GRUPO E FUNCIONAMENTO GRUPAL NA ATIVIDADE DOS ENFERMEIROS: um conhecimento necessário a
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- Ana Vitória Casado Borja
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1 PESQUISA Grossmann E, Kohlrausch E. Grupo e funcionamento grupal na atividade dos enfermeiros: 71 GRUPO E FUNCIONAMENTO GRUPAL NA ATIVIDADE DOS ENFERMEIROS: um conhecimento necessário a Eliane GROSSMANN b Eglê KOHLRAUSCH c RESUMO Este estudo verificou o conhecimento de enfermeiros sobre grupos e funcionamento grupal, bem como as premissas que fundamentam suas atividades enquanto coordenadores de suas equipes de trabalho. Pesquisa delineada pela abordagem exploratório-descritiva, realizada em um hospital universitário de Porto Alegre, Brasil. Pelos resultados, 97% dos participantes gostam de trabalhar em grupo e 77,7% utilizam conhecimento empírico e teórico embasando suas atividades. Contudo, a maioria desconhecia o significado de grupo operativo e supostos básicos. Utilizando o conhecimento empírico e teórico, o enfermeiro pode ter instrumentos para trabalhar com as emoções do grupo e fundamentar o seu agir no cuidado ao cliente. Descritores: Equipe de enfermagem. Estrutura de grupo. Educação em enfermagem. RESUMEN Este estudio verificó el conocimiento de los enfermeros sobre grupos y funcionamiento grupal, así como las premisas que fundamentan sus actividades en cuanto coordinadores de sus equipos de trabajo. Investigación delineada por el abordaje exploratorio-descriptivo, realizada en un hospital universitario de Porto Alegre, Brasil. Por los resultados, al 97% de los participantes les gusta trabajar en grupo y el 77,7% utiliza el conocimiento empírico y teórico basando sus actividades. Sin embargo, la mayoría desconocía el significado de grupo operativo y supuestos básicos. Utilizando el conocimiento empírico y teórico, el enfermero puede tener instrumentos para trabajar con las emociones del grupo, y fundamentar su actuación en el cuidado al cliente. Descriptores: Grupo de Enfermería. Estructura de grupo. Educación de Enfermería. Título: Grupo y funcionamiento grupal en la actividad de los enfermeros: un conocimiento necesario. ABSTRACT This study aimed at verifying the knowledge of nurses about groups and group functioning, as well as knowing which premises found their activities as coordinators of their working teams. The research was outlined by the descriptive-exploratory approach, carried out in a university hospital in Porto Alegre, Brazil. The results show that 97% of the participants like group work while 77.7% of the nurses use both empirical and theoretical knowledge as the basis for their activities. However, most of them were unaware of the meaning of operative group and basic assumptions. By using the empiric and theoretical knowledge, the nurse can have tools to work with group emotions and support actions regarding the client s care. Descriptors: Nursing, team. Group structure. Education, nursing. Title: Group and group interaction in nurses activities: a needed knowledge. a b c Artigo compilado a partir da monografia: O conhecimento de enfermeiros sobre grupo e sobre o funcionamento grupal, apresentada como requisito parcial para obtenção do título de Especialista de Enfermagem em Saúde Mental na Escola de Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (EEnf/UFRGS) em Especialista em Enfermagem em Saúde Mental. Professora Substituta do Departamento de Assistência e Orientação Profissional da EEnf/ UFRGS. Mestre em Enfermagem. Professora Assistente do Departamento de Assistência e Orientação Profissional da EEnf/UFRGS. Coordenadora do Curso de Especialização em Enfermagem em Saúde Mental da EEnf/UFRGS. Grossmann E, Kohlrausch E. Grupo y funcionamiento grupal en la actividad de los enfermeros: un conocimiento necesario [resumen]. Rev Gaúcha Enferm, Porto Alegre (RS) 2006 mar;27(1):71. Grossmann E, Kohlrausch E. Group and group interaction in nurses activities: a needed knowledge [abstract]. Rev Gaúcha Enferm, Porto Alegre (RS) 2006 mar;27(1):71.
2 72 Grossmann E, Kohlrausch E. Grupo e funcionamento grupal na atividade dos enfermeiros: 1 INTRODUÇÃO Este artigo foi compilado a partir do trabalho de conclusão do Curso de Pós Graduação Lato Sensu em Enfermagem em Saúde Mental da Escola de Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, como exigência de conclusão e obtenção do título de especialista (1). Os motivos que guiaram esta pesquisa iniciaram pela inquietação em perceber durante o curso de Pós-Graduação, e também durante a prática profissional, a dificuldade existente, por parte dos enfermeiros, para trabalhar em grupo e refletir sobre as dificuldades que permeiam o meio assistencial. Outrossim, é notório que, como coordenadores de grupo, muitos enfermeiros utilizam somente embasamentos empíricos para fundamentar suas atividades. Considerando a relevância do papel do coordenador de grupo, é importante que enfermeiros, independente da área de atuação, conheçam fundamentos teóricos sobre grupos, para que consigam colaborar com maior efetividade para o funcionamento de suas equipes, e também para que este seja harmonioso (2-7). Durante a atuação profissional em hospital geral, era perceptível a dificuldade dos enfermeiros em conversar e escutar os sentimentos dos profissionais que faziam parte da equipe, refletindo assim, na assistência e no relacionamento interpessoal dos membros da equipe de enfermagem. Ocorriam falas informais entre as pessoas, mas sem um momento em que a equipe pudesse efetivamente discutir sobre o assunto. Ao iniciar a disciplina de Experiência Emocional em Grupo, no curso de pós-graduação, uma das propostas era estudar sobre grupos e seu funcionamento, e a outra era ter um espaço de discussão sobre sentimentos em relação ao curso e também, em relação ao grupo em questão. Pôde-se perceber que a maioria dos enfermeiros do curso teve dificuldades, e demonstravam pouco conhecimento teórico sobre o tema, o que foi sendo modificado conforme os estudos iam sendo aprofundados. De acordo com pesquisa, grande parte dos enfermeiros tem como fontes de aprendizagem para o trabalho em grupo somente o conhecimento adquirido na prática, sendo que o conhecimento teórico é fonte indispensável para trabalhar com as emoções do grupo, diminuindo as dificuldades como coordenador. Os impasses que surgem na vida profissional estão mais dirigidos ao relacionamento humano e suas complexidades, e não em relação às questões técnicas, apesar dos cursos de graduação enfatizarem o ensinamento clínico (2). Alicerçados nestes argumentos e inquietações, nesse estudo buscamos verificar o conhecimento dos enfermeiros sobre grupos e funcionamento grupal. Procuramos, ainda, saber quais são as premissas que fundamentam e sustentam suas atividades enquanto coordenadores de grupo, em suas equipes de trabalho. 2 CONHECENDO A TRAJETÓRIA DOS GRUPOS Quando se pensa em grupo, logo pode ser feita a associação de que todo o ser humano faz parte de grupos ao longo de sua vida, desde o nascimento, quando inicia um relacionamento familiar, na escola, creche, igreja, comunidade, entre outros. Pode-se dizer que o ser humano só existe em função de seus relacionamentos grupais, já que é um ser gregário e busca constantemente uma identidade individual, grupal e social (3). Pensando nesta perspectiva, está a enfermagem, que durante sua formação desenvolve atividades em grupo, e inicia sua vida profissional inserindo-se em uma equipe de trabalho, já que o enfermeiro realiza suas
3 Grossmann E, Kohlrausch E. Grupo e funcionamento grupal na atividade dos enfermeiros: 73 ações de saúde interligado à equipe de enfermagem e outros profissionais de saúde. É necessário que se estabeleçam relações interpessoais entre os membros da equipe, para que juntos possam constituir e alcançar os objetivos em comum. Considerando que cada indivíduo é diferente e traz consigo sua história, é importante o esforço em comum de cada membro, para assim alcançar os resultados do cuidado (8). Corroborando com esta idéia, está a necessidade do enfermeiro conhecer sobre grupos e processo grupal para trabalhar com suas equipes, já que durante as atividades e ações de saúde, surgem emoções relacionadas ao cuidado, bem como sobre o relacionamento interpessoal dos componentes do grupo de trabalho (2,9). Nestes grupos o enfermeiro constitui-se como coordenador dessas equipes, e se depara com todos os movimentos e processos que surgem nas atividades assistenciais, gerenciais e também de ensino (8). Para trabalhar com essa tarefa de coordenação, que é compensadora mas não é nada fácil, é importante que exista um conhecimento teórico além do empírico, para que o grupo possa manter um relacionamento harmonioso (1). Num grupo, deve haver interação entre as pessoas, cada um tem um papel e função específica enquanto integrante. O coordenador pode assumir o papel de facilitador das relações que se estabelecem, de acordo com os objetivos do grupo e seguindo uma técnica particular. Pode-se afirmar que um grupo não é um mero somatório de indivíduos; pelo contrário, se constitui como uma nova identidade, com leis e mecanismos próprios e específicos (3:83). O que diferencia os grupos é a finalidade para qual o grupo foi criado e composto, para assim, seguir um referencial teórico e técnica específica (10). Os grupos podem ser classificados em duas grandes divisões, os grupos terapêuticos e os grupos operativos (3). Nos primeiros, estão inseridos os grupos de auto-ajuda e os grupos psicoterápicos. Já os grupos operativos podem ser considerados como grupos que agem centrados na tarefa proposta, ou seja, as atividades do grupo visam alcançar objetivos determinados (11). Podem estar organizados de quatro maneiras: ensino-aprendizagem, institucionais, comunitários e terapêuticos (10). Pensando na enfermagem enquanto profissão inserida em áreas hospitalares, unidades básicas de saúde e clínicas de saúde, por exemplo, pode-se fazer relação entre esta profissão e o grupo operativo. A enfermagem na maioria das vezes, trabalha em grupo em instituições e tem como objetivo primordial o cuidado ao ser humano. Pode-se dizer então, que a tarefa da enfermagem seria resolver as ansiedades do grupo em relação às ações de cuidado (10). É importante que a equipe de enfermagem tenha clareza dessa tarefa, e tenha objetivos definidos para serem alcançados (11). Para que exista um desempenho satisfatório, é necessário que exista uma combinação de dois comportamentos, a orientação voltada à execução da tarefa, e a orientação do grupo voltado para a manutenção dele. Como coordenador, o enfermeiro pode utilizar instrumentos como o planejamento e avaliação das atividades para esclarecer onde quer chegar, de que modo e também, em que fase a equipe se encontra no momento (11). Outro autor que é referência sobre o funcionamento grupal, considera relevante destacar as interpretações (6). Julga ser necessário que os coordenadores analisem dois aspectos, um deles é o sujeito assumindo um papel em função de sua história pessoal. O outro, é o problema do grupo relacionado ao que é explicitado por cada sujeito. Cada membro possui uma identidade própria, mas no momento em que estão interagindo em grupo, constituem uma nova identidade, com características e funcionamento específicos.
4 74 Grossmann E, Kohlrausch E. Grupo e funcionamento grupal na atividade dos enfermeiros: Considera-se tanto os fatores conscientes e os inconscientes no funcionamento em grupo, pois ambos refletem e se manifestam nas áreas da mente, corpo e mundo exterior do indivíduo (6). Esclarecendo as idéias de Bion, descreve-se sobre o que foi denominado de grupo de trabalho e grupo de supostos básicos (3). O grupo de trabalho está voltado aos aspectos conscientes dos membros do grupo, relacionados a uma determinada tarefa e opera a favor da realização dela e do alcance dos objetivos. Já os supostos básicos são movimentos inconscientes que operam no processo primário do pensamento, agindo como mecanismos de defesa mobilizados pelo ego, interferindo na realização da tarefa. Existem três modalidades de supostos básicos: dependência, luta e fuga e acasalamento, que surgem de acordo com a forma que os sentimentos emergem e estão estruturados. Cabe ressaltar que, quando o grupo funciona por suposto básico, deixa de ser um grupo de trabalho (6). Entendendo e aplicando esses referenciais teóricos, o enfermeiro pode desenvolver a função de continência, já que este papel é importante para o funcionamento grupal. O coordenador reconhecendo o que está ocorrendo no grupo, pode decodificar isto e trazer para o grupo, para que ele possa tomar consciência de suas questões. Esta função pode ser considerada um processo psíquico ativo, onde o coordenador recebe as informações e as ansiedades do grupo, conscientes e inconscientes, as interpreta e as devolve com um significado ao grupo, proporcionando mais segurança (3). Existem, também, outros fatores importantes no grupo que denotam segurança, como as combinações das regras de funcionamento e de limites, por exemplo. A combinação de horário de início e término dos encontros, o respeito dos deveres, direitos e responsabilidades de cada membro dentro do grupo, e o cumprimento deles, se constituem em um dos fatos mais importantes que promovem a função continente do grupo. É relevante destacar, ainda, que os elementos teóricos do campo grupal só adquirem um sentido quando estiverem em reciprocidade com a prática grupal. Também é verdadeiro que a técnica sem uma fundamentação teórica corre o risco de não ser mais do que um agir intuitivo ou passional (3:87). 3 MATERIAIS E MÉTODO Este trabalho foi delineado pela abordagem exploratório-descritiva, permitindo ao pesquisador aprimorar suas idéias em relação ao tema escolhido, e descobrir se as suas intuições em relação a ele conferem com a realidade (12). Foi realizado no Serviço de Enfermagem Médica de um hospital universitário de Porto Alegre, Brasil. Essa instituição possui unidades de internação das diversas especialidades, além de serviços ambulatoriais, tem caráter filantrópico, e oferece atendimento ao Sistema Único de Saúde, convênios e particulares. Para coleta dos dados, foi utilizado um questionário fechado, pelo qual foram obtidas as informações dos enfermeiros participantes do estudo (13). Dos 45 profissionais abordados sobre o interesse e aceite em participar da pesquisa, 36 concordaram. Não participaram da pesquisa os enfermeiros que estavam em contrato de experiência e com afastamento do trabalho, independente da sua natureza. A pesquisa respeitou preceitos da resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (14), e foi entregue e assinado pelos participantes o termo de con-sentimento livre e informado, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da referida instituição. As informações foram organizadas em uma planilha, com o auxílio do programa Excell para Windows, e foram analisadas e tratadas pela estatística descritiva (15). 4 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS Os 36 enfermeiros que participaram dessa pesquisa informaram graduação há mais
5 Grossmann E, Kohlrausch E. Grupo e funcionamento grupal na atividade dos enfermeiros: 75 de dez anos, 50%, e 69,4% tiveram contato com conteúdo de dinâmica de grupo durante sua formação profissional. Não tiveram proximidade com o tema 22,22%, e 8,33% não responderam (15). Todos os participantes realizam reuniões com a equipe de enfermagem. A freqüência da realização é de uma vez ao mês por 44% dos profissionais, 14% conforme a necessidade da equipe, 17% não responderam, 8% uma vez ao ano, 8% com intervalo trimestral, 3% semestralmente, 3% por bimestre e 3% quinzenalmente. Em relação ao tempo de duração das reuniões, 11,11% dos profissionais responderam ser de até 1 hora, 11,11% de 1 hora, 2,77% não responderam e 75% dos participantes não têm definição de tempo. Na forma de funcionamento das reuniões, 68% utilizam agenda, 24% fazem sem agenda e 8% ambas as formas (15). Os profissionais que responderam utilizar conhecimento empírico e teórico para trabalhar com sua equipe somam 77,77% e 22,22% utilizam conhecimento empírico. Os fatores que impulsionaram a busca do conhecimento teórico foram em 13% pela necessidade relacionada com a equipe de trabalho, 9% com a equipe, pacientes e interesse pessoal, 6% relacionado aos pacientes, 2% equipe e pacientes, 3% equipe e interesse pessoal, 1% interesse pessoal e 6% não responderam. Sobre o conhecimento do conceito de grupo operativo, 66% responderam não saber, 31% sim e 3% não responderam. Sobre considerar a equipe de enfermagem um grupo operativo, 13,88% responderam não, 30,55% sim e 55,55% não responderam (15). Em relação aos autores da base teórica dos grupos operativos, 2% responderam ser Kurt Lewin, 1% David Zimerman, 1% David Zimerman e Kurt Lewin e 31% não responderam. Quanto a saber o que são supostos básicos, 11% dos participantes assinalaram sim, e 89% não sabem. Sobre os níveis da psique em que ocorrem os supostos básicos, 5,55% responderam ser no inconsciente, 2,77% no consciente, e 91,66% não responderam (15). 5 ANÁLISE E DISCUSSÃO Na área da enfermagem, a possibilidade de acesso de acadêmicos e profissionais a cursos sobre dinâmica de grupo e há disciplinas sobre esse conteúdo ocorre a poucos anos (2). Fazendo relação com os dados obtidos nesta pesquisa, pode-se identificar que a maioria dos participantes se graduou há mais de dez anos, e tiveram contato com conteúdo de dinâmica de grupo durante sua formação profissional. No entanto, pelos achados, parece que os profissionais se especializam mais em aspectos orgânicos e fisiológicos do ser humano, do que em aspectos sobre emoções e relações humanas. Ambas são importantes, pois fazem parte do cotidiano da atuação profissional. Mas não buscar conhecer sobre as relações humanas e suas nuances, favorece a possibilidade de que elas sejam consideradas de maneira empírica. A pessoa pode ter sorte e manejar as situações cotidianas de maneira coerente, mas muitos aspectos podem passar despercebidos. Entendendo que a equipe de enfermagem constitui-se num grupo, cada um tem sua função específica, e todos interagem, tendo como coordenador o enfermeiro (3). Nesse sentido, os participantes que responderam saber o significado de grupo operativo foram poucos, 31%. Estes também apontaram considerar sua equipe tendo esta forma de funcionamento. Por outro lado, um número alto de profissionais mostrou desconhecer o significado de grupo operativo, 66%, assim não poderiam responder se a equipe é um grupo operativo, nem conhecer o autor responsável pela construção dessa base teórica. Possivelmente por esse desconhecimento, as demais questões teóricas também não puderam ser respondidas.
6 76 Grossmann E, Kohlrausch E. Grupo e funcionamento grupal na atividade dos enfermeiros: No funcionamento do grupo, ocorrem fatores conscientes e inconscientes que refletem diretamente na mente, corpo e mundo exterior do indivíduo (6). Os enfermeiros responderam que desconhecem os fatores inconscientes que ocorrem neste meio. Todos os movimentos que existem num grupo são importantes, mas os supostos básicos, pelo fato de serem inconscientes, muitas vezes são sutis e difíceis de detectar. Se o coordenador não conhece esses mecanismos de funcionamento, certamente não poderá identificálos, favorecendo a possibilidade do grupo trabalhar mais em nível de supostos básicos do que como grupo de trabalho (6). O que surpreende não é o simples desconhecimento das teorias, mas o fato de que 69,4% dos participantes tiveram contato com este conteúdo na graduação. Imagina-se que tenham estudado a importância de conhecer sobre o tema para coordenar sua equipe, no entanto a utilização do conhecimento empírico, que adquiriram ao longo dos anos de prática, prevaleceu, somando 77,7% dos participantes. Utilizando o conhecimento teórico e empírico, o enfermeiro possui instrumentos para trabalhar com as emoções do grupo e fundamentar o seu agir, dando suporte ao trabalho. Esse conhecimento lhe possibilita planejar com maior sucesso as atividades, realizar a distribuição de tarefas e a avaliação do desenvolvimento do trabalho no grupo (2). Talvez por isso, se encontra na literatura informações sobre a importância de existir motivação interna e gosto por trabalhar em grupo, para que este tenha um funcionamento mais efetivo (2). Pode-se dizer que este fator existe nos participantes, já que todos afirmaram gostar de trabalhar em grupo e com grupos, e também se sabe que para alcançar os objetivos de cuidado, é necessário que haja um funcionamento harmônico entre os membros da equipe. Um dos fatores que influencia neste funcionamento é a existência ou não da continência no grupo (3). Um bom funcionamento pode se dar através de limites, regras, combinações e a existência de um momento para o grupo discutir as questões relacionadas ao trabalho. Sobre esse tema, os participantes responderam com unanimidade que realizam reuniões com suas equipes, mas a freqüência foi muito variada, desde encontros mensais (44%) até de acordo com a necessidade do grupo (14%). Se existe um grupo que convive diariamente no trabalho, vivenciando situações delicadas na lida do cuidado, certamente necessita dar conta dos sentimentos despertados em relação aos próprios colegas, e em relação aos clientes e familiares. Ainda em relação à continência do grupo, os dados apontam que 75% dos profissionais não possuem tempo definido para realizar suas reuniões. Pode-se pensar então, que esta pode durar quinze minutos, como também pode durar muito tempo. Quando existe uma combinação da duração das reuniões, o profissional vai preparado para permanecer no local durante o tempo previsto, e tem condições de organizar seu processo de trabalho. Essa idéia se fundamenta no fato de que, para que o grupo alcance o que deseja, precisa ter segurança, e esta se dá também através do modo de funcionamento (11). As reuniões agendadas, com horário, local, dia, tempo de início e término definidos, e o cumprimento dos mesmos, são formas de dar limite e segurança ao grupo. Assim, os componentes sabem que têm o seu momento para tratar de suas questões. Quando isto não acontece, o grupo fica perdido, pois como a reunião pode ser este mês, também pode ser daqui a três meses. Isso pode se refletir no cuidado, pois o objetivo do trabalho é prestar o cuidado ao ser humano com qualidade (4). Por que motivo o grupo iria cumprir com prazos definidos e com limites às tarefas distribuídas pelo coordenador, se ele não tem nada definido? A valorização do coordenador para com sua equipe também se reflete pelo modo com que este conduz o grupo, ou seja, quão importante é a equipe, e quanto tempo ele reserva para se reunir com ela (12).
7 Grossmann E, Kohlrausch E. Grupo e funcionamento grupal na atividade dos enfermeiros: 77 Em relação à temática de busca de mais conhecimento sobre grupos, prevaleceu o número de profissionais que afirmaram tê-lo feito pela necessidade sentida em função do trabalho em equipe, perfazendo 36,11%. Este dado é interessante, pois em outra pesquisa, surgiu a informação de que os enfermeiros buscam se aprimorar nesta área por necessidade do serviço, mas vinculado ao funcionamento de relações com usuários, e não por dificuldades em relação à equipe de trabalho (2). Alguns profissionais também informaram ter buscado instrumentos teóricos para melhor atender aos usuários, porém, as respostas prevaleceram em relação às necessidades com a equipe de enfermagem. De acordo com os dados coletados e já expostos anteriormente, 69,4% dos participantes tiveram contato com conteúdos de dinâmica de grupo durante a graduação, porém 66% responderam não saber o significado de grupo operativo e 89% dos participantes responderam desconhecer o que são supostos básicos. Interessante e contraditório é que 77% dos profissionais responderam utilizar tanto conhecimento empírico quanto teórico para trabalhar com sua equipe. No entanto, as questões sobre conhecimento teórico foram respondidas por poucos participantes e somente um profissional soube o nome do autor responsável por desenvolver a base teórica dos grupos operativos. No questionário, existia a alternativa de escrever o nome do autor de conhecimento do participante, porém esta não foi preenchida por nenhum profissional. Esse fato pode ter influência e relação com o ensino aplicado nos cursos de graduação. As universidades brasileiras variam em aspectos ligados ao ensino sobre a temática, tais como carga horária destinada, objetivos e métodos de ensino sem foco para o aprendizado em relação a coordenar grupos (16). 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS Na realização deste estudo buscou-se verificar o conhecimento dos enfermeiros sobre grupo e funcionamento grupal, bem como saber quais são as premissas que fundamentam e sustentam suas atividades enquanto coordenadores de grupo, em suas equipes de trabalho. Durante a coleta de dados foi possível perceber a dificuldade dos profissionais em responder às perguntas contidas no questionário, manifestando desconforto verbal e no comportamento, por não saberem qual das respostas marcar. Isto se evidencia na medida em que os achados apontam que 66% dos profissionais não sabem o que é grupo operativo, que somente 1% soube responder quem é o autor responsável pela base teórica dos grupos operativos, 89% dos participantes responderam não saber o que são supostos básicos e que 91,6% não responderam em que nível da psique ocorrem os supostos básicos. Esses resultados podem ser considerados preocupantes, pois se tratam de profissionais que atuam em uma instituição de referência, tanto na qualidade de atendimento e tecnologia, quanto de ensino. Sabe-se que os profissionais de enfermagem trabalham constantemente em equipe, e por conseqüência funcionam como grupo, o que foi confirmado também nesta pesquisa. A dificuldade de realizar encontros onde são tratados sentimentos do grupo, percebidos durante a experiência profissional, também apareceu na instituição pesquisada. Apesar de já terem tido contato com conteúdos de dinâmica de grupo na graduação, muitos profissionais utilizam o conhecimento empírico para fundamentar o trabalho com a equipe de enfermagem. Entende-se que utilizando somente este conhecimento para coordenação do grupo, o enfermeiro corre o risco do grupo funcionar na modalidade de supostos básicos, e não como grupo de trabalho. Dessa forma, o alcance dos objetivos é bem mais difícil, pois os movimentos inconscientes podem não estar sendo detectados pelo coordenador. Compreende-se as dificuldades que permeiam o
8 78 Grossmann E, Kohlrausch E. Grupo e funcionamento grupal na atividade dos enfermeiros: processo de trabalho, mas imagina-se que um hospital do porte da instituição em questão, com pesquisadores em diversas áreas do conhecimento, possa tentar promover a reflexão sobre esta questão e lembrar o benefício ao cliente que este preparo profissional pode acarretar. Em decorrência dos resultados encontrados sugere-se algumas formas de promover o conhecimento sobre grupos aos enfermeiros das unidades de internação clínica do hospital pesquisado. Uma das opções é organizar seminários sobre o tema, direcionados aos enfermeiros. Para este fim, podem ser convidados enfermeiros que conhecem o assunto e atuam na própria instituição, facilitando o acesso aos profissionais. Também podem ser montados cursos em módulos, separando o conteúdo em etapas. Outra possibilidade seria organizar um encontro semanal, por uma hora se for possível, para discutir o assunto, tendo como coordenador uma pessoa que domine o tema. Podem ainda ser montados grupos de estudo sobre a parte teórica, e outro grupo, para discussão sobre o funcionamento do próprio grupo de trabalho e sentimentos, fazendo uma relação entre a teoria e a prática. Essas são algumas alternativas que podem ser adotadas pelos profissionais para buscar suporte e aprimoramento do trabalho de equipe já desenvolvido por eles. A busca desse conhecimento certamente refletirá na qualidade da assistência oferecida ao cliente, essencial para a profissão da enfermagem. REFERÊNCIAS 1 Grossmann E. O conhecimento de enfermeiros sobre grupo e sobre o funcionamento grupal [monografia de Especialização em Enfermagem em Saúde Mental]. Porto Alegre (RS): Escola de Enfermagem, Universidade Federal do Rio Grande do Sul; f. 2 Munari DB, Rodrigues ARF. Enfermagem e grupos. 2 a ed. Goiânia (GO): AB; p. 3 Zimerman DE. Fundamentos básicos das grupoterapias. 2 a ed. Porto Alegre (RS): ARTMED; p. 4 Morgan AJ, Moreno JW. La práctica de enfermería de Salud Mental: un enfoque comunitario. Colombia: Organización Mundial de la Salud; Organizacion Panamericana de la Salud; p. 5 Osório LC. Grupos teorias e práticas: acessando a era da grupalidade. Porto Alegre (RS): ARTMED; p. 6 Bion WR. Experiências com grupos. São Paulo: Imago; p. 7 Mailhiot GB. Dinâmica e gênese dos grupos. 4 a ed. São Paulo: Duas Cidades; p. 8 Bersusa AS, Riccio GM. Trabalho em equipe: instrumento básico de enfermagem. In: Cianciarullo TI. Instrumentos básicos para o cuidar: um desafio para a qualidade de assistência. São Paulo: Atheneu; p. p Silva KMC, Corrêa AK. O trabalho em grupo: vivências de alunos de enfermagem. Revista Brasileira de Enfermagem, Brasília (DF) 2002 jul/ago; 55(4): Zimerman DE, Osório LC. Como trabalhamos com grupos. Porto Alegre (RS): Artes Médicas; p. 11 Pichon-Rivière E. O processo grupal. 6 a ed. São Paulo: Martins Fontes; p. 12 Cianciarullo TI. Instrumentos básicos para o cuidar: um desafio para a qualidade de assistência. São Paulo: Atheneu; p. 13 Polit DS, Hungler BP. Fundamentos da pesquisa em enfermagem. 3ª ed. Porto Alegre (RS): ART- MED; p. 14 Ministério da Saúde (BR), Conselho Nacional de Saúde, Comissão Nacional de Ética em Pesquisa em Seres Humanos. Resolução 196, de 10 de outubro de 1996: diretrizes e normas reguladoras de pesquisa envolvendo seres humanos. Brasília (DF); p. 15 Rudio FV. Introdução ao projeto de pesquisa científica. 15ª ed. Petrópolis (RJ): Vozes; p.
9 Grossmann E, Kohlrausch E. Grupo e funcionamento grupal na atividade dos enfermeiros: Munari DB, Rocha BS, Nunes DS, Medeiros M. O ensino da temática de grupo nos cursos de graduação em enfermagem no Brasil. Revista Gaúcha de Enfermagem, Porto Alegre (RS) 2005 ago;26(2): Endereço da autora/author s address: Eglê Kohlrausch Rua São Manoel, , Porto Alegre, RS eglek@hotmail.com Recebido em: 08/07/2005 Aprovado em: 28/11/2005
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