RECONSTRUÇÃO DA RUÍNA DA FAZENDA SÃO BERNARDINO: UMA AÇÃO SOCIAL

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1 RECONSTRUÇÃO DA RUÍNA DA FAZENDA SÃO BERNARDINO: UMA AÇÃO SOCIAL SANTOS, YGOR DO A. G. DOS (1); SANTOS, LUCIANA FERNANDES 1. UFRJ. Graduando de Gestão Pública para Desenvolvimento Social Av. Pedro Calmon, Cidade Universitária, Rio de Janeiro RJ Ygor.ufrj@gmail.com 2. Arquiteta e Urbanista. Proarq FAU/UFRJ Av. Pedro Calmon, Cidade Universitária, Rio de Janeiro - RJ Lfernandes.arquitetura@gmail.com RESUMO Este artigo é uma análise critica da falta de atenção do poder publico a Fazenda São Bernardino localizada na cidade de Nova Iguaçu/RJ. Um exemplar da arquitetura neoclássica da baixada fluminense do estado, teve importante função durante a expansão cafeeira, porem com o passar dos anos sofre diversos episódios de abandono e descaso tanto do proprietário quanto do poder publico, inclusive o episodio do incêndio que acaba com parte da sua edificação. A necessidade de reconstrução e de intervenção do poder publico em destinar o espaço a uma ação social se mostra durante o decorrer desta pesquisa. Palavras-chave: Incêndio; Reconstrução; Fazenda São Bernardino; Nova Iguaçu/RJ; Abandono

2 1. Introdução Localizada no município de Nova Iguaçu no estado do Rio de Janeiro, em especifico na região da Baixada Fluminense, a Fazenda São Bernardino foi Construído em 1875 por Bernardino José de Souza e Mello, e tem forte valor histórico para a região e também para o estado onde foi de grande valor econômico. Ela faz parte da antiga Vila de Iguaçu (APA Tinguá) que foi declarada bem tombado pelo INEPAC e registrado como sítio arqueológico pelo IPHAN. As ruínas da fazenda São Bernardino estão atualmente em posse do Governo Federal, após intensa disputa judicial com a família Gavazzi, primeiros proprietários do local. A casa grande, tombada pelo IPHAN encontra-se em abandono total, sem qualquer apoio por parte da administração responsável. A primeira estação de trem da região teve sua parada na Fazenda São Bernardino, e foi importante ponto de abastecimento de café e cana de açúcar. Figura 1 Localização da fazenda em Nova Iguaçu/RJ A fazenda em principal a Casa Grande sofre diversos desastres; tais como saqueamento ocorrido em 1977, tendo grande parte do acervo interno furtado e o incêndio na década de 80 que a deixa em ruína. O abandono da localidade foi o principal fator para a grande deterioração que encontra se. Seu importante valor histórico está no fato de ter um forte papel para as atividades econômicas da época, sendo considerada uma das mais ricas províncias do Estado, pois se 1º Simpósio Cientifico ICOMOS Brasil Belo Horizonte, de 10 a 13 de maio de 2017

3 encontrava no percurso Rio de Janeiro- Minas Gerais e Rio de Janeiro- São Paulo fazendo parte do ciclo de cana. Teve sua decadência com a mudança do eixo econômico, deixando de exercer um importante papel e tornando-se uma casa de campo de seus proprietários. Após ser vendida, ela volta a exercer papel econômico, porém não mais a nível regional e sim local, devastando grande parte da sua extensa área florestal. E sua arquitetura foi sendo degradada pelo tempo e pela não conservação durante seu uso. Apesar de tombada pelo na época SPHAN, atual IPHAN, 1951, só foi desapropriada de seus donos em 1975, continuando por esse tempo se degradando e não tendo a devida conservação e preservação necessária que um bem tombado deve ter. No decorrer dos anos foram feitos diversos levantamentos fotográficos, relatórios e projetos para sua área a fim de tornar-se um local de interesse e utilização da população da região. Entretanto, em meados da década de 80, um incêndio arruína grande parte do pouco que restava da fazenda que já havia sido saqueada algumas vezes. Hoje, a fazenda que já havia sido um forte ponto da história não apenas de Nova Iguaçu, mas de todo o Estado do Rio de Janeiro, encontra-se em ruína abandonada, necessitando de atenção e interesse para desenvolvimento de um projeto que torne seu espaço novamente habitável. A pesquisa foi construída com base na leitura e analise de documentos existentes no acervo central do IPHAN, documentação essa que descreve o processo de tombamento e a atual situação em que se encontra o patrimônio. Para constatação de encontrados neste acervo foi realizado uma visita técnica a edificação e conversa com moradores locais para melhor compreensão do estado de conservação em que se encontra. Figura 2 Planta de situação do conjunto da fazenda

4 2. Histórico da Fazenda São Bernardino A história da Fazenda São Bernardino tem seu inicio no ano de 1862, quando o comendador Bernardino José de Souza e Mello financia a construção da sua Casa Grande. Inaugurada no ano de 1875 por Bernardino José de Souza e Mello, o conjunto arquitetônico constituído por Casa Grande, senzala e engenho foi um exemplo de construção em estilo neoclássico, localizada em território da Vila Iguaçu que chegou a ser considerada uma das mais prósperas da província do Rio de Janeiro. No histórico da fazenda, consta que a mesma era servida pela extinta Estrada de Ferro Rio D Ouro, que cortava as terras na altura do sitio Cachimbau, que também era propriedade do Comendador Soares, também dono da fazenda, onde havia uma parada em frente a fazenda. Tal patrimônio é um testemunho da história e parte da memória que remete a formação histórica da baixada fluminense na fase de comércio entre a corte e Minas Gerias, evoca a memória não só para região onde estão suas ruínas, mas é capaz de nos fazer conhecer uma época de desenvolvimento em que o país passava a mais de 100 anos atrás, a construção faz parte de uma época em que a região de Vila de Iguaçu já entrava em decadência e a escravidão caminhava para o fim, a mudança da sede do município para próximo a estrada de ferro D. Pedro II, a transferência da matriz paroquial para o arraial de Maxambomba (atual Nova Iguaçu), abolição dos escravos entre outros acontecimentos são marcos históricos para toda a Baixada até mesmo para o país e a fazenda esta inserida neste cenário, nesta memória. Atualmente em total estado de abandono corremos o risco de perder de esta herança histórica. A propriedade, um dos símbolos mais importantes do período vivido na região foi reconhecida primeiramente pelo prefeito Ricardo Xavier da Silveira ainda em 1940 como parte da identidade e da memória da região este solicitou a preservação da fazenda através da carta enviada ao diretor do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Giácomo Gavazzi, que comprara a fazenda em 1927 junto com João Julião do Coronel Alberto de Melo, que era herdeiro de Bernardino, criador e fundador da fazenda, pouco fez para conservar a Casa da Fazenda, apesar de nela ter morado ate o fim de seus dias. Em 1961, obteve do IPHAN (melhor dizendo, do instituto que exercia sua atribuição naquela época), a restauração do telhado do imóvel de forma emergencial. O IPHAN voltou a intervir outras duas vezes de forma física na Casa da fazenda, igualmente com recursos próprios. No período de 1985 a 1987, pós incêndio, quando obras foram realizadas em situação 1º Simpósio Cientifico ICOMOS Brasil Belo Horizonte, de 10 a 13 de maio de 2017

5 emergencial para escoramento e reforço estrutural (fl.9 do Laudo do IPHAN 1996). Ademais o IPHAN enviou diversos ofícios entre 1983 e 1993 a Prefeitura, Corpo de Bombeiros e a Policia Militar, sempre visando a proteção do bem tombado (fl. 10 do Laudo do IPHAN de 1996). No ano de 1959, no dia 19 de Setembro, o Jornal A Noite Rio, da agência LUX, noticia que o Juiz Alcino Pinto Falcão após solicitar informações as autoridades competentes, manteve seu parecer e sua decisão de manter a Fazenda São Bernardino como patrimônio tombado, e assim negou o mandado de segurança citando a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, onde repele uma possível inconstitucionalidade do decreto lei 25. No ano de 1965, Alex Nicolaeff e Fernando Abreu descrevem (...) a decadência imposta pelo tempo e falta de cuidados da fazenda, discursando sobre os danos encontrados e as tentativas de invasões ao local. Junto com o relatório são enviadas fotos para ratificam as informações presentes na carta. Internamente a impressão de abandono se acentua com as goteiras provocando a destruição praticamente irrecuperável de grandes trechos do forro em fino trabalho de estuque estando igualmente em estado de decomposição. Este relatório comprova a falta de cuidados e atenção existentes para com o bem patrimonial em questão. Ao receber a carta, o Diretor do SPHAN descreve o local como: (...) um dos exemplares mais expressivos do acervo arquitetônico do país do século XIX e cujas condições críticas reclamam a atenção especial do poder público. No dia 8 de dezembro de 1975 o Decreto n 1459 dava provisão a desapropriação da fazenda com fins de preservação e criação de um Parque de Múltiplo Uso. Ainda nesse ano, no dia 30 do mês 12, a Lei n 50 dispondo sobre o Uso e Ocupação do Solo/Zoneamento, inclui a região de Iguaçu Velha e Fazenda São Bernardino na Zona Turística Cultural do município. Baseado no decreto do ano anterior, surge o decreto 1520 que ratifica o decreto de número 1459, e desapropria a fazenda de Giacomo Gavazzi, seus herdeiros e sucessores. No ano de 1976 no dia 23 de abril, o imóvel e a área ao redor da fazenda ( m²), são declarados de utilidade publica para fins de desapropriação pela Prefeitura de Nova Iguaçu, tendo como objetivo a implantação do Parque Metropolitano de Múltiplo Uso de São Bernardino, e seguindo as diretrizes traçadas na lei nº 50 de dezembro de 1975 que inclui São Bernardino e Iguassu Velha na Zona Turística e Cultural do município. Já em posse da prefeitura, a indenização não havia sido paga aos herdeiros, e ainda, não tendo moradores na residência e o descaso do poder público, os saques foram sido recorrentes, o que agravou o processo de arruinamento da residência. Durante o ano de

6 1983 ocorre um grande incêndio na Casa Grande, que destrói grande parte da mesma. Em decorrência da atitude displicente da prefeitura de Nova Iguaçu, a mesma teve que devolver a fazenda ao espolio da família Gavazzi, o que não mudou o descaso com o bem. O incêndio na Fazenda São Bernardino foi noticiado como tendo seu inicio as dezenove horas do dia trinta de Março do ano de mil novecentos e oitenta e três. A hipótese a época seria de incêndio criminoso, inclusive sendo dito pelos funcionários da prefeitura que eram responsáveis pela guarda do local. A Secretária de Educação de Nova Iguaçu, a época do incêndio, professora Ana Maria Ramalho, disse pós incêndio que seria criada comissão com engenheiros e professores afim de estudar e executar a recuperação do imóvel, algo que não foi efetuado. Segundo Ana Maria Ramalho, o trabalho de recuperação seguiria o planejamento de maneira a resguardar as linhas arquitetônicas da construção e incluiria o ajardinamento da área circunvizinha. A comissão responsável pelo projeto tinha como integrantes o então presidente do Instituto de Patrimônio Histórico de Nova Iguaçu, o senhor Waldick Pereira e o coordenador de Assuntos Culturais, senhor Ney Alberto Gonçalves, onde o ultimo pronunciou se sobre o acentuado estado de degradação que o patrimônio vinha sofrendo, onde culpou os constantes roubos como maiores causadores da degradação. Também pronunciaram se após o incêndio da Fazenda São Bernardino, o senhor Teodósio Joels, coordenador de Obras da 6 Diretoria da Subsecretaria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, extinto SPHAN. O então diretor do SPHAN, senhor Glauco Campelo, achava a época ser possível recuperar a fazenda, entretanto não possuía verba e não tinham obras previstas para a região. Uma ação do Ministério Público Federal, por intermédio do Procurador da República, sob Procedimento Administrativo MPF/PRM/SJM nº / ( antigo n /97-48) CASA DA FAZENDA SÃO BERNARDINO. Onde tal ação atribui responsabilidade Parcial ao PMNI, atribuindo a este todo o ônus da restauração junto ao proprietário. Finalmente em Janeiro de 2006, com o Decreto nº7281, ocorre o processo de desapropriação dos remanescentes tornando a novamente de utilidade pública, em ato continuo a prefeitura solicita a justiça para iniciar de forma emergencial obras para estabilização das ruínas, o que foi concedido por meio do Alvará Judicial da Sexta Vara Civil, nº 003/6 /2006 de 30 de janeiro de º Simpósio Cientifico ICOMOS Brasil Belo Horizonte, de 10 a 13 de maio de 2017

7 No momento após o incêndio que transforma a Fazenda São Bernardino em ruína e os saques que desfiguram o que pouco havia restado do interior da Casa Grande, o atual proprietário, o Governo Federal, mantém a continuidade na não intervenção direta no local, mantendo a onda de descaso com o bem público. A propriedade vítima do descaso acaba virando morada de saqueadores, usuários de drogas e moradores de rua. Tal ocorrido acaba por manter o processo de degradação interna da Casa Grande da Fazenda São Bernardino, onde os ocupantes irregulares faziam fogueiras na parte interna, tanto para uso de drogas quanto para proteção do frio. Com isso as paredes internas acabam chamuscadas e o interior deteriora de maneira intensa paredes e piso que ainda resistiram ao incêndio. Em Junho do ano de 1986 aproximadamente 400 ( quatrocentos) lavradores, ocupam a fazenda, requerendo seu uso, uma vez que a mesma estava em estado de abandono, pedindo assim a execução da lei de reforma agrária. Em 30 de Novembro de 1987 o INCRA ajuizou para fins de uso social através da reforma agrária a desapropriação da fazenda. No dia nove de Julho do ano de mil novecentos e oitenta e seis o jornal O Globo noticia a ocupação da Fazenda São Bernardino que ocorria a mais de um mês. A matéria cita a existência de quase cem crianças no meio dos ocupantes, e que ameaças de expulsão por pessoas que se diziam proprietárias das terras eram constantes. Os lotes foram distribuídos em medidas de cem metros por trezentos metros, onde o plantio foi feito assim que as terras foram sendo ocupadas. Esse pedaço da Fazenda São Bernardino que passou pelo processo da reforma não pode ser modificado, ou ainda sofrer qualquer tipo de alteração, onde os lavradores que conseguiram os direitos daquela terra mantêm todos os direitos reservados a seu uso de forma exclusiva a eles. Contudo toda a área que passou pela reforma agrária não condiz com 1% ( um por cento) da área total da Fazenda São Bernardino. No ano de mil novecentos e setenta e sete, surge através da extinta FUNDREM ( Fundação para o Desenvolvimento da Região Metropolitana), o projeto de um grande Centro de Recreação e Lazer, onde o projeto visava humanizar a região periférica ao chamado Grande Rio, e devido a posição estratégica da fazenda e suas dimensões exageradas, tornaria se o local ideal para a intervenção. Centro cultural, centro comunitário, piscinas públicas, campos de esportes, campos de jogos, urbanização da área e de seu entorno, playgrounds com mobiliário publico atrativos para toda a comunidade da região da baixada fluminense que ate hoje encontram

8 dificuldade para encontrar locais públicos para lazer e cultura, tendo que viajar ate o centro do estado, para encontrar tais atrativos. O projeto visava transformar a região em espécie de Aterro do Flamengo da Baixada. No levantamento dos técnicos da FUNDREM, foi constatado que a região possuía patrimônio artístico, cultura e arquitetônico de grande expressão, sendo o estado de conservação extremamente precário, e o melhor modo de preservar esses patrimônios e dar lhes utilização. Figura 3 Fachada principal da Fazenda em º Simpósio Cientifico ICOMOS Brasil Belo Horizonte, de 10 a 13 de maio de 2017

9 3. A Fazenda como ação social A Fazenda São Bernardino fica situada no bairro de Vila de Cava, um dos bairros em que se divide o município de Nova Iguaçu. Localiza-se no setor Norte de planejamento do município. O bairro foi em grande parte a fazenda Italobrasileiro, de propriedade da família italiana Chamarelli, mais precisamente do casal de imigrantes Francesco Chamarelli e Anna Chamarelli. O bairro começa no encontro da Rua Magnólia com a Av. Muniz Barreto. O Limite segue pela Av. Muniz Barreto (incluída) até a Rua José de Anchieta, segue por esta (incluída) até a Rua Padre Roma, segue por esta (incluída) até a Rua Antônio Salema, segue por esta (incluída) até a Rua Vítor Hugo, segue por esta (incluída) até a Rua Alvares Gonçalves, segue por esta (incluída) até a Rua Bayron Dore de Almeida, segue por esta (incluída) até a Rua Cel. Alberto de Melo, segue por esta (incluída) até a Estr. Municipal, segue por esta (incluída) até a Rua Mota, segue por esta (incluída) até a Rua Heril, segue por esta (incluída) até a Rua João Manhães, segue por esta (incluída) até a Av. Santana, segue por esta (incluída), até a Rua 20 (vinte), segue por esta (incluída), até a Estr. Velha de Santana, segue por esta (incluída) a Rua Arinda, segue por esta (incluída) até o Canal Paiol, à montante até a Av. Central, segue por esta (excluída no sentido Noroeste) até a Rua 13 (treze), segue por esta (excluída) até a Estr. Santa Perciliana, segue por esta (incluída) até a Rua das Marrecas, segue por esta (incluída) até a Rua Carlota, segue por esta (incluída) até a Rua Girassol, segue por esta (incluída) até a Rua Açussena, segue por esta (incluída) até a Rua Magnólia, segue por esta (incluída) até o ponto inicial. Em números atualizados pelo IBGE, o município de Nova Iguaçu conta com setecentos e noventa e sete mil quatrocentos e trinca e cinco habitantes, sendo o quarto maior município do Estado do Rio de Janeiro em número de habitantes, tendo mil quinhentos e vinte e sete habitantes por quilometro quadrado. Sendo assim tem grande importante em dados habitacionais para o Estado do Rio de Janeiro. Sua população tem renda média de dois salários mínimos, e quase quarenta por cento da sua população esta enquadrada na faixa dos que recebem ate meio salário mínimo. Indo assim ao contrario da sua posição quanto quantigente populacional, onde em valores do PIB per Capita, o município de Nova Iguaçu ocupa a posição de número cinquenta em dois dentre noventa e dois municípios. Antes mesmo de Darcy Ribeiro voltar ao pais e ser nomeado pelo Governador Leonel Brizola, o grupo técnico da extinta FUNDREM, no ano de mil novecentos e setenta e seis,formado por um ecólogo, um paisagista, um arquiteto, um assistente social e ainda um representante do Instituto Estadual do Patrimônio Cultural, propuseram o uso social da Fazenda São Bernardino, através do projeto Recreação e Lazer.

10 Como centro de Cultura, o município de Nova Iguaçu possui o Ilê Omi Oju Aro, casa de Candomblé da falecida Mãe Beata de Iemanjá, localizado no bairro de Miguel Couto. Mãe Beata reconheceu a carência de locais para engrandecer a cultura local e a cultura afrobrasileira, e através de trabalho social, afim de extinguir o machismo e proporcionar educação e cultura diversa a população menos favorecida. No ano de mil novecentos e oitenta e seis, no mês de outubro ocorreu o festival de rock da baixada, denominado Festival da Primavera, evento que reuniu cerca de sessenta mil pessoas, e que parte da renda foi destinada para a conservação da Fazenda São Bernardino. Entretanto a verba não chegou a ser utilizada de forma útil para preservação e restauro. Nomeado como Parque Metropolitano de Múltiplo Uso São Bernardino, sendo parte integrante das Unidades Urbanas do Oeste, onde a carência de áreas livres se caracterizava como mais evidente. O projeto tinha como objetivo também preservar e conservar a sede da fazenda, através de sua utilização, onde a mesma já encontrava se tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional ( IPHAN), e também visava a preservação da imensa área verde que compõe a fazenda e seu entorno. A área do parque ocuparia a principio quinze mil metros quadrados, onde o Instituto Estadual do Patrimônio Cultural seria o responsável pela restauração, e ambientação do parque, do conjunto arquitetônico, onde a obra de revitalização e conservação da área faz parte do projeto Programa Integrado de Cidades Históricas, dos Estados de Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro. A Casa Grande seria um grande museu, contando a história da região e a importância da Fazenda São Bernardino para a região, e também consta como grande atrativo para o parque em si. De acordo com o zoneamento do município de Nova Iguaçu, a área em que esta contida a fazenda encontra se como zona turística cultural, devido a presença de outros locais históricos existentes ao redor, inclusive o Porto de Iguaçu Velho e a Reserva de Tingua. Ao mesmo tempo a zona turística cultural encontra se inserida na chamada zona agrícola do município denotando baixa ocupação territorial. A região de Vila de Cava, onde esta inserida a Fazenda São Bernardino, possui hoje estimados pelo ultimo censo nacional, dezesseis mil habitantes aproximadamente, onde quase sessenta e três por cento encontra se na faixa dos quinze aos sessenta e cinco anos. Dado importante também de ser visto são a maioria esmagadora de jovens, no qual compõe vinte e sete por cento da população local. 1º Simpósio Cientifico ICOMOS Brasil Belo Horizonte, de 10 a 13 de maio de 2017

11 O foco de uso social da fazenda esta voltado para a população local, do terceiro distrito de Nova Iguaçu, localidade de Cava, essa majoritariamente rural, e com baixos índices de indicadores sociais. Sabe se dentro das tratativas do projeto que a maior parte dos usuários do Parque será oriunda das chamadas Unidades Urbanas Integradas de Oeste, devido a inexistência de outras opções de recreação e lazer, onde seu raio de influência acaba assim sendo mais amplo, atingindo inclusive toda a região metropolitana do município do Rio de Janeiro. A ideia passa inclusive pelo descongestionamento dos principais atrativos de lazer que ainda hoje encontra se somente na cidade do Rio de Janeiro. A pesquisa feita no período do projeto, ainda faz se verdadeira quanto as necessidades da população da baixada fluminense, onde no Encontro Regional do Patrimônio Histórico e Artístico, realizado no ano de mil novecentos e setenta e seis, no município de Duque de Caxias e em abril em Nova Iguaçu, as reivindicações foram a criação de áreas verdes tais como parques, jardins e áreas de convivência, cinemas e teatros e praças de esportes e similares. E de suma importância mencionar que o Primeiro Encontro Regional de Patrimônio Histórico e Artístico do Estado do Rio de Janeiro, foi realizado no dia quatro de abril de mil novecentos e setenta e seis no município de Nova Iguaçu. Nesse encontro o professor Ney Alberto Gonçalves Barros, então diretor do Instituto Histórico e Geográfico de Nova Iguaçu, menciona que a ideia de transformar a Fazenda em Casa de Cultura, foi mencionada a primeira vez no ano de mil novecentos e cinquenta e seis, entretanto no ano do encontro foi a primeira vez que a prefeitura mostrou se apta a auxiliar no projeto. A criação do Parque da Fazenda São Bernardino provem modificações inclusive na malha rodoviária da região, onde hoje o melhor acesso e a partir da BR -116, feito pela RJ-111/NI- 20/NI-16/RJ-111, em percurso de aproximadamente onze quilômetros. O projeto prevê a criação de mais uma alternativa para acesso ao Parque, através da RJ-109, rodovia projetada para ser integrante do Plano Rodoviário Estadual do ano de mil novecentos e setenta e seis, ligando nos dias de hoje ao Arco Metropolitano, saída dos municípios de Itaguaí e Mage, que compõe a ligação com o Rio de Janeiro. As distancias rodoviárias das sedes dos municípios das Unidades Urbanas Integradas ao parque via BR-116, são para Nova Iguaçu quatorze quilômetros, Nilópolis vinte e três quilômetros, São João de Meriti vinte e quatro quilômetros e Duque de Caxias trinta e três quilômetros. Constatou se ainda que expressiva maioria da população entrevistada não possuía habito de recreação programa ou previamente orientada. Tal prática da recreação e do lazer programada somente começa a ser notada á medida em que ocorre aumento do nível de

12 renda da população, onde as pessoas em melhores condições econômicas e financeiras, acabam por procurar no município do Rio de Janeiro os equipamentos de recreação não existentes na Baixada Fluminense. Equipamentos como campos de futebol, campos de futebol de salão, piscinas de água mineral, anfiteatros naturais e conchas acústicas, localidades para atividades folclóricas como danças e artesanatos e afro culturais, pistas de atletismo, áreas verdes arborizadas para convívio social, a criação do museu de relíquias contando a historia da região. Figura 4 Fachada principal da fazenda em 2016 pós-incêndio 1º Simpósio Cientifico ICOMOS Brasil Belo Horizonte, de 10 a 13 de maio de 2017

13 4. Conclusão Após analise documental da fazenda São Bernardino visitas ao local, observa se o descaso quanto a sua conservação e preservação. Que ocorrem antes do desastre ocorrido na mesma. Com o incêndio resultando na destruição de grande parte da sua arquitetura, esta foi abandonada ainda mais por parte do poder público, mas não pela sociedade local. Com diversas ações sociais vindas dos moradores locais, foi observado a necessidade de criação um local com atividades voltadas a este público, de forma a manter uso contínuo no espaço e consequentemente a preservação do mesmo. Com a reconstrução da fazenda ha a necessidade de criação de um plano de manutenção preventiva e conservação da edificação para que esta não sofra nenhuma degradação e possa ser um importante agente social nesta comunidade.