra vai inaugurar um período em que os fluxos migratórios que se dirigiam à América se

37 37 distanciam em motivações, objetivos, composição social e países de destino, da situação que caracterizou a Grande Imigração. 2.3 A ITÁLIA EMIGRANTISTA Por que um enorme contingente de italianos, em fins do século XIX e início do século XX deixou sua pátria em direção à América? De um modo geral, na historiografia sobre imigração italiana no Brasil, a origem da emigração tem sido associada aos graves problemas econômicos ocorridos na Itália desde o início de seu processo de unificação em 1861 e que se agravaram no decorrer século XIX, quando às dificuldades vivenciadas pelos pequenos agricultores se somaram às dificuldades da enorme mão de obra disponível que a industrialização da região setentrional não conseguia absorver (ALVIM 1986; DE BONI, 1998; TRENTO, 1989; CONSTANTINO, 1999). Nesse sentido, Trento (1989) é enfático em sua afirmação: Miséria! Esta é a verdadeira e exclusiva causa da emigração transoceânica entre 1880 e a Primeira Guerra mundial. Mais em particular, a febre emigratória disse respeito por alguns anos ao Brasil, assimilando tout court à América nas cantigas rurais, concisas mas amplamente alusivas às motivações de desforra em relação aos proprietários fundiários [...] A fuga inclusive a pé em pleno inverno, para chegar ao porto de embarque - Gênova - envolvia aldeias inteiras e podia assumir aspectos de verdadeira libertação (TRENTO, 1989, p. 30). Para esse autor os motivos de ordem econômica estavam relacionados com os problemas decorrentes da depressão agrícola italiana dos anos 1880, entre os quais a escassez de alimentos, impossibilidade de conseguir dinheiro vivo até para as primeiras necessidades e o imposto sobre a farinha uma vez que o não pagamento poderia resultar no confisco sobre a propriedade.

38 38 que Constantino (1999), situando-se nessa mesma linha de interpretação, acrescenta a industrialização na Itália setentrional não absorvia a mão-de-obra disponível e tornava inviável a concorrência de artífices e artesãos, justamente quando a pressão demográfica se intensificava pela alta taxa de natalidade registrada na segunda metade do século XIX. A crise italiana faz da imigração um fenômeno de massas (CONSTANTINO, 1999, p. 59). Alguns autores argumentam a necessidade de aprofundar a discussão e ver a importância de outros fatores explicativos da emigração italiana (GABBACIA, 1997; BASSANEZI, 1995; BERNASCONI, 2000). Segundo Gabbacia (1997), essa emigração tem sido pensada como conseqüência de uma industrialização retardatária, limitada regionalmente e da paralela estagnação econômica do Mezzogiorno (sul da Itália) e como um movimento permanente dos meridionais que se dirigiram aos Estados Unidos industrializados ou à América em geral. Entretanto, novas pesquisas sobre emigração de diferentes regiões italianas e sobre imigração nos países receptores de todo o mundo têm colocado em discussão alguns aspectos dessa interpretação do fenômeno migratório na história da Itália. A imigração italiana não seria, então, uma resposta limitada somente à crise econômica do fim do século XIX e do início do século XX, uma vez que a imigração em direção à América precedeu de longa data a crise econômica do século XIX e início do século XX sugerindo outras causas para a emigração. Cerca de meio milhão de italianos já viviam fora da Itália na época da unificação e provavelmente entre um e dois milhões haviam deixado a península antes de Por outro lado, a emigração italiana não cessou com a Primeira Guerra Mundial: 2,6 milhões de pessoas emigraram entre 1916 e 1925 e um milhão e meio entre 1926 e 1935, além do que depois de 1946 até os anos 1960, seis milhões de italianos deixaram o país.

39 39 Outro ponto destacado pela autora é que a emigração não constituiria somente um reflexo do problema das regiões do sul. Embora os imigrantes da Itália meridional representassem três quartos dos imigrantes nos Estados Unidos, os italianos provenientes da Itália central e setentrional foram os pioneiros e permaneceram, embora comparativamente uma minoria, entre os imigrantes na América Latina. Ainda mais relevante é o fato que a grande maioria dos imigrantes na França, na Alemanha, na Suíça e na Áustria foram provenientes das regiões setentrional e central, a zona menos estagnada do país do ponto de vista econômico. Na realidade, argumenta a autora, a maioria dos emigrantes não deixou a Itália meridional para ir para a América. Durante o período da máxima emigração ( ) o maior número de emigrantes italianos dirigiu-se à Europa. Dos 14 milhões de italianos que emigraram entre 1870 e 1914, seis milhões foram trabalhar em outros países europeus e três milhões dirigiram-se a Argentina, Brasil e outros países da América Latina e quatro milhões emigraram para Estados Unidos e Canadá. Enfim, a maior parte dos emigrantes italianos não abandonou a Itália e nem se desligou de uma vez por todas da vida italiana. Ao contrário, cerca da metade retornou à pátria. E, um amplo, mas indefinido percentual que reentrou, emigrou de novo durante os vários decênios de vida produtiva. É provável, inclusive, considera a autora, que a maioria dos cidadãos italianos tinha ligações de amizade ou parentesco com italianos do exterior e, em qualquer região de intensa imigração isto se transmitiu de geração em geração, encorajando o desenvolvimento de uma cultura em que a emigração e a vida no exterior representaram a normalidade, antes que a excepcionalidade: uma parte cotidiana da

40 40 vida social e econômica. Ela conclui que a Itália permanece como o principal nó nesta rede ou diáspora de dimensão mundial dos italianos no exterior, na qual a troca de pessoas, capitais ou idéias com italianos nos países de todo o mundo é contínua. Bassanezi (1995), nessa mesma linha de raciocínio, argumenta sobre a intensa e secular mobilidade geográfica dos italianos, reconhecendo-a como um mecanismo de melhoria econômica usado pelos componentes do grupo familiar. Desse modo, a acentuada emigração ocorrida entre o final do século XIX e início do século XX, poderia ser vista como um comportamento habitual adotado pela população, mantido há vários séculos. Haveria, entretanto, uma diferença, entre esses habituais movimentos migratórios e aqueles que ocorreram num momento no qual se registraram mudanças nos planos político e econômico das diferentes regiões italianas e no cenário internacional. A criação de um mercado internacional viabilizado pelo processo de unificação produziu modificações na economia e na sociedade que resultaram num incremento das emigrações para outros países europeus e para a América. Bernasconi (2000) chama atenção para a cultura da mobilidade como prática secular dos italianos oriundos de várias regiões, tanto do norte como do sul, que emigravam atrás de oportunidades concretas de trabalho. Iniciando como uma mobilidade dentro do continente europeu, se estendeu também para outro lado do oceano, modificando muitas vezes o plano original de retorno ao país onde se visava a mobilidade social, para se tornar emigração definitiva. Em recentes pesquisas realizadas sobre imigração italiana na Colômbia e em alguns países da América Central, Cappelli (2006; 2007), refletindo sobre a corrente

41 41 calabro-lucano-campano que se deslocou para esses países no fim do século XIX, considera que as motivações que determinaram a partida dessa corrente são testemunho de que a grande emigração italiana na América é um fenômeno complexo, que não pode ser reduzido à uma visão estereotipada e retórica que faz dela um fenômeno mecanicamente determinado por razões econômicas. Considera importante conhecer sobretudo, as razões culturais que configurariam a experiência migratória como empreitada. Esses diferentes entendimentos acerca das causas da emigração italiana reforçam as observações de Sayad (1998) sobre a multiplicidade de causas que engendraram a emigração dos vários grupos no período das Grandes Migrações. Não se está negando o peso dos fatores econômicos na emigração italiana, mas esclarecendo que enquanto para muitos grupos a situação de pobreza foi a causa imediata da emigração, para outros houve fatores de diversa natureza, entre os quais os culturais, que também tiveram peso nas trajetórias.

42 42 3 O BRASIL DOS IMIGRANTES Por que significativa parcela dos emigrantes escolheu o Brasil como região de destino? Qual a situação do Brasil no contexto das grandes migrações? Como a sociedade e o Estado disciplinaram a entrada e a permanência do outro em seu território? Quais as barreiras criadas? Qual o lugar destinado aos imigrantes na legislação brasileira? Como os italianos se inseriram no processo de construção da sociedade brasileira? Quem eram os italianos que vieram para o Brasil e para a Amazônia? Seguindo o duplo movimento emigração/ imigração que configuram o processo migratório, nossas reflexões neste capítulo centram-se no estudo das condições de existência na imigração, visando incorporar à análise os novos espaços trilhados pelos italianos na sociedade que os acolheu e as mudanças decorrentes dessa inserção. A seguir será discutida a imigração italiana na Amazônia no contexto das diferentes imigrações italianas no Brasil. 3.1 O BRASIL COMO RECEPTOR DE VÁRIOS FLUXOS MIGRATÓRIOS Foi com a vinda dos portugueses no contexto da colonização objetivando a apropriação militar e econômica da terra que começou a história da imigração no Brasil. A esse processo de imigração européia agregou-se o tráfico de escravos africanos, que pode ser considerado como um movimento migratório forçado com a duração de três séculos e a introdução de cerca de 4 milhões de pessoas originárias desse continente motivadas pela implantação da grande lavoura de exportação (BASSANEZI, 1995). A presença estrangeira no Brasil intensifica-se a partir da economia da mineração do século XVIII. Nesse momento é marcante a participação do

43 43 colonizador português e do fluxo de escravos africanos; além de franceses e holandeses nas regiões Norte e Nordeste (NOVAES, 1979). Com o declínio das atividades de mineração registra-se uma sensível diminuição na entrada de estrangeiros no Brasil. Foi somente a partir de meados do século XIX que passou a ser incentivada a vinda de europeus, sobretudo de portugueses, destinados principalmente à construção de fortificações e outros serviços urbanos. No início do século XIX foram feitas as primeiras tentativas de colonização por imigrantes estrangeiros, nas então províncias do Espírito Santo (colônia de Santo Agostinho, 1812) e do Rio de Janeiro (colônia de Friburgo, 1824) para onde foram trazidos suíços, alemães e austríacos. Em 1824, o governo imperial iniciou uma imigração subvencionada, quando foram estabelecidos núcleos coloniais em várias províncias como Bahia, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Pernambuco, São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. No período imperial o movimento de entrada de estrangeiros no Brasil se diversifica para projetos de colonização por iniciativa governamental ou privada, especialmente em Santa Catarina e no oeste paulista por iniciativa de alguns fazendeiros como o Senador Vergueiro, além da imigração para centros urbanos (LEVY, 1974). Mas é a partir da segunda metade do século XIX que o Brasil vai aparecer no panorama internacional com um dos principais países receptores da grande migração européia. Essa política visava não só a ocupação do espaço através de núcleos de colonização, como também a miscigenação da população segundo o padrão racial europeu. Na constituição do mercado de trabalho e na formação étnica e cultural do Brasil, as migrações internacionais desempenharam papel importante, uma vez que boa parte da população rural ainda não havia sofrido processo de proletarização e por outro lado, o objetivo de eugenizar a força de trabalho estava

44 44 presente na política governamental de atrair os estrangeiros (BRITO, 1995; IANNI, 2004). O movimento migratório internacional em direção ao Brasil vai ter sua maior expressão a partir de 1870 e, sobretudo após a libertação dos escravos em 1888 quando vai se assistir a entrada em terras brasileiras de um grande fluxo de emigrantes vindos principalmente de Europa e de países asiáticos. A entrada desses imigrantes no Brasil insere-se no contexto das grandes migrações internacionais do século XIX resultantes de transformações sóciodemográficas da população européia. Essas transformações, aliadas às mudanças decorrentes da expansão capitalista e às mudanças políticas ocorridas em muitos países europeus, trouxeram como resultado a produção de excedentes populacionais canalizados para as migrações transoceânicas. Essa onda migratória atendia tanto os interesses dos países de origem na transferência de excedentes populacionais como as demandas dos países de destino, entre eles o Brasil, que via na absorção desses fluxos humanos um modo de resolver seus problemas de povoamento e de carência de mão de obra, privilegiando a população branca, por fatores ideológicos. Os interesses dos imigrantes estavam centrados nos subsídios, nas possibilidades de trabalho e de acesso à terra, alimentados por intensa propaganda oficial ou particular. Esses fatores pesavam positivamente na decisão de emigrar por parte de estrangeiros de várias nacionalidades. Segundo Levy (1974), no período compreendido entre 1820, quando são encontrados os primeiros dados sobre entradas de estrangeiros no Brasil, e 1871, ano anterior à realização do primeiro recenseamento geral do Brasil, foram registradas entradas de imigrantes de diversas nacionalidades. O censo de

45 registra a presença de estrangeiros, o que leva, segundo a pesquisadora, à conclusão de que já havia estrangeiros residindo no Brasil antes de 1820, ou que os dados referentes às entradas entre 1820 e 1871 estavam subestimados. Por ordem decrescente de importância numérica, as principais nacionalidades eram a portuguesa, a italiana, a espanhola, a alemã e a japonesa. A evolução da imigração estrangeira, no período , segundo as principais nacionalidades, está apresentada na Tabela 3.

46 46 Tabela 3: Entrada de Imigrantes no Brasil, segundo as principais nacionalidades no período de Período Pais de origem Portugal Itália Espanha Alemanha Japão Outros Total ,21% 25,78% 1,92% 8,12% 32,96% 100% ,34% 61,77% 6,70% 4,21% 3,98% 100% ,30% 57,61% 13,71% 1,43% 8,95% 100% ,42% 35,57% 18,19% 2,22% 0,14% 12,45% 100% ,06% 16,94% 22,28% 3,18% 3,36% 15,18% 100% ,66% 12,32% 9,68% 2,95% 6,88% 26,21% 100% ,88% 6,66% 3,83% 8,26% 29,82% 20,55% 100% ,97% 13,87% 4,52% 5,97% 2,48% 33,59% 100% ,43% 15,77% 16,24% 2,85% 5,76% 17,94% 100% Total Fonte: Levy (1974), com adaptações da autora

47 47 Na primeira década predomina o fluxo português, com pessoas, 31,21% do total de estrangeiros, seguida dos italianos, pessoas, (25,78%) e dos alemães, pessoas, (8,12%). Entretanto, nas duas décadas posteriores (1880 e 1890), a Itália dobra sua participação nesse movimento migratório com e pessoas, respectivamente 61, 77% e 57,61%, do total de imigrantes. As explicações para a elevação desses índices devem ser buscadas em causas internas e externas do duplo movimento emigração/imigração (SAYAD, 1998). Do lado dos países europeus, sobretudo da Itália, a crescente pressão sobre a terra e a população decorrentes da expansão capitalista, leva os governos a apoiarem a emigração; por outro lado, a expansão da cafeicultura no oeste paulista e a política de subsídios à imigração, motivaria a entrada maciça de italianos. A crise da cafeicultura e as medidas do governo italiano proibindo a emigração subsidiada para o Brasil em 1902 (Decreto Prinetti) resultam em significativa queda no conjunto das entradas de italianos que vai se acentuar nas décadas posteriores, ao mesmo tempo em que cresce a participação dos portugueses e dos espanhóis, sobretudo a partir da política de valorização do café (Convênio de Taubaté, 1906). É o momento em que se Inicia a imigração japonesa (1908), subsidiada por companhias desse país (LEVY, 1974). Durante a Primeira Guerra Mundial, registra-se redução nas entradas de estrangeiros. Com o término do conflito, assiste-se à recuperação da lavoura cafeeira, cresce a participação dos japoneses e dos estrangeiros classificados como outras nacionalidades (russos, poloneses, romenos etc.). Os italianos com ou 16,94 % das entradas, são suplantados pelos espanhóis com ou 22,28% e pelos portugueses que recuperam a primazia entre os imigrantes estrangeiros,

48 48 passando a ou 39,06% do total, situação que vai se manter de forma significativa pelos sucessivos períodos. Nas décadas de 1920 e 1930, a imigração portuguesa mantém os índices de 35, 66% e 30,88% do total de imigrantes respectivamente. Os italianos diminuem acentuadamente sua participação, 12,32% (1920) e 6,66% (1930), enquanto que aumenta a participação da imigração japonesa de 6,88% na década de 1920 para 29,82% na década posterior. Esse período é marcado pelo término da política de subsídio à imigração pelo governo de São Paulo (1927), pela crise da superprodução de café (1930) e pelas medidas restritivas à imigração internacional (sistema de cotas estabelecido pela Constituição de 1934 e pela de 1937) e pela Segunda Guerra Mundial ( ). Com a diminuição das restrições à imigração do pós-guerra, o fluxo migratório ressurge, mas num nível bem menor do que nas décadas anteriores. Na década de 1950, a imigração portuguesa continua predominante com 41,43% do total de imigrantes, seguida da espanhola com 16,24% e da italiana com 15,77%. Nesse momento já é a indústria e a colonização agrícola que vão atrair esses novos imigrantes; observando-se a imigração individual e a dirigida, orientada por organismos internacionais, como a Comissão Intergovernamental para Migrações Européias (CIME) e a Comissão Internacional Católica de Migrações (BASSANEZI, 1995). Observa-se que a proporção da população estrangeira no conjunto da população brasileira apresenta valores baixos. O percentual mais acentuado encontra-se na virada do século (6,2%) e ainda é significativo até 1920 (5,11%) correspondendo a entrada maciça de italianos (Tabela 4). Nas décadas posteriores com a diminuição do ritmo das imigrações e o envelhecimento da população estrangeira presente no Brasil, a proporção de estrangeiros continua decrescendo.

49 49 Tabela 4 - População brasileira e estrangeira presente nos censos de Censos Pop. brasileira População estrangeira Total v. a. % v. a. % , , , , , , , , , , , Fonte: Censos 1872, 1890, 1920, 1940 e 1950 No que diz respeito às nacionalidades da população estrangeira no Brasil, observa-se que no censo de 1920 a população italiana tinha presença mais significativa apresentando a proporção de 35,66% do total de estrangeiros, mas esses valores vão decrescer nas décadas seguintes, quando passar à segunda posição (Tabela 5). A população portuguesa mantém um índice constante (cerca de 27%), ultrapassando a italiana nos duas últimas décadas consideradas. A população espanhola mantém a terceira posição, com média de 12% no período em análise. Começando com uma pequena participação no conjunto das migrações estrangeiras em 1920, com 1,79% do total, os japoneses vão se manter em quarto lugar em importância nas duas últimas décadas com percentuais em torno de 10%. Em quinto lugar vêm os alemães com 5% de participação no movimento migratório do período considerado.

50 50 Tabela 5- População estrangeira presente no Brasil, segundo as principais nacionalidades nos censos de 1920, 1940 e 1950 Nacionalidades Censos v. a. % v. a. % v. a. % Portugueses , , ,75 Italianos , , ,96 Espanhóis , , ,84 Alemães , , ,42 Japoneses , , ,64 Outros , , ,39 Total Fonte: Censos de 1920, 1940 e Embora mantendo as peculiaridades de cada onda migratória, existem traços comuns entre os principais fluxos migratórios para o Brasil, destacando aqueles de portugueses, espanhóis e italianos. Esses fluxos resultam da não-absorção pelos respectivos mercados nacionais do grande contingente de camponeses que a desagregação do regime feudal e o desenvolvimento das relações capitalistas libertara e respondiam, por outro lado, à solicitação de mão-de-obra assalariada para substituição da escrava, do outro lado do Atlântico. O ideal de conseguir propriedade rural familiar constitui, nos três casos, o elemento de mediação ideológica estimulante do movimento emigratório. Da ótica do país de destino, além de responder a uma demanda de braços para o trabalho, a preferência pelos europeus obedecia à demanda pelo branqueamento. A possibilidade de miscigenação e a disponibilidade à assimilação foram variáveis fundamentais na seleção dos imigrantes desejáveis (OLIVEIRA, 2001). Conforme essa historiadora, se a emigração é uma expressão de liberdade de movimento, ela é também um produto da escassez, já que foi o novo arranjo

51 51 industrial na Europa, com grande concentração populacional nas cidades o responsável pela produção de uma população excedente. Essa população foi procurar novas condições de vida em outras terras, provocando um profundo rompimento com a vida anterior e deixando marcas naqueles que a empreenderam. Os relatos desses imigrantes são marcados tanto pelo sofrimento em relação ao que estavam deixando, como pela ansiedade em relação à nova pátria. Passaram a viver como estrangeiros. Grande parte sonhava retornar, mas muitos não conseguiram. À condição de imigrante vai se associar a de estrangeiro. Passa a se sentir e ser considerado como diferente. Muitas variáveis vão determinar o grau de estranhamento, entre essas pessoas, o lugar de onde vieram, as razões da emigração, a situação de viajar só ou com a família, os contatos anteriores com patrícios que já moravam na nova terra, além da barreira de língua. No período colonial os imigrantes que eram direcionados para a América eram chamados de colonos expressando sua condição de habitantes de uma colônia pertencente a determinada metrópole. Com a criação dos núcleos de colonização no período imperial, os imigrantes foram também denominados de colonos, significando que estavam ligados à produção agrícola. Mas esses termos não são necessariamente apropriados já que grande parte dos imigrantes veio para cidades e exerceu atividades em outros setores da economia (CONSTANTINO, 2000). No decorrer do século XIX, a emigração adquiriu novas características; ela deixou de estar ligada a uma motivação imperial e tornou-se resultante do desenvolvimento capitalista, desempenhando papel relevante no destino da mão-deobra camponesa que o crescimento industrial dos países europeus não conseguia absorver. Possibilitou, desse modo, manter a reserva da força de trabalho a um nível

52 52 equilibrado evitando conseqüências sóciopolíticas negativas de um crescimento desproporcional em relação à capacidade da estrutura agrária e industrial. Do ponto de vista do destino no Brasil, os fluxos migratórios transoceânicos, embora tenham se concentrado no centro-sul do país, espalharam-se por todas as regiões com maior ou menor intensidade e em tempos diferentes, conforme apresentado nas Tabelas 6 e 7.

53 53 Tabela 6 - População estrangeira nas províncias e estados nos censos de Estados (províncias) Anos dos censos Alagoas Amazonas Bahia Ceará Espírito Santo Goiás Maranhão Mato Grosso Minas Gerais Pará Paraíba Paraná Pernambuco Piauí Rio de Janeiro (Guanabara) Rio Grande do Norte Rio Grande do Sul Santa Catarina São Paulo Sergipe Acre Amapá Rondônia (Guaporé) Roraima (Rio Branco) Fernando de Noronha 2 Brasil Fonte: Levy (1974) com adaptações da autora

54 54 Estados (províncias) Tabela 7: População presente nas províncias e estados nos censos de Percentagem de estrangeiros em cada censo, da população da província e estado Anos dos Censos Pop. Total %Est. Pop. Total % de Est. Pop. Total % de Est. Pop. Total % de Est. Pop. Total % de Est. Pop. Total % de Est. Alagoas , , , , , ,04 Amazonas , , , , , ,01 Bahia , , , , , ,17 Ceará , , , , , ,04 Espírito Santo , , , , , ,76 Goiás , O, , , , ,30 Maranhão , , , , , ,06 Mato Grosso , , , , , ,78 Minas Gerais , , , , , ,43 Pará , , , , , ,73 Paraíba O, , , , , ,03 Paraná , , , , , ,62 Pernambuco , , , , ,16 Piauí , , , , , ,02 Rio de Janeiro (Guanabara) , , , , , ,32 Rio Grande do Norte , , , , , ,05 Rio Grande do Sul , , , , , ,88 Santa Catarina , , , , , ,22 São Paulo , , , , , ,59 Sergipe , , , , ,03 Acre , , ,00 Fernando de Noronha ,0 Amapá ,34 Guaporé (Rondônia) ,67 Rio Branco (Roraima) ,0 Brasil , , , , , ,34 Fonte: Levy (1974) com adaptações da autora

55 55 Analisando conjuntamente os dados contidos nas Tabelas 6 e 7, observa-se que apesar das limitações dos dados extraídos dos censos, apontados por alguns autores como Mortara (1950), Bassanezi (1995), Oliveira (2001) eles permitem verificar a distribuição e a evolução da população estrangeira em todo o território nacional. O censo de 1872 em termos regionais é importante, pois se refere ao período de entrada de estrangeiros de várias nacionalidades no rastro da economia da borracha, cujo período de maior expressão foi entre 1850 e Entretanto, a permanência de estrangeiros na Amazônia foi além desse período. O censo de 1920, por exemplo, mostra um significativo aumento da população estrangeira no Amazonas e no Pará. Em 1872 a população estrangeira no Pará era de em 1920 passa para , tendo um percentual constante em torno de 2,0% da população do Estado. No Amazonas em 1872 a população estrangeira perfazia um total de 2.199, passando para em 1920, respectivamente (4,66 %) e (2,25%) da população do estado, o que indicaria uma grande afluência de imigrantes nesses estados, mesmo com a economia da borracha em crise. Entre as explicações plausíveis estaria o fato das capitais, Manaus e Belém, serem cidades portuárias o que facilitaria o ingresso de estrangeiros (BASSANEZI, 1995) e o fortalecimento comercial de alguns grupos que motivavam cada vez mais a chegada de parentes para auxiliar nas atividades, através das cartas de chamada, destacando aqui italianos. Os censos de 1940 e 1950 revelam acentuada queda no número de estrangeiros no Amazonas que constituem apenas 1,70% e 1,01% da população e no Pará, os índices ainda são menores 1,17% e 0,73% respectivamente. Apesar da retomada da imigração internacional, o fluxo de estrangeiros diminui

56 56 consideravelmente, conforme observações que já foram realizadas neste capítulo em relação aos dados apresentados na Tabela OS IMIGRANTES NA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA Qual o tratamento dispensado aos imigrantes pelo Estado brasileiro no período da pesquisa ( )? Como a sociedade e o Estado disciplinaram a entrada e permanência do outro em seu território? Quais as barreiras criadas? Qual o lugar destinado aos imigrantes na legislação? A política imigratória brasileira durante o período considerado nesta pesquisa, foi marcada pelas temáticas de assimilação e exclusão de imigrantes, adotando-se como pressuposto a superioridade biológica dos brancos europeus em sintonia com as doutrinas raciais em voga (SEYFERTH, 2001). Os conceitos de assimilação e exclusão marcaram a implementação da política imigratória brasileira a partir da Lei de Terras de 1850 que instituiu as diretrizes da colonização. Coincidindo com o fim do tráfico de africanos para o Brasil, a promulgação da Lei de Terras também retoma a concepção de imigração associada ao povoamento, sobretudo nas províncias do extremo sul. Esse dispositivo legal e o Decreto de 1854 que a regulamentou instituíram o acesso à terra pública através da compra, o que possibilitava também aos estrangeiros, que tivessem recursos disponíveis, o acesso à terra. A imigração era pois associada ao povoamento do território, com normas que privilegiavam a exploração agrícola familiar. Durante o Império, a articulação da imigração ao povoamento do território fez com que os temas de imigração e colonização estivessem nos dispositivos legais sempre relacionados. Registrou-se ainda, a permanência da figura dos agenciadores

57 57 e da propaganda utilizada para atrair imigrantes nos países de origem. Da mesma forma, em alguns instrumentos legais são evidenciados interesses geopolíticos associados à ocupação territorial, que se traduzem no privilegiamento de imigrantes agricultores e artífices, identificados como necessários ao desenvolvimento dos núcleos coloniais, existindo inclusive um sistema classificatório de imigrantes que incluía até mesmo uma hierarquização de nacionalidades européias em referência ao imigrante preferencial que devia ter aptidão para a agricultura. Desse modo teriam maior cotação, pela ordem, alemães, italianos, espanhóis e suíços; e a mais baixa cotação como agricultores a dos irlandeses e belgas, em virtude do insucesso em experiências agrícolas anteriores (SEYFERTH, 2001). A legislação sobre imigração do período republicano - iniciado em parte de uma crítica das diretrizes anteriores, considerando que o projeto colonizador do império ao localizar as colônias agrícolas não atentava para as conseqüências que adviriam do isolamento de estrangeiros em pontos estratégicos do território nacional. Nesse confronto, se por um lado a República estabeleceu maior flexibilidade quanto à naturalização, por outro lado o nacionalismo limitava essa nova flexibilidade quanto à cidadania, recolocando o tema da assimilação na figura do trabalhador nacional. Essa legislação, especialmente o Decreto 163/1890, que salientava o princípio geopolítico da fixação de estrangeiros, não contemplava a Amazônia como área destinada a receber imigração estrangeira, ressaltando o clima tropical como um obstáculo para a adaptação dos estrangeiros. Esse dispositivo legal ao direcionar os colonos nacionais para o Norte é contraditório com a crítica formulada

58 58 em relação à forma imperial de colonizar, pois continuava a concentrar os colonos estrangeiros não assimiláveis no Sul do Brasil. Como resultado da aprovação da Primeira Constituição Republicana, em 1891, que passou aos estados o controle sobre as terras devolutas e previa o fim dos subsídios aos imigrantes, apostando na imigração espontânea, registrou-se uma redução das verbas federais e a administração da imigração e a colonização foi entregue pelos estados à iniciativa particular. Em 1911, com a regulamentação do Serviço de Povoamento no âmbito do Ministério da Agricultura, através do Decreto no houve uma retomada pela esfera federal dos dispositivos relativos à imigração, motivada talvez pelo decréscimo de entradas de estrangeiros registrado na primeira década do século XX. Com essa regulamentação, verifica-se a volta dos subsídios e a ocupação territorial continua ligada à imigração, mesmo que os problemas de pertencimento étnico de alguns grupos de imigrantes se evidenciassem. Nesse contexto, apesar de assumir o controle do processo, a União deixava para os estados e para a iniciativa privada a sua efetivação prática. Quem eram os imigrantes aceitos e quais as condições que os excluíam de participar do processo? O artigo 2º do referido Decreto tem a resposta: Serão acolhidos como imigrantes os estrangeiros menores de 60 anos, que, não sofrendo de doenças contagiosas, não exercendo profissão ilícita, nem sendo reconhecidos como criminosos, desordeiros, mendigos, vagabundos, dementes ou inválidos chegarem aos portos nacionais com passagem de 2ª ou 3ª. classe à custas da União, dos estados ou de terceiros; e os que, em igualdade de condições, tendo pago as passagens, quiserem gozar dos favores concedidos aos recém-chegados (Decreto 9081/1911) O decreto distingue ainda dois tipos de imigrantes. O primeiro é caracterizado como agricultor e tem suas despesas até o destino final da viagem custeadas pela União. Ele se destina a uma colônia oficial ou particular. O segundo tipo é

59 59 constituído pelos imigrantes espontâneos, isto é, não subsidiados, que teriam vindo por conta própria com passagem de 2ª ou 3ª classe, ressaltando, por conseguinte, a condição de pobreza na definição de imigrante. Seyferth (2001) ressalta que embora aparecesse nos debates dos nacionalistas, o tema assimilação era ausente na legislação da Primeira República. Esse tema vai ganhar força a partir de 1930, quando as teorias raciais se popularizaram no Brasil pregoando o ideal de branqueamento da população para o qual a imigração européia era um componente importante. Nesse contexto são também tomadas medidas restritivas à imigração internacional. A Constituição de 1934 instituiu o regime de cotas, estabelecendo que o número anual de ingresso no país para cada corrente imigratória não podia ser superior ao limite de 2% sobre o total dos imigrantes de cada país, entrados no Brasil a contar de 1º de janeiro de 1884 a 31 de dezembro de A assimilação como critério seletivo de imigrantes aparece com clareza nos dispositivos legais do Estado Novo ( ). Na Constituição de 1937, verificase, por exemplo, a substituição do termo imigrante por estrangeiro, distinguindo o visto permanente do temporário. Em todas as medidas decorrentes deste estado de exceção observa-se um reforço na questão da assimilação/caldeamento, bem como a condenação das minorias consideradas inassimiláveis, entre outro, os alemães e os japoneses (SEYFERTH, 2001). Registrou-se um endurecimento dos critérios de admissão de imigrantes, agravado com a eclosão da Segunda Guerra Mundial. A exclusão direcionava-se principalmente aos classificados como refugiados. Havia o temor de um fluxo em massa de refugiados políticos acobertados nos vistos para turistas. Esse fato levou à publicação do Decreto-Lei no. 1532/1939, que impedia a transformação do visto

60 60 temporário em permanente em 1941 do Decreto-Lei 3.175/1941, suspendendo a concessão de vistos temporários. Através do Decreto-Lei no de 18 de dezembro de 1945 registra-se a retomada da imigração pelo governo brasileiro no período pós Segunda Guerra Mundial. Embora seja mantido o sistema restritivo de cotas do período anterior, registra-se certa flexibilização em relação às entradas de estrangeiros, o governo passa a estabelecer acordos para fomentar a imigração com países de tradição emigrantista. Em decorrência dessa política foram assinados o Acordo de Migração entre o Brasil e a Itália de 05 de julho de 1950; o Acordo de Imigração e Colonização entre o Brasil e os Países Baixos de 15 de dezembro de 1950, e o Acordo de Migração Brasil-Espanha, de E nesse contexto de flexibilização, também se abre espaço para o recebimento e o encaminhamento profissional de contingentes de imigrantes formados por técnicos especializados e profissionais qualificados de diversas nacionalidades presentes na Alemanha e na Áustria após o término da Segunda Guerra Mundial, os chamados deslocados de guerra (SALLES, 2004). Como a nossa pesquisa é norteada para a análise das migrações tendo sempre como condicionantes o duplo movimento emigração/imigração, é preciso levar em conta nesse período as modificações introduzidas nas políticas emigratórias dos países europeus mais atingidos pelos conflitos, como é o caso da Itália. Os esforços italianos eram motivados em boa parte pelo fluxo indiscriminado e indisciplinado do imediato pós-guerra, que criara grandes dificuldades devido a sua inadaptação no Brasil. A situação correu o risco de se deteriorar ainda mais depois de outubro de 1948, com o restabelecimento da liberdade de acesso e as facilidades concedidas para os atos de chamada. Apesar da necessidade que a Itália tinha de livrar-se dos excedentes de população e força de trabalho, é evidente que os novos tempos não permitiam partidas desordenadas, e as autoridades sentiam-se obrigadas a efetuar uma espécie de triagem. Assim, quem queria deixar o país devia apresentar ou um contrato de trabalho já assinado ou o ato de

61 61 chamada, devidamente visado pelo consulado, pelo qual os parentes residentes se comprometiam a sustentar eventualmente o imigrante durante os primeiros tempos (TRENTO, 1989, p. 410). Trento comenta que pelo acordo emigratório estabelecido entre o Brasil e a Itália em 1950, foram instituídos dois tipos de emigração: a primeira espontânea que podia ser individual, através dos atos de chamada ou de grupos e cooperativas que se destinavam à colonização agrícola e a outra, dirigida, orientada por convênios entre os governo brasileiro e organismos internacionais, como a CIME e a Comissão Católica das Migrações. Observamos em nossa pesquisa que o mecanismo de chamar parentes e se responsabilizar pela permanência deles em terras brasileiras era uma prática que já vinha sendo largamente utilizada pelos imigrantes italianos do baixo Amazonas, desde a décadas de 1920 e sobretudo nos anos 1930, conforme foi relatado por alguns entrevistados. Essa prática era feita através da denominada carta de chamada. Esse documento, após aprovação pela delegacia de polícia da cidade de destino do imigrante, era encaminhado ao Consulado brasileiro da província de origem do emigrante, como peça necessária para a legalização do passaporte. A chegada de novos imigrantes nas décadas de 1930 e 1940, de forma individual e embora em menor número, reforçava as redes de parentesco e vizinhança alimentando o comércio que se manteve como atividade econômica principal dos italianos na Amazônia até os anos 1950, quando esse grupo se dispersa e a segunda geração investe em suas carreiras profissionais. 3.3 OS ITALIANOS NO PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA Como se situaram os imigrantes italianos nos diferentes momentos do processo de construção da sociedade brasileira?

62 62 Esse fluxo migratório acompanhou momentos marcantes do processo de transformação política, social e cultural do país: a formação do Estado nacional, o crescimento do comércio internacional, os investimentos de capital estrangeiro, a aquisição de novas tecnologias e o crescimento da produção para a exportação. O fluxo migratório adquiriu seu papel específico na interação desses aspectos políticos e culturais, apoiado pelas políticas nacionais e regionais (VANGELISTA, 2004). Segundo a historiadora Vangelista, em todo o período das grandes migrações os grupos de pessoas que chegavam ao Brasil em navios procedentes da Europa, tinham um perfil social relativamente homogêneo, mas na prática migratória acontecia um processo de diferenciação. O maior ou menor sucesso econômico obtido no destino era decorrente de diversas estratégias familiares e de grupo e, principalmente, das diferentes formas de inserção desses imigrantes em cada região de destino. Dependendo do contexto regional, a inserção dos italianos na sociedade das áreas de destino foi diferenciada, produzindo, desse modo, várias histórias da imigração italiana: no Sul, no Sudeste, no Centro-Oeste no Nordeste e na Amazônia. Em todos os casos, entretanto, os italianos no Brasil deveriam se adequar a uma sociedade rigidamente estruturada e profundamente marcada pelo sistema de escravidão: Uma sociedade que, no decorrer do século XIX, viu o nascimento e a consolidação de potentes elites regionais, depositárias de uma cultura forte, aristocrática e luso-brasileira, da qual os humildes imigrantes provenientes da península italiana não tiveram nenhuma chance de fazer parte (VANGELISTA, 2004, p. 28). Essa marginalização além de social era também cultural e isso contribuiu ou trouxe como conseqüência, não somente a conservação, como também a recriação ou reinvenção no decorrer do tempo de traços culturais de origem.

63 63 Esses traços culturais afetaram a forma pela qual os italianos integraram-se na vida nacional brasileira, gerando diferenças no significado da imigração no imaginário social ao longo do tempo. Nesse sentido, conclui Vangelista que durante a primeira metade do século XIX a imigração européia era considerada um fator de modernização das classes populares e, mais em geral, da sociedade. No início do período das grandes imigrações até a Primeira Guerra Mundial, os imigrados deixaram de ser considerados um fator de modernização, passando a constituir uma das variáveis do crescimento econômico, uma força de trabalho de baixo custo que não encontrava lugar nos processos de decisão. Esta imagem apresenta significativa modificação do período entre guerras até o fim da Segunda Guerra Mundial, os recentes imigrados, sempre menos numerosos, junto com seus descendentes, transformaram-se em inimigos potenciais, tanto no discurso político como no imaginário comum. É a época marcada pela perseguição aos imigrantes italianos, japoneses e alemães e seus descendentes. A necessidade de selecionar a imigração, declarada em documentos oficiais, a partir da metade do século XIX, mas nunca aplicada de modo sistemático, torna-se agora parte de programas políticos nacionais, seja como prevenção contra uma temida internacionalização do movimento operário, seja para evitar ou opor-se à formação de sólidos grupos nacionais que poderiam fugir do controle dos governos. Nesse processo tiveram importante papel, no período entre as duas guerras, a agressividade das propagandas nazista e fascista, a eclosão dos novos nacionalismos latino-americanos, a crise econômica internacional e a influência na ação política das teorias do racismo moderno. Todos são elementos que também no Brasil contribuíram para criar um clima de preocupação, desconfiança e até de

64 64 perseguição em relação aos imigrantes, sobretudo italianos, alemães e japoneses e seus descendentes. O período posterior à Segunda Guerra Mundial apresenta um clima político diferente para os italianos e demais estrangeiros que participam do que é considerado como último ciclo migratório. Desse modo, concomitante a um pequeno fluxo de imigração de retorno, composto por exilados que por razões políticas ou religiosas se refugiaram no Brasil, ocorreu entre o final da década de 1940 e o final dos anos 1950, um novo movimento migratório. Esse movimento se era pouco significativo em termos numéricos, apresentava interessantes aspectos políticos e culturais. Os italianos desse período tiveram como destino além do Brasil, a Argentina, o Uruguai e a Venezuela. Nesse último período, de forma muito mais acentuada que nos anteriores, às motivações econômicas somam-se razões políticas e sociais. Ainda, segundo Vangelista (2004), embora se trate de uma fase imigratória ainda pouco estudada, algumas questões são evidenciadas. A composição social desse grupo de emigrantes difere dos períodos anteriores: são italianos de classes médias urbanas com maior qualificação profissional e que buscam as grandes e médias cidades brasileiras. Esses italianos, ao lado de outros grupos estrangeiros, participam das transformações da sociedade brasileira através da troca contínua de culturas, idéias e tecnologias que o movimento de populações comporta. 3.4 AS TRAJETÓRIAS DOS ITALIANOS Quem eram esses italianos? De que regiões vieram? Que atividades econômicas exerciam em suas regiões de origem?

65 65 Para Trento (1989), no caso dos italianos, a proveniência regional constitui um interessante indicador de análise do período das grandes migrações pois permite identificar as atividades econômicas predominantes exercidas pelos grupos de emigrantes em sua região de origem. Discordando de autores que atribuem como regra geral, maior peso à emigração meridional, afirma que até o final do século XIX, a predominância foi dos emigrantes da Itália setentrional, conforme pode ser visualizado na Tabela 8. Tabela 8: Emigrantes italianos para o Brasil, conforme a procedência regional. Períodos e Regiões v.a. % v.a. % Piemonte e Vale de Aosta , ,5 Ligúria , ,2 Lombardia , ,3 Veneto e Friuli , ,8 Emília Romanha , ,0 ITÁLIA SETENTRIONAL , ,8 Toscana , ,0 Marcas , ,1 Úmbria , ,8 Lácio , ,1 ITÁLIA CENTRAL , ,0 Abruzzo/Molise , ,5 Campânia , ,0 Apúlia , ,3 Basilicata , ,9 Calábria , ,1 Sicília , ,1 Sardenha , ,3 ITÁLIA MERIDIONAL E ILHAS , ,2 TOTAL , ,0 Fonte: Trento (1989) com adaptações da autora Observa-se que no primeiro período ( ), dos emigrantes, 52,9% são da Itália setentrional, sendo que os vênetos e friulanos constituem o

66 66 grupo mais numeroso (35,2%) além de significativa participação dos lombardos (9%). A Itália meridional participa com 36,4% do total de emigrantes, com maior participação dos campanos (12,6%), calabreses (7,7%) e abruzos (7,4%). Na Itália central a presença mais significativa é a dos toscanos (6,4%). Nesse primeiro período, Trento destaca três sub-períodos em que a diversidade de prevalência regional é refletida nas regiões de destino. Entre 1878 e 1886, emigram vênetos e lombardos principalmente para as áreas de colonização do sul enquanto que os meridionais se dirigem principalmente para centros urbanos. Já entre 1887 e 1895 tem-se intensa participação dos vênetos dirigidos para as plantações de café. Entre 1893 e 1895 a emigração meridional começa a se firmar, para se tornar majoritária a partir de Trento considera que tanto os setentrionais como os meridionais eram em sua maioria originalmente camponeses, mas no Brasil, a permanência ou não desses imigrantes na agricultura deu-se de forma diferenciada. Enquanto os setentrionais, em particular os vênetos, permaneciam em grande parte ligados ao setor produtivo a que pertenciam na pátria, isto é, a agricultura, os meridionais iam trabalhar nos campos, mas em medida menos maciça, encontrando afazeres também no artesanato, no comércio e nos trabalhos marginais urbanos. Por outro lado, os meridionais começaram a emigrar mais tarde, quando a situação criada pela crise agrária tornou-se insustentável, isto é explicado pelo tardio processo de industrialização verificado no sul da Itália. No segundo período compreendido entre 1903 e 1920, a análise da procedência regional revela também mudanças quanto à composição profissional. Os vênetos e lombardos, que representavam o segmento camponês apresentam

67 67 queda na participação, enquanto cresce a participação meridional, dos que emigravam na maioria das vezes sem família e privilegiavam as ocupações urbanas. A participação majoritária dos setentrionais no início do processo emigratório é reforçada por Alvim (2000). A autora comenta que do Vêneto vinham famílias numerosas, geralmente formadas por 12 ou 15 membros que pertenciam ao universo dos meeiros, dos pequenos proprietários e arrendatários. Chama atenção que nessa primeira fase, ainda que em menor número, também vieram famílias de pequenos proprietários do sul da Itália, principalmente da província de Cosenza, região da Calábria. Após 1885 passaram a predominar famílias menores, cresceu a participação meridional e chegaram em grande número, os mais pobres, os chamados braccianti (trabalhadores braçais). Para onde vinham esses italianos? Grande parte da historiografia dedica-se ao estudo dos italianos que vieram para as fazendas de café de São Paulo ou para as regiões agrícolas do sul do Brasil. Todavia, há evidências que indicam que concomitante ao projeto colonizador, que se acelerou na segunda metade do século XIX, já eram numerosos os grupos italianos em cidades brasileiras, formados principalmente por setentrionais, oriundos de cidades portuárias, especialmente da Ligúria. Ao chegar à cidade, os italianos começavam a trabalhar na rua, como jornaleiro, engraxate e vendedor ambulante. Mas desempenhavam também atividades voltadas para o comércio varejista de pequeno porte (CONSTANTINO, 2000). Além do setor comercial, havia outras possibilidades de inserção no mundo do trabalho urbano. Eram numerosos os artesãos. Montavam pequenas oficinas, ocupando quase sempre mão-de-obra familiar. Dessa forma os italianos participaram da industrialização de São Paulo, não só por fornecerem boa parte dos operários,

68 68 mas também por terem criado pequenas fábricas familiares ou por terem praticado comércio de manufaturados brasileiros (CONSTANTINO, 2000). Porém, nem todos os italianos trilharam esse caminho. Em São Paulo, alguns imigrantes conseguiram ascender à posição de industriais, entre outros, os Gamba, os Pinotti, os Crespi e os Matarazzo. Todos tinham em comum, experiências urbanas anteriores. Em sua pátria, moravam em cidades, pertenciam à classe média, possuíam alguma instrução técnica e eram comerciantes, diferenciais esses que pesaram decisivamente em suas trajetórias (ALVIM, 2000). Neste sentido, a trajetória do comerciante calabrês Francisco Matarazzo é exemplar. Chegou ao Brasil em 1879, com 25 anos. Negociava banha de porco em São Paulo e no auge industrialista do encilhamento abriu com os irmãos a Companhia Matarazzo. Em 1900, instalou o primeiro moinho de trigo de São Paulo. A seguir as atividades do grupo se verticalizaram: foram criados cotonifícios para a produção de sacos de farinha de trigo, passando por fábricas de sabão, de óleo de algodão, latas e rótulos para embalagens até banco (que monopolizava as remessas de imigrantes para a Itália). As Indústrias Reunidas Matarazzo (58% têxteis) chegaram a ser o maior complexo industrial sul-americano. Simpatizante do fascismo, Matarazzo tornou-se o protótipo do grande burguês no Brasil (MARTINS, 1976; CARELLI, 1988). Essas histórias confirmam as observações de Klein (2000) quanto à mobilidade social dos imigrantes italianos no Brasil e na Argentina em relação à pouca permeabilidade social observada nos Estados Unidos. Nos dois primeiros países essa mobilidade atingiu níveis importantes, muitos italianos conseguiram alcançar posições de destaque econômico na segunda e terceiras gerações, enquanto nos Estados Unidos, onde houve um cerceamento em termos de

69 69 mobilidade inicial, esse padrão de integração não aconteceu. Segundo Klein, os italianos por terem chegado atrasados ao processo de revolução industrial e agrícola não tiveram condição de competir com os europeus do Norte que os precederam ocupando as terras livres e a fronteira agrícola, nem com os europeus do Leste que predominavam nas novas cidades manufatureiras do Centro-oeste. Os italianos, então, concentraram-se nas velhas cidades portuárias do Leste: Boston, Nova Iorque e Filadélfia que ofereciam poucas oportunidades de ascensão social e por várias gerações continuaram sendo classe trabalhadora, com baixos índices de mobilidade social (KLEIN, 2000). Para Alvim (2000) o grupo italiano se distingue de outras correntes imigratórias e chega a ser considerado o imigrante não somente pelo número, mas também pelas marcas deixadas por essa nacionalidade na cultura brasileira, sobretudo no Sul e no Sudeste do Brasil. Essa entrada de italianos coincide com o período em que o governo brasileiro canalizava esforços para atrair mão-de-obra para o país, ainda que a política de implantação de núcleos coloniais criada pelo império não teve sucesso. Entre as razões do insucesso dessa política se destacam as seguintes: Em primeiro lugar porque o governo não tinha verbas suficientes para arcar com as despesas de traslado e assentamento desse tipo de imigrante, ainda que o próprio imigrante fizesse o reembolso dessas despesas dentro de um prazo de dez anos. A ausência de uma política unitária para a introdução desses imigrantes que tanto podia ser realizada com recursos do governo federal, do governo provincial ou de particulares, constituiu outro fator que contribuiu para o pouco sucesso das colônias.

70 70 Mas mesmo com o insucesso das colônias agrícolas, nos diferentes estados e cidades do Brasil, os italianos dividiam espaços com outros grupos de estrangeiros europeus como portugueses, espanhóis, alemães entre outros, além de asiáticos e africanos. Na história da imigração italiana no Brasil, São Paulo, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo, Paraná e Santa Catarina foram os estados que concentraram o maior número de italianos, mas certamente não foram os únicos a contar com a presença desses imigrantes em seu território. Por isso, consideramos que a história desse fluxo migratório só se completará com o desvendamento da presença dos italianos naqueles estados que são englobados na categoria outros na maioria dos estudos sobre a imigração italiana no Brasil. Na realidade, essa presença de italianos foi verificada com maior ou menor intensidade em muitos estados brasileiros, onde os italianos também dividiram o espaço com outros imigrantes europeus, além dos asiáticos e africanos, expressando a multiculturalidade de regiões como a Amazônia. Como os imigrantes italianos se situaram nas várias regiões brasileiras? Como essa presença tem sido refletida nas pesquisas realizadas? Concordamos com a afirmação de Vangelista (2004) de que cada nova pesquisa realizada credencia afirmar que a presença italiana não se limitou ao Sul e ao Sudeste do Brasil: inúmeras cidades das várias regiões brasileiras tiveram ou ainda têm significativa comunidade italiana. Ou seja, em todos os estados brasileiros, como em vários países do mundo, pode-se encontrar traços da presença italiana, povo de tradição marcadamente emigrantista.

71 71 Nos movimentos migratórios observa-se tanto a permanência de determinados costumes, tradições, padrões como a redefinição e adaptação desses padrões, surgindo práticas diferenciadas das vivenciadas no país de origem. No caso brasileiro, entre os italianos que permaneceram no país verificou-se uma mudança nos padrões demográficos do grupo. Pesquisas demonstram que em algumas regiões os italianos no Brasil se casavam com maior freqüência e mais jovens apresentando taxas de fecundidade e natalidade mais elevadas do que na Itália (BASSANEZI, 1995). Essas constatações têm incitado perguntas que merecem ser pesquisadas e cujas respostas dependem ainda de um esforço muito grande e concentrado de pesquisa em fontes diversificadas (BASSANEZI, 1995, p. 52). Até que ponto os resultados das pesquisas realizadas em alguns lugares são válidos para outras regiões? Até que ponto os dados sobre imigração italiana no Brasil não esconderiam diferenças regionais significativas? Em que medida estes fenômenos demográficos aconteceram nas diferentes regiões, com que intensidade e homogeneidade? Qual o impacto da imigração italiana sobre as populações que a receberam? De que forma o processo imigratório como um todo influenciou a dinâmica demográfica interna dos italianos? Quais os fatores que determinaram ou mediaram os comportamentos demográficos dos imigrantes versus os que caracterizavam a população nativa? Seguindo essa orientação, nossa pesquisa busca descobrir a imigração italiana no Amazonas e Pará, estados que nas estatísticas aparecem como outros, mas que certamente fornecerão elementos enriquecedores para se construir um cenário mais aproximado do que foi a imigração italiana no Brasil, atentando para as diferenças com que se deu a inserção desse segmento na população brasileira ao longo da história. Informações sobre a presença italiana nos estados brasileiros,

72 72 inclusive naqueles classificados como outros em estudos sobre imigração italiana no Brasil encontram-se discriminados na Tabela 9. Tabela 9: Presença de italianos por Estados em 1920 Estados V. A. % São Paulo , 42 Rio Grande do Sul ,80 Minas Gerais ,69 Rio de Janeiro ,72 Espírito Santo ,25 Paraná ,62 Santa Catarina ,44 Bahia ,26 Pará ,20 Mato Grosso 810 0,14 Pernambuco 756 0,13 Amazonas 726 0,13 Goiás 268 0,05 Paraíba 207 0,04 Alagoas 134 0,03 Maranhão 108 0,02 Ceará 105 0,02 Rio Grande do Norte 91 0,02 Sergipe 79 0,01 Acre 56 0,01 Piauí BRASIL Fonte: Censo de 1920 O censo de 1920, último censo em que a população italiana aparece como majoritária no conjunto da população estrangeira no Brasil, apresenta a seguinte distribuição no território nacional. O estado de São Paulo concentra 71,42% do total de imigrantes italianos. Tanto pelo peso numérico, como pelas marcas que deixou na economia e na sociedade paulista é também o estado onde essa presença tem sido mais estudada: Rios (1958), Ianni (1963), Martins (1973;1976), Alvim (1986),

73 73 Carelli (1988), Fausto 1991), Sapienza (1991) Pereira (2002), entre muitos outros. A seguir, o Rio Grande do Sul com 8,80% do total, por sua peculiaridade com a implantação de colônias agrícolas no período imperial, onde durante muito tempo a identidade italiana foi muito forte e o processo de assimilação se deu de maneira muito mais lenta que no resto do Brasil, também tem sido objeto de muitos estudos, entre outros, De Boni (1996); Bassanezi (1996); Herédia (1997), Ribeiro (1998; 1999), Constantino (2000), Saquet (2003). Nos outros estados do Sul e do Sudeste que juntos perfazem o total de 18,72%, pesquisas foram realizadas mostrando a peculiaridade dessa imigração. Assim no Espírito Santo, temos os estudos de Castiglioni (1998; 1999) Colbaria e Castiglioni (2003), Franco (1998), Witer (1998), Reginato (2004), entre outros. No Rio de Janeiro, entre outros, os trabalhos de Menezes (1996) e Gomes (1999). Em Minas Gerais, Monteiro (1974); em Santa Catarina, Grosselli e Gianotti (1987); Silva (2001) e no Paraná, Ferrarini (1979), entre outros. Mas, segundo mostram os dados do censo, o Brasil dos italianos não se circunscreve ao Sul e Sudeste. Registram-se algumas pesquisas sobre a presença italiana no Nordeste como Petinatti (1989), Mello (1996), Andrade (1992) e mais raramente, estudos pontuais sobre a presença italiana na Amazônia (DERENJI, 1992; 1999) e Di Marco (2000), região que constitui nosso recorte espacial de análise. Os italianos se espalharam em todos os estados brasileiros, quer tendo como porta de entrada os portos de Santos ou o do Rio de Janeiro fazendo da capital paulista e de outras grandes capitais como Rio de Janeiro e Belo Horizonte seu primeiro ponto de destino, ou ainda fazendo destes, apenas o ponto inicial de uma longa trajetória que os levaria a outros lugares (CENNI, 2003; TRENTO, 1989). Para

74 74 alguns, a saída dos grandes centros era motivada pelo insucesso na entrada no mercado de trabalho -ainda que exercendo profissões pouco qualificadas- o que os levava a aventurar em outras terras onde já se haviam fixado parentes ou conhecidos dos mesmos lugares de origem, podendo assim contar com a solidariedade de componentes de redes familiares, percorrendo uma trajetória que os conduziria para regiões longínquas, como o Nordeste e o Norte do Brasil. Em determinadas conjunturas alguns grupos de italianos, motivados pelas cartas de chamada já elegiam em sua pátria, a Amazônia como primeira e última região de destino. As diferentes marcas que esses imigrantes deixaram nos diversos estados onde se fixaram, evidenciam que realmente, como afirma Bassanezi (1998, p.71), trata-se da existência de imigrações italianas e não somente de imigração italiana. 3.5 A IMIGRAÇÃO DE ITALIANOS NA AMAZÔNIA Pensar na presença italiana na Amazônia do fim do século XIX até as primeiras décadas do século XX, significa situar este segmento no conjunto das correntes migratórias que para cá se dirigiram, tendo como principal motivação a busca pelas apregoadas riquezas decorrentes da exploração da borracha. Durante esse período, aqui aportaram estrangeiros de várias nacionalidades: Sírios e libaneses, então sob o domínio do Império Otomano, receberam o apelido de turcos e, de teque-teque em punho, fizeram companhia a judeus procedentes do Marrocos, criando a célebre figura do regatão. Peixeiros portugueses com seus tabuleiros e carrinhos de mão. Sapateiros italianos trazendo paus sobre os ombros onde penduravam cabides com botas, chinelos e tamancos. Japoneses itinerantes faziam a alegria das crianças com brinquedos orientais, bengalas e ventarolas com faisões estampados. Russos soturnos compravam ouro, prata e pedras preciosas. Senhoras francesas e belgas ofereciam roupas feitas de linho ou de seda, foram grandes modistas, habilidosas na arte dos tapetes, colchas e toalhas de gosto refinado. Os chineses ficaram

75 75 conhecidos como tintureiros, exímios engomadores de roupa, misturando a tradição asiática das essências perfumadas com a goma da tapioca. Os espanhóis e portugueses formaram a gigante colônia. Da padaria à construção civil, dos muitos mercados às companhias de ônibus deram contorno à grande casta de empresários da terra. Fosse um trabalhador anônimo ou uma celebridade das artes e da cultura, o estrangeiro fincou raízes profundas e esparramadas na cidade de Belém (FIGUEIREDO, 2004). Um retrato dessa presença estrangeira na Amazônia, pode ser obtido através dos dados sobre o movimento imigratório no porto de Belém, no início do século XX, registrados no Anuário Estatístico do Brasil (Tabela 10). Tabela 10 - Entrada de estrangeiros no porto de Belém, Nacionalidade TOTAL v.a % v.a % v.a % v.a % EUROPA , , , ,87 Portugueses , , , ,67 Espanhóis , , , ,98 Ingleses 342 9, , , ,18 Italianos 182 5, , , ,15 Alemães 78 2, , , Franceses 77 2, , , ,12 Outros europeus 47 1,37 8 0,22 6 0, ,45 AMÉRICA 228 6, , , ,29 ÁSIA 150 4, , , ,76 Japoneses , Turco-Àrabes 147 4, , , ,69 Outros 3 0,08 6 0,17-9 0,07 NÃO DETERMINADA , , , ,08 TOTAL Fonte: Annuário Estatístico do Brasil ( )

76 76 Entre 1908 e 1910, entraram no porto de Belém cerca de estrangeiros de várias nacionalidades, destacando-se os portugueses (48,67%), os espanhóis (15,98%), os ingleses (7,18%), os turco-árabes (4,69%), os italianos (4,15%). O crescimento econômico da Amazônia, decorrente da elevação dos preços da borracha nesse período deve ter motivado essa expressiva imigração. Observa-se que nesse período entraram 555 italianos com uma média anual de 185 entradas, ficando em quarto lugar entre os imigrantes europeus. Começando com modesta participação em 1872, quando ocupavam o sexto lugar entre os europeus no solo paraense e o quinto lugar no Amazonas, os dados do censo de 1920 revelam significativo aumento da presença de italianos, que com 1114 pessoas no Pará e com 726 no Amazonas passa a ocupar a terceira posição entre os europeus nos dois estados, somente suplantados pelos portugueses e pelos espanhóis (Tabela 11). Tabela 11 - População estrangeira no Pará e Amazonas conforme nacionalidade ( ) ORIGEM PA AM PA AM PA AM PA AM EUROPA Portugal Espanha Itália França Inglaterra Alemanha Outros países AMÉRICA ÁSIA Turquia asiática

77 77 Líbano e Síria Japão Outros países ÁFRICA Sem identificação TOTAL Fonte: Censos, 1872,1920,1940 e 1950 Mas em 1920, a economia da borracha amazônica já estava decadente em conseqüência do avanço da produção asiática, que se tornara crescente desde 1913 (WEISTEIN, 1993). O aumento significativo de estrangeiros nos estados do Pará e do Amazonas, após o colapso da economia da borracha pode estar atrelado à permanência desses estrangeiros que se vincularam a diversas atividades econômicas dando, portanto, importante contribuição tanto no domínio econômico, quanto no técnico, profissional e cultural. Por exemplo, os ingleses teriam se destacado na construção de portos, produção de energia, telefonia, telegrafia, saneamento básico, além de significativa participação no setor de comercialização e do crédito, setor do qual compartilhavam ainda os americanos e franceses. A participação de judeus espanhóis e norteafricanos foi principalmente nas atividades de escritório e contabilidade comercial, e dos portugueses no comércio por atacado e varejo. O estrangeiros de um modo geral deram significativa contribuição na organização dos serviços terciários de natureza privada, numa região que dava os primeiros passos na esfera do capital mercantil (SANTOS, 1980). A contribuição dos italianos no comércio de atacado e varejo, sobretudo na exportação de produtos regionais atividade em que se associavam a comerciantes portugueses é registrada por Aliprandi e Martini (1932), como também é evocada na memória social: Houve no início do século uma migração italiana para a Amazônia enorme, imensa. A Casa de Italiani, ainda alcancei quando era

78 78 criança. Tive em minhas mãos uma revista grande, bilíngüe, italianoportuguês, com o anúncio de casas comerciais do Amazonas, do Pará- Marques Braga e Cia, Banco Moreira Gomes, J.G. Araújo, etcde outro lado firmas de Milão, de Gênova. Propaganda em italiano, propaganda em português, os navios fazendo viagens do Amazonas, do Pará até Gênova e Nápoles indo e vindo e mantendo esse intercâmbio formidável A influência italiana foi imensa e se diluiu na raça amazônica (depoimento de Sílvio Meira in: BENCHIMOL,1989). Em 1940 quando a população de italianos no Brasil começou a decrescer, sendo suplantada pelos portugueses (Tabela 5), a população italiana no Pará e no Amazonas também decresce passando para 566 e 342 pessoas respectivamente, embora mantendo nos dois estados o terceiro lugar entre os europeus, enquanto os sírios e libaneses perfazem 821 pessoas no Pará e 424 no Amazonas e os japoneses aparecem com 458 e 297 pessoas respectivamente nos dois estados. No censo de 1950, observa-se a mesma tendência decrescente da população européia em geral e da população italiana nos dois estados, agora são apenas 376 pessoas no Pará e 279 no Amazonas. Embora apresentando algum decréscimo os sírios e libaneses perfazem 586 pessoas no Pará e 314 no Amazonas, os japoneses aparecem com 413 e 195 pessoas respectivamente. A vinda dos italianos para a Amazônia não deve, entretanto, ser interpretada apressadamente como produto de uma decisão espontânea e individual de aventurar, embora possa ter havido alguns casos que se enquadraram nessa categoria. São múltiplas as causas que presidem o ato de emigrar, não se deve perder a dimensão da imigração como fato social no qual trajetórias individuais são contempladas. Nesses deslocamentos que tiveram como pano de fundo a expansão capitalista, foram múltiplas as razões relacionadas com a emigração-imigração, levando a que o outro, o de nacionalidade distinta se integrasse de maneira diferenciada na região que os acolheu (SAYAD, 1998). Além de europeus também

79 79 chegaram a Amazônia judeus marroquinos (BENCHIMOL, 1998; LINS, 2002) e libaneses (ZAIDAN, 2001). No contexto dessa Amazônia multicultural, observa-se que umas nacionalidades tiveram mais visibilidade que outras e se perpetuaram nos seus descendentes como é o caso dos italianos. Nessa Amazônia, terra de imigrantes, é a corrente italiana que para cá se dirigiu entre as últimas décadas do século XIX e as primeiras do século XX e suas contribuições para o processo de desenvolvimento da região é que constitui em nosso foco de análise. Entre os italianos, um grupo significativo foi formado por religiosos que vinham atender determinações específicas de suas respectivas congregações. Iniciando com os jesuítas no século XVII, mais tarde a eles se somaram os capuchinhos, salesianos e xaverianos que ao lado das congregações femininas como a das Filhas de Sant Ana e das Irmãs Angélicas deixaram marcas de sua presença em estabelecimentos de ensino e em hospitais. Outro grupo importante era composto por arquitetos, pintores, músicos e outros artistas. Ainda no século XVIII, foi marcante a participação do artista bolonhês Giuseppe Antonio Landi que entre 1755 e 1785 não só construiu várias obras em Belém, entre as quais a igreja de Santa Ana e a capela de São João Baptista como também exerceu marcante influência na arquitetura local (DERENJI, 1998; MENDONÇA, 2003). No século XIX, destacaram-se Domenico de Angelis e Giovanni Capranesi, responsáveis pela decoração e pintura do Teatro da Paz e do Teatro Amazonas. No início do século XX o engenheiro calabrês Filinto Santoro construiu vários prédios públicos no Pará como o Palácio do Governador Augusto Montenegro e o Mercado de São Brás (DERENJI, 1998, 1999; LUCARELLI, 2005). Outro pintor e artífice italiano, o lombardo, Sperindio Aliverti, discípulo de Domenico de Angelis,

80 80 teria sido responsável pela conclusão das obras da catedral da Sé (LEAL, 1979). Aliverti fixou residência em Belém, onde morreu em 1929, aos 70 anos, deixando muitos descendentes (Depoimento n. 8). Aliprandi e Martini (1932) registram ainda a presença do maestro Ettore Bosio, originário do Vêneto, que teria chegado ao Pará no final do século XIX e se integrado à comunidade italiana local, tendo sido em 1919, membro da diretoria da Unione Italiana d Istruzione e Mutuo Soccorso e na década de 1930, diretor do Instituto Carlos Gomes. A presença desses artistas - sem serem imigrantes - foi de grande relevo pelas marcas que deixaram nas cidades amazônicas e a propaganda de suas obras na Itália pode ter constituído um estímulo, para outros grupos emigrarem espontaneamente. Nesta pesquisa, nosso foco está direcionado para as famílias de imigrantes italianos que elegeram a Amazônia como região de destino percorrendo diferentes trajetórias que se iniciavam do outro lado do Atlântico, aqui se fixaram e se integraram à economia e à sociedade amazônicas. Como mencionado anteriormente, algumas famílias, após várias tentativas mal sucedidas de fixação em outras regiões, principalmente no Sul e no Sudeste do Brasil, aqui aportaram constituindo a Amazônia o ponto final de sua condição de migrante. Em menor número, havia aquelas que já saíam de seus países de origem tendo a Amazônia como destino primeiro, quer arregimentados para projetos de colonização quer motivados pela intensa propaganda de oportunidades de trabalho na região decorrente da economia da borracha ou ainda, atendendo cartas de chamada de parentes para o exercício de atividades comerciais em várias cidades amazônicas.

81 81 Como as famílias de imigrantes italianos se inseriram na nova sociedade que as acolhia? Até que ponto essa inserção constituiu um diferencial econômico político e cultural na Amazônia? Na vasta literatura sobre a imigração italiana no Brasil o espaço dedicado ao registro dessa presença na Amazônia é pontual e na maioria das vezes inexistente. Talvez a persistência dessa lacuna seja devido à pouca expressão numérica dos estrangeiros, se comparada, às regiões de maior fluxo. Essa literatura considera a imigração estrangeira para a Amazônia como espontânea, temporária e urbana, formada por indivíduos que ao chegarem no final do século XIX, no rastro da economia da borracha, desenvolviam suas atividades nas cidades ou em função das cidades, como grande número de artesãos e de pequenos comerciantes, poucos operários e raros agricultores e sempre ligados ao auge da borracha amazônica (TRENTO,1989; CENNI, 2003). Mas, como apresentado nos dados dos censos e confirmado em outras fontes a vinda de italianos para a Amazônia não se restringiu ao fim do século XIX, eles continuaram chegando durante as primeiras décadas do século XX, se fixaram e continuaram desenvolvendo suas atividades comerciais até os anos 1950, quando a segunda geração passou a exercer profissões liberais, sobretudo nas cidades (ANDRADE, 2002). Já foi dito que a imigração italiana na Amazônia tem certas peculiaridades, sendo a principal delas a decisão tomada por pessoas ou grupos familiares de emigrar para uma região distante dos grandes centros que atraíam levas de imigrantes no período da imigração em massa. Por que no fim do século XIX e nas primeiras décadas do século XX, houve essa preferência pela Amazônia? Quem

82 82 eram esses imigrantes? De que regiões da Itália vieram? Quais as marcas de sua presença na economia e na sociedade amazônicas? Embora o número de imigrantes vindos para a Amazônia seja menor, se comparado aos grupos de italianos que vieram para o Sul e Sudeste do Brasil, evidências empíricas permitem agrupar os imigrantes italianos na Amazônia em dois grandes segmentos: (1) imigração dirigida de setentrionais e meridionais para as colônias agrícolas e, (2) imigração espontânea de italianos de procedência predominantemente meridional para as cidades amazônicas. A imigração dos dois segmentos mencionados foi contemporânea, ou seja, ambos chegaram nas duas últimas décadas do século XIX, vindos de diversas regiões da Itália. Na Amazônia embora predominem os oriundos da Itália Meridional, de regiões como Calábria, Basilicata, Campânia, também houve emigração, embora em menor número, da Itália Setentrional: regiões do Vêneto, Lombardia, Ligúria, Emilia Romagna e Piemonte; da Itália Central: regiões da Toscana e Lazio e ainda da Itália Insular: região da Sicília.

83 83 4 A IMIGRAÇÃO DIRIGIDA PARA COLÔNIAS AGRÍCOLAS NA AMAZÔNIA Em relação ao primeiro segmento migratório, o qual denominamos de imigração dirigida para as colônias agrícolas, verifica-se que está inserido no projeto de colonização inaugurado pelo governo imperial e que teve continuidade nos primeiros anos da República, visando o povoamento de algumas regiões do território nacional por agricultores estrangeiros. Esse segmento era formado por famílias de agricultores originários das regiões do Vêneto, Campânia e Sicilia que aqui chegaram através de contratos estabelecidos entre o governo do Pará e particulares. Eram destinados a povoar as colônias de Ianetama e Anita Garibaldi localizadas ao longo da estrada de ferro Belém-Bragança e a colônia modelo de Outeiro, no distrito de Pinheiro (Icoaraci), município de Belém. Embora tenha sido referida na literatura como uma experiência fracassada e por isso de menor importância, é importante recuperar a memória da experiência de implantação de colônias agrícolas com imigrantes estrangeiros na Amazônia. Apesar da curta existência desta corrente, essas experiências representaram a porta de entrada para a fixação de famílias italianas no interior da Amazônia e sua contribuição econômica e social é notada até hoje. Foram grandes as dificuldades no sentido de encontrar dados que permitissem a identificação e análise desse segmento. Em primeiro lugar, porque a esparsa literatura que se refere às colônias agrícolas destinadas a receber imigrantes italianos no Norte do Brasil, apenas registra que essas foram experiências mal sucedidas, mas não existe qualquer discussão sobre as causas desse insucesso (TRENTO, 1989; CENNI, 2003). Por outro lado, os dados sobre esses imigrantes são escassos e localizá-los demandou um grande esforço de pesquisa em manuscritos do acervo da antiga Repartição de Terras e Colonização

84 84 que se encontra no Arquivo Público do Pará. Contudo, esses registros permitem reconstituir uma listagem desses imigrantes, que embora incompleta, fornece pistas sobre a origem regional, a composição familiar, a idade dos imigrantes, a data de chegada, o navio que os transportou e outras informações importantes que ajudaram situar essa corrente migratória no contexto da imigração italiana na Amazônia NO FIM DO IMPÉRIO A política de imigração e colonização No período imperial registrou-se uma política de introdução de imigrantes estrangeiros em várias províncias. Nesse período o objetivo da política de imigração era atrair estrangeiros para povoar os considerados vazios demográficos, neles estabelecendo colônias agrícolas, o que permitiria tanto a posse do território, como a produção de riquezas. Por isso, o imigrante desejado era o agricultor ou artesão que aceitasse viver em colônias e não o aventureiro que preferisse viver nas cidades (OLIVEIRA, 2001). Em 1848, foi promulgada uma lei que permitia aos estrangeiros a propriedade de terras no Brasil. O governo imperial subvencionava a formação de núcleos coloniais de agricultores em suas terras devolutas e em sistema de pequena propriedade, como foi o caso dos alemães no Rio Grande do Sul. Nessa política que foi francamente direcionada para o sul do Brasil, as províncias do Norte não figuravam entre as opções para a entrada de estrangeiros. Como foi comentado anteriormente, mudanças introduzidas no período regencial como a transferência para as províncias dos encargos com a vinda de imigrantes, dificultaram ainda mais esse ingresso nas províncias mais distantes e de menor peso econômico, como as províncias do Norte. Nesse sentido, a partir das

85 85 regras traçadas pelo poder central, as legislações provinciais procuraram se adequar para promover a entrada de imigrantes em seus territórios apoiando organizações particulares criadas com essa finalidade. No Pará, já na instalação da Assembléia Legislativa Provincial do Grão Pará de 1838, imigração e colonização apareceram como problemas importantes a serem tratados (MUNIZ, 1916), mas é só em 1853 que o governo provincial cria o primeiro instrumento legal para promover a introdução de imigrantes no Pará, através da Resolução n. 266, de 15 de dezembro do referido ano. Esse instrumento determinava a criação no Tesouro Público, de uma caixa oficial com fundos de vinte contos de réis anuais, destinando-se a facilitar a introdução de colonos europeus. Esse valor foi aumentado para quarenta e oito contos de réis anuais, através da Resolução n. 263, de 13 de outubro de 1854, que estabelecia as bases para a vinda dos colonos. De acordo com o que prescrevia a Resolução 263, os colonos teriam direito a passagens e alimentação gratuitas durante a viagem. A escolha dos colonos teria como critérios a idade, a moralidade e o estado de saúde, dando preferência aos moços e aos sadios. O Governo dispensaria aos imigrantes toda possível hospitalidade pelo prazo de oito dias e seria solicitado pelo Governo aos agentes consulares brasileiros todo apoio para que gozassem de bom tratamento durante a viagem (CRUZ, 1955). Na vigência dessa Resolução, a primeira proposta aceita pelo governo da província foi formulada pelo cônsul de Portugal em Belém, para a introdução de 100 colonos portugueses no território paraense. Posteriormente novas propostas apareceram como a de João Augusto Corrêa que se propunha trazer 250 imigrantes europeus. O maior obstáculo para a fixação dos colonos neste período era a terra para assentá-los, uma vez que a Província não dispunha de terras suas

86 86 que pudessem ser distribuídas. O governo do Pará propôs estabelecer esses imigrantes nas colônias militares de Óbidos e D. Pedro II (São João do Araguaia), mas essas experiências não se concretizaram (MUNIZ, 1916). A literatura relata algumas experiências tentadas ainda no Império para a introdução de colonos estrangeiros no Pará, (MUNIZ, 1916; CRUZ, 1955). A colônia de Nossa Senhora do Ó foi criada em 1853 pelo coronel José Ó de Almeida, em terras do engenho Boa Vista, localizado na ilha das Onças, para a qual foram levados 47 estrangeiros de várias nacionalidades e 160 brasileiros. Como resultado da falta de adaptação às condições geográficas da colônia, registraram-se mortes e fugas de colonos; essa colônia desapareceu em Nas proximidades de Santarém, foi criada uma colônia em virtude de um contrato celebrado em 1866 com o cidadão norte-americano Lansford Warson Hastings. Com a morte de Hastings no final do mesmo ano, a colônia foi declarada extinta, embora fosse garantido aos colonos seus direitos aos lotes que ocupavam. Ainda em Santarém, houve a tentativa de criação de uma colônia agrícola em 1871, para a qual teriam vindo 18 ingleses. Segundo Palma Muniz, esse empreendimento também não obteve sucesso, uma vez que a colônia nem chegou a ser implantada A colônia de Benevides No decorrer das últimas décadas do Império, a elite do Pará apoiava vigorosamente a colonização agrícola através de imigrantes europeus e criticava abertamente o governo imperial por não direcionar à Amazônia a imigração estrangeira subvencionada e nesse sentido encaminhava pleitos ao imperador. Em 1875 foi criada pelo governo provincial a colônia de Benevides, localizada na estrada

87 87 de ferro de Bragança, na qual se instalaram, entre outros estrangeiros, as primeiras famílias de colonos italianos que chegaram ao Pará. Em 1875, o governo imperial através do Ministério da Agricultura estabelecia a política de transferir para a província do Pará grupos de colonos estrangeiros que anteriormente tinham emigrado para províncias do Sul. Até março desse ano em duas levas, encaminhou 44 colonos, em sua maioria franceses. Esses colonos destinavam-se a Santarém, mas, por decisão do presidente da província foram localizados na estrada de Bragança e a eles foram destinados lotes de terras para agricultura (CRUZ, 1955). Os imigrantes continuaram a chegar e o governo da província em virtude da dificuldade de alojar esses estrangeiros decidiu apressar a instalação da colônia de Benevides que estava em construção. Cruz (1955, p. 4) fornece detalhes da chegada desses imigrantes: Pelo vapor Bahia chegado do sul do império no dia 25 de abril de 1875, vieram para Belém 68 imigrantes franceses, italianos e espanhóis, que ficaram hospedados num dos navios da AMAZON STEAM NAVIGATION COMPANY, por conta do governo. Eram quase todos artistas (artesãos) segundo informava o DIÁRIO DO GRÃO PARÁ aos seus leitores[...] Houve muita dificuldade na colocação desses imigrantes. A colônia da estrada de Bragança (Benevides), ainda não estava em condições de recebê-los. Diante dos gastos que o governo fazia diariamente para alimentá-los e mantê-los com decência, foi tomada a deliberação de oferecê-los para quem precisasse de seus serviços. O historiador comenta que como não aparecessem interessados nos trabalhos desses imigrantes, o presidente da província decidiu que os franceses, que eram 17, considerados como mais aptos para a agricultura, seriam alocados às margens da estrada de ferro de Bragança. A esses imigrantes concedeu-se título provisório de um lote de terras devidamente demarcado, instrumentos agrícolas, sementes e alimentos durante seis meses. Decidiu-se alojá-los num barracão,

88 88 fornecendo o governo telhas e material de construção para os que se dispusessem a erguer suas casas. Esse grupo deu origem à colônia de Benevides oficialmente instalada em 13 de junho de Gradativamente foram aceitos na colônia imigrantes de outras nacionalidades. Da data de instalação até outubro do mesmo ano, havia na colônia 180 pessoas: 87 franceses, 35 italianos, 33 espanhóis, 11 alemães, 5 belgas, 3 ingleses, 2 suíços, 2 argentinos e 1 norte-americano (Tabela 12). Tabela 12: Entrada de colonos em Benevides, segundo a nacionalidade, Nacionalidade Número de colonos Out Jan Fev Franceses Italianos Espanhóis Alemães Belgas Ingleses Suíços 3-4 Argentinos Norte-americanos Prussianos Portugueses Brasileiros TOTAL Fonte: Penteado (1967, p. 142) Dos primeiros italianos que vieram para a colônia de Benevides existem poucas informações. Um deles, Francesco Frediani, teria adquirido por compra direta do governo da província um lote rural situado na primeira transversal da estrada de ferro de Bragança, no município de Benevides, em 4 de setembro de

89 e teria morrido em Benevides em Francesco foi casado com Joanna Frediani com quem teve cinco filhos, conforme relato de uma sua tetraneta: Meu tetravô chamava-se Francesco Frediani e acredito que colonizou ou ajudou a colonizar a Colônia de Benevides. Eu sei que tinha muitos hectares de terra e vendeu (parte) destas terras, de acordo com a história falada na família, para que a estrada de ferro passasse. Eu tenho comigo uma Partilha da Herança na qual ele divide a terra entre seus (5) filhos. Mas, não sabemos exatamente o que aconteceu.depois. [...] Ele era dono de muitos hectares na colônia de Benevides. Meu pai me falou uma vez, que Francesco Frediani tinha plantação de cana de açúcar e um engenho que fabricava cachaça (Depoimento n. 2). Desse relato pode-se inferir que foi um colono que obteve sucesso no seu projeto emigratório uma vez que conseguiu acumular bens e deixar para os herdeiros ou ainda pode se tratar de um pequeno proprietário ou artesão em sua região de origem que teria emigrado com algum recurso. Outro italiano, Miguel Monte Fusco, segundo Penteado (1967) teria montado em seu lote um engenho onde fabricava açúcar e aguardente e seria considerado até mesmo pelo presidente da Província como exemplo do colono bem sucedido. Esses dois relatos não são certamente as únicas referências de sucesso, pelo menos inicial, da Colônia. Se se aceita que a Colônia foi originalmente criada em junho de 1895 com 17 franceses ela atraiu um considerável número de outros colonos de diversas nacionalidades durante o primeiro ano de existência. Em outubro do mesmo ano de fundação, a população da colônia somava já 180 habitantes, todos estrangeiros, de diversas nacionalidades Observa-se pelos dados da Tabela 12, que em 1875, os italianos constituíam a segunda nacionalidade, somente suplantados pelos franceses, posição que se mantém, embora em número menor de colonos, em Havia um movimento constante de admissão de novos e desistência de antigos colonos. As desistências eram geralmente motivadas pela falta de adaptação às condições climáticas,

90 90 natureza dos trabalhos e exigências da administração no cumprimento dos contratos. Em 1877, após dois anos de instalação da colônia haviam entrado 360 imigrantes e saído 243. Dos 117 remanescentes, 91 eram estrangeiros, reduzindose também o numero de nacionalidades e aumentando o número de brasileiros que passaram de 0 em 1875, para 2 em 1876 e 26 em Essas cifras refletem os esforços do governo em manter a colônia em funcionamento através da introdução de colonos brasileiros vindos principalmente do Nordeste, os quais teriam maior adaptação e melhor rendimento nas atividades agrícolas Outras medidas foram tomadas pelo governo para recuperar a colônia, numa demonstração clara de seu objetivo de ocupar terras através da imigração estrangeira. Foram destinadas verbas de socorros públicos e um regulamento adequado às suas finalidades, mas a colônia não conseguiu manter-se entre 1899 e 1900, já quase mais nada havia na região, salvo os povoados do Carmo, Benevides e a decadente vila de Benfica. A colônia de Benevides nem consta da relação de núcleos que foram emancipados em 1902 (PENTEADO, 1967, p. 145). A falta de vocação agrícola dos imigrantes (a maioria era composta por artesãos), o isolamento da colônia em plena mata virgem que dificultava a colocação dos produtos agrícolas no mercado de Belém, e a centralização da documentação na capital do Império, que dificultava o controle sobre esses estrangeiros, aliado a dificuldades enfrentadas pelo Império em levar em frente sua política de colonização estrangeira no país, suplantaram as vantagens oferecidas aos colonos, como a entrega dos lotes com o respectivo título de posse, com a mata derrubada e as habitações construídas, e a garantia de fornecimento de alimentos e instrumentos agrícolas durante os primeiros seis meses (MUNIZ, 1916; PENTEADO, 1967).

91 91 O povoado de Benevides (onde a colônia ficava situada) foi elevado à categoria de vila, em 1899 na condição de distrito do município de Belém. Na época, os seus habitantes eram principalmente cearenses, embora ainda permanecessem no local alguns estrangeiros, como Frediani, que aí viveu por quase 40 anos, onde morreu em Com a nova divisão municipal, Benevides permaneceu até 1937 como distrito de Santa Izabel do Pará, e posteriormente do município de Ananindeua. Finalmente em 1961, através da Lei 2460, de foi elevado à categoria de município (ROCQUE, 1993). A experiência da colônia de Benevides permite analisar num plano maior as dificuldades enfrentadas pela província do Pará na época imperial para implementar sua política de colonização estrangeira. No Pará, a fim de incentivar esse tipo de colonização foi criada a Sociedade Paraense de Imigração em 17 de novembro de 1885, instalada oficialmente em 31 de janeiro de 1886, no prédio do antigo Convento das Mercês, onde também passou a funcionar provisoriamente a hospedaria dos imigrantes (MUNIZ, 1916). No mesmo ano foi elaborado um Guia dos Imigrantes que deveria ser distribuído nos países de emigração. Esse Guia, de maneira ufanista e até mesmo fantasiosa, propagava as vantagens que o imigrante encontraria no Pará: Enquanto no sul o imigrante tem que viver à custa do estado até a primeira colheita, no Pará encontra com facilidade um trabalho muito produtivo desde o primeiro dia de seu estabelecimento. Assim, o imigrante encontra-se diante de florestas seculares, onde poderá aproveitar a melhor madeira para construção e marcenaria. A caça fornece-lhe uma alimentação própria e sadia, os frutos naturais e outros vegetais comestíveis crescem facilmente, de modo que o colono, proprietário do lote que ele mesmo escolhe, pode obter imediatamente os melhores resultados (PROVÍNCIA DO PARÁ, 1886, p. 12). Apesar da intensa propaganda feita nos países europeus, os esforços da Sociedade Paraense de Imigração não foram frutíferos no sentido de promover a

92 92 imigração européia no Pará, como se pode deduzir da experiência de implantação da colônia Araripe relatada por Cruz (1955). Em junho de 1886, em virtude de um contrato estabelecido em Portugal com a firma Calheiros & Oliveira, chegaram 21 famílias açorianas, totalizando 108 pessoas que foram encaminhadas para a colônia Araripe ( atual distrito de Americano, do município de Santa Izabel). Os açorianos recusaram-se a desembarcar do trem, uma vez que os lotes não estavam preparados para recebê-los de acordo com o que estipulava o contrato e nem sequer o alojamento coletivo estava concluído. Esses açorianos regressaram para Belém, com o representante da Sociedade Paraense de Imigração que os acompanhou até à capital paraense onde se dispersaram. Na área da colônia foram posteriormente instalados imigrantes cearenses e no final do século XIX, o povoado e os terrenos do núcleo foram incorporados à Intendência Municipal de Belém. Essa tentativa fracassada de colonização trouxe como conseqüência a rejeição pela Assembléia Legislativa Provincial de duas novas propostas encaminhadas por Frederico Santana Nery e por Heráclito Fiock Romano que se propunham introduzir em 1887 no Pará, 5000 imigrantes europeus (CRUZ, 1955). O historiador conclui que deste modo foi desfeito o sonho da Sociedade Paraense de Imigração de promover a imigração européia em larga escala na província do Pará. Com a instalação da República o governo extinguiu a Delegacia de Terras e Colonização do Pará e a Hospedaria dos Imigrantes que eram mantidas pelo governo federal. Conforme dispunha o Decreto 163 de 1890 reafirmado pela primeira Constituição Republicana de 1891, a política de colonização e imigração passou para a esfera estadual. Qual foi a importância do projeto de colonização e imigração do Governo Imperial na região?

93 93 Conforme discutido anteriormente, a articulação da imigração ao povoamento do território fez com que os temas de imigração e colonização estivessem presentes nos dispositivos legais do período imperial. As várias tentativas de implantação de colônias agrícolas com imigrantes europeus e de modo especial o caso da colônia de Benevides, não devem ser olhados apenas sob o prisma de uma experiência fracassada no sentido de implantação de um projeto agrícola que não teve continuidade. Há um saldo positivo, para a economia com a construção de engenhos, introdução de novas técnicas agrícolas e certamente novos hábitos culturais trazidos pelos europeus e finalmente deu origem a um novo município criado anos mais tarde. 4.2 NA PRIMEIRA REPÚBLICA A política de imigração e colonização Com a inauguração do pacto republicano, teria havido um redirecionamento da política de colonização no sentido de fomentar a entrada de colonos estrangeiros na Amazônia? O Decreto n. 163, de 1890, recém proclamada a República, ao estabelecer um novo modelo de colonização no país determinou que para a Amazônia deveriam ser encaminhados somente colonos nacionais, uma vez que segundo as condições climáticas, a região seria inadequada para receber imigrantes europeus. Há nesse dispositivo legal uma clara mudança em relação à política do Império que imbuída por princípios eugênicos e ideológicos europeus considerava a raça branca a mais qualificada para dominar as condições tropicais. A Amazônia estava pois, por esse dispositivo, excluída do projeto de colonização estrangeira (SEYFERTH, 2001).

94 94 Entretanto, a transição da Monarquia para a República no Pará conforme assinala Weinstein (1993) não constituiu apenas uma mudança de forma política, resultou em maior autonomia fiscal e administrativa, num momento em que se registrava enorme crescimento da renda regional. A federação política criada pelo regime republicano atribuía independência administrativa e financeira aos estados, situação que se distanciava do regime imperial com seu controle tanto sobre a burocracia como com a receita das províncias. As elites paraenses consideravam que se fazia necessário um certo grau de descentralização que permitisse ao Pará maior participação nos benefícios decorrentes da economia da borracha. Afirmavam que tanto no que tange à receita como no poder político, havia uma distribuição injusta. Lauro Sodré, o primeiro governador constitucional do Pará, exerceu o mandato no período Foi favorecido pela valorização da borracha amazônica. A independência administrativa garantida pelo novo pacto permitiu que o governo estadual desse continuidade à política de colonização com estrangeiros inaugurada no Império, através da Lei 223 de 1894 que autorizou o governo a promover a introdução de estrangeiros que pretendessem estabelecer-se no estado como agricultores ou comerciantes (MUNIZ, 1916). Essa lei garantia aos estrangeiros os seguintes direitos: serem recebidos a bordo dos navios por funcionários do Estado e serem transportados para a Hospedaria dos Imigrantes 2, criada em 1895, onde ficariam pelo prazo de 10 dias, transporte gratuito para os lugares de destino, alimentação durante 6 meses, assentamento em lotes de 25 hectares com casa e uma área destocada, tratamento médico e concessão de ferramentas e sementes. Em contrapartida, os imigrantes 2 Essa hospedaria ficava situada no prédio da antiga Olaria do Outeiro, no furo do Maguari e seu primeiro administrador foi José Joaquim Ferreira de Mendonça (MUNIZ, 1916).

95 95 eram obrigados a permanecer no estado do Pará por pelo menos 3 anos a contar da data de chegada. Na hospedaria além de ficar gratuitamente até 10 dias, os imigrantes contavam nesse período com serviço médico e farmacêutico, além do direito de tratar diretamente com os interessados que a administração julgasse idôneos para contratar seus serviços (MUNIZ, 1916). No governo Lauro Sodré, ao longo da estrada de ferro de Bragança foram criadas três colônias agrícolas, inicialmente com objetivo de receber imigrantes europeus (principalmente espanhóis, italianos e portugueses). Mas apesar dos esforços para atrair colonos, o número de imigrantes estrangeiros introduzidos ficou sempre aquém do esperado, levando os núcleos a serem gradativamente ocupadas por uma imigração interna composta por colonos nordestinos, que passaram a partilhar a terra com espanhóis, italianos, portugueses, franceses e outros estrangeiros que neles permaneceram (CRUZ, 1955). Desse modo, em 1893 foi criado o núcleo Marapanim, situado próximo ao povoado de Castanhal que recebeu imigrantes espanhóis, portugueses e posteriormente recebeu também cearenses; em 1894 o núcleo de Benjamin Constant, próximo ao município de Bragança, foi criado para receber imigrantes espanhóis, mas recebeu também nordestinos, vindos do Ceará e do Rio Grande do Norte. Em 1895, foi criado núcleo de Jambu-Açu, que deu origem ao atual município de Igarapé-Açu. Esse núcleo recebeu imigrantes espanhóis, portugueses, além de muitos nordestinos, principalmente cearenses (MUNIZ, 1916; CRUZ, 1955; PENTEADO, 1967). O sucessor de Sodré, Paes de Carvalho governou o Pará de 1897 a Enfrentou graves crises políticas decorrentes das disputas entre as oligarquias laurista e lemista. No plano econômico foi um período tumultuado pelas constantes

96 96 oscilações do preço da borracha. O ponto mais importante de sua administração foi o incentivo à colonização da região bragantina, dando continuidade ao trabalho realizado por Lauro Sodré. O Decreto 663 de 21 de março de 1899 criou a Inspetoria de Terras, Colonização e Immigração e o cargo de inspetor de terras e colonização. Essa inspetoria possuía duas secções distintas: a de serviços de terras e minas e a de colonização e imigração à qual ficavam subordinados os núcleos coloniais e a hospedaria dos imigrantes. No governo de Paes de Carvalho, ao longo da estrada de ferro de Bragança, foram criados núcleos agrícolas destinados a receber imigrantes estrangeiros, que posteriormente foram também ocupados por brasileiros, principalmente nordestinos. A colônia José de Alencar foi fundada em 1898, ficava localizada entre o núcleo de Marapanim e o povoado de Castanhal, recebeu imigrantes espanhóis; o núcleo Santa Rosa, criado em 1898, ficava situado à margem da estrada que ia do povoado de Santa Izabel à estrada da Vigia, recebeu imigrantes espanhóis, alemães e italianos; o núcleo Ferreira Pena foi criado em 1898 e ficava situado próximo à colônia de Araripe, à margem esquerda da estrada de ferro de Bragança, recebeu colonos espanhóis (CRUZ, 1955; PENTEADO, 1967). Além desses núcleos mencionados, ainda no governo de Paes de Carvalho foram fundadas as colônias Anita Garibaldi, em 1898, e Ianetama, em 1899, que por serem criadas através de contratos específicos para receber colonos italianos, serão objeto de análise mais detalhada em outra parte deste capítulo. Do mesmo modo, a colônia de Outeiro, que através de contrato com particulares recebeu imigrantes italianos, merecerá igual tratamento.

97 97 Lauro Sodré e Paes de Carvalho governaram o Pará em pleno período áureo da borracha e necessitavam dinamizar o setor agrícola afetado pela expansão da economia gomífera. O programa de colonização visava, portanto, revitalizar a agricultura paraense e, particularmente, aqueles setores que produziam para o mercado local dando resposta à escassez de alimentos nas áreas urbanas (WEINSTEIN, 1993). Nessa época, as grandes fazendas das várias regiões brasileiras produziam principalmente para exportação, enquanto os consumidores urbanos dependiam dos gêneros alimentícios fornecidos pelos pequenos agricultores, desprovidos de capital. Na Amazônia esse problema era agravado, uma vez que não só a população urbana crescia rapidamente, como também era reduzida a capacidade de auto-suficiência da população rural. O governador Lauro Sodré, em relatório de 1894, apontava a necessidade de ser estabelecida uma linha direta de navegação entre o mediterrâneo e o norte do Brasil, visando facilitar a vinda de imigrantes para a Região Amazônica (TRENTO, 1989). Em 1897, foi dada a concessão da linha de navegação ao político e armador italiano Gustavo Gavotti, que passou a operar através da companhia La Ligure Brasiliana, tendo como sócia a casa comercial do também lígure Angelo Fiorita, que enriquecera como comerciante no Nordeste do Brasil. Os navios da empresa de Gavotti, que faziam linhas regulares Gênova-Belém-Manaus, trouxeram artistas, jornalistas, profissionais liberais à Amazônia. Também foi em navios da La Ligure Brasiliana que vieram os agricultores italianos para as colônias de Anita Garibaldi, Ianetama e Outeiro (TRENTO, 1989)

98 98 Esse fluxo migratório direcionado para as colônias agrícolas durante a Primeira República foi composto por grupos familiares de agricultores italianos que em 1899, em navios da companhia La Ligure Brasiliana deixaram a Itália destinando-se a povoar colônias agrícolas na Amazônia, como as de Anita Garibaldi, Ianetama e Outeiro, localizadas no estado do Pará. Esse povoamento se daria através de contratos firmados entre o Governo do Estado e concessionários que se responsabilizavam pela vinda e instalação dos colonos. Sobre os italianos que vieram para essas colônias, o Arquivo Público do Pará, mantêm alguns registros, poucos e esparsos, especialmente no caso da colônia de Anita Garibaldi. Sobre as famílias destinadas à colônia de Outeiro e principalmente sobre as que vieram para a colônia de Ianetama, existe uma documentação maior, embora incompleta e em precário estado de conservação Colônia Anita Garibaldi A colônia Anita Garibaldi originou-se de um contrato, assinado em dezembro de 1898, entre o Governo do Estado e o cidadão italiano Mario Cataruzza. Pelo contrato, esse concessionário se comprometia em fundar uma colônia para introduzir no Pará, duzentas famílias de agricultores italianos, originários das regiões do Veneto, Lombardia, Piemonte e Emilia Romagna, localizadas na Itália Setentrional (CRUZ, 1955). A colônia localizava-se numa área compreendida entre a estrada de Castanhal a Curuçá, a oeste, o braço esquerdo do rio Marapanim, ao norte, e o igarapé dos Defuntos e o braço direito do Marapanim, ao sul e a leste. Seriam demarcados 200 lotes com 25 hectares cada um, abarcando um total de 5.000hectares (Figura 1).

99 99 Figura 1: Planta da Colônia Anita Garibaldi, 1899 Fonte: Penteado (1967, p. 157) De acordo com o contrato, os lotes agrícolas seriam destinados à plantação de cereais e produtos comerciais como cana, café e algodão de acordo com normas estabelecidas pela Sociedade Paraense de Agricultura. Entre outras exigências, esse contrato obrigava o concessionário a fazer a discriminação dos lotes, abrir estradas, efetuar derrubada e queimada, construir uma casa para cada família, construir escolas, ir buscar as famílias pessoalmente na Itália, fornecer alimentação aos colonos nos seis primeiros meses e entregar a colônia totalmente emancipada ao Estado dentro do prazo de um ano, quando as 200 famílias tivessem sido instaladas (CRUZ, 1955). Havia ainda a exigência de que nenhum chefe de família poderia ter mais de 50 anos. O Estado garantia ao contratante o pagamento de uma subvenção para o

100 100 transporte marítimo de cada família introduzida e para as despesas decorrentes do transporte dos imigrantes até o porto de embarque bem como a estadia na hospedaria dos imigrantes e o transporte até a colônia agrícola (PENTEADO, 1967). Analisando a planta da colônia, observa-se que foram demarcados 197 lotes, com 25 hectares. 48 deles estavam localizados ao longo da estrada de Castanhal a Curuçá, outros restantes foram localizados em 5 travessas a partir da estrada, nos km 17 (35 lotes), no km 19 (60 lotes), no km 21 (18 lotes), no km 23 ( 18 lotes), no km 24 (18 lotes). Observa-se ainda que 19 deles, todos localizados à margem da estrada, já estavam parcialmente preparados com parte da mata derrubada, conforme exigência do artigo 2º. Alínea b do contrato (Anexo 1). Observa-se ainda que 111 casas estavam construídas, três estavam em construção e três haviam sido rejeitadas, restando portanto 80 lotes apenas demarcados. A sede da colônia estava concluída e localizava-se a altura do km 19 da estrada Castanhal-Curuçá ao lado da qual havia sido reservada uma área para futura povoação. Infere-se que essa área era parcialmente habitada, pois havia nove sítios de antigos moradores, todos localizados às margens do rio Marapanim, que tiveram suas áreas respeitadas na elaboração da planta original da colônia Como se pode deduzir da organização espacial da colônia, esperava-se um empreendimento de grande envergadura para época, mas as exigências do contrato eram realmente incomuns para a época. O contratante não conseguiu cumpri-las. Das 200 famílias previstas, só conseguiu introduzir 19, totalizando 95 pessoas. O contrato foi rescindido em dezembro de 1899 (CRUZ, 1955), o que praticamente eliminou a entrada de mais estrangeiros na colônia. Mesmo assim, em 1900 a população da colônia havia aumentado para 917 pessoas, o que representa um salto de mais de 900%. Mas, destas apenas 37 eram italianas, outras eram

101 101 espanholas, belgas e a maioria brasileiras. Com o contrato rompido a colônia passou a ser administrada pela Repartição de Colonização e Imigração. O núcleo se notabilizou durante vários anos pela produção de farinha de mandioca, onde havia 18 fornos de cobre para a fabricação desse produto (CRUZ, 1955). Com a expansão do município de Castanhal, as terras da antiga colônia foram incorporadas a esse município constituindo o bairro de Anita Garibaldi, no qual não se encontrou no momento da pesquisa, em 2006, nenhum descendente dos agricultores italianos trazidos por Cataruzza. Os italianos abandonaram a colônia e espalharam-se por vários municípios da região bragantina onde vivem hoje seus descendentes (MUNIZ, 1916) Colônia de Outeiro O surgimento da colônia de Outeiro parece estar diretamente relacionado com a criação da Hospedaria dos Imigrantes por Lauro Sodré em Já no governo Paes de Carvalho, em 1898, em terras ao lado dessa hospedaria foi criado um Núcleo Modelo, que receberia imigrantes de várias nacionalidades, entre os quais os italianos. Conforme Muniz (1916, p. 88): Com a acquisição dos terrenos da olaria Outeiro para a instalação da Hospedaria dos Imigrantes, separado o terreno necessário para este importante estabelecimento, resolveu a administração pública em 1898, crear nas terras restantes um Núcleo Modelo, que denominou de Núcleo de Outeiro e é constituído de 14 lotes nas quais foram feitas boas casas de colonos, tendo o estado nele despendido 234:371$500 Em 1899, com base num acordo entre o governo do estado do Pará e o governo italiano foi feita uma tentativa de instalar imigrantes dessa nacionalidade na colônia de Outeiro. Pelo acordo, cada família receberia um lote de 25 hectares, dos quais 10 metros quadrados já estariam desmatados e receberia ainda salário durante três dias por semana para desmatar o resto do terreno; receberia também,

102 102 ferramentas de trabalho, utensílios de cozinha e alimentação gratuita nos primeiros seis meses. O acordo garantia ainda o repatriamento após seis meses, para os colonos que não tivessem se adaptado ao clima (TRENTO, 1989). O historiador informa que apenas três das 12 famílias que aqui chegaram permaneceram no Pará. Outras foram repatriadas. No Arquivo Público encontramos informações parciais sobre nove dessas doze famílias. Localizou-se uma Declaração contendo a assinatura de nove chefes de família, todos do Veneto, que em 15 de junho de 1899, pelo vapor Rio Amazonas, da companhia Ligure Brasiliana, sob a responsabilidade do senhor Gustavo Gavotti, teriam vindo para Belém com a finalidade de se estabelecer em Outeiro: Os subscritos contadini (agricultores) na qualidade de chefes de família declaram nada haver pago a qualquer título para sua passagem e de sua família no vapor Rio Amazonas (Companhia La Ligure Brasiliana), em 15 de junho de 1899, havendo toda a despesa ser assumida pelo senhor Gustavo Gavotti por conta do Governo do Estado do Pará e disseram pois que iam se estabelecer na região denominada Outeiro (ARQUIVO PÚBLICO DO PARÁ, 1899). Essa declaração era assinada pelos imigrantes Pietro Montagnini, Giorgio Montagnini, Sisto Montagnini, Ângelo Moi, Francesco Moi, Secondo Zapparoli, Ângelo Palachini, Antonio Gilioli e Ascanio Balavato. Observa-se que além de pertencerem à mesma região, Vêneto (norte da Itália) a lista apresenta 3 chefes de famílias com o mesmo sobrenome Montagnini e 2 com o mesmo sobrenome Moi. A relação familiar é evidente, uma vez que eram provenientes da mesma região, talvez da mesma comuna e emigraram no mesmo navio, tendo em comum a mesma área de destino. Em 1900, havia na colônia 11 famílias totalizando 47 pessoas, das quais apenas 7 eram italianas, outras eram espanholas, portuguesas e brasileiras. Em 1902, no governo de Augusto Montenegro, o Núcleo Modelo de Outeiro foi declarado

103 103 extinto e em 1904 foram expedidos 8 títulos gratuitos de terra para antigos ocupantes e 6 foram adquiridos por compra (MUNIZ, 1916). A antiga hospedaria dos imigrantes foi desativada, sendo no local edificado o Instituto Orphanológico, inaugurado em Atualmente, o prédio desse instituto abriga o CEFAP, unidade da Polícia Militar do Estado (SILVA; FERNANDES, 1996) Colônia Ianetama A colônia Ianetama foi outro núcleo agrícola especificamente destinado a receber imigrantes italianos. Ficava localizado à margem da estrada de ferro de Bragança a 19 km de Castanhal. Surgiu em virtude de um contrato assinado entre o Estado do Pará e o italiano Salvador Nicosia, em 20 de janeiro de 1899, para a introdução de 200 famílias de agricultores italianos. Visava a criação de um estabelecimento pecuário regular e a instalação de maquinismos especiais para o fabrico de banha e artigos que pudessem ser produzidos com suínos (MUNIZ, 1916). A colônia, que totalizava aproximadamente hectares foi preparada pelo Serviço de Terras do Pará, para receber os imigrantes. Com essa finalidade foram demarcados 200 lotes de aproximadamente 25 hectares, construíram-se casas e foram abertas linhas e 12 travessas (Figura 2).

104 104 Figura 2. Colônia Ianetama, 1899 Fonte: Penteado (1967, p. 152) Observa-se que os lotes estavam distribuídos em dois blocos ordenados simetricamente, divididos pelo Igarapé Itauari. 25 lotes estavam localizados às margens da estrada de ferro de Bragança, enquanto outros se encontravam distribuídos pelas 12 travessas identificadas por letras de A até M, com casas situadas na frente de cada lote. Entre o primeiro e o segundo lote há indicação de que havia um terreno ocupado por Simplício José Moreno. Salvador Nicosia trouxe para a colônia 48 famílias. O Arquivo Público do Pará, no acervo da antiga Secretaria de Obras Públicas, Terras e Colonização, mantem algumas listas nominais de passageiros embarcados no porto de Gênova em 1899, nos navios Rio Amazonas e Rei Umberto, inclusive das 48 famílias trazidas por Nicosia em 1899 (Tabela 13).

105 105 Tabela 13: Famílias italianas trazidas por Salvador Nicosia em 1899 Meses Navio Número de famílias Número de pessoas Julho Rio Amazonas Agosto Rei Umberto Setembro Rio Amazonas 6 30 Outubro Rei Umberto 1 4 TOTAL Fonte: Arquivo Público do Pará (1899), adaptada pela autora Das 48 famílias trazidas por Nicosia, totalizando 295 pessoas,16 famílias foram repatriadas. Entretanto, 3 dessas repatriadas deixaram alguns membros em seus lotes, tendo sido portanto assentadas 35 famílias. Na realidade essas famílias vieram em 4 viagens nos meses de julho, agosto, setembro e outubro de 1899, pelos navios Rio Amazonas e Rei Umberto da companhia La Ligure Brasiliana e embarcaram no porto de Gênova com destino a Belém Os documentos encontrados no Arquivo Público do Estado do Pará dão pistas das características pessoais desses emigrantes, através das informações contidas no certificado de embarque assinado pelo chefe da família, nos certificados de notoriedade onde se declarava a profissão (sempre de agricultor), de boa conduta, de residência, certificados médicos e de condição familiar (certificados de pobreza). No caso dos colonos trazidos por Nicosia, o certificado de embarque emitido pelo cônsul geral do Brasil em Gênova faz o seguinte registro: Certifico verdadeiras as precedentes assignaturas e respectiva declaração dos diversos chefes de família de emigrantes que no vapor italiano Rio Amazonas partem hoje com destino ao Estado do Pará por contrato celebrado entre o Governo do referido Estado e o Sr. Salvador Nicosia, cujos emigrantes declararam nada haverem pago pelas próprias passagens e nem mesmo sob qualquer outro pretexto. E para constar onde convier, a pedido da Companhia La Ligure Brasiliana mandei passar o presente certificado que assignei e fiz sellar com o sello d este Consulado Geral da República dos Estados Unidos Do Brasil em Gênova. Gênova 15 de agosto de João Antonio Rodrigues Martins. Cônsul Geral (ARQUIVO PÚBLICO DO PARÁ, 1899).

106 106 Das 48 famílias que vieram por conta de Salvador Nicosia para a colônia de Ianetama, nos navios Rio Amazonas e Rei Umberto, da Companhia La Ligure Brasiliana em 1899, foi possível recuperar informações de 29 famílias (Tabela 14). Tabela 14: Famílias italianas trazidas ao Pará por Salvador Nicosia em 1899, para a colônia Ianetama, conforme local de origem Chefe de família Região Província Comuna Francesco Penzo Campânia Benevento Morione Francesco Ruzzo Campânia Benevento Morione Saverio Russo Campânia Caserta Gricignano Nicola Monza Campânia Caserta Gricignano Domenico Trabbuco Campânia Caserta Carniola Francesco Suppapola Campânia Caserta Sessa Aurunca Sebastiano Sinvaci Campânia Caserta Aquino Antonio Vernile Campânia Caserta Sessa Aurunca Antonio Reale Campânia Caserta Serra Aurunca Giovanbatista di Ruzza Campânia Caserta Castrocielo Domenico Tersigni Campânia Caserta Aquino Francesco Torrecio Campânia Caserta Canniola Attilio Ceraldi Campânia Caserta Serra Aurunca Gennaro Palermo Campânia Nápoles Secondigliano Pasquale Accardo Campânia Nápoles Boscotecrase Carlo Armênio Campânia Nápoles Antimo Luigi Viviano Campânia Nápoles Secondigliano Manfredi Pallavicino Sicília Siracusa Scieli Ignácio Arrabito Sicília Siracusa Scieli Ângelo Carbone Sicília Siracusa Scieli Vittorio Sachetto Veneto Rovigo Aobeia Avamo Antrighesso Veneto Treviso Nervesa Domenico Panavati Veneto Rovigo Papazze Antonio Narciso Veneto Padova S/I Genaro Palazzo Veneto Padova S/I Antonio Civetta Veneto Padova S/I Vincenzo D Angio Veneto Padova S/I

107 107 Pietro Guagliariello Veneto Padova S/I Antonio Della Ciopa Veneto Verona S/I Fonte: elaborada pela autora com base em Arquivo Público do Pará (1899) A Tabela 14 permite pontuar algumas evidências: Tratava-se de uma imigração familiar. Na Itália, como nas demais sociedades agrárias européias, a família constituía a unidade principal da organização do trabalho. A vinda para colônias agrícolas propiciava a preservação do trabalho familiar. Essas famílias vieram da Itália em grupos nos mesmos navios, e no mesmo período. Quanto às regiões de origem, observa-se que esses imigrantes formavam três grupos: do Vêneto (Itália Setentrional), vieram 32% enquanto que 58% vieram da Campânia (Itália Meridional) e 10% da Sicília (Itália Insular). Observa-se ainda que muitos eram provenientes das mesmas províncias e até mesmo das mesmas localidades, sugerindo migração em grupos. As províncias com maior número de emigrantes foram Caserta e Nápoles (Campânia) e Padova (Vêneto). A predominância dos vênetos e dos campanos entre os imigrantes italianos que vieram para o Brasil no fim do século XIX é informada por Trento (1989), conforme dados apresentados na Tabela 8, verifica-se que no período compreendido entre 1878 e 1902, o Vêneto com 35,2% e a Campânia com 12,6 % eram as principais regiões de origem dos italianos que vieram para o Brasil no período. As unidades familiares trazidas por Nicósia para a colônia de Ianetama eram nucleares, ou seja, formadas pelo casal com filhos solteiros. Havia casos em que não correspondiam a esse padrão e traziam como agregados, pai ou mãe do chefe, irmãos, sobrinhos, cunhados e em alguns casos sogro ou sogra do chefe (Tabela 15).

108 108 Tabela 15: Composição das famílias trazidas por Nicosia em 1899 Chefe da família Componentes Composição Idade Pasquale Accardo 13 chefe esposa 6 filhos 1 irmão 1 cunhada 3 sobrinhos Manfredi Pallavicino 11 chefe esposa 5 filhos sogro sogra 2 cunhadas Antonio Narciso 11 chefe esposa 7 filhos cunhado cunhada Nicola Monza 9 chefe esposa 4 filhos 1 cunhado 1 cunhada 1 sobrinho Ignácio Arrabito 9 Chefe Esposa 5 filhos 2 enteados Avamo Antrighesso 9 chefe esposa 7 filhos Giovanbatista di Ruzza 8 chefe esposa 6 filhos Domenico Panavati 8 Chefe Esposa 2 filhos 4 agregados Antonio Reale 6 chefe esposa 4 filhas Francesco Torrecio 6 chefe esposa 4 filhos Carlo Armênio 6 chefe esposa 3 enteados 1 sobrinho Luigi Viviano 6 chefe esposa 4 filhos Saverio Russo 6 chefe , 8, 6, 4, 3, ,9, , 14, 11, 6, , , 13, 12, 9, 5, 2, , 12, 10, , 11, 7, 3, 1 17, , 15, 14, 12, 11, 8, , 10, 8, 5, 3, ,1 50, 26, 24, , 10, 9, , 11, 6, , 14, , 13, 9, 1

109 109 esposa 4 filhos Vittorio Sachetto 6 chefe esposa 4 filhos Pietro Guagliariello 6 S/I S/I Francesco Penzo 5 chefe esposa 3 filhos Francesco Ruzzo 5 chefe esposa 3 filhos Sebastiano Sinvaci 5 S/I S/I Antonio Vernile 5 chefe esposa 3 filhos Gennaro Palermo 5 chefe esposa 3 filhos Antonio Civetta 5 chefe esposa irmão cunhado cunhada Antonio Della Ciopa 5 chefe esposa 1 filha tio tia Francesco Suppapola 4 S/i S/I Domenico Tersigni 4 chefe esposa 2 filhos Gennaro Palazzo 4 chefe esposa 2 filhos Vincenzo d Angio 4 chefe esposa 2 filhos Domenico Trabbuco 3 chefe esposa 1 filha 32 11, 8, 5, , 8, 5, , 16, , 16, , 15, , 13, , , , 8 Attilio Ceraldi S/I S/I S/i Ângelo Carbone S/I S/I S/I Fonte: Elaborada pela autora com base em Arquivo Público do Pará (1899) As famílias eram numerosas, havia famílias com 9, 11 e até 13 membros. Mas, além da família nuclear pais e filhos, com freqüência eram relacionados outros

110 110 parentes e até mesmo agregados. A família de Pasqualle Accardo, por exemplo, era composta por 13 pessoas além da esposa e dos 6 filhos, estavam relacionados irmão, cunhada e sobrinhos (na realidade eram duas famílias). A família de Manfredi Pallavicino (11 pessoas) era formada pela esposa, 5 filhos, sogros e cunhados; a de Domenico Pavanati, além de esposa e dos 2 filhos relaciona 4 conviventes (agregados, todos adultos parecem compor outra família todos com o sobrenome Finotti). Os chefes de família tinham em média 42,83 anos, as esposas 34,29 anos. Os casais tinham em média 3,69 filhos, com idade variando entre 1 e 19 anos. Apesar dos esforços e gastos efetuados, Salvador Nicosia não conseguiu satisfazer o compromisso com o Estado, que previa a introdução de 200 famílias, o que deu motivo à rescisão do contrato em Passando a dirigir o funcionamento da colônia, o Estado destinou o restante dos lotes a imigrantes espanhóis e a nacionais (nordestinos). Em 1900 nele viviam 99 famílias das quais 89 eram nacionais, 7 espanholas e apenas 3 italianas (MUNIZ, 1916). As terras da antiga colônia de Ianetama hoje fazem parte da área urbana do município de Castanhal, onde não se encontrou qualquer referência a descendentes das famílias trazidas por Nicosia. No final de 1899, com a rescisão dos contratos que haviam criado as colônias de Anita Garibaldi e Ianetama, o governo Paes de Carvalho não concedeu mais autorização para a criação de novos núcleos. Continuava haver apenas imigração espontânea, sem ônus para o tesouro do Estado. No final do seu governo, Paes de Carvalho teve ainda que enfrentar as epidemias de varíola e de febre amarela que fizeram muitas vítimas entre os colonos europeus (VIANNA, 1975; CRUZ, 1955).

111 111 Em 1900 foi efetuado um recenseamento nas colônias agrícolas do Estado. Os dados desse recenseamento foram transcritos por Muniz (1916) e são apresentados na Tabela 16. Tabela 16: Colônias agrícolas existentes no Pará, 1900 Colônias Jambuassu Monte Alegre B. Constant Marapanim José de Alencar Inhangapy Santa Rosa Nacionalidades Brasileiros Espanhóis Portugueses Brasileiros Espanhóis Brasileiros Espanhóis Brasileiros Espanhóis Portugueses Brasileiros Espanhóis Brasileiros Brasileiros Espanhóis Italianos Alemães Número de Famílias Número de colonos Total: 326 Total: Total: 110 Total: Total: 574 Total: Total: 191 Total: Total: 219 Total: Total: 117 Total: Total: 180 Total:1091 Ferreira Pena Brasileiros Espanhóis Total: Total:475 AnitaGaribaldi Brasileiros Espanhóis Italianos Belgas Total: Total:917 Ianetama Couto de Magalhães Salvaterra Sto Antonio de Maracanã Brasileiros Espanhóis Italianos Brasileiros Espanhóis Brasileiros Brasileiros Total: 99 Total: Total: 21 Total: Total: 42 Total: Total: 65 Total: 318

112 112 Granja Américo Obidos Acará Núcleo Modelo de Outeiro Brasileiros Brasileiros Brasileiros Brasileiros Espanhóis Italianos Portugueses Total 35: Total: Total: 48 Total: Total: 34 Total: Total: 11 Total: 47 Brasileiros COLONOS Espanhóis Italianos Portugueses Alemães Belgas TOTAL GERAL Fonte: Muniz (1916, p. 92), adaptado pela autora A tabela permite deduzir que o programa de colonização com população estrangeira no Pará não se limitou às colônias da região da estrada de ferro de Bragança ou as áreas próximas a Belém; o programa realmente cobria grande parte do território paraense, demonstrando a importância que esse programa representava para o governo estadual. Em 1900 existiam no estado 17 colônias espalhadas por áreas correspondentes a diversos municípios da atualidade: Monte Alegre, Salvaterra, Óbidos, Acará e Maracanã. Totalizavam 2314 famílias e pessoas, o que representa 3% da população do Estado em A maioria era composta por brasileiros, 9480 pessoas. Mas, em 10 colônias existiam remanescentes estrangeiros de diferentes nacionalidades, prevalecendo os espanhóis, 3282 pessoas. Na colônia Santa Rosa, inclusive, o número de estrangeiros superava em muito o numero de nacionais, tanto em famílias como em população. Com referência aos italianos, 63 ainda permaneciam nas colônias em 1900, sendo a segunda nacionalidade presente nas colônias. Que nos pode dizer o censo de colônias de 1900 em relação à imigração italiana para essas colônias?

113 113 Como uma primeira conclusão pode-se afirmar que as raízes das famílias italianas nas colônias do Pará podem ser identificadas no período imperial, na colônia de Benevides, a qual não sobreviveu até 1900, e no período republicano nas colônias de Anita Garibaldi, Ianetama e Outeiro, principalmente e possivelmente em poucas outras como na de Santa Rosa onde ainda sobrevivia uma família em Entretanto a maioria das famílias não permaneceu por muito tempo nesses núcleos coloniais, como nos casos analisados acima. Deduz-se que se espalharam por vários municípios paraenses sobretudo da região bragantina onde é fácil identificar descendentes de italianos. No governo Augusto Montenegro ( ) verificou-se uma profunda modificação na política de colonização praticada nos governos de Lauro Sodré e Paes de Carvalho, uma vez que não se registrou mais qualquer incentivo à imigração estrangeira no Pará. Em setembro de 1902 ele enviou mensagem ao Legislativo informando que havia resolvido parar o serviço de imigração. Comentando a ocorrência de um sistemático abandono pelos colonos europeus dos núcleos para onde eram destinados, afirmava que a imigração estrangeira, do modo por que foi tentada entre nós, constituiu o maior dos erros de quem a iniciou, por meio de onerosíssimos contratos então assinados. Dela pouco resta e com certeza cada vez mais se apagarão os seus vestígios, ficando somente para atestá-la os enormes dispêndios do Tesouro (PARÁ, 1902, p. 46). Como complemento informava que havia decidido emancipar todas as colônias agrícolas. Esse foi o fim do programa de colonização no Pará. Embora argumentando medidas de economia e o insucesso na fixação dos estrangeiros nas colônias agrícolas, essa avaliação pessimista de Montenegro e a crítica à política de colonização praticada por seus antecessores deve ser olhada num plano mais amplo do panorama político do Pará, em que se acirravam disputas

114 114 entre oligarquias. Montenegro, como representante da oligarquia lemista, que voltava ao poder depois de um longo período, cerca de 14 anos de laurismo no poder (governos de Lauro Sodré e Paes de Carvalho) tinha todo interesse em desqualificar a administração de seus antecessores. Independentemente da posição de Montenegro, a contribuição da participação de estrangeiros no programa de colonização agrícola no Pará é inegável. Num momento em que a maioria da força de trabalho se dirigia para os seringais, o governo necessitava da contribuição desses colonos na produção agrícola. Cruz (1963, p. 639) resume claramente essa contribuição: não se pode negar, contudo, a preciosa colaboração prestada pelos europeus à colonização, no estado. Com os imigrantes italianos e espanhóis foi possível movimentar os engenhos e as fábricas instaladas nas colônias. Dar maior incremento à produção agrícola e desenvolver a plantação. Aumentar a colheita, introduzir os processos modernos da época no tamanho da terra. Dar melhores bases aos núcleos através dos conhecimentos de que se valiam os europeus para o acentuado progresso de suas propriedades. A experiência feita para a colonização das grandes áreas não foi em vão. Todavia ainda que a política de colonização tenha sido redirecionada por Montenegro e não se incentive mais a vinda de estrangeiros, um segmento de italianos que desde o fim do século XIX se direcionava às cidades amazônicas, continua chegando, às vezes em grandes levas, conforme registram os jornais da época. Agora eles vêm por iniciativa própria e muitas vezes motivados pelas cartas de chamadas de parentes que tiveram sucesso, sobretudo no comércio. Esses comerciantes vão chegando e se localizando preferencialmente em Belém e Manaus e um segmento particular desses imigrantes vai se espalhar por várias cidades amazônicas principalmente na região do baixo Amazonas.

115 115 5 OS ITALIANOS NAS CIDADES AMAZÔNICAS Se os projetos de colonização agrícola do fim do Império e do início do período republicano constituíram a porta de entrada dos italianos na Amazônia, há evidências de que paralela a essa imigração e além dela se firmou uma imigração não dirigida pelo Estado, constituída por diferentes grupos de italianos que vieram se fixar em cidades da Amazônia. Denominamos esse segmento de imigração espontânea de italianos para cidades amazônicas. Segundo a literatura (CENNI, 2003; TRENTO, 1989), esses italianos teriam procurado a Amazônia nas últimas décadas do século XIX em decorrência das riquezas que a exploração da borracha proporcionava. Mas eles continuaram a chegar e se fixaram na região, ainda que a economia da borracha tivesse entrado em declínio. Conforme foi discutido anteriormente, os dados do censo de 1920 mostram significativo aumento da população italiana nos estados do Pará e do Amazonas. No censo de 1872, a presença italiana somando os dois estados era de apenas 49 pessoas; em 1920 já apresenta um total de 1840 italianos, sendo 1114 no Pará e 726 no Amazonas (Tabela 11). Entretanto, há indícios de que a presença de italianos em cidades amazônicas é muito antiga. Costa (1924) comenta que já em 1822 a casa do genovês João Baptista Balbi, situada no bairro do Umarizal, em Belém, era ponto de encontro dos que conspiravam pela adesão do Pará à independência do Brasil. Segundo o autor, João Balbi teria morrido em Belém, em 19 de outubro de 1852 e deixado muitos descendentes na capital paraense (COSTA, 1924). Por outro lado, em Manaus, o principal hotel da cidade instalado no final do século XIX, no período áureo da borracha, o hotel Cassina, era de propriedade do piemontês Andrea Cassina (CENNI, 2003).

116 116 Câmara Cascudo (1967), publicou a biografia do conde Ermanno Stradelli, natural da Lombardia, que teria chegado a Manaus em 1879 e após retorno à Itália para concluir o curso de direito, voltou à capital amazonense em 1888, onde fixou residência. Em 1893, naturalizou-se cidadão brasileiro e exerceu a magistratura em Lábrea, Tefé e Manaus onde era freqüentador de rodas intelectuais e políticas. Morreu em 1926, aos 75 anos, tendo publicado vasta obra literária e etnográfica. Por outro lado, em jornais do início do século encontram-se anúncios de serviços de profissionais liberais italianos, como os referentes ao médico ginecologista Gennaro Rutigliano e ao professor de língua italiana Luiz Fedeli (JORNAL O PARÁ, 3 de janeiro de 1900). A importância da presença italiana na Amazônia pode também ser avaliada pela instalação e funcionamento de repartições diplomáticas nas capitais e em cidades do interior. Ainda no período imperial, de 1883 a 1890 foi agente consular da Itália na Província do Pará, Giuseppe Enrico Schivazappa, natural de Parma (Emilia Romgna), que segundo uma sua descendente era seringalista, dono de fábrica de chapéus, luvas e sombrinhas e comerciante na praça de Belém (Depoimento n. 7). A presença de italianos nas cidades amazônicas, também é registrada nos relatos de viajantes italianos que estiveram na região no início do século. Oreste Mosca (1902) classificou em três grupos os italianos que encontrou na região no início do século XX: classe abastada, composta por comerciantes, engenheiros e arquitetos; classe trabalhadora formada por pedreiros, ajudante de pedreiros, e operários não especializados e um terceiro grupo em que predominavam engraxates e desempregados. Gregório Ronca (1908) registra que 1905 encontrou muitos italianos em Óbidos e Santarém dedicados ao comércio do cacau, da castanha e à criação de gado. Alfredo Cusano (1911) informa que no início do século havia em

117 117 Belém cerca de 1200 italianos, entre os quais comerciantes, artistas e profissionais liberais todos originários da Itália meridional. Dentre os relatos de viajantes o mais rico em informações sobre os comerciantes italianos radicados na região é a resenha Gli italiani nel Nord Del Brasile, publicada por Aliprandi e Martini em A riqueza de dados encontrados nesse trabalho ajudou na reflexão sobre as estratégias migratórias, as trajetórias, a composição familiar, as formas de exercício do comércio, hábitos culturais e outros aspectos da vida dos italianos nas cidades amazônicas. 5.1 ORIGEM A procedência regional dos italianos que vieram para as cidades amazônicas apresenta-se diversificada. Algumas famílias vieram da Itália setentrional, das regiões do Veneto, Lombardia, Emilia Romagna, Piemonte e Ligúria, como as famílias Macola, Schivazappa, Urbinati, de Boni, Grandi, Dinelli, Bisi,Biondin e Aliverti. Da Itália central, região do Lazio, vieram as famílias Del Pomo e Biolchini e da Toscana, as famílias Cei, Camarlinghi, Ricci, Cardelli e Desideri. Da Itália insular, região da Sicília vieram as famílias Aita, Conti, Emmi, Filipo e Renda. Embora a origem regional possa pontualmente ser diversificada, a maioria dos imigrantes veio da Itália meridional, principalmente de três regiões, Calábria, Basilicata e Campânia. Entre os meridionais, um grupo se distingue dos demais que por motivações diversas aportaram na Amazônia. Esse grupo apresenta características que o aproximam de uma corrente migratória que na literatura recente sobre imigração italiana vem sendo chamada de imigração calabro-lucanocampana (CAPPELLI, 2006; 2007). Esse segmento seria formado por pequenos proprietários e artesãos originários da Calabria, Campânia e Basilicata (antiga

118 118 Lucania) que com recursos próprios emigraram e se instalaram nas capitais e cidades do Norte e do Nordeste do Brasil. Constituiu um grupo mais numeroso do que o da colonização dirigida para as colônias agrícolas e teve maior continuidade. Seus descendentes ainda são encontrados em várias cidades amazônicas. A imigração calabro-lucano-campana, seria uma imigração espontânea constituída por um fluxo migratório que partiu de uma pequena área de fronteira da Itália meridional situada entre as províncias de Cosenza, Potenza e Salerno portanto de três regiões Calábria, Basilicata e Campânia. Esse território constituía um pedaço do Apenino Meridional onde a emigração se manifestou muito precocemente, já da segunda metade de 1800 ao início do século XX e teve como destino áreas periféricas da América Latina, ou seja, regiões e localidades marginais, diversas daquelas que concentraram o grande fluxo migratório europeu na esteira da expansão capitalista (CAPPELLI, 2006). A Figura 3 apresenta a divisão regional da Itália, situando no sul o território dessa corrente migratória, ou seja, as regiões da Basilicata (Lucânia), Calábria e Campânia, bem como as províncias de Potenza, Cosenza e Salerno.

119 119 Salerno Potenza Cosenza Figura 3: Mapa da Itália por divisão regional com destaque feito, pela autora, para as províncias de Salerno (Campania), Potenza (Basilicata) e Cosenza (Calábria) Fonte: A Calábria é uma região situada no extremo sul da península italiana. Confina ao norte com a Basilicata e se estende no sentido oeste-leste do Mar Tirreno ao Mar Jônio; a sudoeste o estreito de Messina a separa da Sicília. Subdivide-se em três províncias: Cantazaro, cuja cidade do mesmo nome é a capital da Região, Reggio Calábria, Crotone, Vibo Valentia e Cosenza onde se encontram as comunas de Papasidero, Laino Borgo, Castello, Mormanno e Castrovillari, cidades de origem dos calabreses da Amazônia. A Basilicata, também designada por Lucânia, faz fronteira a leste com a Púglia, a oeste com o mar Jônico (golfo de Taranto), a oeste com a Campânia, a

120 120 sudoeste com o mar Tirreno e ao sul com a Calábria Subdivide-se em duas províncias: Matera e Potenza, cuja cidade do mesmo nome é a capital da Região é onde se encontram as comunas de Castelluccio Inferiore, Rotonda e Rivello e de modo especial de um pequeno povoado desta, chamado San Costantino di Rivello local de origem da maioria dos italianos que vieram para o baixo Amazonas. A Campânia confina a oeste e sudoeste com o mar Tirreno, a noroeste com o Lazio, ao norte com Molise, a nordeste com a Puglia e a leste com a Basilicata. Subdivide-se em cinco províncias: Avellino, Benevento, Caserta, Napoli e Salerno onde se encontram as comunas de Centola, Sapri e Casalbuono, berço dos campanos da Amazônia. A geografia da emigração italiana tem sido estudada, na maioria das vezes, privilegiando as divisões político-administrativas, seja na identificação dos lugares de partida, seja na identificação do destino. Então é habitual raciocinar em termos de origem na divisão geral dos italianos em setentrionais e meridionais e em termos de destino é comum singularizar as grandes federações como E. Unidos e Brasil e no máximo as divisões estaduais internas (CAPPELLI, 2006). Entretanto, a pesquisa empírica direcionada à experiência migratória calabrolucano-campano leva a privilegiar outros parâmetros. Os lugares de partida não são determinados apenas pela realidade geográfica (climática, hidrográfica, demográfica) ou pelas catástrofes naturais como terremotos e aluviões, mas também pela realidade econômica, social e cultural do território. Todos esses elementos pouco têm em comum com a divisão administrativa e em muitos casos definem territórios que não coincidem com essa divisão (CAPPELLI, 2006). Sob o aspecto econômico, Calábria, Basilicata e Campânia, como todo o sul da Itália, foram regiões de industrialização tardia, nas quais a agricultura convivia

121 121 com artesanato doméstico, que foi duramente atingido pela oferta de produtos industrializados vindos de regiões do norte da Itália. Por outro lado, a concretização do processo migratório é sustentada culturalmente por uma tradição local de longo período que conserva a mobilidade social e territorial própria de numerosos artesãos como alfaiates, sapateiros, carpinteiros, ourives, caldeireiros, tintureiros, marmoristas e outros (CAPPELLI, 2006). As três regiões foram ao longo da história, lugares de intensa imigração (ALLIEGRO, 2002). Tomando como referência os dados apresentados por Trento (1989), sobre a entrada de italianos no Brasil, segundo regiões que constam na Tabela 8, apresentada anteriormente, temos uma idéia da dimensão desse movimento migratório. No período , emigraram da Itália meridional pessoas o que representa 36,4% do total dos emigrantes. A Campânia, com aproximadamente 13%, a Calábria com cerca de 8% e a Basilicata com 4%, representam juntas 25% dos italianos que deixaram o país nesse período. Se levarmos em conta a participação dessas regiões somente entre a imigração meridional, a proporção sobe para 35%, 21% e 5%, respectivamente, perfazendo 65% do total de emigrantes. Essa proporção vai se manter no período seguinte, entre 1903 e 1920, quando a emigração dos meridionais duplicou perfazendo cerca de 61% do total de emigrantes e a participação das três regiões era de 39% do total e cerca de 66% entre os emigrantes meridionais. Para Cappelli (2006), a corrente migratória calabro-lucana-campana tem particularidades que a distingue dos grupos que caracterizaram a grande imigração de massas em direção à América Latina. Em primeiro lugar, por não ter procurado as grandes metrópoles como Buenos Aires e São Paulo, regiões tradicionais de imigração italiana de massa, pelo

122 122 contrário, dirigiu-se às áreas periféricas sem grande tradição imigratória como Cuba, República Dominicana, Guatemala, Costa Rica, Colômbia, Equador e ainda regiões periféricas como o Norte e o Nordeste do Brasil. Em segundo lugar, diferente dos grupos da grande migração que se caracterizavam geralmente por serem segmentos constituídos por pobres e analfabetos - cujo deslocamento era subsidiado pelo Estado - a corrente calabrolucana-campana era formada em sua maioria por pequenos proprietários, e artesãos, pessoas que traziam pequenas economias e possuíam habilidades específicas (sapateiros, funileiros, ourives, pintores) e algum grau de instrução. A motivação de emigrar não estava portanto ligada diretamente a uma situação de miséria, mas se circunscrevia dentro de uma vasta estratégia de mobilidade geográfica e social de grupos, na qual pesavam fatores culturais. Em terceiro lugar, nas cidades de destino, esses imigrantes em sua maioria artesãos e pequenos proprietários excluíam de seus horizontes a perspectiva de trabalho agrícola e do isolamento em ambiente rural. Por outro lado, evitavam, se possível, as grandes capitais, preferiam pequenos centros urbanos, onde exerciam suas atividades artesanais aliadas a atividades comerciais. É preciso, portanto, compreender as lógicas e as estratégias dessa corrente migratória a qual estruturando espontaneamente seus vínculos, ligações familiares e parentais, valia-se da proteção de redes de amigos e de vizinhos, lembrando a identidade dos vilarejos, das aldeias. Havia tendência de concentrar o fluxo migratório de cada localidade de origem em poucas destinações, onde era possível de qualquer modo reproduzir os laços de solidariedade que deram vida ao projeto migratório, para proteger e tornar produtivo o investimento inicial (CAPPELLI, 2006).

123 123 As fortes ligações que os originários das mesmas localidades mantinham nos países de destino não constituíram, entretanto,obstáculo ao processo de integração desses italianos nas cidades amazônicas, ao contrário, foram muito rápidos graças às limitadas dimensões quantitativas das comunidades de imigrantes. Por isso, as atividades comerciais e artesanais não eram auto-alimentadas somente pela crescente clientela de imigrantes conterrâneos, como aconteceu no mundo urbano paulista. Mas ao contrário, integraram-se imediatamente ao mercado das cidades e das regiões que os acolheram. Então, esses imigrantes terminaram por dar uma contribuição relevante ao desenvolvimento geral dos mercados e às vezes ao sistema produtivo inteiro da cidade e da região de destino (CAPPELLI, 2006). A identificação de uma corrente migratória calabro-lucana-campana em cidades amazônicas torna bastante apropriados os questionamentos de Bassanezi (1998) apresentados no capítulo 3 desta tese, quais sejam: Até que ponto os resultados das pesquisas sobre imigração italiana no Brasil, realizados em alguns lugares são válidos para outras regiões? Até que ponto os dados sobre imigração italiana no Brasil não esconderiam diferenças regionais significativas? Os estudos sobre imigração italiana no período das grandes migrações apresentam uma constatação comum: as dificuldades econômicas vividas pela Itália e o correspondente interesse das elites econômicas na colonização (caso do Rio Grande do Sul e do Espírito Santo) ou em braços para a lavoura e o conseqüente processo de proletarização dos imigrantes italianos em São Paulo (ALVIM, 1986). Todavia esses estudos não podem ser generalizados para a Amazônia uma vez que a corrente migratória dirigida às colônias agrícolas teve existência efêmera, embora tenha deixado suas marcas na agricultura paraense. Por outro lado, a

124 124 imigração espontânea para as cidades não pode ser caracterizada como constituída por mão-de-obra assalariada; ela foi composta predominantemente por pequenos proprietários e artesãos que aqui se dedicaram a vários tipos de atividades como sapateiros, alfaiates, funileiros e se firmaram sobre tudo exercendo atividades comerciais. Essa migração direcionada às cidades amazônicas é pois, diferente da que foi para o Centro-Sul quanto aos grupos envolvidos, expressão numérica, motivações, composição social, estratégias migratórias e atividades econômicas exercidas. O papel dos italianos nas cidades amazônicas guardaria relativa aproximação com os estudos de Constantino (1991) sobre os moraneses (calabreses) em Porto Alegre, com o diferencial sobre a composição regional dessa corrente e sua localização em municípios distantes das capitais. A existência de um segmento dessa corrente migratória calabro-lucanocampana na Amazônia pode ser deduzida a partir de dados sobre algumas famílias que chegaram nas últimas décadas do século XIX e se localizaram em várias cidades da região. Seus membros se firmaram principalmente como comerciantes nas capitais e cidades da Amazônia. Dados levantados no Vice-Consulado da Itália em Belém, nas entrevistas realizadas com filhos de alguns desses imigrantes, aliados às informações de relatórios de viajantes italianos do início do século XX, como Ronca (1908) e Aliprandi e Martini (1932) permitiram uma relativa aproximação ao universo dessa imigração. Pode se deduzir dessas informações que nas últimas décadas do século XIX e início do século XX começaram a chegar à região famílias de pequenos proprietários e artesãos italianos que, vindo com algum recurso, montaram suas casas comerciais em cidades amazônicas, uma vez que o comércio era a principal

125 125 atividade econômica impulsionada pela valorização da borracha no mercado internacional. 5.2 AS CIDADES DE DESTINO O segmento de italianos que se dirigiu às cidades amazônicas fixou-se nas capitais do Pará e do Amazonas, Belém e Manaus e em alguns municípios localizados ao longo do rio Amazonas e de seus principais afluentes, por onde circulava o capital mercantil decorrente da economia da borracha. Mas, mesmo com o declínio dessa economia muitos permaneceram nessas cidades como pode ser deduzido das Tabelas 17 e 18. Tabela 17: Distribuição da população italiana presente nos principais municípios receptores do estado do Pará, no censo de 1920 Município Italianos N. A. % Belém ,11 Óbidos* 76 6,82 Faro** 25 2,24 Santarém 22 1,97 Monte Alegre 20 1,80 Alenquer 17 1,53 Juruti 16 1,44 Baixo Amazonas ,80 Outros ,09 TOTAL Fonte: Censo de 1920 *inclui Oriximiná; ** inclui Terra Santa Observa-se que no Pará os italianos concentravam-se na capital e em municípios da região do baixo Amazonas, que somados perfaziamcerca de 86% dos

126 126 imigrantes. Os 14% restantes encontravam-se espalhados por vários municípios paraenses. Quanto ao estado do Amazonas, 82,78% dos italianos concentravam-se em Manaus, em apenas 4 cidades essa participação era maior do que 1%. Tabela 18: Distribuição da população italiana presente nos principais municípios receptores do estado do Amazonas, no censo de 1920 Município Italianos N. A. % Manaus ,78 Parintins 18 2,48 Maués 15 2,07 São Paulo de Olivença 12 1,65 Urucurituba 11 1,52 Porto Velho* 16 2,20 Outros 53 7,30 TOTAL Fonte: Censo de 1920 * Atual capital do estado de Rondônia De acordo com o que foi discutido, o segmento imigratório que buscou as cidades amazônicas, dos fins do século XIX, ao início do século XX, era predominantemente composto por meridionais das regiões da Calábria Basilicata, e Campânia. A Tabela 18 relaciona uma lista de famílias calabresas, lucanas e campanas que chegaram ao Pará e ao Amazonas até as primeiras décadas do século XX. Essa lista representa somente uma amostra do fluxo de italianos originário desses lugares que procurou as cidades paraenses e amazonenses como destino final de sua migração, refere-se apenas aos imigrantes que compareceram ao Vice-consulado para solicitar registro ou documento, ou ainda aos que foram citados nas fontes da tabela.

127 127 Tabela 19: Famílias calabresas, lucanas e campanas que chegaram até o início do século XX ao Pará e ao Amazonas, segundo região de origem e cidade de destino N Família Região Provínci a Comuna/localidade 1 Addario Basilicata Potenza San Costantino di Rivello 2 Alaggio Basilicata Potenza San Costantino di Rivello 3 Calderaro Basilicata Potenza San Costantino di Rivello 4 Calderaro d Alessandro Basilicata Potenza San Costantino di Rivello Cidade de destino Belém Óbidos/Oriximiná / Parintins Santarém/Óbidos/Orixi miná/ Juruti Óbidos 5 Ferrarri Basilicata Potenza San Costantino di Oriximiná/Óbidos Rivello 6 Filizzola Basilicata Potenza San C.di Rivello Faro/ Óbidos / Juruti/Maués 7 Florenzano Basilicata Potenza San Costantino di Óbidos/Oriximiná Rivello 8 Giordano Basilicata Potenza San Costantino di Óbidos/Oriximiná Rivello 9 Imbelloni Basilicata Potenza San Costantino di Óbidos Rivello 10 Iudice Basilicata Potenza San Costantino di Belém,/Óbidos Rivello 11 Magaldi Basilicata Potenza San Costantino di Faro/ Manaus/Maués Rivello 12 Martorano Basilicata Potenza San Costantino di Óbidos Rivello 13 Mileo Basilicata Potenza San Costantino di Rivello 14 Oliva Basilicata Potenza San Costantino di Rivello 15 Paternostro Basilicata Potenza San Costantino di Rivello 16 Pirrongelli Basilicata Potenza San Costantino di Rivello 17 Pollaro Basilicata Potenza San Costantino di Rivello 18 Priante Basilicata Potenza San Costatino di Rivello 19 Reale Basilicata Potenza San Costantino di Rivello 20 Ricciardi Basilicata Potenza San Costatino di Rivello 21 Sarubbi Basilicata Potenza San Costantino di Rivello 22 Stretti Basilicata Potenza San Costantino di Rivello 23 Tundes Basilicata Potenza San Costantino di Rivello 24 Vallinoto Basilicata Potenza San Costantino di Rivello Santarém/Óbidos/Orixi mina/faro Oriximiná Terra Santa/Faro Óbidos Faro/Monte Alegre Óbidos Faro /Oriximiná Óbidos Oriximinám /Parintins Belém Urucurituba Alenquer 25 Ciliberti Basilicata Potenza San Costantino di Belém

128 Rivello 26 Megale Basilicata Potenza Rotale di Rivelo Alenquer/Óbidos 27 Guzzo Basilicata Potenza Rivello Belém 28 Tancredi Basilicata Potenza Lagonegro Juruti 29 Demasi Basilicata Potenza Castelluccio Inferiore Manaus 30 Altieri Basilicata Potenza Castelluccio Inferiore Belém 31 Donadio Basilicata Potenza Castellucio Inferiore Belém 32 Cantisani Basilicata Potenza CastelluccioInferiore Manaus 33 Conte Basilicata Potenza Castelluccio Inferiore Belém/Manaus 34 Celani Basilicata Potenza CastelluccioInferiore Manaus 35 Crispino Basilicata Potenza Castelluccio Inferiore Belém 36 Milione Basilicata Potenza Castelluccio Inferiore Belém/Manaus 37 Pelosi Basilicata Potenza CastellucioInferiore Manaus 38 Paracampo Basilicata Potenza Castelluccio Inferiore Belém 39 Petrucelli Basilicata Potenza Castelluccio Inferiore Belém 40 Roberti Basilicata Potenza CastelluccioInferiore Manaus 41 Tancredi Basilicata Potenza Castellucio Inferiore Belém 42 Viggiano Basilicata Potenza CastelluccioInferiore Belém 43 Cozzi Basilicata Potenza Castellucio Inferiore Belém 44 Pignattaro Basilicata Potenza CastelluccioInferiore Manaus 45 De Tommaso Basilicata Potenza Rotonda Belém 46 Iannini Basilicata Potenza Rotonda Belém 47 Russo Basilicata Potenza Rotonda Manaus 48 Orofino Basilicata Potenza CastellucioSuperiore Manaus/Belém 49 Suanno Basilicata Potenza CastellucioSuperiore Belém 50 Limongi Basilicata Potenza Maratea Manaus 51 Pacchiano Basilicata Potenza Maratea Belém 52 Parente Basilicata Potenza Marsico Nuovo Abaetetuba 53 Gazzineo Basilicata Potenza Trecchina Manaus/Belém 54 Faraco Basilicata Potenza Acquafredda Maués 55 Barletta Calabria Cosenza Papasidero Belém 56 Greca Calabria Cosenza Papasidero Belém 57 Grisolia Calábria Cosenza Papasidero Belém 58 Oliva Calabria Cosenza Papasidero Belém 59 Papaleo Calabria Cosenza Papasidero Belém 60 Russo Calabria Cosenza Papasidero Belém 61 Aronne Calábria Cosenza Laino Borgo Manaus 62 Cerbino Calabria Cosenza Laino Borgo Belém 63 De Franco Calábria Cosenza Laino Borgo Belém 64 Longo Calabria Cosenza Laino Borgo Belém 65 Verbicaro Calabria Cosenza Laino Borgo Belém 66 Figliuolo Calábria Cosenza Laino Borgo Manaus 67 Franco Calabria Cosenza Castello Belém 68 Faillace Calábria Cosenza Scalea Belém 69 Tedesco Calabria Cosenza Mormanno Belém 70 Falesi Calabria Cosenza Castrovillari Belém 71 Chiappetta Calábria Cosenza Tortora Belém 72 Lauria Calabria Cosenza Tortora Belém 128

129 Guaglianone Calábria Cosenza Cetraro Juruti 74 Balbi Campania Salerno Rocagloriosa Faro 75 Bevone Campania Salerno Centola Belém 76 Cammarano Campania Salerno Centola Belém 77 De Lucca Campania Salerno Centola Belém 78 Cinque Campania Salerno Sapri Urucurituba 79 DeBenedetto Campania Salerno Sapri Urucurituba 80 Ferraioli Campania Salerno Sapri Oriximiná 81 Massullo Campania Salerno Casalbuono Manaus 82 Vita Campania Salerno Casalbuono Belém 83 Muzio Campania Nápoles Nápoles Belém 84 Santoro Campania Nápoles Nápoles Manaus 85 Savino Campania Nápoles Maddaloni Óbidos 86 Rossi Campania Nápoles Maddaloni Óbidos/ Belém Fonte: Elaborada pela autora com base em: Arquivo do Vice-Consulado da Itália em Belém; Aliprandi e Martini (1932), Benchimol (1999), Faraco (2006) e entrevistas realizadas em Belém em 2006 Quanto à região de origem, a maioria das famílias (54) veio da Basilicata, todas da mesma província (Potenza), e principalmente da comuna de Rivello (localidade de San Costantino, 25 famílias) e da comuna de Castelluccio Inferiore (16 famílias). Quanto às cidades de destino, as famílias que vieram de Castelluccio Inferiore localizaram-se principalmente em Belém e Manaus, quanto as que vieram de San Costantino di Rivello, localizaram-se preferencialmente em municípios do baixo Amazonas onde se fixaram alguns grupos familiares que posteriormente através de cartas de chamada, faziam vir da Itália parentes e amigos, como demonstram os mesmos troncos familiares em várias cidades; quanto às 19 famílias que vieram da Calábria, todas eram da província de Cosenza, principalmente das comunas de Papasidero e Laino Borgo e localizaram-se em Belém e em Manaus Da Campânia, foram listadas 13 famílias, das províncias de Salerno e de Nápoles; as de Salerno localizaram-se preferencialmente em Belém, as outras fixaram-se em Óbidos, Oriximiná e Urucurituba. Essas evidências tomam força na literatura especializada que ressalta a proximidade geográfica no destino de migrantes originários das mesmas regiões

130 130 onde é possível reproduzir os laços de solidariedade e contar com a proteção de redes familiares e vicinais (CONSTANTINO, 1991; CASTIGLIONI, 1999; CAPPELLI, 2006). 5.3 TRAJETÓRIAS E ESTRATÉGIAS MIGRATÓRIAS Embora boa parte das famílias italianas tenha vindo diretamente para cidades amazônicas, sobretudo aquelas que já contavam com a presença de um parente ou amigo na cidade de destino, outros passaram por cidades do Centro-Sul ou do Nordeste, antes de se fixarem na Amazônia, como o demonstram os nomes de algumas famílias que na mesma época teriam vindo para cidades nordestinas e amazônicas, como, Vita, Conte, Chiappetta, Russo, Lauria e Papaleo (ALIPRANDI; MARTINI, 1932). As trajetórias foram diversificadas, uns incluíam em seu roteiro diferentes cidades amazônicas: Meu avô veio para o Brasil em 1899, veio porque a Itália estava atravessando uma grave crise econômica por causa da unificação, ele fugiu para Fazer a América. Veio pelo porto do Rio destinado ao Pará. Passou por Belém, Santarém e foi para Óbidos onde tinha um aparentado chamado Mileo. Como não se firmou no comércio, foi para Maués porque lá tinha um comerciante da mesma província chamado Nicolau Filizola. Radicou-se em Maués em 1902 (Entrevista n.14). Outros percorriam trajetórias nas quais incluíam outros estados brasileiros: Vincenzo Calderaro residiu em São Paulo e depois veio radicar-se em Santarém. Biagio Nicola Paternostro chegou em 1900 em Minas Gerais e em 1908 veio radicarse em Terra Santa. Outra foi a trajetória de Nicola Maria Parente, que trabalhando como fotógrafo e fabricante de sapatos chegou ao Brasil em 1876, estabeleceu-se primeiramente em Taquari (Rio Grande do Sul), posteriormente em São Paulo, Salvador, João Pessoa, e Fortaleza e diferentemente dos que preferiram Belém ou algum município do baixo Amazonas para fixar residência, radicou-se em 1896 em

131 131 Abaetetuba (município do Nordeste Paraense, que em 1880 havia sido desmembrado de Belém) e estabeleceu-se como comerciante. Parente e seus filhos diversificaram suas atividades econômicas com implantação de serraria, fábrica de sabão e óleos vegetais e fabricação de barcos, alem de que a família era proprietária de um jornal semanal e de um cinema itinerante (Depoimento n.1; ALIPRANDI; MARTINI, 1932). Mas, houve imigrantes que saindo da Itália, seguiram outra trajetória que incluia passagem por outros países da América Latina. Neste sentido a trajetória do campano Vincenzo Cinque é exemplar. Cinque chegou à América em 1895, vindo primeiramente para a Venezuela, cinco anos depois emigrou para Manaus e somente em 1906 é que se estabeleceu definitivamente em Urucurituba. Seu sócio comercial e cunhado Nicola de Benedetto, residiu primeiramente em São Paulo e só no início do século XX veio para Urucurituba, onde fixou residência. Trajetória semelhante foi percorrida pelo lucano Savério Tundes. Veio ao Brasil em 1897 e depois de residir no Rio Grande do Sul e em São Paulo, chegou finalmente em Urucurituba onde seu tio possuía uma casa comercial que foi adquirida por Saverio Tundes em 1927 (ALIPRANDI; MARTINI,1932). A emigração dos italianos com destino às cidades amazônicas, seja ela direta ou com paradas intermediárias, de um modo geral dava-se por etapas. Primeiro vinham os homens (chefes de família ou solteiros), depois de estabelecidos mandavam buscar suas esposas e filhos ou ainda, voltavam à pátria para buscá-los, ou se solteiros, para contrair matrimônio, para completar o serviço militar e em alguns casos partiam como voluntários para lutar na guerra. É o que se infere dos depoimentos a seguir: Meu avô chegou em Belém em Ele tinha uma alfaiataria em Castrovillari na Calábria. A situação da Itália era difícil. Ele queria

132 132 expandir seus negócios mas lá não era possível. Ele tinha ouvido falar que Belém era um eldorado, cidade em que corria muito dinheiro por causa da borracha. Resolveu vir sondar. Veio sozinho e anos depois é que voltou à Itália para buscar a mulher e os filhos. Voltaram em Vieram com ele minha avó, meu pai, uma irmã e um irmão. Meu pai tinha 6 anos de idade. Anos depois ele voltou à Itália para fazer o serviço militar e lutar na Primeira Guerra Mundial. Retornou para Belém em 1920 (Entrevista n. 5). Meu pai chegou ao Pará em 1912, tinha 17 anos. Em 1921 voltou à Itália para se casar. Casou em 1922 e no mesmo ano veio para o Brasil. Veio só porque a minha mãe estava grávida e também porque ela tomava conta de sua mãe. O pai dela tinha emigrado para o interior de São Paulo. Minha mãe veio para o Brasil em 1923, ela tinha 28 anos (Entrevista n. 3). Em alguns casos os imigrantes economicamente bem sucedidos, chamavam parentes e amigos para auxiliarem em seus empreendimentos. Esse convite era formalizado através da carta de chamada, na qual quem desejava promover a vinda de um parente ou amigo, comprometia-se diante do governo brasileiro, através do Delegado de Polícia do Município, a fornecer os recursos necessários a sua subsistência durante todo o tempo da sua permanência no Brasil, ou repatriá-lo se não pudesse tê-lo sob sua responsabilidade. Esse documento (Figura 4) era exigido pelo consulado para emissão do passaporte. Foi através desse mecanismo, que segundo as entrevistas, um número significativo de pessoas da localidade de San Costantino de Rivello, gradativamente foram chegando para diversas cidades do baixo Amazonas. É assim que um entrevistado relata a vinda de seu pai para a cidade de Óbidos: Meu avô veio para o Brasil em 1908 e retornou para a Itália em Meu tio Giovanni chegou ao Brasil em 1921 e fundou em Óbidos a casa comercial La Rinascente. Quando os negócios prosperaram ele mandou chamar meu pai, através de uma carta de chamada, se responsabilizando por ele. Essa carta era um termo de responsabilidade que meu tio assinou diante do delegado de Óbidos, foi necessária para meu pai conseguir o visto. Meu pai, que era solteiro, junto com a cunhada Nunziatta e com o sobrinho Berardino embarcaram no porto de Gênova em 13 de outubro de 1931, no navio Hilary e depois de um mês chegaram a Óbidos (Entrevista n. 1).

133 Figura 4: Carta de chamada de Giacomo Antonio Priante, 1931 Fonte: Arquivo da família Dino Priante 133

134 134 Figura 5: Folha de identificação para pedido de visto em passaporte estrangeiro de Giacomo Priante, 1931 Fonte: Arquivo da família Dino Priante

135 135 As cartas de chamada também eram utilizadas quando por algum motivo o imigrante pretendia voltar para a Itália e desejava deixar seus negócios nas mãos de um parente, que posteriormente podia também chamar outros parentes. É o que se deduz do depoimento a seguir: Meu pai veio para o Brasil porque recebeu carta de chamada de um cunhado que já estava aqui. Esse cunhado adoeceu gravemente, juntou tudo o que tinha e voltou para a Itália. Deixou a Casa Confiança para meu pai, o comércio não estava em boa situação, mas meu pai tinha um grande tino comercial e com muito trabalho conseguiu ficar em boa situação. Quando meu pai conseguiu se estabilizar mandou chamar da Itália um seu sobrinho que no início trabalhou no comércio e depois se tornou sócio dele (Entrevista n. 3). O sentimento de família era muito forte, sendo comum que os italianos se casassem com noivas italianas que haviam deixado na própria terra quando da sua viagem para o Brasil, ou com filhas de outros italianos que já se encontravam radicados no país. Esses casamentos na própria comunidade contribuíam para manter as tradições e costumes e conseqüentemente, para olhar a região para qual emigrou como uma extensão da Itália (ANDRADE,1992; BASSANEZI, 1996). Estes elementos mostram claramente uma estratégia social de integrar famílias que teceram laços econômicos e matrimoniais. Alguns entrevistados relatam casamentos freqüentes entre famílias que emigraram juntas, que na maioria das vezes já tinham redes de parentesco entre esses imigrantes na Itália, ou seja, membros de famílias emigrantes eram casados entre si na própria Itália. Outros casamentos já aconteceram no Brasil, entre seus descendentes reforçando a rede de parentesco. Assim, havia casamentos entre Mileo e Calderaro; Mileo e Alaggio; Mileo e Priante; Mileo e Tancredi; Mileo e Oliva; Calderaro e Guaglianone; Filizzola e Magaldi; Filizzola e Guaglianone; Filizzola e Megale; Filizzola e Magaldi; Filizzola e Megale; Vallinoto e Megale; Tancredi e Megale; Giordano e Megale; Savino e Priante e muitos outros.

136 136 Era muito comum casamento entre filhos de famílias italianas sobretudo no baixo Amazonas. Às vezes vinham casados entre famílias conhecidas lá da Itália, outras vezes casavam no Brasil. Houve até casos em que primos casaram entre si por duas gerações consecutivas trazendo como conseqüência problemas genéticos para seus descendentes (Entrevista n.1). Segundo os informantes, os italianos radicados em Belém davam suporte a outros italianos que chegavam à capital; aqueles que não tinham parentes na cidade se hospedavam nas pensões de senhoras italianas, geralmente localizas no centro comercial, ou nas casas de outros italianos, Logo que meu pai chegou morou na Frei Gil de Villa Nova na pensão de uma senhora italiana que só hospedava italianos, o nome dela era Hermínia Petruccelli esposa de Biaggio Petruccelli. A outra pensão que os italianos ficavam era da dona Assunta Adario que também ficava na Frei Gil ( Entrevista n. 8). Quando meu pai chegou em Belém morou de passagem na casa de um italiano chamado Francisco Cerbino e depois foi para Oriximiná. Quando resolveu se mudar para Belém em 1953, comprou a casa de Cerbino que ficava na Manoel Barata esquina com a Frei Gil (Entrevista n. 3). Nas cidades, os italianos procuravam morar em ruas do centro comercial. A motivação principal dos primeiros imigrantes, seria a proximidade do local de trabalho, ou ainda, porque a casa tinha geralmente a dupla função de comércio e residência. Os que chegavam depois preferiam também essa localização porque podiam contar com uma rede de apoio nos primeiros anos de imigração. Essas conclusões podem ser inferidas dos depoimentos a seguir: Meu pai veio em 1926, mas eu e minha mãe só viemos em 1933, eu tinha 7 anos. Mas ainda me lembro que a gente achou Belém uma cidade feia e suja, cheia de mato e de carroças. Apesar de ter vindo de uma região pobre, aqui era muito pior. A única vantagem é que já tinha muitos italianos morando aqui. As casas eram próximas umas das outras no bairro comercial, principalmente na 28 de Setembro, Manoel Barata que era chamada de Paes de Carvalho, na Frei Gil e na Aristides Lobo. Meu pai tinha comprado uma casa na Frei Gil perto dos Petruccelli, que já estavam aqui há mais tempo e que já dominavam a língua e os costumes. Muitas famílias italianas moravam nos bairros do Comércio e no Reduto. Lembro que Biagio

137 137 Paracampo morava na rua O de Almeida entre Frei Gil e Presidente Vargas; Giuseppe Altieri morava na O de Almeida com Frei Gil, Nicola Crispino e os Suanno também moravam na O de Almeida e Nicola Conte morava na Gaspar Viana (Entrevista n. 8). Outro entrevistado faz observações semelhantes quanto à localização espacial das famílias italianas em Belém: A maioria dos italianos morava no Comércio e no Reduto. Minha família morou primeiro na O de Almeida, antiga Lauro Sodré, depois na 28 de setembro e finalmente na Piedade até a morte de meu pai. Muitos moravam na O de Almeida, os Petruccelli, os Tancredi, os Pacchiano, os Paracampo e os Verbicaro. Os Falesi moravam na 13 de Maio (Entrevista n. 9). Esses depoimentos indicam que muitos italianos que se fixaram nas cidades amazônicas trouxeram além da experiência de sua pátria, outros elementos culturais, econômicos e sociais acumulados ao longo da viagem por outros estados brasileiros e países da América Latina. Essa bagagem acumulada certamente produziu um diferencial na sua condição de imigrante e de certo modo, favoreceu não só o exercício de atividades econômicas, como também propiciou melhor integração na sociedade local. Por outro lado as diferentes estratégias migratórias migração por etapas, casamentos endogâmicos, proximidade da localização das moradias serviram para o estabelecimento de redes familiares ou vicinais onde buscavam apoio, sobretudo nos primeiros anos de imigração.

138 138 6 CONTRIBUIÇÃO DA IMIGRAÇÃO DE ITALIANOS À ECONOMIA AMAZÔNICA Com as riquezas decorrentes da borracha, o poder público direcionava parte dos recursos financeiros para a implementação de um processo de modernização das cidades. Os italianos inseriram-se em diferentes setores da economia. Como foi visto, houve uma experiência na colonização agrícola, entretanto, o crescimento urbano propiciava condições favoráveis e criava um mercado de atividades de prestação de serviços que atraiu boa parte dos imigrantes que chegavam às cidades. Por outro lado os que traziam algumas economias, geralmente empregaram seus capitais na criação de estabelecimentos comerciais nas capitais e em cidades por onde circulavam as riquezas que a economia da borracha propiciava. Houve casos em que a habilidade artesanal evoluiu para a criação de fábricas de sapatos ou proporcionou a criação de alfaiatarias e ourivesarias; ao lado destes, alguns permaneceram exercendo atividades de menor qualificação como engraxates, jornaleiros, marceneiros, pedreiros, entre outras. 6.1 A INSERÇÃO DOS ITALIANOS NO SETOR PRIMÁRIO A experiência de implantação de colônias agrícolas com imigrantes italianos foi datada (final do século XIX) e pontualmente localizada às margens da estrada de ferro de Bragança e em áreas próximas a Belém. Se essa experiência não resultou no fortalecimento do setor agrícola na região, de acordo com os objetivos que nortearam a criação das colônias agrícolas, ainda assim pode-se avaliar um saldo positivo no sentido de permitir a introdução de novos processos de tratar a terra com os conhecimentos que os europeus traziam resultando num incremento da produção e desenvolvimento agrícola (CRUZ, 1963).

139 139 Por outro lado, alguns italianos que vieram para as cidades deram uma interessante contribuição na introdução do hábito de fazer hortas caseiras num momento em que nas cidades as casas possuíam quintais e esses eram aproveitados para o cultivo de legumes resultando na introdução de novos hábitos alimentares, conforme se pode deduzir do depoimento a seguir: meu pai era um pequeno comerciante. Mas na sua propriedade, na localidade de Curuá tinha um pomar com muitas árvores frutíferas uma horta e criação de vários animais domésticos. Mamãe fazia macarrão caseiro, lingüiça, chouriço, queijo e biscoito. Fazia questão de cultivar a tradição italiana na alimentação. Os moradores do município não costumavam consumir verduras e legumes, pode-se dizer que eles aprenderam com os italianos (Entrevista n. 4). Ainda nesse sentido, outros depoentes assim se expressaram: Aponto como principal contribuição dos italianos na introdução de novos hábitos alimentares além do pão e do macarrão que os nativos realmente não conheciam, um outro hábito alimentar foi o relativo ao consumo de verduras e legumes. Geralmente nas casas dos italianos sempre tinha uma horta caseira (Entrevista n. 3). Na Itália meu pai era agricultor. Mas aqui em Belém foi sapateiro e jornaleiro. Mas no quintal de casa, na O de Almeida tinha grande horta onde se cultivava muitos legumes e verduras. Meu pai criava ainda galinhas de raça para vender (Entrevista n. 11). Em localidades do interior, os italianos aliavam a agricultura com pequenas criações para consumo próprio ou para venda: Meu pai chegou em Faro no início do século, lá por 1910, veio ele e meu avô. Passaram uns anos em Faro e depois voltaram para a Itália. Mas, meu pai veio de novo para Faro onde ficou até a sua morte nos anos 60. Lá em Faro ele tinha um comércio e um sítio onde tinha plantação de mandioca e tabaco. Ele criava carneiros principalmente para a alimentação e também para vender. Ele ensinava várias maneiras de preparar carneiro porque as pessoas do local não costumavam comer carneiro (Entrevista n. 10). Outra atividade exercida pelos italianos, principalmente pelos que se localizaram em cidades da região do baixo Amazonas foi a criação de gado bovino,

140 140 em localidades situadas nos municípios onde tinham estabelecido suas casas comerciais (Tabela 20). Tabela 20: Fazendas de italianos localizadas no estado do Pará por município, 1931 N. Proprietário Fazenda/localidade Município 1 Nicola Judice Vincenzo Florenzano 2 Giovanni Mileo Giovanni Megale Pietro Mileo 3 Giovanni B. Mileo Vincenzo Calderaro São Sebastião Santa Maria/São Pedro São João, Nápoles, São Bartolomeu e retiro São Jorge Óbidos Óbidos Santarém 4 Giuseppe Calderaro - Oriximiná 5 Nicola Filizzola Caporal Juruti Giuseppe Filizolla 6 Giuseppe Calderaro Giacomantonio Ricciardi Antonio Calderaro Santa Rosa, São Jorge e Província / Recreio Juruti 7 Giuseppe Tancredi Santa Lúcia e Paciência Juruti Domenico Gualianone 8 Biagio Magaldi Amizade Faro Domenico Mileo 9 Biagio Nicola Filizzola Caquinho Faro 10 Nicola Balbi Nova Itália Faro 11 Biaggio Nicola Paternostro 12 Antonio Vallinoto Sabato Megale Salvaterra Terra Santa Alenquer 13 Biagio Mileo Santa Fé Oriximiná Fonte: Organizada pela autora com base em Aliprandi e Martini (1932) e Entrevista n A INSERÇÃO DE ITALIANOS NO SETOR DE SERVIÇOS Nem todos os imigrantes destacaram-se no plano econômico. Para uma parcela dos imigrantes a vida nas cidades amazônicas foi permeada de dificuldades e para sobreviverem desempenhavam funções consideradas subalternas. Em sua passagem por Manaus em 1905, Ronca registra que encontrou muitos italianos no porto de Manaus, que exerciam trabalhos de estivadores e carregadores chamados

141 141 pela população de faccchini O viajante observa que muitos desses trabalhadores devem ter vindo em viagens da companhia La Ligure Brasiliana com imigração subsidiada pelo governo (RONCA, 1908, p. 99). Dados sobre esse tipo de trabalho exercido por italianos, também podem ser deduzidos das informações de uma entrevistada: Um tio de minha mãe morava em Manaus e trabalhava na estiva, no porto de Manaus, onde trabalhavam muitos italianos que eram carregadores. O nome de meu tio era Bonifácio. Ele trabalhava no pesado, mas conseguia passagem para ir de navio visitar a Itália. Numa das viagens trouxe uma filha chamada Maria Gazzanea que conseguiu montar um bar e um pequeno restaurante em Manaus (Entrevista n. 8) Na construção da sociedade amazônica também contribuíram muitos imigrantes com seu trabalho anônimo de engraxates, jornaleiros, verdureiros, carregadores, estivadores, ferreiros, vendedores ambulantes e outras profissões de menor prestígio social. Uns ofereciam seus serviços de porta em porta como consertos de sombrinhas e utensílios domésticos; outros tinham banca de engraxate próximo do terminal do trem ou no comércio, onde também consertavam sapatos. Os lucanos Domenico, Nicolau e Francesco Tancredi, eram ferreiros e exímios amoladores de facas e outros instrumentos cortantes que como proprietários da Grande Cutelaria Eletro-Galvânica Irmãos Tancredi localizada em Belém na rua Manoel Barata, no centro comercial desde as primeiras décadas do século, até meados dos anos 1970, prestavam esse tipo de serviço. 6.3 A INSERÇÃO DOS ITALIANOS NO COMÉRCIO E NA INDÚSTRIA Na capital paraense

142 142 Nas cidades amazônicas a principal atividade econômica exercida pelos calabreses, lucanos e campanos foi o comércio. Porque de pequenos proprietários e artesãos tornaram-se principalmente comerciantes? A resposta a esta questão necessita situar historicamente a estrutura econômica da Amazônia que acolheu esses imigrantes. O panorama econômico do Pará em 1870 era de relativa prosperidade, uma vez que exportava uma quantidade significativa de produtos extrativos como cacau, castanha, algodão, couros e peles. A partir de 1877 quando a exploração extrativa da borracha passa a registrar acentuada subida de preços e os capitais e força de trabalho são canalizados para essa exploração é o momento em que se assiste uma corrida em direção à Amazônia e no bojo dessa vem também um seguimento de imigrantes italianos que conseguem se firmar embora de maneira subordinada, ao capital mercantil predominante na época. Em Belém, o comércio dos italianos era mais direcionado ao atendimento das necessidades das populações urbanas, principalmente gêneros alimentícios, materiais de construção, joalherias, confecções e calçados que muitas vezes eram produzidos nas fábricas dos comerciantes, ou seja, aliavam a fabricação ao comércio (Tabelas 21 e 22).

143 143 Tabela 21. Comerciantes italianos estabelecidos na praça de Belém, segundo região de origem, Nome Ano de chegada Região Gaetano Verbicaro 1895 Calábria Domenico Falesi 1896 Calábria Nicola Maria Parente* 1896 Basilicata Pasquale Stretti 1889 Basilicata Francesco Cerbino 1900 Calábria Antonio Vita 1901 Campania Giuseppe de Tommaso 1903 Basilicata Nicola Conte 1907 Basilicata Francesco Libonati 1909 Basilicata Giuseppe Franco 1911 Calábria Fernando Del Pommo 1912 Lazio Giovani Grisolia 1912 Calábria Nicola Ciliberti 1927 Basilicata Rodolfo Camarlinghi - Toscana Fonte: Organizada pela autora com base em Aliprandi e Maritni (1932). *N. Parente estabeleceu-se em Abaetetuba que na época pertencia ao município de Belém Esses estabelecimentos, em sua maioria propriedades de calabreses e lucanos, dedicavam-se principalmente ao comércio e à fabricação e venda de calçados, atividade artesanal marcante na Calábria, Lucania e Campânia em meados do século XIX (CAPELLI, 2005; 2006). Essa atividade evoluiu em alguns casos para a criação de fábricas de sapatos como Boa-Fama, Italiana e Libonati. Do mesmo modo era forte o setor de alfaiatarias, em uma época na qual não era hábito

144 144 comprar roupas feitas e por isso exigia-se habilidades de alfaiates e o uso de tecidos importados da Itália e da Inglaterra (ANDRADE, 1992). Tabela 22: Estabelecimentos comerciais de italianos em Belém, fundados entre 1899 e 1939 Estabelecimento Titulares Ano de Especificação Endereço fundação Casa Falesi Domenico Falesi 1899 Alfaiataria Rua João Alfredo, 106, Comércio Casa Camarlinghi/ Rodolfo Camarlinghi 1900 Fábrica de bebidas e vinagre Exportação e Rua 13 de Maio, 56, Comércio Fabbrica di Calzature Boa Fama Fábrica de Calzature Italiana Calzoleria Sport CalzoleriaClubdoRe mo Remo Mercearia Vesúvio Calzoleria Soberana Fabrica de Calazature Libonati importação Nicola Conte 1908 Fábrica de calçados e sapataria Francesco Cerbino Giovanni Grisolia FernandoDelPo mmo Gaetano Verbicaro Antonio Antunes Martines Giuseppe Franco Francesco Libonati 1909 Fábrica de calçados e sapataria Rua Gaspar Vianna, 124, Comércio Rua Paes de Carvalho, 53, Comércio 1912 Sapataria Av. 15 de Agosto, 54, Comércio 1918 Sapataria Av. 15 de Agosto, Gêneros alimentícios Rua Paes de Carvalho, 40, Comércio 1922 Sapataria Rua 28 de Setembro,158, Reduto 1924 Fábrica de calçados e sapataria Trav. Pe. Eutíquio, 110, Comércio Sartoria Ciliberti Nicola Ciliberti 1927 Alfaiataria Rua João Alfredo, 19, Comércio Antonio Vita e Cia Antonio VIta 1927 materiais de Trav..9 de Janeiro, construção 33, São Brás Negozi di Comestibili Pasquali Stretti 1929 Gêneros alimentícios Trav.do Curro, 42 Caza Nunziata Carmine Seminfor Joalheria Rua 13 de Maio, Nunziata mação 98, Comércio Casa Odalisca Francesco 1939 perfumes Rua 13 de Maio, Falesi Comércio Fonte: Organizada pela autora com base em Aliprandi e Martini (1932) e na Entrevista n. 5 Os empreendimentos eram empresas familiares, e neles trabalhavam o proprietário, os filhos homens e raramente a esposa e as filhas. Foram registradas algumas situações em que o fundador da empresa voltou para a Itália, passando a

145 145 responsabilidade da direção dos negócios aos filhos. A Casa Falesi serve como exemplo: Meu avô Domenico Falesi era calabrês, de Castrovillari (Cosenza) onde tinha uma alfaiataria. Ele veio para o Brasil em Em 1899 meu avô fundou a Casa Falesi era uma alfaiataria e loja de materiais para confecção de roupas: tecidos, linhas, botões. Ficava na Rua João Alfredo. Ele revendia esses materiais que importava da Itália para outros proprietários de alfaiataria, com isso tornou-se a principal alfaiataria de Belém..Ele ia muitas vezes à Itália e em 1926 resolveu retornar definitivamente para sua pátria. Levou a mulher e os filhos, inclusive os que tinham nascido no Brasil. Mas, na frente de seus negócios deixou um de seus filhos Francesco Falesi, o meu pai. Meu avô não voltou mais ao Brasil e morreu em 1930 (Entrevista n. 5). Ao assumir os negócios deixados pelo pai, Francesco Falesi associou-se a um tio conforme relata a entrevistada: A partir de 1926 com a volta de meu avô para a Itália, meu pai tornou-se proprietário da Casa Falesi. Ele se associou com meu tio também italiano Giuseppe De Tommaso casado com a tia Antonnieta Falesi De Tommaso e a firma passou a se chamar Falesi & Companhia. Em 1950 foi desfeita a sociedade e o sócio De Tommaso abriu outra alfaiataria. Em 1939 papai fundou a Casa Odalisca que não tinha participação do outro sócio. Ficava na rua 13 de Maio. Eu e o meu irmão Domenico trabalhávamos com ele na Odalisca, que na época vendia perfumes e armarinho em geral (Entrevista n. 5). A Casa Odalisca, já em outro endereço, situada na Travessa Benjamim Constant, no bairro de Nazaré e com outros ramos de atividade (perfumaria, aliada a um salão de podologia) permanece em atividade nos dias atuais. Até recentemente era administrada pela entrevistada Giusepinna Falesi (falecida em 2005) e por seu irmão Domenico Falesi e filhos. Outra família italiana cujos descendentes ainda permanecem exercendo atividades comerciais é a família Grisolia, originária de Papasidero, província de Cosenza, região da Calábria. Ângelo Grisolia veio para Belém no fim do século XIX, depois outros parentes chegaram. Em 1912 veio Giovanni Grisólia que fundou a Sapataria Sport, mais tarde chegaram os irmãos Domenico e Biaggio. Começando

146 146 no ramo de sapataria, depois diversificaram para tecidos de decoração (móveis e cortinas). Na década de 1940, além da loja no centro comercial tinham fábrica de sapatos e loja na avenida Independência (atual Magalhães Barata). Hoje a família ainda permanece com a loja de tecidos e plásticos na rua Frutuoso Guimarães no centro comercial e lojas de materiais de construção na Domingos Marreiros e na rua 16 de Novembro (Entrevista n. 8; ALIPRANDI; MARTINI, 1932). De igual modo outros estabelecimentos como os dos Conte, Cerbino, Del Pommo, Libonati também constituíam empresas familiares. A Casa Camarlinghi, fundada em 1900 pelo comerciante toscano Rodolfo Camarlinghi, passou a denominar-se José Mileo Primo após ser adquirida pelo lucano Giuseppe Mileo Primo. Em 1931 era administrada pelos seus filhos Giovanni e Paolo Mileo, situação que permaneceu até os anos 1950 quando encerrou suas atividades (Entrevista n. 9). Os estabelecimentos dos italianos localizavam-se em áreas privilegiadas para os negócios, fundamentalmente nas ruas dos atuais bairros do Reduto e do Comércio. Além dos estabelecimentos listados na Tabela 22, informantes registraram a participação de outros italianos, atuantes na praça comercial de Belém, nas primeiras décadas do século XX, com estabelecimentos localizados também nos bairros do Reduto e do Comércio que muitas vezes tinham a dupla função de residência e local de trabalho. Os italianos residiam o mais próximo possível, ou ainda no mesmo prédio do estabelecimento comercial. Foram citados, entre outros, a fábrica e loja de sapatos de Gregório Oliva, localizada na 28 de Setembro entre Frei Gil e Presidente Vargas; a fábrica de calçados de Vincenzo Longo, na Manoel Barata; a fábrica de sapatos de Josepp

147 147 Marigliani, na 28 de Setembro perto da Central de Polícia; a livraria Conte dos lucanos Antonio e Egidio Conte, na João Alfredo; a livraria do calabrês Carmelo Faillace, na Santo Antônio, a mercearia e panificadora de Pascoal, Nicola e João Pacchiano, na Frei Gil; a sapataria de Lucca, na Batista Campos; a alfaiataria de Giuseppe Iannini, na 13 de Maio; a Loja dos Calçados de Nicolino Paracampo, na Castilhos França; e a sapataria Carioca de Atílio Guaglianone, na 15 de Novembro (Entrevistas n. 8 e 9). O sucesso comercial desses italianos, as redes familiares que os apoiavam e a sua integração na sociedade local, estimularam outros imigrantes que mesmo com a crise da borracha, conseguiram permanecer no comércio, fundaram novas casas comerciais e nelas se mantiveram atuantes por muitas décadas. Os imigrantes italianos também tiveram participação significativa nos primórdios da indústria paraense. O recenseamento industrial de 1920 registra a existência de 15 estabelecimentos industriais pertencentes a italianos, nos estados do Pará e do Amazonas, empregando 166 operários (Tabela 23). Tabela 23: Estabelecimentos Industriais pertencentes a estrangeiros em 1920 nos estados do Amazonas e Pará Estados Portugueses Italianos Sírios TOTAL estab. oper. estab. oper. estab. oper. estab. oper. Amazonas Pará TOTAL Fonte: Recenseamento de Censo Industrial O que eram os estabelecimentos industriais de italianos nessa época? Na maioria, pequenas oficinas que fabricavam sapatos, alimentos, vestuário e utensílios

148 148 domésticos. Eram de propriedade familiar tendo como colaboradores ou como empregados filhos, sobrinhos, netos, genros, irmãos. Mesmo as empresas mais estruturadas ainda permaneciam as velhas formas de organização em esquemas familiares (CENNI, 2003). Entretanto, Costa (1924) chama atenção para empreendimentos de maior porte, pertencentes a italianos que haviam se instalado no Pará na década de Destaca, por exemplo, a importância da participação de italianos na indústria de beneficiamento de sementes oleaginosas para a economia paraense na década de 1920, quando foram criadas duas usinas em Belém, a Victoria e a Conceição. A usina Victória, de propriedade da sociedade anônima Oleifice Nazionale, com sede em Gênova, era dirigida no Pará pelos italianos Giuseppe Turchi e Antonio Mazzini. Esta usina ficava situada na ilha das Onças em frente a Belém. No primeiro semestre de 1924 a usina Victoria havia embarcado para Gênova 900 toneladas de sementes beneficiadas e 500 toneladas do mesmo produto para o mercado de Liverpool. Essa usina, movida a vapor e a eletricidade trabalhava com máquinas para a quebra de murumuru e tucumã e empregava cerca de 400 pessoas entre homens, mulheres e crianças que se ocupavam na seleção das sementes (COSTA, 1924; MOURÃO, 1989). Fundada na década de 1920, a usina Conceição pertencia ao italiano Giovanni Baptista Merlin que também era agente em Belém, da Companhia Transatlântica Italiana que transportava passageiros e cargas, entre os portos da Europa e o Norte do Brasil. A usina era dirigida pelo italiano Celestino Pesce e ficava situada na Vila do Pinheiro (atual Icoaraci). Era movida à eletricidade e beneficiava sementes de murumuru, tucumã, paracachi, jaboti, ucuúba, andiroba e outras. Empregava cerca de 300 pessoas entre homens, mulheres e crianças. A usina tinha

149 149 uma filial em Cametá e exportava seus produtos preferencialmente para a Itália (COSTA, 1924). A literatura destaca também a importância dos italianos na instalação das primeiras fábricas de calçados na Amazônia. Nesse setor destacou-se fábrica Boa Fama em Belém que era de propriedade do senhor Nicola Conte, natural de Casteluccio Inferiore, província de Potenza, região da Basilicata. Tendo chegado ao Pará em 1907, Nicolau começou a trabalhar de forma artesanal e em 1912 montou sua fábrica adquirindo máquinas movidas a eletricidade. A Boa Fama foi considerada como a primeira fábrica de sapatos do Norte do Brasil. O estabelecimento tinha cerca de 200 empregados de ambos os sexos, sendo alguns italianos e a maioria constituída por brasileiros. A matriz funcionava em edifício localizado na rua Gaspar Viana no. 124, tinha três filiais em Belém e uma em Manaus. A produção diária era de pares de sapatos que eram exportados não somente para os estados do Norte e do Nordeste do Brasil como também para a Guiana Francesa e o Peru. Na administração da fábrica além dos filhos do proprietário, Ângelo e Salvador Conte, também participavam os italianos Francesco Grisolia e João Vivacqua (COSTA, 1924). Embora de menor porte, havia ainda em Belém outras fábricas de calçados de propriedade de italianos, como a fábrica Italiana, fundada em 1909 pelo calabrês Francesco Cerbino. A família de Cerbino era numerosa; dos 10 filhos, 7 trabalhavam na fábrica, principalmente na distribuição dos sapatos para o comércio de Belém. A fábrica começou a funcionar na rua O de Almeida e depois passou para a rua Paes de Carvalho (atual Manoel Barata) no centro comercial. No mesmo local Cerbino montou a sapataria Combate. Um dos filhos de Francesco, Adavio Cerbino (de 82 anos) lembra que moraram na O de Almeida, na Manoel Barata, na 28 de setembro

150 150 e finalmente na travessa Piedade. Cerbino fechou a fábrica na década de 1950 e ficou vivendo da aposentadoria e de pequenos serviços. Faleceu em 1961 com 90 anos de idade (Entrevista n. 10). A outra fábrica de calçados que tinha relativa importância, era a Libonati. Fundada em 1924 por Francesco Libonati, natural da província de Potenza (Basilicata), era especializada em calçados infantis, com o famoso calçado Bebé, feito com matéria-prima importada que tinha grande aceitação na praça de Belém. A fábrica ficava localizada na travessa São Mateus (atual Padre Eutíquio) no bairro do Comércio. Os italianos radicados no Pará destacaram-se também como fabricantes de bebidas em Belém, a exemplo da fábrica de bebidas e vinagre Camarlinghi, do também toscano Rodolfo Camarlinghi, fundada em 1900 (ALIPRANDI; MARTINI, 1932). Outro setor econômico em que também houve interessante participação desses imigrantes foi o da navegação fluvial. Em 1917, o calabrês Giovanni Rossetti chegou em Belém, mas no mesmo ano transferiu-se para Manaus onde fundou uma companhia de navegação cujos barcos faziam transporte da borracha do Acre para Belém. No início da década de 1940, Giovanni mudou-se para Belém, fundando a empresa E. Rossetti & Cia Ltda, em nome de seu filho brasileiro Eduardo Rossetti, uma vez que em decorrência da Segunda Guerra Mundial, os italianos eram alvo de perseguições. A empresa dedicava-se à navegação fluvial com os navios-gaiola Rio Tapajós, Depinedo, Dona Cristina e Baltic. Os negócios passaram a ser administrados pelos filhos. Giovanni Rossetti morreu em Nenhum de seus netos prosseguiu nos ramos da navegação, todos são profissionais liberais (ROSSETTI FILHO; ROSSETTI, 2002).

151 No baixo Amazonas Conforme foi ressaltado, mesmo depois da crise da borracha que se acentua a partir de 1914 os italianos continuam a chegar, estabelecendo novas casas comerciais ou substituindo patrícios que voltam para a Itália. Esta situação, segundo depoimentos e entrevistas, foi particularmente observada na região do baixo Amazonas. Uma explicação plausível dessa contínua migração reside nas mudanças nas formas de produção estabelecidas na Amazônia durante o ciclo da borracha, com o sistema de aviamento. A exploração de produtos extrativos era inicialmente realizada em base familiar pelas populações amazônicas. Com a exploração da borracha passando a ser feita em larga escala nos grandes seringais foi introduzido o sistema de aviamento no qual o produtor ou aquele que trabalha na coleta fica com a obrigação de entregar o fruto de seu trabalho à pessoa que efetua o aviamento. Aviador é a pessoa que fornece o aviamento, e aviado aquela que o recebe. Aos preços das mercadorias fornecidas ao aviado, além dos altíssimos juros que se lhes acrescem, são computados os riscos dos aviadores para os casos de se verem privados dos produtos (WEINSTEIN, 1993). Uma vez passado o ciclo da borracha o comércio dos italianos no Baixo Amazonas continuou sendo sustentado pelo aviamento de madeiras, couros, peles, castanha-do-pará e em grande parte de juta (Entrevista n. 3). A imigração italiana para o baixo Amazonas foi composta principalmente por lucanos, da província de Potenza e de uma pequeno povoado, uma fração da comuna de Rivello, que hoje não tem mais que 700 habitantes, chamado San Costantino di Rivello (CAPPELLI, 2007; Entrevista n.1). Vieram também alguns campanos e mais raramente calabreses. Os primeiros a chegar à região, ainda nos

152 152 anos 70 e 80 do século XIX, foram os lucanos Mileo e Calderaro. Outros membros desses dois troncos familiares que tinham relações de parentesco continuaram a chegar até as primeiras décadas do século XX, e se fixaram em várias cidades do baixo Amazonas. A presença desses dois troncos familiares em Santarém e Óbidos é confirmada por Gregório Ronca, em sua viagem pela Amazônia em Em seu registro, esse oficial comenta que um dos primeiros italianos que chegou a Santarém foi um operário caldeireiro de sobrenome Mileo, que tendo abandonado sua profissão dedicou-se ao comércio. Comenta ainda que encontrou em Santarém 20 italianos, a maioria das famílias Mileo e Calderaro, e em Óbidos, 66 italianos, quase todos parentes dos de Santarém (RONCA, 1908). A Tabela 24 mostra a época de chegada de alguns comerciantes que se fixaram no baixo Amazonas, os comerciantes italianos que começaram a chegar desde 1878, mas o período em que se registraram as maiores entradas, foi o compreendido entre 1900 e Durante a guerra as entradas diminuíram e voltaram a acontecer a partir dos anos A partir dos anos 1930, ocorrem chegadas de parentes desses comerciantes, sobretudo através das cartas de chamada (Entrevista n. 1). Tabela 24: Comerciantes italianos estabelecidos em municípios do baixo Amazonas, segundo ano de chegada, região de origem e município de destino, Nome Ano de chegada Região de origem Cidade de destino Giovanni Mileo 1879 Basilicata Óbidos Vincenzo Calderaro 1879 Basilicata Santarém Giuseppe Maria Mileo 1885 Basilicata Santarém Giovanni B. Mileo 1885 Basilicata Santarém Vincenzo Biolchini 1895 Lazio Alenquer Giovanni Mileo 1896 Basilicata Òbidos

153 153 Giuseppe Tancredi 1897 Basilicata Juruti Giovanni Batista Tancredi 1897 Basilicata Juruti Vincenzo Mileo 1900 Basilicata Santarém Antonio Vallinoto 1900 Basilicata Alenquer Giuseppe Calderaro 1900 Basilicata Juruti Antonio Calderaro 1900 Basilicata Juruti Carlos Alaggio 1903 Basilicata Oriximiná Nicola Filizzola 1903 Basilicata Óbidos e Juruti Biagio Magaldi 1903 Basilicata Faro Biagio Nicola Filizzola 1903 Basilicata Faro Nicola Balbi 1903 Campânia Faro Vincenzo Rossi 1903 Campânia Óbidos Pasquale Savino 1904 Campânia Obidos Giovanni Megale 1906 Basilicata Óbidos Giacomantonio Ricciardi 1908 Basilicata Juruti BiagioNicola Paternostro 1908 Basilicata Terra Santa Biagio Mileo 1908 Basilicata Óbidos Biagio Nicola Mileo 1909 Basilicata Oriximiná Sabato Megale 1909 Basilicata Alenquer Nicola Iudice 1910 Basilicata Óbidos Vincenzo Florenzano 1910 Basilicata Óbidos Silvestro Savino 1911 Campânia Óbidos Biagio Mileo 1912 Basilicata Oriximiná Giuseppe Filizzola 1912 Basilicata Óbidos e Juruti Gaetano Calderaro D Alessandro 1912 Basilicata Óbidos Giuseppe Calderaro 1912 Basilicata Oriximiná Domenico Guaglianone 1912 Calábria Juruti Domenico Mileo 1914 Basilicata Faro Nicola Balbi 1916 Campânia Faro Manfredo Pirrongelli 1920 Basilicata Óbidos Silvestro Savino 1920 Campânia Óbidos Nicola Calderaro 1921 Basilicata Óbidos Giovanni Priante 1921 Basilicata Óbidos Giuseppe Mileo 1922 Basilicata Óbidos Pietro Oliva 1924 Basilicata Óbidos Pietro Mileo 1926 Basilicata Óbidos Giacomo Antonio Priante 1931 Basilicata Óbidos Túlio Calderaro 1931 Basilicata Juruti Fonte: Organizada pela autora com base em Aliprandi e Martini (1932) e nas Entrevistas nos. 1, 3 e 12.

154 154 Como analisado anteriormente, o final do século XIX e as primeiras décadas do século XX foram marcados pelo domínio do extrativismo. A borracha certamente teve primazia como motivação primeira da vinda de migrantes italianos para a Amazônia, mas, passado o ciclo da borracha, eles permaneceram e alguns ampliaram seus estabelecimentos, o que foi facilitado pela prática do sistema de aviamento que dava sustentação a esse tipo de comércio (ANDRADE, 1992). Através da cadeia do aviamento os comerciantes mais fortes recebiam as mercadorias das casas aviadoras localizadas em Belém e abasteciam seus clientes que entregavam os chamados produtos do país numa transação desigual geradora de lucros significativos para os comerciantes. Nessas condições os comerciantes italianos resistiram e enfrentaram a decadência da economia da borracha. A diferença entre esses comerciantes e os que se fixaram em Belém é que a maioria de italianos radicados no baixo Amazonas complementavam suas atividades mercantis com a criação de gado bovino. Contudo, tal atividade era prejudicada pela dependência do movimento dos rios, a enchente e a vazante com significativa perda de animais que caíam nos rios. Havia italianos que vinham trabalhar com amigos e parentes e ao melhorar suas condições econômicas, se instalavam como comerciantes, com casas próprias ou em sociedades com amigos e parentes. Alguns comerciantes bem situados funcionavam como intermediários entre comerciantes de menores posses e as firmas comerciais localizadas em Belém. Os calabreses, os lucanos e os campanos que se radicaram no Pará montaram seus estabelecimentos comerciais não somente em Belém, mas em varias cidades do interior paraense, principalmente na região do baixo Amazonas

155 155 (Santarém, Juruti, Óbidos, Oriximiná, Alenquer, Terra Santa e Faro), conforme mostrado na Figura 6 e na Tabela 25. Oriximiná Óbidos Alenquer Faro Terra Santa Juruti Santarém Figura 6: Mapa do baixo Amazonas, com destaque feito pela autora para os municípios que receberam o maior número de comerciantes italianos Fonte: Mesorregião_do_Baixo_Amazonas Segundo depoimentos, Santarém, pela importância no comércio da borracha, era a porta de entrada dos que vinham se estabelecer no baixo Amazonas e até mesmo dos que vinham para cidades do interior do Amazonas (Entrevista n. 14). Óbidos por sua localização que facilitava o comércio com as embarcações que vinham do interior, era a cidade preferida dos italianos. Os estabelecimentos comerciais dos italianos estavam concentrados no centro comercial da cidade, principalmente nas ruas Siqueira Campos, Rodrigues dos Santos e da Revolução. O município de Oriximiná, instalado em 1894, juntamente com o município de Juruti foi anexado ao município de Óbidos, em 1900 através da Lei 729. Em dezembro de 1934, através da Lei 1442, os dois municípios reconquistaram a autonomia. Óbidos, centro comercial importante na época do predomínio do extrativismo, gradativamente perdeu sua importância econômica para Oriximiná, que como sede de projeto econômico de grande envergadura, o Projeto Trombetas da Mineração

156 156 Rio do Norte instalado no fim da década de 1970, tem mantido certa prosperidade e tornou-se um importante pólo comercial no baixo Amazonas. É em Oriximiná que ainda hoje podem ser encontrados comerciantes descendentes de algumas famílias italianas que vieram para a Amazônia no início do século como Mileo, Paternostro, Florenzano, Filizzola, Megale, Ferrari, Calderaro, Ferraioli, Oliva, Sarubbi, Giordano e Reale. Tabela 25: Estabelecimentos de comerciantes italianos localizados no baixo Amazonas, fundados entre 1888 e 1931 Estabelecimento/firma Titulares Ano de fundação Especificação Mileo&Calderaro Giuseppe Mileo 1888 Importação e exportação de (J.B. Mileo) VincenzoCalderaro produtos regionais, serraria, A.Vallinoto &Cia José Mileo Casa Confiança/ Braz Mileo & Cia Nicolau&Florenzano Loja do Povo/ Caldararo, Mileo & Cia Braz Mileo&Irmãos Biagio Nicola Paternostro Antonio Vallinoto Sabato Megale Biagio Magaldi Domenico Mileo Carlos Allagio Biagio Mileo Nicola Judice Vincenzo Florenzano Gaetano Calderaro d Alessandro Giovanni Mileo Biagio Mileo Giovanni Mileo Giovanni Megale Biagio Nicola Paternostro criação de gado 1898 Importação e expotação; gêneros alimentícios; criação de gado 1899 Tecidos, ferramentas; criação de gado 1903 Tecidos,gêneros alimentícios, criação de gado 1904 importação e exportação de produtos regionais ;criação de gado 1905 Tecidos,calçados e ferramentas 1908 Gêneros alimentícios, tecidos e criação de gado 1909 Gêneros alimentícios, criação de gado A Formosa Obidense Silvestro Savino 1911 Tecidos,comestíveis,calçados e criação de gado Casa Ítalo-Brasileira Pasquale Savino 1911 Tecidos,calçados e comestíveis Nicola Balbi Nicola Balbi 1916 Gêneros alimentícios e criação de gado Casa Caporal/ Nicola Filizzola & Fratello Casa Santa Maria / Rossi & Pirrongelli Nicola Filizzola Giuseppe Filizzola Vincenzo Rossi Manfredo Pirrogelli 1919 Comestíveis, tecidos, ferragens e livraria Município Santarém Alenquer Faro Oriximiná Óbidos Óbidos Óbidos Terra Santa Óbidos Óbidos Faro Óbidos 1920 Calçados,chapéus,tecidos Óbidos La Rinascente Giovanni Priante 1923 Gêneros alimentícios Óbidos

157 157 Biagio Nicola Filizzola Mileo&Calderaro Ditte Riunitte Tancredi&Guaglianone Recreio/ Calderado & Cia Biagio Nicola Filizzola Vincenzo Mileo Maria Calderaro Mileo Giuseppe Mileo Nicola Calderaro Giuseppe Tancredi Domenico Guaglianone Giuseppe Calderaro Giacomantonio Riciardi Antonio Calderaro 1926 Criação de gado Faro 1930 Importação e exportação Santarém 1931 Tecidos, ferramentas e calçados; panificadora;criação de gado Comércio em geral; criação de gado Comércio em geral;criação de gado Óbidos Juruti Juruti Rodolpho Grandi Fibras têxteis Óbidos Boni& Grandi Fonte: Organizada pela autora com base em Aliprandi e Martini (1932), arquivos da JUCEPA e nas Entrevistas nos. 1,3 e 12. Os estabelecimentos relacionados na Tabela 25 são aqueles sobreviventes até 1932; os que não suportaram a crise e fecharam não estão listados. Algumas informações destes foram levantadas na JUCEPA e em entrevistas. Originariamente pequenos proprietários na Basilicata, os italianos começaram a se estabelecer como comerciantes em cidades do baixo Amazonas desde o final do Império. Geralmente seguiam a trajetória da maioria dos italianos nas cidades amazônicas: emigravam sem a família e depois de estabelecidos voltavam à Itália para casar ou para buscar a família e muitas vezes a esposa e os filhos vinham posteriormente em companhia de parentes (Entrevistas n. 1 e n. 3) Foi a partir do início do século XX que a participação dos italianos no comércio da região do baixo Amazonas se acentuou. O ingresso desse segmento nas atividades comerciais está relacionado com o ciclo da borracha amazônica, quando ao lado de outros segmentos estrangeiros como sírios, libaneses e judeus marroquinos passaram a atuar no sistema de aviamento. Eram compradores e

158 158 vendedores de produtos regionais e comercializavam produtos variados como gêneros alimentícios, tecidos, calçados, ferramentas, chapéus, perfumes, material elétrico e miudezas. A localização dos estabelecimentos comerciais extrapolava a sede dos municípios dispersando-se para algumas localidades onde os italianos tinham suas fazendas para criação de gado, geralmente situadas ao redor de lagos ou à margem de rios, como São Pedro e São Sebastião em Óbidos; Amizade, Caquinho e Nova Itália, em Faro; e Recreio, Santa Rosa, São Jorge, Santa Lúcia e Paciência em Juruti, Curuá-Una, Lago Grande de Franca, Ituqui, em Santarém (ALIPRANDI; MARTINI, 1932; Entrevista n. 12), Tal como em Belém, a empresa comercial dos italianos no baixo Amazonas era familiar. Os negócios eram tocados pelos proprietários, filhos e muitas vezes pela esposa e filhas. Os sócios geralmente tinham algum grau de parentesco: irmãos, primos, cunhados, tios ou ainda amigos da mesma província/localidade de origem, o que reforçava os laços e as redes familiares. Mas, a clientela desses estabelecimentos não se restringia aos patrícios, pois era composta também por moradores da região. Os que tinham maiores posses iam várias vezes à Itália em visita a familiares, o que não aconteceu com a maioria deles. Havia uma certa hierarquia entre esses comerciantes que era não só marcada pelo pioneirismo na penetração na região como também pelo porte e pela solidez da firma no fornecimento de mercadorias aos aviados que criavam certas relações de dependência. Passavam muitas vezes por esses patrões italianos a obtenção de créditos de comerciantes do baixo Amazonas junto às casas aviadoras localizadas em Belém, entre as quais, Ferreira Costa & Cia, Ferreira D Oliveira & Sobrinho e A. Monteiro da Silva, de comerciantes

159 159 portugueses que também eram proprietários de navios e barcos utilizados pelos italianos do baixo Amazonas em suas viagens a Belém (ALIPRANDI; MARTINI, 1932; Entrevista n. 3). As firmas J. B. Mileo & Cia em Santarém, em Alenquer; A. Vallinoto & Cia, em Óbidos; a Loja do Povo da firma Calderaro, Mileo & Cia, em Oriximiná; a Casa Confiança de Braz Mileo & Cia., destacavam-se como as mais importantes da região (ALIPRANDI; MARTINI, 1932). A mais antiga firma de comerciantes italianos no baixo Amazonas, Mileo & Calderaro, foi fundada em 1888 por Giuseppe Maria Mileo e Vincenzo Calderaro, situava-se em Santarém. Em 1920, Giuseppe Mileo voltou para a Itália e seu filho Giovanni Batista Mileo passou a titular da firma em sociedade com seu sogro Vincenzo Calderaro. A partir desse ano, a razão social da firma mudou para J.B.Mileo & Cia. Era uma firma que se ocupava de vários ramos de atividade: compra e venda e exportação e importação de vários produtos da região. Tinha uma grande propriedade florestal no rio Curuá, as fazendas São João, Nápoles, São Bartolomeu e Retiro de São Jorge, de onde se extraía madeira que era levada em barco de propriedade da firma para a serraria localizada em Santarém. Na cidade de Santarém possuía várias casas comerciais. A firma ocupava-se ainda do cultivo do cacau e da criação de gado em várias fazendas situadas no município de Santarém. Possuía ainda a usina Santa Amélia onde se fazia o beneficiamento de arroz e algodão. O senhor Giovanni Mileo era também sócio da Casa Comercial Ouvidor Cia, e da farmácia D. Velloso & Cia localizadas em Santarém. Giovanni Mileo era Régio Correspondente Consular da Itália desde 1907 até Giovanni teve 9 filhos, dos quais três foram educados na Itália. Segundo depoimento de filha de Giovanni Batista Mileo, com a morte de seu pai em 1942, não houve continuidade na

160 160 administração dos negócios da família. A farmácia foi fechada, assim como a loja e a usina de beneficiamento de arroz, o gado foi vendido e o produto repartido entre os herdeiros e, muitas fazendas foram invadidas pelos moradores das redondezas e na propriedade do rio Curua-uma, o governo instalou uma hidrelétrica (Entrevista n. 12). No município de Alenquer, destacava-se a firma A. Vallinoto & Cia, que fundada em 189 8, a partir de 1910 pertencia aos sócios Antonio Vallinoto (filho do fundador) e seu cunhado Sabato Megale que era irmão de Tereza Megale Valinotto, mulher de Antônio Valinotto. A firma tinha sede na cidade de Alenquer e filial numa fazenda do rio Curuá. Ocupava-se da importação e exportação de gêneros regionais e venda de mercadorias variadas. Atendia seus clientes no sistema de aviamento. A firma era proprietária da fazenda Salvaterra, onde se dedicava à criação de gado em vasta escala. Para transporte de suas mercadorias utilizava suas próprias embarcações; o vapor Itacoatiara e o batelão Garibaldi. A firma era representante das seguintes instituições bancárias: Banco do Brasil, Banco Nacional Ultramarino e Banco Moreira Gomes & Cia. Segundo o que está registrado nos arquivos da JUCEPA, a firma foi extinta em Em Oriximiná, destacava-se a Casa Confiança de Braz Miléo & Co. Sucessora da firma Carlos Alaggio & Co, essa casa foi fundada em 1903 por Carlo Alaggio casado com Angelina Mileo, que permaneceu na Itália. Em 1912 Carlo Alaggio adoeceu gravemente e retornou definitivamente à Itália deixando a Casa Confiança para seu cunhado Biaggio Antonio Gabrielle Mileo. Biaggio veio para o Brasil em 1912, atendendo chamado do cunhado. Para reestruturar a firma, Biaggio investiu no comércio de peles e couros de animais silvestres, de pluma de garça que tinha grande aceitação para a confecção de chapéus no mercado europeu e no

161 161 comércio de gêneros alimentícios, tecidos e ferramentas. Quando Biaggio se estabilizou mandou chamar da Itália seu sobrinho Pietro Oliva, que no início trabalhou no comércio e depois se tornou sócio (Entrevista n. 3). A firma Braz Mileo & Co a partir de 1924 passou a ter como sócios os primos Biaggio Antonio Mileo e Biaggio Nicola Mileo e o sobrinho destes, Pietro Oliva. O principal negócio da firma era a indústria extrativa, no tempo áureo da juta. Chegou a montar uma usina para a prensagem da juta em Óbidos; vendia até para a firma Matarazzo de São Paulo; e se associou com o comerciante português de Belém Joaquim Gomes da firma M. S. Gomes que tinha uma usina de prensagem de malva em Belém. Como comerciante forte na juta ele tinha usina de prensagem em Óbidos e Belém. A Casa Confiança de Oriximiná vendia de tudo: gêneros alimentícios, tabaco, café em grão, açúcar, tecidos, ferragens. Fabricava e vendia charque. Vendia castanha do Pará, couros e peles de animais silvestres. Chegou a ser para os padrões da época, um grande comerciante. Era correspondente do Banco do Brasil em Óbidos. Biaggio exerceu atividade comercial até 1959, quando se mudou para Belém. A firma então ficou sendo administrada pelo sócio Pedro Oliva. Com a morte de Biaggio em 1965, o patrimônio foi dividido entre o sócio e os 8 filhos de Biaggio. Depois da partilha, Pedro Oliva voltou para a Itália. A Casa Confiança ainda funciona no mesmo endereço em Oriximiná e é administrada por um dos filhos de Biaggio, José Antonio Mileo (Entrevista n. 3). Dessas histórias pode-se concluir que os comerciantes do baixo Amazonas tiveram importante papel como aviadores na época da borracha. Passado o período áureo, direcionaram seus capitais para o comércio de couros e peles de animais silvestres, que eram trocados por mercadorias variadas no sistema de aviamento e

162 162 para a criação de gado bovino. Mais tarde, a partir da década de 1940 para a produção e o comércio de fibras têxteis. Num estudo socioeconômico sobre a produção da juta na Amazônia, Nobue Miyazaki e Morio Ono (1958) assinalam a importante participação dos comerciantes italianos entre outros imigrantes, na cadeia do sistema de aviamento. Referindo-se à década de 1940, época em que os japoneses passaram a aliar suas atividades de produtores de juta com a de aviadores, os referidos pesquisadores assinalam que Começaram a aumentar de número, também comerciantes não japoneses que se dedicavam ao aviamento da produção da juta. Eram particularmente italianos, portugueses, judeus, turcos e sírios. Os aviadores, como comerciantes, faziam concorrência entre si para assegurar o produtor de juta como seu freguês para conseguir a maior quantidade de produto (MIYAZAKI; ONO, 1958, p. 380). Nas entrevistas realizadas no baixo Amazonas foram citados os comerciantes Braz Mileo (Oriximiná), Florenzano (Oriximiná), Rodolpho Grandi (Óbidos e Belém) e Giovanni Mileo (Santarém), Antonio Valinotto (Alenquer) como os mais importantes na comercialização de produtos extrativos. Favorecidos pela boa conjuntura que prevaleceu durante a Segunda Guerra Mundial, estes comerciantes ativaram seus negócios permanecendo como peças importantes também no processo de circulação da juta. Entretanto as dificuldades surgidas no pós-guerra e a concorrência com a produção asiática abalaram o promissor mercado da juta gerando prejuízos para os que nele se sustentavam: Todavia com o término da guerra, ao se iniciar a importação da juta da Índia a baixo preço, a cotação da juta baixou consideravelmente, e a produção juteira teve dificuldades em conseguir a expansão do crédito e ampliação da produção que se vinham processando durante o período da guerra. Entre os aviadores que tinham estendido grandemente os adiantamentos para conseguir a fibra, começaram a surgir os que abriram falência diante da impossibilidade de assegurar os produtos (MIYAZAKI; ONO, 1958, p. 383).

163 163 A década de 1950 vai marcar a crise do extrativismo vegetal e a perda da importância dos rios e dos municípios situados às suas margens no processo de circulação de riquezas. É o momento da abertura das estradas e da ligação do Pará com o resto do Brasil. A rodovia Belém-Brasília, inaugurada em 1960, ao facilitar a entrada dos produtos do Centro-Sul que tinham melhores condições de competir com os fabricados nas indústrias voltadas para o atendimento das demandas locais, contribuiu para quebrar várias fábricas regionais como as de sapatos, e consagrar a perda de importância de um sistema baseado no capital mercantil da região do baixo Amazonas. Essa conjuntura econômica desfavorável motivou a saída de muitas famílias de comerciantes italianos do baixo Amazonas em direção a Belém para onde haviam encaminhado seus filhos para prosseguir estudos. A segunda geração desses italianos é em grade parte formada por médicos, advogados, engenheiros, odontólogos e outros profissionais liberais radicados em Belém e outras cidades amazônicas. Alguns depoimentos registram o interesse desses imigrantes em incentivar os filhos para prosseguirem os estudos. Eram muito comum os comerciantes do baixo Amazonas mandarem seus filhos para os colégios de Belém. Meu pai tinha muito interesse na educação dos filhos. Primeiro fomos para Alenquer, para a casa de uma tia da família Megale, para estudar o curso primário; depois meu pai comprou uma casa em Santarém, onde fomos estudar o segundo grau. Em seguida fomos pra Belém fazer curso superior e um foi para São Paulo (Entrevista n. 4). Aliás, esse interesse pela educação dos filhos estava presente desde o início do século, quando famílias bem situadas economicamente mandavam seus filhos estudarem na Itália, de onde voltavam em alguns casos só após a conclusão do

164 164 curso superior, como é o caso de Giovanni Batista Mileo, de Santarém (Entrevista n. 12). Descendentes de italianos radicados no baixo Amazonas ingressaram na política, como é o caso de José Megale e Júnior Ferrari (atuais deputados estaduais), José Priante (ex-deputado federal), Pedro Paulo Miléo (ex-prefeito de Tucuruí), e José Carlos Ferrari (ex-prefeito de Óbidos) No estado do Amazonas Tal como no estado do Pará, no rastro da economia da borracha, dirigiram-se para Manaus e cidades do Amazonas grupos de italianos de origem regional diversificada. Um segmento de pequenos proprietários e artesãos, em sua maioria lucanos e campanos, dirigiu-se para Manaus e cidades amazonenses. Alguns trabalhavam nas cidades como sapateiros, ferreiros, pedreiros, marceneiros, carpinteiros, mecânicos. Outros exerciam a função de carregadores fazendo mudanças de móveis nas cidades ou ainda como estivadores no porto de Manaus, eram os facchini a que se refere Ronca (1908). Mas, boa parte desses imigrantes dedicou-se ao exercício de atividades comerciais (Tabela 26). Tabela 26 Comerciantes italianos estabelecidos no estado do Amazonas, segundo região de origem, ano de chegada e município de destino Giuseppe Cantisani Nome Região Província Comuna Basilicata Potenza Castelluccio Inferiore Francesco Celani Basilicata Potenza Castelluccio Inferiore DomenicoConte Basilicata Potenza Castelluccio Inferiore Ano de chegada Município de destino 1896 Manaus 1900 Manaus 1907 Manaus

165 165 Giulio de Cesare Roberti Basilicata Potenza Castelluccio Inferiore Vincenzo Pelosi Basilicata Potenza Castelluccio Inferiore Rafaelle Celani Basilicata Potenza Castelluccio Inferiore Nicola Pignatario Basilicata Potenza Castelluccio Inferiore 1924 Manaus S/I S/I S/I Manaus Manaus Manaus Giovanni Orofino Basilicata Potenza Castelluccio 1904 Manaus Superiore Carlo Vitale Basilicata Potenza Latronico 1879 Manaus Giuseppe Russo Basilicata Potenza Rotondo 1913 Manaus Michele Gazzineo Basilicata Potenza Trecchina Manaus Vincenzo Limongi Basilicata Potenza Maratea 1910 Manaus Saverio Tundes Basilicata Potenza San Costantino di 1906 Manaus Rivello Giuseppe Faraco Basilicata Potenza Acquafredda 1902 Maués Biagio Faraco Basilicata Potenza Acquafredda 1909 Maués Attilio Santoro Campânia Napoli Napoli S/I Manaus MicheleMasullo Campânia Salerno Casalbuono 1900 Manaus Vincenzo Cinque Campânia Salerno Sapri 1906 Urucurituba Giuseppe Aronne Calábria Cosenza Laino Borgo 1896 Manaus Ângelo Biondin Vêneto Vicenza Vicenza 1903 Manaus Luigi Canobbio Lombardia Milão Milão 1904 Manaus Pietro Cardelli Desideri Toscana Pistoia Pesce 1902 Maués Fonte: Organizada pela autora com base em Aliprandi e Martini (1932) e Entrevista n. 14. Foi uma emigração fortemente lucana, da Basilicata, todos eram da mesma província (Potenza), predominando os oriundos de Castelluccio Inferiore. A presença de campanos e calabreses era restrita a uns poucos no conjunto dos comerciantes. Quanto ao ano de chegada, embora fosse registrada presença antiga (1879), a maioria chegou nas primeiras décadas do século XX. E assim como no Pará, ainda permaneciam com seus estabelecimentos comerciais em 1932 (ALIPRANDI; MARTINI, 1932). Quanto aos municípios de destino, Manaus teve a primazia; no interior, apenas Maués e Urucurituba receberam italianos comerciantes dessa

166 166 corrente migratória. Ronca (1908) registra cerca de 70 pessoas no início do século em Manaus entre patrões e empregados envolvidos em atividades comerciais. A Tabela 27 revela que os comerciantes italianos do Amazonas estabeleceram seus comércios não somente durante o ciclo da borracha, mas também em anos posteriores, permanecendo enquanto o capital mercantil era dominante na região. Igual observação já foi feita em relação aos comerciantes italianos que se estabeleceram no estado do Pará. Tabela 27: Estabelecimentos comerciais de italianos no Amazonas, segundo município, ano de fundação e tipo de atividade, Estabelecimento/ Firma Roberti& Pelosi Titulares Giulio Cesare Roberti Vincenzo Pelozi Ano de Município Especificação fundação 1900 Manaus Ourivesaria,ótica Calzoleria Aronne Giuseppe Arone 1903 Manaus Sapataria Michele Gazzineo José Faraco & Cia Giuseppe Faraco 1904 Maués Comércio em geral, compra e vendade produtos regionais, f V.Cinque & Cia Vincenzo Cinque Nicola de Benedetto 1906 Urucurituba Comércio geral,importação Pedro Cardelli Pietro Cardelli Desideri 1904 Maués Compra e venda de produtos regionais Lattoneria Italiana Francesco Celani 1910 Manaus Funilaria Lattoneria Raphael Rafaelle Celani 1913 Manaus Funilaria A Reformadora Giovanni Orofino 1913 Manaus Artigos de mármore, pisos e móveis Giuseppe Russo Giuseppe Russo 1913 Manaus Sapataria Oreficeria,Gioielleria, Orologeria Luigi Canobbio 1914 Manaus Ourivesaria M. Massulo & Cia, Lmtd Michele Masullo CarloVitale 1917 Manaus Bar Calzoleria Boa Fama Domenico Conte 1917 Manaus Sapataria Officina di Oreficeria, Gioilleria,Orologeria Giuseppe Cantisani 1921 Manaus Ourivesaria Calzoleria Modelo Vincenzo Limongi 1923 Manaus Sapataria

167 167 Sartoria Ângelo Biondi 1926 Manaus Alfaiataria Internacional S.Tundes Saverio Tundes 1927 Urucurituba Comércio em geral, exportador de produtos regionais Bazar Allemão Santoro, As & Cia Attilio Santoro Arthur Ontran Franco de Sá S/I Manaus Estúdio fotográfico, artigos de pintura e música Fonte: Organizada pela autora com base em Aliprandi e Martini (1932) e Entrevista n. 14. Além desses comerciantes listados por Aliprandi e Martini, certamente outros se estabeleceram no Amazonas, como o calabrês Gaetano Figliuolo, de Laino Borgo Cosenza, Calábria, fabricante de tamancos e calçados e o lucano Domenico Demasi, dono de alfaiataria, citados por Benchimol (1999). Entrevistados registraram ainda presença dos lucanos Paschoal Alaggio e Paschoal Sarubbi como proprietários de padarias no município de Parintins (Entrevista n. 10) e Nicolau Filizola e Giulio Barsotti, em Maués (Entrevista n. 14). As habilidades artesanais trazidas pelos lucanos (sapateiros, funileiros, relojoeiros) nortearam os ramos de atividades comerciais que passaram a exercer na capital amazonense. Eles se dedicavam a vários ramos de atividades: ourivesaria, alfaiataria, sapataria, marmoaria e venda de produtos alimentícios, mas os italianos também eram fotógrafos e comercializavam material fotográfico, de pintura e de música, eram proprietários de bares, fabricavam sacos e envelopes, tinham funilaria e curtumes. Alguns desses estabelecimentos devem ter sido considerados como industriais no Censo Industrial de 1920, no qual o estado do Amazonas aparece com 5 estabelecimentos industriais de propriedade de italianos, conforme apresentado na Tabela 23 desta tese.

168 168 Uma importante contribuição para a economia do Amazonas, na qual se destacaram os italianos foi o cultivo e a produção do guaraná. Nesse setor, o lucano Giuseppe Faraco e o toscano Pietro Cardelli Desideri destacaram-se como pioneiros. Giuseppe Faraco, titular da firma José Faraco & Cia, natural de Acquafredda, província de Potenza, região da Basilicata, emigrou para o Brasil, com 25 anos em Depois de breve passagem por Santarém e Óbidos, em 1902, radicou-se em Maués. Depois de alguns anos estabelecido na cidade, foi à Itália buscar a esposa e os três filhos (Entrevista n.14). A firma José Faraco era proprietária de um grande estabelecimento comercial, localizado no centro de Maués, que comprava e vendia mercadorias em geral e produtos da região. Possuía ainda uma fazenda onde cultivava guaraná e uma fábrica de guaraná em bastão (ALIPRANDI; MARTINI, 1932). É assim que um descendente conta a participação de Giuseppe Faraco no cultivo do guaraná; Quando meu avô chegou, Maués era uma aldeia. Ele observou que a população consumia esse produto e que diziam dar energia. Os índios já plantavam guaraná para o consumo próprio e meu avô que era comerciante começou a financiar o plantio do guaraná em larga escala. Ele chegou a ter plantados 50 mil pés de guaraná (Entrevista n. 14). Na exposição internacional do Centenário da Independência do Brasil em 1922, a firma José Faraco & Cia foi premiada com medalha de ouro e diploma de honra ao mérito e Giuseppe Faraco teve participação de destaque na introdução do guaraná na economia brasileira apresentando um produto novo, o guaraná em bastão, que ralado na língua de pirarucu, produzia a apreciada bebida apresentada como tônica e nutritiva. Por esse feito, recebeu o título de rei do guaraná (Entrevista n. 14). Segundo o entrevistado, a convite de Giuseppe Faraco outros

169 169 italianos vieram se estabelecer em Maués no início do século. Entre esses, Pietro Cardelli Desideri, Salvador Perrone Giulio Barsotti e Enrico Magnani. Giuseppe permaneceu em Maués até 1929, quando encerrou seus negócios e voltou para a Itália. Segundo o informante, Com a crise de 1929, meu avô encerrou suas atividades e voltou para sua terra natal. A firma não se restabeleceu mais, mas, o guaraná já era uma realidade econômica. Meu pai Biagio Faraco que era sócio de meu avô na firma José Faraco & Cia, passou a ser contador de várias firmas comerciais em Maués. Meu avô morreu na Itália em 1946 (Entrevista n.14). Outro italiano que se destacou na produção do guaraná no início do século foi o toscano, natural de Pistoia, província de Pesce, Pietro Cardelli Desideri que chegou em Maués no início do século XX. Ele foi sócio de Giuseppe Faraco e pouco tempo depois montou sua firma e foi guaranalista em Maués até a década de 1940 (FARACO, 2006). A firma Pedro Cardelli, estabelecida em 1908, tinha plantação de guaraná, fábrica de guaraná em bastão marca Luzéa, vendia mercadorias em geral e comprava produtos regionais (ALIPRANDI; MARTINI, 1932). Outros italianos também se destacaram como produtores de guaraná como o calabrês Salvador Perrone, que chegou em Maués na década de 1910 e faleceu em 1935 e Francisco Antonio Magaldi, filho do lucano Paolo Magaldi que anteriormente havia se estabelecido em Minas Gerais. Outra participação importante nesse setor foi a do toscano, da província de Lucca, Enrico Magnani que chegou a Maués na primeira década do século XX e foi o inventor da máquina de pilar guaraná, além de ter sido o responsável pela construção da sede do extinto Consórcio do Guaraná. Uma réplica da máquina de pilar guaraná, bem como as fotos dos pioneiros e outras imagens que retratam a memória dessa produção encontram-se no Museu do Guaraná situado em Maués (Entrevista n.14).

170 170 Na década de 1940, os principais produtores do guaraná criaram o Consórcio do Guaraná, uma associação que visava garantir o preço e a qualidade do produto que era exportado em bastões, embrulhados um a um e acondicionados em caixas de madeira. O Consórcio do Guaraná foi presidido por Francisco Magaldi e foi extinto em 1950, em meio a uma crise do setor. Desde a década de 1960, a compra dos frutos do guaraná é monopolizada pela companhia Antarctica, para a produção de refrigerante (Entrevista n. 14). São poucos os descendentes de italianos que ainda hoje atuam no comércio de Maués, entre eles Zanoni Magaldi e Ferdinando Leite Desideri. A maioria dos filhos e netos de italianos que residiam em Maués foram estudar na capital amazonense onde hoje são profissionais liberais.

171 171 7 A IDENTIDADE REDEFINIDA DE ITALIANOS NA AMAZÔNIA Partindo do pressuposto de que toda e qualquer identidade é construída, Manoel Castells (2006) considera que nesse processo de construção, a principal questão seria identificar como, a partir de quê, por quem e para quê ele acontece. Desse modo, uma reflexão sobre a construção da italianidade na Amazônia implica na identificação dos principais atores, dos mecanismos utilizados, dos objetivos imediatos e a longo prazo. Esse processo foi permeado por avanços e recuos em que pesaram divergências regionais, sociais, políticas e ceconômicas de grupos oriundos de uma nação que recentemente se unificara. Por outro lado, se aflorava (e se condenava), o orgulho de ser italiano; houve momentos em que, motivados pelas dificuldades políticas, até mesmo a estratégia de esconder a nacionalidade foi utilizada. Nesse sentido, Barth (1976) ao discutir a questão da identidade e seu papel no estabelecimento de limites intergrupais, enfatiza a organização da diferença cultural apontando que os grupos étnicos são sujeitos a constrangimentos internos e externos. Apoiando-se em Okamura (1981), Seyferth conclui que, Existem situações em que um indivíduo tem interesse em obscurecer sua identidade étnica; em outras, procura enfatizá-la; seu comportamento, portanto, varia conforme as circunstâncias e suas escolhas dependem dos constrangimentos que derivam das relações sociais (SEYFERTH, 2005, p. 21). Ao refletir sobre os conceitos de identidade e etnicidade na análise das relações entre os imigrantes e a sociedade brasileira, Seyferth (2005) registra que na época das grandes migrações internacionais, as identidades formalizaram-se tendo por base os respectivos pertencimentos nacionais, associados ao processo de ocupação territorial.

172 172 A particularização é sustentada pela referência a uma dada comunidade étnica com diferenças culturais e uma identidade igualmente singularizada pela língua e pela origem nacional numa dada circunscrição espacial. Os princípios de singularidade e diferenciação cultural demarcadores de identidade produzidos em determinados contextos resultam na formação de organização comunitária, muitas vezes envolvendo pessoas aparentadas, oriundas da mesma região, ou que emigram na mesma leva e com outros atributos comuns, que constituem base para a reciprocidade e sociabilidade acionadas como elementos simbólicos de identidades étnicas. O processo de interação do imigrante italiano com a nova realidade reforça e muitas vezes redefine a chamada cultura de imigração que se expressa nas formas de falar, de sentir, de se comportar, de trabalhar e de viver; na música, na religiosidade, nos usos e costumes (RIBEIRO, 1999). Ao longo dos depoimentos e das histórias de imigrantes italianos estudados acima, pode-se ver que nessa cultura de imigração tinha relevância não somente a preservação do dialeto como também a preservação de laços familiares e a aproximação com habitantes da mesma localidade, os costumes, a religiosidade, entre outros elementos. Esta pesquisa conseguiu identificar construções específicas onde os imigrantes italianos trataram de preservar sua cultura através das associações, da imprensa, da sintonia com aos rumos da política italiana, das comemorações festivas que congregavam a comunidade, entre outras. 7.1 AS ASSOCIAÇÕES Um dos traços importantes na construção e na preservação da cultura de imigração dos italianos está ligada a sua capacidade associativa. As diferentes

173 173 associações que congregavam os italianos surgiram como necessidade não só de ajuda mútua, mas também como instituições de referência para esses imigrantes recriarem a língua e a cultura, as tradições, o que significava a expressão da italianidade. Essas associações começaram a surgir no Brasil na segunda metade do século XIX. A primeira associação de que se tem notícia é a Società Italiana di Beneficenza, surgida em 1854 no Rio de Janeiro. No Rio Grande do Sul em 1871, foi fundada em Bagé, a Societá Italiana de Mutuo Soccorso e Beneficenza e em 1877, em Porto Alegre a Società de Mutuo Soccorso e Beneficenza. Em São Paulo, em 1878, foi criada a Società di Beneficenza, mas no mesmo ano uma cisão entre seus membros resultou na criação da Società Italiana di Beneficenza Vittorio Emanuele (TRENTO, 1989). As associações tinham o duplo objetivo de prestar assistência aos menos favorecidos e ao mesmo tempo recuperar a identidade nacional e a preservação da cultura e da língua, elas encontravam obstáculos na realização desse projeto, não somente porque o conceito de coletividade e os valores que constituiriam sua base eram frágeis mesmo na pátria, país de recente unificação, como também porque não se pode negar que havia conflitos no seio da colônia que residiam não somente numa precoce diferenciação de classes, como também na procedência geográfica e até mesmo por rivalidades de ordem pessoal (TRENTO, 1989). Ao mesmo tempo em que as associações funcionavam como elementos importantes para a construção de uma identidade italiana, não era, entretanto, pacífica a convivência entre os italianos. Situações em que se expressavam divergências entre imigrantes eram muito mais acentuadas em estados do Sul e do Sudeste onde a colônia italiana era numericamente mais expressiva permitindo

174 174 aflorar divergências regionais trazidas da mãe-pátria, que dificultavam o desenvolvimento de um sentimento nacional. Era muito difícil falar em italianidade para pessoas oriundas de regiões com enormes distâncias culturais e lingüísticas. A consciência de pertencerem ao mesmo país vai surgir somente a partir do século XX não somente por se sentirem identificados como estrangeiros, como também pela uniformidade nacional que lhes era atribuída pela população brasileira (TRENTO, 1989). Esse historiador registra que em 1923 havia em todo o Brasil 182 sociedades italianas assim distribuídas: 94 em São Paulo, 45 no Rio Grande do Sul, 16 no Paraná, 14 em Minas Gerais, 6 no Rio de Janeiro, 3 no Pará, 2 em Santa Catarina e 2 em Pernambuco. A existência e a multiplicação dessas sociedades e entidades associativas poderia ter sido motivada pela persistência e o fortalecimento de identidades regionais ou por diferenças de classes sociais, o que muitas vezes levava à cisão ou à rivalidade entre os membros de diferentes associações. Na Amazônia, as primeiras associações surgiram no início do século XX. Conforme os objetivos a que se propunham poderiam ser classificadas como de mútuo socorro, culturais, educacionais, esportivas e políticas. A literatura registra a existência de uma sociedade de socorros mútuos, Princesa Helena de Montenegro, na Amazônia (sem precisar o estado de sua localização). Essa associação teria acontecido nos fins do século XIX e tido existência efêmera, não somente por se localizar numa região muito afastada do centro do país, como também por ser composta por italianos de procedência regional muito heterogênea, que possuindo dialetos e costumes diferenciados não

175 175 conseguiram ou não tiveram maior interesse e condições objetivas para levar em frente um projeto de associação (TRENTO, 1989). No estado do Amazonas, em 1931 existia a Sociedade Italiana de Mútuo Socorro e Beneficência de Manaus, cuja diretoria era composta por Attílio Santoro, Francesco Celani, Rafaele Donadi e Cesare Veronesi (ALLIPRANDI; MARTINI, 1932). Essa associação segundo declarações do atual vice-cônsul da Itália no Amazonas, foi extinta na década de 1940 e não mais foi reativada (Entrevista n. 15 e Lima ;Santos, 2006). No estado do Pará, a vida associativa dos italianos tem sido mais intensa. A primeira associação de que se tem notícia é a Società Italiana di Beneficenza, fundada em 12 de abril de 1912, por iniciativa de um membro do consulado da Itália em Belém, o cavaleiro Clodomiro Pasquali Pandolfi, apoiado por um pequeno grupo de imigrantes. Foi um primeiro espaço destinado a congregar os italianos de várias origens regionais residentes em Belém. Começou com uma simples sala de leitura, passando depois a funcionar como sociedade recreativa e finalmente tornou-se uma associação beneficente (ALIPRANDI; MARTINI, 1932). Essa associação teve um importante papel durante a Primeira Guerra Mundial na arregimentação de jovens italianos que aqui residiam para irem lutar em defesa da Itália. Muitos de seus sócios partiram como voluntários (Entrevista n. 5). Entretanto, terminada a guerra, essa associação criada por iniciativa da autoridade consular e apoiada por somente um pequeno grupo de italianos, uma elite econômica, não tardou a se tornar palco de divergências entre os seus membros e os outros que dela não participavam por discordarem de sua atuação. Este fato teria dado origem ao surgimento de outra associação, dividindo desse modo a colônia italiana de Belém (Entrevista n.11).

176 176 Assim, em 21 de abril de 1919 por iniciativa dos comerciantes Gaetano Verbicaro, Pietro Orofino, Francesco Trusso, Attilio Galeazzi e Giuseppe Aliverti, foi fundada a Unione Italiana D Istruzione e Mutuo Soccorso que conseguiu congregar cerca de 65 sócios fundadores. Segundo seu estatuto, a associação tinha como objetivo promover o patriotismo e os sentimentos de solidariedade entre os italianos e ensinar a língua italiana aos filhos dos sócios com a criação da escola Alessandro Manzoni (ALIPRANDI; MARTINI, 1932). Até conseguir uma sede própria, a sociedade funcionou no prédio da mercearia Vesúvio, de propriedade de Gaetano Verbicaro, localizada na Rua Paes de Carvalho (atual Manuel Barata) esquina com a avenida 15 de agosto (atual Presidente Vargas) (ALIPRANDI; MARTINI, 1932). Esses autores informam que a primeira administração provisória da associação que tomou posse em 1919 era composta pelo engenheiro lucano Achille Mazzitelli (presidente), pelo maestro vêneto Ettore Bosio (vice-presidente), e pelo comerciante calabrês Gaetano Verbicaro (tesoureiro). Os conselheiros eram em sua maioria calabreses, lucanos e campanos e a associação tinha uma forte representação entre os comerciantes locais. Essa associação teve continuidade até 1933, quando se deu a fusão com a Societá Italiana de Beneficenza, dando origem a outra associação, como veremos posteriormente Conforme o censo de 1920 a população italiana nos estados do Amazonas e Pará perfazia um total de 1840 pessoas. Nesse período, foi o momento de afirmação das duas associações que haviam sido criadas na década anterior, além de registrar o surgimento de novas agremiações seja de caráter esportivo (Itália Sport Club), ou de caráter político (Fascio del Pará e Fascio Italiano di Obidos) ou ainda agregando segmentos específicos (Associazone Nazionale Combattenti).

177 177 Em 1920 a Società Italiana di Beneficenza fundou a Escola Dante Aligheri, destinada exclusivamente à educação de filhos de italianos (Entrevistas 5 e 11). Essa escola era custeada financeiramente por essa sociedade e pelo partido fascista do Pará. Era dirigida pelo senhor Giuseppe de Tommaso e tinha como professoras religiosas italianas do colégio Santa Catarina e padres igualmente italianos da Basílica de Nazaré, além das professoras italianas Helena e Edna de Tommaso. O ensino era ministrado totalmente na língua italiana para as quatro séries do nível elementar. Em 1924 a escola possuía 30 alunos e em 1932, 40 alunos. As atividades da escola foram encerradas em 1942, em meio às perseguições decorrentes da Segunda Guerra Mundial. A instrução e a difusão da cultura italiana constituía um instrumento para recriar os laços com a mãe pátria bem como para manter vivo o sentimento de italianidade. Em 2006/2007, foram entrevistados em Belém, para esta pesquisa, cinco ex-alunos dessa escola, com idade entre 70 e 84 anos, que mantêm vivas as lembranças dos tempos em que estudaram na Dante Aligheri. Lembraram que tinham aulas de Língua Italiana e noções de História e Geografia da Itália e as meninas tinham aulas de prendas domésticas (Entrevistas 5, 8, 9 e 11). Recordam a rígida disciplina da escola onde só se falava italiano, das comemorações das datas cívicas italianas, do uniforme que carregava traços dos usados pelos fascistas: as meninas vestiam saias pretas e blusas brancas e os meninos calças e blusas pretas. Mas, a maior lembrança refere-se ao culto dos valores da pátria-mãe de seus pais, onde se difundia um sentimento de italianidade. Lembram que como resultado das perseguições decorrentes da Segunda Guerra Mundial o prédio da Escola que ficava na Manuel Barata foi o primeiro a ser destruído, em 1942:

178 178 Eu e minhas duas irmãs, Lídia e Hilda e meus irmãos na nossa infância, estudamos na escola Dante Aligheri, como outros filhos de italianos. Mas essa escola acabou. Na época do quebra-quebra (1942), tudo ficou destruído e o prédio da escola foi o primeiro a ser depredado. Nessa época meu pai também foi preso com outros membros do Fascio (Entrevista n. 5). Outra associação criada na década de 1920 foi o Itália Sport Club. Tal como em outros estados brasileiros nos quais os imigrantes organizaram times de futebol como o Palestra Itália, hoje denominado Palmeiras em São Paulo. No Pará, em 1926, também foi criado um clube que se ocupava de vários esportes principalmente de futebol. O Itália Sport Club foi fundado em 13 de maio de Em 1931 contava com 60 sócios. Era Presidente Giuseppe De Tommaso, diretor esportivo Nicola Chiappetta, tesoureiro Francesco de Tommaso (ALIPRANDI; MARTINI, 1932). O clube se ocupava de todos os esportes, mas sobretudo de jogos de futebol. Esse clube foi extinto nos anos 1940, por força das circunstâncias decorrentes da Segunda Guerra Mundial. Para manter vivos os sentimentos de italianidade dos que lutaram pela pátriamãe durante a Primeira Guerra Mundial, em 1923 foi criada a Associazone Nazionale Combattenti, que congregava esses ex-combatentes. Em 1932, essa associação possuía 25 membros, era dirigida por Ernesto Macciani e tinha como secretário Ugo Furini (ALIPRANDI; MARTINI, 1932). O que foi a atuação dessas associações na sociedade paraense dos anos 1920 pode ser inferido dos registros de Costa (1924). Esse autor informa que nas comemorações do Centenário da Adesão do Pará à Independência a comunidade italiana residente no Pará através das duas associações a Società Italiana di Beneficenza e a Unione Italiana, participou ativamente dos festejos. O agrupamento dos italianos dividido em duas associações refletia, segundo alguns entrevistados, a divisão que havia entre os membros da comunidade italiana

179 179 de Belém, diferentemente de vários estados brasileiros, aqui não reproduzia as divergências regionais de origem, uma vez que nas duas associações predominavam calabreses e lucanos; mas as diferenciações sociais e econômicas, acrescidas de divergências políticas: a Società Italiana di Beneficenza era freqüentada pela elite dos imigrantes italianos, simpatizante do fascismo, enquanto que a Unione Italiana era frequentada pelos italianos mais pobres, embora também dela participassem comerciantes bem situados. Em 1928 a Società italiana di Beneficenza adquiriu a sede social localizada na rua Paes de Carvalho, 45 (atual Manuel Barata). Em 14 de abril do mesmo ano essa sociedade uniu-se ao Fascio del Pará, à Associazone Nazionale Combattenti e ao Itália Sport Club para constituir a Casa degli Italiani, que reagrupava as quatro associações (ALIPRANDI; MARTINI, 1932). Esse agrupamento de associações está relacionado com o controle das associações italianas pelo fascismo, via autoridades consulares, que com maior ou menor sucesso vinha acontecendo em vários estados brasileiros no decorrer dos anos 1920 (TRENTO, 1999). O início dos anos 1930 apresenta um panorama em que as divergências entre as duas associações são bastante evidenciadas. As comemorações das festas cívicas e até mesmo das festas populares como o carnaval, eram feitas separadamente pelos membros das duas associações. Em 1931, a Società Italiana di Beneficenza, já funcionando em sede própria, contava com 85 sócios, era ligada às autoridades diplomáticas e dela participavam os principais comerciantes locais. O Conselho Diretor era presidido por Ugo Furini, secretário do Consulado e correspondente da Câmara de Comércio Italiana para o Norte do Brasil e dele participavam Domenico Tancredi, Nicola Chiappetta, Antonio

180 180 Chiappetta, Giuseppe Longo, Francesco Tancredi, Antonio Pataro, Giuseppe Adario, Vincenzo Longo, Biaggio Petrucelli, Vincenzo Sarubbi, Domenico Gioia, Vincenzo Soanno, Gaetano Miraglia, Giuseppe de Tommaso, Giuseppe Gazzaneo e Américo Bonifácio (ALIPRANDI; MARTINI, 1932). A Società era filiada à Casa degli Italiani que em 1931 era presidida pelo comerciante calabrês Francesco Falesi e o conselho era formado por dois membros de cada associação que a compunham. Essa associação congregava italianos não somente bem situados economicamente, como também os que mais se afinavam ideologicamente com o fascismo. O alinhamento da Società ao fascismo pode ter contribuído para o acirramento das divergências com os membros da Unione, que se tornaram mais evidentes no início da década de 1930, que como se disse anteriormente, até as comemorações das festas cívicas e populares eram celebradas separadamente. Os membros das associações não se entendiam, havia sim uma certa discriminação de alguns comerciantes ricos com os mais pobres. Mas o principal fator da discordância era mesmo quanto à aproximação dos membros da Società com o fascismo que era muito grande (Entrevista n. 11). Quanto à Unione Italiana d Istruzione e Mutuo Soccorso, que desde 1929 havia adquirido sede própria, também localizada na rua Paes de Carvalho, em 1931 era assim administrada: Presidente do conselho, Vincenzo Barletta; vice-presidente: Giuseppe Iannini; secretário: Antonio Guzzo; vice-secretário: Antonio Stravalli; tesoureiro: Bonifácio Orofino; conselheiros: Alfonso Grisolia, Nicola Orofino, attilio Galeazzi, Francesco Trusso, Giuseppe Apollo, Domenico Bloise. Suplentes: Paolo Cozzo, Vincenzo Pierro, Fancesco Suanno. Fiscais: Carmello Failace, Vincenzo miraglia, Francesco Piccini. Presidente da Assembléia: Gregório Oliva; vicepresidente: Giuseppe Gambera (ALIPRANDI; MARTINI, 1932).

181 181 Conforme assinala Trento (1989), o grau de penetração do fascismo na coletividade italiana é diferente nos anos 1920 em relação aos Se na primeira houve certa resistência por parte de algumas associações em se alinhar ao partido, na última década infundiu-se entre os italianos um orgulho pelas realizações internas e os êxitos internacionais da Itália. Nessa época houve determinação do poder central italiano pela criação das Casas da Itália visando a unificação das associações sob a direção dos consulados. Em 1933, sob a orientação do cônsul de Belém, Sestino Mauro, aconteceu a fusão entre a Società Italiana di Beneficenza e a Unione Italiana D Istruzione e Mutuo Soccorso dando origem a Societá di Assistenza per gli Italiani di Belém. Esse processo de fusão foi permeado de dificuldades para superar antigas divergências entre as duas associações. Para formalizar o acordo, reuniram-se na sede da Unione Italiana, delegados das duas associações: Giovanni Mileo, Giuseppe De Tommaso, Carmine Nunziata, Ugo Furini e Domenico Tancredi (Societá Italiana di Beneficenza) e Gaetano Verbicaro, Giuseppe Iammino, Giovanni Grisolia, Antonio Guzzo, Biagio Grisolia e Pasquale Pacchiano (Unione Italiana). A nova associação passou a funcionar no prédio da Casa degli Italiani, e a comissão dirigente foi composta pelos seguintes membros: Dr. Sestino Mauro, Francesco Falesi, Giovanni Mileo, Pasquale Pacchiano, Caetano Verbicaro, Giuseppe Iammino, Domenico Tancredi e Michele de Lucca. Na esteira da criação das Casas da Itália nos vários estados brasileiros, sob orientação fascista, em fevereiro de 1938, a Società di Assistenza per gli Italiani di Belém passou a ser denominada Associação Civil Casa da Itália Pará Brasil. Em foi eleita a primeira diretoria, da qual participavam Giuseppe De

182 182 Tommaso, Libero Luguetti, Arnaldo Maccini, Nicola Conte e Gaetano Verbicaro. Até o início da Segunda Guerra Mundial, essa associação funcionou no prédio da antiga Casa degli Italiani, na rua Manoel Barata, n. 45. A partir dos anos 1950 a Casa da Itália passou a funcionar na rua Manoel Barata, n. 721, na antiga sede da extinta Unione Italiana.(ANEXO 2) Com a eclosão da Segunda Guerra Mundial, sobretudo a partir de 1942 quando se registrou em todo o território nacional intensa perseguição aos imigrantes italianos, alemães e japoneses, episódio conhecido como quebra-quebra, a Sociedade civil Casa da Itália quase desapareceu. A sede da Casa da Itália, na rua Manoel Barata, n. 45, foi confiscada pelo Estado e no local hoje funciona o prédio do INSS. Com a desativação dessa sede, os italianos passaram a se reunir na antiga sede da Unione Italiana, na Manoel Barata em frente à fabrica Palmeira, que permaneceu por muitos anos apenas como um ponto de encontro de velhos italianos que se reuniam aos domingos para jogar baralho. Esse prédio é a sede da atual associação dos italianos, como veremos posteriormente. Dos depoimentos e histórias acima, se deduz o inegável papel das associações no processo de construção e manutenção dos sentimentos de italianidade no Pará. As associações organizadas em grupos que divergiam entre si por se situarem em diferentes posições nos campos econômico e político, buscam superar essas divergências, através da fusão das associações, e depois de passar por um período de constrangimentos internos e externos, no qual precisaram até mesmo esconder sua identidade étnica (BARTH, 1976) superam essas dificuldades e procuraram maior integração na cultura nacional. Objetivando a homogeneidade nacional, foi desencadeada no Brasil entre 1937 e 1945 a chamada campanha de nacionalização, que em seu bojo coibia

183 183 qualquer tipo de manifestação de etnicidade. Nesse contexto, foi proibido o funcionamento de escolas nas quais as aulas eram ministradas em língua estrangeira, as associações culturais, beneficentes e recreativas foram impedidas de funcionar, também foi proibida a circulação de jornais, revistas e qualquer literatura que indicasse alguma identificação étnica (SEYFERTH, 2005). Esses constrangimentos externos a que foram submetidos os italianos no Brasil resultaram, por temor à repressão, na ocultação da identidade. No Pará, essa situação se tornou particularmente grave, a partir de 1942 quando o torpedeamento de navios mercantes brasileiros por submarinos alemães comprometeu a navegação marítima, única via de comunicação com o Centro-Sul do Brasil que abastecia o Pará de gêneros de primeira necessidade. A situação econômica se agravou, levando a um programa de racionamento de gêneros alimentícios e combustíveis (FONTE, 2003). Com a declaração de guerra contra os países do Eixo, em agosto de 1942, seguiu-se o confisco de bens de japoneses, alemães e italianos em todo o Brasil, que realizado com maior ou menor violência nos vários estados brasileiros. Na memória social de descendentes desses imigrantes ainda é viva a lembrança desse episódio. A primeira perda da comunidade italiana foi o prédio onde funcionavam a Sociedade Civil Casa da Itália, a Escola Dante Aligheri, a Associação de Ex-Combatentes e o Partido Fascista do Pará. Vários comerciantes de Belém tiveram seus estabelecimentos saqueados, entre os quais os estabelecimentos das famílias CIliberti, Grisolia, Oliva, Grandi, Falesi, Amoscato, Conte, De Tommaso, entre outras. Essa situação não se restringiu a Belém, pois comerciantes de cidades do interior como Óbidos, Santarém, Oriximiná, Alenquer, Abaetetuba e Santa Isabel do

184 184 Pará também foram atingidos. Segundo um entrevistado, descendente de comerciantes italianos do baixo Amazonas, esses acontecimentos produziram marcas que levavam a muitos filhos de italianos internos em colégios de Belém, ainda nos fins dos anos 1950 e início dos anos 1960 a tentarem esconder suas origens (Entrevista n. 1). 7.2 A IMPRENSA No processo de construção e preservação da identidade italiana o papel da imprensa foi relevante. Entre 1880 e 1940 havia uma quantidade expressiva de jornais e revistas em língua italiana publicados no Brasil, o que indicava que apesar do número de analfabetos e de pessoas que se situavam na base da pirâmide social, pela quantidade de títulos publicados, existia um público relativamente grande que consumia esse tipo de literatura (TRENTO, 1989). Um levantamento registrou a existência em língua italiana entre 1870 e 1940 de quase 500 títulos publicados entre diários, semanais, quinzenais e mensais, assim distribuídos: 250 em São Paulo, 64 no Rio de Janeiro, 3 no Rio Grande do Sul, 10 no Paraná, 4 em Santa Catarina, 4 em Minas Gerais, 4 no Pará, 3 no Espírito Santo, 3 na Bahia e 1 em Pernambuco (TRENTO, 1989). Havia publicações até mesmo em estados do Norte e do Nordeste, regiões em que o número de italianos era numericamente pouco expressivo. Segundo o historiador, quanto ao estado do Pará, registram-se informações sobre o jornal L Eco del Pará (O Eco do Pará), que circulou em Belém, de 1898 a Era dirigido por Mario Cattaruzza, jornalista que em 1898 havia feito contrato com o Governo do Pará para a introdução de 200 famílias italianas na colônia Anita Garibaldi, como se analisou no Capitulo 4. Mario Cataruzza também escrevia na

185 185 revista L Amazonia que foi editada quinzenalmente em Gênova, de 1898 a 1902, e fazia uma propaganda ufanista sobre as vantagens que teriam os imigrantes que decidissem se fixar na Amazônia. Outros jornais da época são o La Terra Nuova (A Terra Nova), jornal anarquista publicado em Belém, em 1901 e L Eco d Italia (O Eco da Itália), publicação semanal que circulou em Belém durante o ano de 1924 e Rivendicazione( Reivindicação), jornal anarquista editado por G. Marroco, publicado em 29 de julho de 1901 e que circulou o único número, em Belém. Destinava-se a exaltar o assassinato do rei Umberto I, cometido por Gaetano Bresci.(TRENTO, 1989) Além desses também teria circulado em Belém em janeiro de 1900, o L Etruria al Parà, em número único, sob a responsabilidade do médico Gennaro Rutiglianno, exemplar especialmente dedicado a noticiar a passagem do navio Etruria, da marinha de guerra italiana, pelo porto de Belém em dezembro de 1899.( Jornal O PARÀ, 1900). Essas publicações funcionavam como um elo entre os imigrantes e a Itália e os mantinha, mesmo na distância, sintonizados com os acontecimentos da pátriamãe reforçando, pois, a idéia de pertencimento. 7.3 A POLÍTICA Refletindo sobre a reação dos imigrantes italianos no Brasil ao advento do fascismo, não existe consenso nas interpretações que tomam a italianidade como fator unificador (TRENTO, 1989). Para alguns a intensa campanha que devido ao momento político provinha das fontes oficiais, sobretudo diplomáticas, tinham relativo êxito junto a populações de imigrantes, sobretudo em áreas distantes dos

186 186 grandes centros que tinham pouca possibilidade de análise crítica ou capacidade de reação. Serve como exemplo o alinhamento imediato dos membros da Societá Italiana com os princípios do fascismo, que se evidenciavam externamente até mesmo no uniforme das crianças da Escola Dante Aligheri, que nas reuniões festivas tinham que se vestir de preto como os fascistas (Entrevista n. 5). A década de 1920 marcou o surgimento do Partido Fascista em vários estados brasileiros, o primeiro foi o de São Paulo, em 1923 (TRENTO, 1989). O Fascio del Pará foi fundado em 24 de janeiro de 1924, com o registro de 68 membros. A diretoria de 1931 era assim composta: Francesco Falesi, secretário; Giuseppe De Tommaso, responsável pela organização juvenil; Biagio Petruccelli, secretário administrativo; Giuseppe Scafi, responsável pela assistência e propaganda; Alfredo Castellani, responsável pelas atividades esportivas (ALIPRANDI; MARTINI, 1932). Em Óbidos, havia um diretório do partido fascista que congregava membros dos vários municípios do baixo Amazonas, esse diretório tinha a seguinte formação: Manfredo Pirrongelli, secretário; Nicola Calderaro, secretário administrativo; Giuseppe Filizzola encarregado da propaganda e da organização juvenil, Giovanni Mileo, membro. Em 1931, os fascistas inscritos eram 41, os quais pertencentes às famílias: Mileo, Calderaro, Megale, Filizzola, Priante, Pellegrino, Priante, Giordano, Magaldi, Guaglianone, Spanó, Ricciardi, Sarubbi, Florenzano, Righetti, Tancredi, Annechino, Guida, Oranges, D Alessandro, Savino, Rossi, Oliva, Ferrari, Imbelloni e Bello (ALIPRANDI; MARTINI, 1932). Por essa diversidade de sobrenomes (aproximadamente 30), pode-se ter idéia de como era numerosa a comunidade italiana no baixo Amazonas. Além do que, deve-se levar em conta que os membros do partido eram aqueles que tinham

187 187 certa projeção econômica local, principalmente os comerciantes. Além disso, ao lado destes mais afortunados, existiam outras famílias de imigrantes que não queriam ou não podiam por uma série de limitações participar de uma agremiação política. Quanto ao estado do Amazonas, o Partito Nazionale Fascista di Manaos foi fundado a 19 de junho de 1926, por iniciativa de um grupo de italianos. Em 1932, o secretário geral era o senhor Luigi Massetti e o conselho diretor era composto por Alberto Armanno Ricci, Francesco Celani e Vincenzo Bianco (ALIPRANDI; MARTINI, 1932). Se por um lado, a década de 1920 marcou o surgimento de partidos fascistas, a presença dos anarquistas italianos no Brasil data dos fins do século XIX. A imprensa desse movimento constituía um ponto de referência para o movimento operário. No início do século XX, as autoridades diplomáticas italianas alertavam o Ministério das Relações Exteriores sobre o aumento do número dos partidários do anarquismo que teria trazido como resultado a formação de dois grupos de certa importância no Rio de Janeiro e em São Paulo e além desses há referências sobre a formação de um grupo no Pará (TRENTO, 1989). O significado da participação política dos imigrantes italianos na Amazônia como partidários do fascismo, do anarquismo e do socialismo no início do século XX, bem como o papel da imprensa no apoio, questionamento e divulgação dessas ideologias é um assunto que está aberto e por sua importância sugere aprofundada investigação. Uma conclusão inicial, a partir de nossa pesquisa é que não temos dados que nos credenciem afirmar que a maioria dos italianos era simpatizante do fascismo, uma vez que essa preferência política por parte de um grupo era motivo de disputas entre associações. Como nos demais estados brasileiros, com exceção do quebra-quebra, não se registraram divergências significativas entre os imigrantes italianos e a sociedade

188 188 amazônica que os acolheu. Traços culturais, hábitos e costumes trazidos pelos imigrantes foram incorporados à cultura nacional e regional. Essa integração teve peso significativo num processo de redefinição da identidade dos descendentes de italianos na Amazônia na qual se leva em conta essa troca cultural, em que a preservação de alguns traços da cultura italiana está arraigada na sociedade amazônica. Conforme foi registrado anteriormente as associações representaram importante papel na construção da italianidade. A sociedade civil Casa da Itália conseguiu sobreviver aos acontecimentos do pós-guerra e, recuperando o prédio da extinta Unione Italiana (em frente à Fábrica Palmeiras), uma vez que o da Casa degli Italiani, havia sido definitivamente confiscado. Assim, mesmo que precariamente, nas décadas posteriores os italianos tinham um ponto de referência para se encontrar, o prédio da Casa da Itália. O declínio da população italiana presente no Pará registrado nos censos de 1940 e 1950, 566 e 342 pessoas respectivamente (Tabela 9), resultante não só da diminuição da entrada de imigrantes como também da morte de italianos de idade mais avançada, contribuiu para a redução do número de sócios da Casa da Itália comprometendo, inclusive, a continuidade da associação que só permitia em seus quadros italianos natos. Essa situação criou um consenso entre os sócios remanescentes da necessidade de adequar o Estatuto à nova realidade. Desse modo, em 18 de dezembro de 1998, foram reformados seus estatutos, aprovando as seguintes deliberações: a) A sociedade civil Casa da Itália passará a denominar-se Associação Cultural Ítalo Brasileira, com sede situada à rua Senador Manuel Barata, n. 721; b) A Associação Cultural Ítalo Brasileira terá como finalidade reunir os italianos residentes nesta cidade, seus descendentes e pessoas da

189 189 comunidade interessadas pela cultura italiana, que a ela se associarem, com o objetivo de oferecer-lhes um convívio sadio e uma harmônica integração; proporcionar aos seus associados eventos de caráter social, artístico, cívico e recreativo; promover de acordo com suas possibilidades, reuniões destinadas a exaltar as datas cívicas brasileiras e italianas, conforme Ata da Assembléia Geral Extraordinária da Associação Civil Casa da Itália, realizada em (Anexo 3). Essa abertura da associação aos descendentes de italianos possibilitou não só sua continuidade e fortalecimento, como também permitiu maior integração com a sociedade paraense, como pode ser observado na Festa di San Gennaro, promovida anualmente por essa associação, que se tornou a festa tradicional da colônia italiana, com intensa parti

190 190 8 CONCLUSÕES E DESAFIOS DE PESQUISA Nos tempos áureos da borracha amazônica, as grandes empresas e fortunas constituíram privilégio de ingleses, franceses e portugueses. Assim cabe destacar que com referência aos italianos, não se tratavam de atores econômicos ou políticos proeminentes, sua atuação situava-se num plano intermediário, inclusive com expressões significativas em cidades do interior do Amazonas e Pará. Não se conhecem famílias de imigrantes italianos possuidoras de uma grande fortuna na Amazônia, embora seus negócios tenham perdurado por várias gerações assegurando uma continuidade de tradição familiar e de trajetórias que definem seu campo. Alguns conseguiram amealhar pequenas fortunas e ocupar posições de destaque na vida profissional, artística e política. A reconstrução da história social da imigração italiana na Amazônia do final do século XIX à primeira metade do século XX, privilegiando as relações sociais, econômicas e políticas desse processo constituiu o principal foco desta pesquisa. Na compreensão dessa realidade regional é importante investigar a participação desses imigrantes como um dos agentes da história regional, elementos da estrutura social vigente. A entrada dos italianos, nesse espaço de tempo, foi marcada por momentos de maior ou menor intensidade de fluxos e pelo ingresso de grupos oriundos de diferentes regiões e províncias, com trajetórias distintas. Essa imigração é, de um modo geral, explicada como decorrente de transformações sócio-demográficas e de mudanças provocadas pelo capitalismo na pátria-mãe. Entretanto, a identificação de diferentes grupos deste processo migratório, impulsionados por diversas motivações, levou a alargar a compreensão sobre as causas da emigração. O fenômeno migratório é muito complexo e não é redutível

191 191 mecanicamente a causas estritamente econômicas, outras motivações, por exemplo, aspectos culturais têm peso significativo. Deste modo, sob uma ótica interdisciplinar procurou-se compreender as razões dos vários segmentos de italianos que, no contexto das grandes migrações, se deslocaram para a Amazônia. As grandes explicações teóricas que privilegiam as causas econômicas dão conta da motivação do deslocamento de uns segmentos, a exemplo do formado por agricultores que vieram subsidiados pelo Estado para as colônias agrícolas. No deslocamento do grupo de artesãos e pequenos proprietários, que vieram com recursos próprios e se instalaram com estabelecimentos comerciais em cidades amazônicas, outras motivações, além das econômicas, nortearam esse processo. A pesquisa também mostrou a propriedade de analisar o fenômeno migratório na sua dupla dimensão, de fato coletivo e itinerário individual (SAYAD, 1998). Mesmo levando em conta a força das circunstâncias históricas e das condições socioeconômicas embutidas no processo que motivaram as populações a emigrar, havia espaço para as decisões e ações dos sujeitos históricos envolvidos (indivíduos e/ ou famílias) nesse processo, como testemunham os depoimentos dos entrevistados. Esses depoimentos revelaram que a decisão de emigrar era geralmente tomada em conjunto com a família. Mesmo quando se tratava de uma partida individual, a decisão de partir raramente se configurava como uma atitude isolada. Aliás, no contexto da vida familiar de províncias italianas originárias da maioria dos imigrantes, a emigração era uma estratégia praticada de longa data, tendo em vista a melhoria das condições de vida, do padrão profissional e econômico dos indivíduos e/ ou famílias e algumas vezes da própria sobrevivência.

192 192 A pesquisa que ora concluímos identificou claramente dois segmentos ou grupos de imigrantes italianos que foram contemporâneos em sua vinda para a Amazônia, dos fins do século XIX ao início do século XX. Houve uma imigração de setentrionais e meridionais para as colônias agrícolas e uma imigração de italianos predominantemente meridionais para as cidades amazônicas. Na Amazônia embora predominem oriundos da Itália Meridional, de regiões como Calábria, Basilicata, e Campânia, também houve emigração da Itália Setentrional, sobretudo das províncias do Vêneto, Lombardia, Ligúria, Emilia Romagna e da Itália Central das províncias de Toscana e Lazio. A migração dirigida para as colônias agrícolas, era formada por famílias de agricultores originários das regiões do Veneto, Campânia e Sicilia que subsidiados pelo Estado do Pará, vieram povoar as colônias de Ianetama, Anita Garibaldi (Castanhal), e a colônia do Outeiro (Icoaraci). Foi uma imigração que não apresentou continuidade nem na chegada de imigrantes e nem na fixação nas áreas de destino. Com a desativação das colônias, muitas famílias abandonaram seus lotes e espalharam-se pelos municípios vizinhos. A segunda corrente, a da imigração espontânea para centros urbanos, era formada por pequenos proprietários e artesãos originários da Calábria, Basilicata (Potenza) da Campânia (Salerno), que com recursos próprios emigraram e se instalaram nas capitais e cidades do Norte do Brasil. Em termos regionais, o segundo grupo era mais numeroso do que o primeiro e teve maior continuidade. Os primeiros a chegar, depois que conseguiam se inserir na economia e na sociedade das cidades de destino, chamavam seus parentes e amigos, que vinham em várias levas principalmente nas décadas de 1920 e Esses imigrantes se firmaram, sobretudo como comerciantes nas capitais e nas

193 193 cidades da região. Outros exerciam atividades tipicamente urbanas que exigiam menor qualificação profissional como engraxates, sapateiros, jornaleiros, amoladores de facas etc. Componentes da segunda geração desses imigrantes ainda são encontrados em várias cidades amazônicas. A estratégia migratória era diferente do grupo anterior. Primeiro vinham os chefes de família ou os homens solteiros, depois mandavam buscar a mulher e os filhos. Os segmentos migratórias dos agricultores e o dos pequenos proprietários e artesãos urbanos apresentavam traços comuns que expressavam elementos culturais de origem. Na Itália, como nas demais sociedades agrárias européias, a família era unidade fundamental de organização do trabalho, por isso tanto entre os agricultores e como entre os artesãos e os pequenos proprietários, o trabalho familiar era um valor a ser preservado. Isso ficou muito claro na fala dos entrevistados, descendentes de segunda geração. Eles migravam em grupos da mesma região, província e até da mesma localidade tanto no Pará como no Amazonas, observou-se que houve uma reprodução dessa estratégia nas cidades de destino, talvez para maior preservação dos laços de solidariedade. A pesquisa revelou também que havia uma certa diferenciação entre a situação econômica dos imigrantes que vieram da província de Potenza (Basilicata) para as cidades amazônicas, daqueles que vindos da mesma região para a lavoura de café do Sudeste do Brasil que são referidos na literatura, sob o estereótipo de miseráveis da Basilicata. Uma vez que no momento de chegada havia famílias que estavam alicerçadas em pequenas economias, resultantes da venda de terras, colheitas e animais, no país de origem, ou, ainda de recursos provenientes do exercício de atividades artesanais, embora também viessem famílias com pouco ou

194 194 quase nada de recursos. Os que chegavam a partir dos anos 1930, vinham geralmente a convite de um parente que se responsabilizaria por sua manutenção inicial, através das cartas de chamada. Entre os fatores que tiveram importância no processo migratório e na adaptação interativa das famílias italianas na Amazônia sobressaem, sem dúvida, o desempenho das redes familiares, de amizade e de solidariedade e apoio mútuo de seus integrantes, igual papel desempenharam as associações de mútuo socorro. O surgimento dessas associações atestam sua importância como ponto de referência e de mediação de sua condição de imigrante. Com longa trajetória no processo histórico é impossível perceber todos os passos dos italianos, todas suas formas de inserção social, todos os mecanismos utilizados na construção e reconstrução da identidade. Ao identificar-se com a região de destino o italiano passou a inserir com sua presença, no conjunto do quadro étnico-cultural da população amazônica, um novo elemento, diversificando e enriquecendo esse quadro étnico-cultural. A presença italiana é reconhecida pela importância econômica e cultural que representou. Sendo em número pequeno, esses italianos não constituíram núcleos fechados nas cidades amazônicas e rapidamente passaram a fazer parte delas. Hábitos de poupança e de operosidade concorreram para o êxito dos imigrantes e para sua integração. Por outro lado, o papel esperado de estrangeiro é de indutor de novidades. Nesse sentido, novos hábitos foram introduzidos, inclusive na culinária com o uso de massas e o consumo de verduras e legumes, produto de suas hortas caseiras. Houve permanentemente um número significativo de comerciantes ou de artesãos trabalhando por conta própria nas cidades. Por vezes preencheram

195 195 espaços que se encontravam vazios na estrutura ocupacional da Amazônia. A atividade comercial nos núcleos urbanos contribuiu para a ascensão social dos emigrados e de seus descendentes e foi, em grande parte, complementar à atividade desenvolvida em pequenas fábricas. Na década de 1920, era formado por italianos o grupo que detinha o controle do setor de beneficiamento e exportação de sementes oleaginosas os estados do Pará e Amazonas. Foram de italianos as principais fábricas de sapatos que existiam no Pará até os anos Os italianos também tiveram participação no beneficiamento de madeira e em usinas de beneficiamento de arroz. Outro setor de destaque foi o da construção naval, não só com estaleiros para construção de barcos, mas também com investimentos na navegação fluvial. No baixo Amazonas destacaram-se como criadores de gado bovino. A importância de alguns grupos os credenciava a serem representantes de casas bancárias, oficiais e particulares na região. No estado do Amazonas, foi destacada a participação dos italianos desde a primeira década do século XX, como produtores e fabricantes de guaraná no município de Maués. É preciso que se reconheça o papel dos toscanos e dos lucanos como plantadores de guaraná. As plantações de Giuseppe Faraco datam de 1904 e as de Pietro Cardelli Desideri de Outro ponto a ser destacado é que havia um interesse muito grande dos imigrantes pela educação dos filhos. Na região do baixo Amazonas, os mais favorecidos mandavam os filhos estudar em Belém e até mesmo na Itália. Os imigrantes desejavam um futuro melhor para seus filhos, bem diferente de sua experiência migratória. O expressivo número de profissionais liberais descendentes desses italianos que se encontram na Amazônia parece confirmar a realização

196 196 dessa aspiração dos pais e avós imigrantes, profissionais qualificados que dão significativa contribuição na produção material e intelectual da sociedade regional. A pesquisa permitiu descobrir a saga da imigração italiana na Amazônia e sua contribuição para o desenvolvimento regional, cujas influências se percebem até hoje. Ela também deixou uma série de inquietações para futuras pesquisas, entre as quais se destacam: 1. Construção de um Banco de Dados sobre os imigrantes italianos que chegaram ao Pará e Amazonas até o início do século XX, à semelhança do que foi elaborado pelos professores Aurélia Castiglioni (Universidade Federal do Espírito Santo) e Mauro Reginato (Universidade de Turim), referente aos imigrantes que chegaram em Vitória entre 1858 e Elaboração de um Programa de Pesquisa sobre imigração estrangeira na Amazônia: a imigração do final do século XIX e os movimentos migratórios contemporâneos. 3. Investigação sobre a participação política dos imigrantes italianos na Amazônia nas primeiras décadas do século XX: fascistas, anarquistas, socialistas. 4. Investigação sobre a participação dos imigrantes italianos no plantio e na produção do guaraná em bastão no município de Maués, estado do Amazonas, resgatando uma história de pioneirismo que perdeu sua visibilidade com a entrada e o monopólio da companhia Antarctica no município.

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204 ANEXOS 204

205 205 ANEXO 1- CONTRATO PARA A FUNDAÇÃO DA COLÔNIA AGRÍCOLA ANNITA GARIBALDI TERMO de contrato que assina o cidadão Mario Cataruzza, para a fundação de uma colônia formada de duzentas famílias italianas, nas terras marginais à estrada do Castanhal a Curuçá, entre o rio Defuntos e o braço esquerdo do Marapanim. Aos vinte e nove dias do mês de dezembro de mil oitocentos e noventa e oito, nesta repartição de Obras Públicas, Terras e Colonização, perante o sr. Diretor da mesma, dr. Henrique Américo Santa Rosa, compareceu o cidadão Mario Cataruzza a fim de assinar o termo de contrato para a fundação de uma colônia de duzentas famílias italianas, nas terras marginais à estrada de Castanhal a Curuçá, entre os rios Defuntos e o braço esquerdo do Marapanim, ficando com ele estabelecidas as seguintes condições: 1ª.- Mario Cataruzza, súdito italiano, residente nesta capital, obriga-se a fundar nas terras marginais à estrada do Castanhal a Curuçá, uma colônia na qual localizará duzentas famílias de lavradores italianos, oriundas do vale do rio Po, isto é, das províncias situadas nas regiões de Veneto, Lombardia, Piemonte e Emília, de acordo com as condições que vão adiante declaradas. 2ª.- Para o fim indicado na cláusula precedente, o contratante obriga-se: a) a fazer discriminação dos duzentos lotes destinados à localização das famílias dos imigrantes, tendo cada um duzentos e cinqüenta metros de frente e mil ditos de fundos e sendo as respectivas frentes ao longo da estrada do Castanhal a Curuçá, à margem direita; ao longo do braço esquerdo do rio Marapanim, à margem direita; ao longo do Igarapé Grande as margens direita e esquerda; ao longo do rio Defuntos, à margem direita; ao longo do rio Marapanim, à margem esquerda; b) a abrir estradas para a passagem de cavalos e carroças nas duas margens do igarapé Grande, na margem direita do braço esquerdo do rio Marapanim e à margem esquerda dos rios Marapanim e Defuntos; c) a efetuar a derrubada, tombamento, queima e encoivaramento em uma área de três mil e seiscentos metros quadrados em cada lote, e dentro dessa área fazer o destocamento e limpeza de outra, destinada a construção de casa, com vinte metros de frente, por trinta de fundos ou seiscentos metros quadrados. d) a construir na área destocada de cada um dos duzentos lotes, uma casa para cada colono e sua família, conforme o tipo adotado nas colônias do estado.; e) a ir buscar pessoalmente as duzentas famílias de agricultores na Alta Itália, fazê-las transportar das respectivas residências ao porto de Gênova, e daí ao de Belém em vapores da LIGURE BRASILIANA e localizá-las em seus lotes na colônia; f) a construir: 1ª. Uma casa para a administração da colônia;2ª. Uma casa para o almoxarifado, farmácia e residência dos respectivos empregados e do médico; 3ª. Uma casa para a residência do padre; 4ª. Duas casas para escolas e habitações dos respectivos professores;5ª. Uma capela; g) a manter desde a chegada das primeiras cinqüentas famílias até à entrega da colônia ao Governo do Estado, à sua custa, um padre católico de nacionalidade italiana, filho da Alta Itália; h) a fornecer a alimentação dos empregados, e a pagar-lhes os vencimentos; e finalmente a fornecer os livros da administração e contabilidade estabelecidos pela lei; i) a fornecer aos colonos a alimentação em rações inteiras, durante os primeiros seis meses e em meias rações nos seis meses seguintes, conforme as tabelas de distribuição atualmente em vigor; j) a dirigir os trabalhos das plantações nas diferentes culturas e a tomar conta da direção moral, técnica e administrativa da colônia; k) a entregar a colônia ao Estado completamente emancipada de ulteriores fornecimentos de alimentação, no prazo de um ano, a decorrer da data da localização da última das duzentas famílias. 3ª.- A superintendência de todos os trabalhos será executada pela Diretoria de Obras Públicas, Terras e Colonização.

206 4ª.- O contratante obriga-se a aceitar em pagamento dos serviços indicados nas letras a),b),c),d) e f), da cláusula segunda, os preços das tabelas em vigor atualmente na Repartição de Obras Públicas. 5ª.- Pelo transporte de cada imigrante em vapor da LIGURE ITALIANA, do porto de Gênova ao de Belém, perceberá o contratante, do Tesouro, a importância de seis libras esterlinas por adulto, três ditas por criança de sete a doze anos, uma e meia dita por criança de três a sete anos. Os menores de três anos serão transportados gratuitamente. 6ª.- As idades dos membros das famílias serão provadas com documentos firmados pelos síndicos das municipalidades a que eles pertençam. 7ª. -As despesas feitas com o transporte das famílias, dos lugares em que residirem para o porto de Gênova, sua alimentação durante essa viagem e a estada nessa cidade até o dia da saída do vapor, ficam a cargo do Governo do Estado, que as pagará ao contratante, à vista de documentos justificados por este apresentados e ratificados pelo consulado brasileiro em Genova. No caso porém, de que o Governo queira exonerar o Tesouro dessas despesas, ficarão elas a cargo do contratante, tendo este de aumentar, nos valores das passagens, uma libra esterlina por adulto e meia dita por menor de doze anos. Os menores de três anos não darão direito a indenização alguma. 8ª. A cargo do contratante ficarão as despesas da localização das duzentas famílias, menos as da estadia na Hospedaria e de transporte pela estrada de Ferro de Bragança até Castanhal, as quais serão feitas pelo Estado. 9ª.- As ferramentas, utensílios e sementes que devem ser dados aos colonos serão fornecidos pelo Governo do Estado, por intermédio da repartição de Obras Públicas, Terras e Colonização, de acordo com as tabelas e na forma da Lei. 10ª.- A alimentação para os colonos será fornecida por meses adiantados pelo Governo e por intermédio da Repartição de Obras Públicas, Terras e Colonização, seja em dinheiro, seja em gêneros, fazendo-se o cálculo pelas tabelas de distribuição usadas nas colônias. 11ª.- As despesas de que trata a cláusula quarta, serão pagas ao contratante depois de aprovados os trabalhos que a elas deu lugar pela Diretoria de Obras Públicas, Terras e Colonização, e de examinadas as mesmas por pessoa designada para isso, pela Diretoria, e as constantes das cláusulas quinta e sétima logo depois do recebimento no Outeiro e aceitação pelo Governo dos imigrantes das famílias chegadas. 12ª.-O chefe de cada família não excederá a idade de cinqüenta anos. Podem ser admitidos, como fazendo parte da mesma família, os ascendentes e irmãos consaguíneos, contanto que provem sua convivência com os chefes das mesmas e que também sejam agricultores. Estes requisitos serão provados com certidões das autoridades municipais, autenticadas pelo cônsul brasileiro em Gênova. 13ª.- O contratante fica também obrigado a apresentar documentos que provem o bom estado de saúde, perfeito gozo das faculdades mentais, a vacinação e ausência de moléstias contagiosas dos imigrantes, bem assim que nunca foram condenados por crimes comuns e têm boa conduta. 14ª.- O contratante ainda é obrigado a localizar as duzentas famílias, dentro de prazo de um ano, contado da data que for instalada na colônia a primeira turma chegada, e a começar a introdução por um número não inferior ao de cinqüenta famílias. 15ª.- Os imigrantes localizados na colônia fundada pelo contratante terão todas as vantagens e ficarão sujeitos às mesmas obrigações dos colonos dos demais núcleos do Estado e constantes da lei n. 583, de 21 de junho deste ano. 16ª.- Dentro do prazo de um ano contado da assinatura do contrato, o contratante iniciará a montagem, no centro da colônia, exclusivamente à sua custa, de uma serraria a vapor e um engenho para a moagem de cana e de milho, devendo tê-los a funcionar no máximo, até mais um ano depois, incorrendo, na falta de compromisso de qualquer destas condições, na multa de quinhentos mil réis por mês que exceder, e na pena de caducidade no fim de doze meses. 17ª.-O contratante fará respeitar as matas circunvizinhas, podendo os colonos somente lançar mão de madeiras que obtiverem em consequência de sucessivas derrubadas nos lotes respectivos, feitas por causa das plantações ou por outro motivo de necessidade. 18ª.- Os trabalhos de engenharia, levantamento de plantas e outros correrão por conta do contratante. 19ª.- Os lotes serão explorados única e exclusivamente pelos colonos, em plantações de cereais e legumes e produtos puramente comerciais, como: cana de açúcar, cacau, café e algodão. 20ª.- A direção propriamente técnica da colônia será confiada a um agrônomo, cuja alimentação e vencimentos até à entrega da colônia, correrão por conta do contratante, a cujo cargo ficam 206

207 207 igualmente as despesas a fazer com o fornecimento de medicamentos aos colonos e com o serviço médico. 21ª.- As plantações serão feitas de conformidade com os últimos cálculos e conselhos fornecidos pela ciência, e pelas instituições que forem oportunamente indicadas pela Sociedade Paraense de Agricultura. 22ª.- Em todos os trabalhos que tenham que ser executados por conta do Governo na colônia, para a fundação desta: localização de imigrantes, abertura de vias de comunicação, construções e outros, o contratante seguirá as regras e tipos geralmente adotados nas demais colônias do estado e observará as instruções que a Diretoria de Obras Públicas, Terras e Colonização julgue conveniente dar. 23ª.- Como indenização das despesas constantes das cláusulas décima e oitava, vigésima e segunda, letras g),h),i), o Governo do Estado pagará ao contratante a importância de quatro contos de réis mensais, a começar da data da instalação dos primeiros colonos até a entrega da colônia, sendo o pagamento feito por meses adiantados. 24ª.- No pagamento da importância a que se refere a precedente cláusula, estão compreendidas as despesas a fazer com a alimentação e vencimentos de um professor e duas professoras de primeiras letras, e com o material exigido pela lei. 25ª.- No caso do contratante vir a adquirir os terrenos que estiverem o seu estabelecimento e as casas construídas às custas do Governo, ficará obrigado a indenizar não só o valor daquelas como destas. 26ª.- O contratante recusa toda e qualquer indenização por qualquer título que não for a falta, por parte de Governo do Estado, de qualquer das cláusulas deste contrato, e faz renúncia de toda e qualquer espécie de intervenção diplomática ou consular, nas eventuais desavenças, e obriga-se a submeter todas as questões ao arbitramento de louvados escolhidos por ambas as partes. 27ª.- Por conta da subvenção a que se refere a cláusula vigésima terceira, o Governo poderá adiantar ao contratante, mediante fiança idônea, a importância de seis contos de réis para despesas que tem de fazer com o seu transporte à Itália e propaganda de imigração. 28ª.- O presente contrato ficará sem efeito se, findo o prazo de três meses não tiver sido iniciado o serviço de discriminação dos lotes, e, findo o prazo de dez meses, não tenha tido lugar a introdução das cinqüentas famílias de que trata a cláusula décima quarta. 29ª.- A má aplicação dos auxílios que o Governo se obrigar a prestar aos colonos por intermédio do contratante dará lugar à suspensão da subvenção até que pelo contratante seja reparada e reconhecida a falta que deu lugar À imposição da pena. 30ª.- O contratante fica sujeito à multa de cem a quinhentos mil réis por infração do presente contrato.estas multas serão cobradas por descontos na ocasião do pagamento imediato da subvenção a que tem direito o contratante. 31ª.-O presente contrato poderá ser rescindido quando se verifique: 1º, - falta de administração efetiva do contratante nos serviços do núcleo; 2º.- reincidência do contratante por mais de três vezes nas faltas que tenham dado lugar às multas anteriores. E por assim se haver feito e contratado, se lavrou o presente termo que vai assinado pelo senhor doutor Diretor e pelo contratante, que pagou o selo de vinte mil réis em estampilhas do Estado. Eu, Clemente Toscano de Vasconcelos, amanuense, o escrevi e subscrevo. HENRIQUE AMÉRICO SANTA ROSA Mario Cataruzza Fonte:CRUZ,1955, p.37-40

208 208 ANEXO 2 - RESUMO DOS ESTATUTOS DA CASA DA ITÁLIA-PARÁ (BRASIL) Resumo dos estatutos da Casa da Itália Pará (Brasil) aprovados pela Assembléia Geral extraordinária dos sócios, realizada em 24 de fevereiro de DISCRIMINAÇÃO Casa da Itália Pará (Sucessora da Sociedade de Assistência para Italianos de Belém ). DATA DA FUNDAÇÃO: 12 de abril de FINS A finalidade de seu programa de ação se resume no seguinte: a) Manter vivo o sentimento da pátria entre os italianos. Assistir moralmente e materialmente os sócios em caso de doença, acidentes, e as suas as suas famílias no caso de morte; b) Exercer a assistência, em casos de especiais necessidades também a favor de qualquer compatriota necessitado; c) Promover as iniciativas que tenham por fim o melhoramento das condições morais e materiais dos sócios. DURAÇÃO Tempo indeterminado DIRETORIA Mandato de 2 anos. RESPONSABILIDADES O presidente do conselho de administração (Cav. Giuseppe de Tommaso) é representante legal da Casa da Itália, seja perante as autoridades constituídas ou perante terceiros. RECEITA A receita social compreende: as cotas sociais e rendas de imóveis. DISSOLUÇÃO Em caso de dissolução da associação, o patrimônio social presente na ocasião deverá ser irrevogavelmente entregue à R. Autoridade Consular da Itália em Belém, ou quem o represente, para que lhe seja dada a destinação que a mesma autoridade julgar mais conveniente, sempre porém, em benefício da coletividade italiana do Pará. 1ª. DIRETORIA: Presidente do Conselho Administrativo: Cav. Giuseppe de Tommaso. Secretário: Libero Iughetti. Tesoureiro: Arnaldo Macciani. Conselheiro: Nicola Conte e Verbicaro Gaetano. Belém, 23 de março de 1938 G. DE TOMMASO, presidente (reconhecida as assinaturas pelo tabelião Adelermo Condurú. FONTE: Diário Oficial do Pará 24 de março de Pg. 25 ANEXO 3 ASSOCIAÇÃO CIVIL CASA DA ITÁLIA, ATA DA ASSEMBLÉIA GERAL EXTRAORDINÁRIA REALIZADA NO DIA 18 DE DEZEMBRO DE 1998

209 209

210 210

211 211

212 212

213 213

214 FONTE: Arquivo do Sr. Pedro Crispino. Belém,

215 215 ANEXO 4 ICONOGRAFIA Foto 1: Famílias de imigrantes italianos e espanhóis em frente à Hospedaria de Imigrantes de Outeiro/PA, Fonte: Caccavoni, Foto 2: Instituto Orphanológico do Pará (antiga Hospedaria dos Imigrantes). Outeiro/PA, Fonte: Silva e Fernandes, 1996.

216 Foto 3: Jornal L ECO DEL PARÁ (O Eco do Pará), dirigido por Mario Cataruzza. Edição de 19/10/1898, que noticiou a visita de autoridades consulares à Hospedaria de Imigrantes de Outeiro/PA. Fonte: Caccavoni,

217 217 Foto 4: Anúncio da companhia de navegação La Ligure Italiana, pela qual vieram imigrantes italianos para as colônias agrícolas: Annita Garibaldi, Ianetama e Outeiro. Fonte: Caccavoni, Foto 5: Anúncio da companhia de navegação Transatlântica Italiana de propriedade Giovanni Baptista Merlin, também proprietário da usina Conceição localizada em Icoaraci/PA. Fonte: Jornal Folha do Norte, 11/01/1926.

218 218 Foto 6: Passaporte da lucana Maddalena Viggiano e seu filho Giuseppe Emmi, Fonte: Arquivo da Sra. Giuseppina Emmi. Belém/PA, Foto 7: Bilhete de passagem dos imigrantes Maddalena Vigiano e Giuseppe Emmi embarcados no navio Tomaso de Savoia em novembro de Fonte: Arquivo da Sra. Giuseppina Emmi. Belém/PA, 2005.

219 219 Foto 8: Hotel Cassina de propriedade do piemontês Adrea Cassina, em Manaus/AM. Fonte Caccavoni Foto 9: Anúncio comercial do Hotel Cassina de Manaus /AM. Fonte: Caccavoni, 1898.

220 220 Foto 10: Sede da UNIONE ITALIANA D ISTRUZIONE, atual sede da ACIB, situada à rua Manoel Barata, 721.Belém/PA, Fonte: Aliprandi e Martini, Foto 11: Sócios da Casa da Itália Pará (Brasil), Fonte: Arquivo da família De Tommaso, Belém/PA 2007.

221 Foto 12: Carteira de Membro do Partido Fascista de Óbidos/PA, Fonte: Arquivo do Sr. Francisco Mileo, Belém/PA

222 222 Foto 13: Prédio da fábrica de sapatos Boa Fama do lucano Nicola Conte & Cia, Belém/PA Fonte: Rodrigues, Foto 14: Propaganda da fábrica de calçados Boa-Fama, Fonte: Aliprandi e Martini, 1932.

223 223 Foto 15: Estabelecimento comercial do lucano José Faraco & Cia. Maués/AM, Fonte: Arquivo do Sr.Raphael Faraco. Manaus/AM, F oto 16: Estabelecimento comercial Casa Confiança de Braz Mileo & Cia. Oriximiná/PA, Fonte: Aliprandi e Martini, Foto 17: Fazenda Santa Fé de Biagio Mileo. Oriximiná/PA. Família do proprietário e empregados da fazenda na ferra do gado de Fonte Arquivo do Sr.Francisco Mileo Belém/PA, 2007.

224 224 Foto 18: Família de Francesco Cerbino, dono da fábrica de sapatos Italiana. Belém/PA, Fonte: Aliprandi e Martini, Foto 19: Fidelis Pollaro e família. Faro, Fonte: Arquivo da família Paulain Ferreira, Belém/PA 2006.

225 225 Foto 20: Biagio Faraco e família. Maués/AM, Fonte: Arquivo do Sr. Raphael Faraco, Manaus/AM Foto 21: Braz Mileo e esposa Rosa Calderaro Mileo. Belém/PA, Fonte: Arquivo do Sr.Francisco Mileo, Belém/PA 2007.

226 226 Foto 22: Biaggio Mileo e Giuseppe Mileo, no ano da emigração para o Brasil. Sapri Itália, Fonte Arquivo do Sr. Francisco Mileo Belém/PA, Foto 23: Silvestro Savino e esposa Letizia Albrici Savino. Óbidos/PA, Fonte: Arquivo do Sr. Dino Priante. Belém/PA, 2007.

227 227 Foto 24: Berardino Priante. Óbidos/PA, Fonte: Arquivo do Sr.Dino Priante. Belém/PA, Foto 25: Giuseppe Faraco, o rei do guaraná. Maués/AM, Fonte: Arquivo do Sr. Raphael Faraco. Manaus/AM, Foto 26: Giacomo Priante. Óbidos/PA, Fonte: Arquivo do Sr. Dino Priante. Belém/PA, 2007.

228 228 Foto 27: Domenico Falesi, fundador da Casa Falesi. Belém/PA, Fonte: Aliprandi e Martini, Foto 28: Francesco Falesi e a esposa Antonieta Calvosa Falesi. Belém/PA, Fonte: Arquivo do Sr. Ítalo Falesi Belém/PA, 2007.

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