ANÁLISE DAS RELAÇÕES ENTRE O CRONOTIPO, GÊNERO E TREINAMENTO PERSONALIZADO NA ADERÊNCIA AO EXERCÍCIO FÍSICO
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- Maria Júlia de Sousa Brandt
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1 ANÁLISE DAS RELAÇÕES ENTRE O CRONOTIPO, GÊNERO E TREINAMENTO PERSONALIZADO NA ADERÊNCIA AO EXERCÍCIO FÍSICO Tiago Durães Coelho 1, Débora Alves Guariglia 2 RESUMO De acordo com a cronobiologia, as funções dos organismos vivos variam ao longo das 24 horas do dia, além disso, a preferência temporal para a realização de atividades em determinados horários do dia característico de cada indivíduo dá-se o nome de cronotipo. Portanto, o presente trabalho objetivou verificar a existência de relações entre a adesão ao treinamento e a possibilidade do indivíduo treinar no seu horário preferencial. Além disso, informações adicionais foram investigadas, como as relações entre o número de faltas e o gênero, e com treinamento personalizado. Pelos dados obtidos não houve relações entre número de faltas e fatores como: treinar ou não no cronotipo (P=0,923), treinamento personalizado ou não e o número de faltas (P=0,23) e também não houve relações entre gêneros e o número de faltas (P=0,113). Portanto, conclui-se que a aderência ao treinamento está relacionada a outros fatores além dos investigados. Palavras-chave: atividade física. cronobiologia. cronotipo. aderência. Treinamento ABSTRACT According to chronobiology, the functions of living organisms change over the 24-hour days, in addition to time preference for carrying out activities to achieve in certain characteristic of each individual is given the name of chronotype. This study aimed to verify the relationship between the number of faults in training or not in the chronotype. Further information were investigated, including the number of absences and gender and with training or not with personal training. From the data obtained no relationship between number of absences and factors such as training or not training in chrono-paced training (P=0,923), or without personal training and number of faults (P=0,23) and there were no relation between genders and grip the number of faults (P=0,113). Therefore, we conclude that adherence to training is related to other factors than those investigated. Key-words: physical activity. chronobiology. chronotype. adherence. training. INTRODUÇÃO Os benefícios da prática da atividade física regular para a saúde têm sido amplamente documentados (BOUCHARD, BLAIR e HASKELL, 2007; DARREN et al, 2006). Entretanto, a vida moderna contraria a prática da atividade física na medida em que provoca comodidade e consequente diminuição dos níveis de atividade física, além do cansaço e estresse do dia-a-dia. Com isso as pessoas tornam-se cada vez mais sedentárias e mais propensas ao aparecimento de disfunções orgânicas. 1 Especialista em Treinamento Personalizado e Musculação UNOPAR - Londrina-PR; Graduado em Educação Física UEL Londrina - PR 2 Mestre em Educação Física UEL Londrina PR; Graduada em Educação Física UEL Londrina PR; Docente do Curso de Educação Física FAESO Ourinhos - SP 140
2 As academias são uma opção para a população urbana promover a saúde ou sentir-se melhor. Estudos evidenciam que os indivíduos procuram as academias de ginástica com o objetivos diversificados, da estética corporal à compensação ou correção de problemas físicos. Já em relação a adesão à prática de atividades físicas, os principais fatores relacionados são referentes ao divertimento, a sentir-se bem, controle de peso, melhora da flexibilidade e a redução dos níveis de estresse (TAHARA et al., 2003). Sabe-se, através de estudos cronobiológicos, que as variáveis fisiológicas apresentam uma flutuação regular e periódica em sua intensidade ao longo das 24 horas do dia. Além dessas variações quantitativas, os diversos sistemas fisiológicos respondem a um mesmo estímulo de forma diferente, de acordo com a hora do dia (MARQUES e MENNA-BARRETO, 2003). Sendo assim, o objetivo do presente estudo foi verificar a existência de relações entre o número de faltas no treinamento e em treinar ou não no cronotipo. Além disso, informações adicionais foram investigadas, a adesão ao treinamento e o gênero e treinar ou não com personal trainer. MATERIAIS E MÉTODOS Caracterização da Amostra Esta pesquisa foi realizada em outubro de 2010, com uma amostra de 58 alunos regularmente matriculados em uma academia do município de Londrina/PR, com idades variando de 18 a 50 anos, de ambos os gêneros e com nível de escolaridade diversificado. Metodologia Para a identificação do cronotipo, aplicou-se um questionário que foi respondido individualmente por cada indivíduo proposto por Horne e Ostberg (1976) e adaptado para a população brasileira por BENEDITO et al (1990). Foram acrescidas algumas questões objetivas e somente foram utilizadas a fim de subsidiar o estudo nas variáveis investigadas. As questões realizadas serão apresentadas abaixo: 141
3 Com que frequencia você costuma ir à academia na semana? ( ) 1x ( ) 2 X ( ) 3 X ( ) 4 X ( ) 5 X Qual o seu horário de treino? Início ( : ) Fim ( : ) Treinamento Personalizado Sem Treinamento Personalizado Com que frequência você costuma faltar na semana na academia? ( ) 1x ( ) 2 X ( ) 3 X ( ) 4 X ( ) 5 X Com que frequência você costuma faltar na academia no mês? Treina com personal? ( ) Sim ( ) Não Para determinar se o individuo treinava dentro do seu período preferido, segundo o seu cronotipo, foi verificado se o horário de treinamento do indivíduo estava de acordo com os critérios de classificação do cronotipo de Benedito et al (1990). ANÁLISE ESTATÍSTICA Foi verificada a normalidade dos dados e todos os dados apresentaram-se não paramétricos. Assim, para verificar relações existentes como número de faltas e categorias de gênero, treinar ou não com personal e treinar ou não no cronotipo foi utlizado o teste Qui-quadrado. Todas as análises foram realizadas no programa SPSS 13.0 e a significância estatística adotada foi de 5%. RESULTADOS Dos 58 voluntários da presente pesquisa, 28 eram do gênero masculino e 30 do feminino. Entre eles 16 indivíduos realizavam treinamento com personal trainer e 42 treinavam sozinhos ou com parceiros de treino. Na Tabela I são apresentados valores descritivos referentes ao treinamento personalizado e não personalizado e à aderência - número de faltas. 142
4 Mediana I.C. Mediana I.C. Número de faltas 1 0,52 3,73 2 2,23 4,06 Tabela I: Mediana e Intervalo de Confiança (I.C) referente à aderência - número de faltas - entre os indivíduos com treinamento personalizado e não personalizado. E a Figura 1 apresenta a distribuição de resultados Figura1: Relação entre treinar ou não com personal e as categorias de faltas. Qui-quadrado = 1,42 e P = 0,23 Na Tabela II são apresentados valores descritivos referentes ao número de faltas entre os indivíduos que treinam ou não no cronotipo. Tabela II: Mediana e Intervalo de Confiança (I.C) referente ao número de faltas entre os indivíduos que treinam ou não no cronotipo. Treina no Cronotipo Treina fora do Cronotipo Mediana I.C. Mediana I.C. Número de faltas 2 1,84 3,48 2 1,48 4,82 No presente estudo, verificou-se que as pessoas que não treinam no horário preferencial do cronotipo apresentam frequências de falta iguais as que não treinam no horário preferencial, assim, essa relação não foi significativa perante a estatística utilizada, com um P = 0,923, observados na tabela 2 e figura
5 Qui-quadrado = 0,009 e P = 0,923 Figura 2: Relação entre treinar ou não no cronotipo e as categorias de faltas. E na tabela 3 são apresentados valores descritivos referentes ao gênero e o número de faltas. Tabela III: Mediana e Intervalo de Confiança (I.C) referente ao número de faltas entre os indivíduos dos diferentes gêneros. Homens Mulheres Mediana I.C. Mediana I.C. Número de faltas 1,5 1,21 3,15 3 2,28 4,72 No presente estudo observa-se que apesar das mulheres obterem valores maiores em relação à aderência - número de faltas, essa relação não foi significativa pela estatística utilizada, P = 0,113, observados na tabela 3 e figura
6 Figura 3: Relação entre número de faltas e gênero. DISCUSSÃO Em relação ao número de faltas dos alunos respondentes, embora não existam na literatura estudos referentes ao treinamento personalizado e a sua aderência - número de faltas. Essa variável foi hipotetizada conforme, Lacerda e Abbad (2003,) sendo razão ou justificativa para as ações dos indivíduos em relação à direção, esforço, intensidade e persistência com que os treinados se engajam nas atividades orientadas para aprendizagem antes, durante e depois do treinamento. Observou-se no presente estudo que apesar de as pessoas que treinam sem personal apresentarem maiores frequências, essa relação não foi significativa. Ainda que não existam trabalhos sobre aderência - número de faltas - entre os indivíduos que treinam ou não no cronotipo, outros estudos evidenciam preferências de horários de trabalho como o feito com servidores técnicos adminitrativos do Centro de Ciências Biológicas da Universidade Estadual de Maringá realizado por Stabille, Gongora e Miranda-Neto (2000) em que os definitivamente matutinos e moderadamente matutinos escolhem o período da manhã. Já os moderadamente vespertinos prefererem os horários da tarde ou da noite. Os horários escolhidos pelos intermediários variaram entre os três períodos do dia. Os autores concluíram que a minoria não trabalha em 145
7 horário condizente com seu cronotipo, e que o horário preferencial de trabalho referido pela maioria é adequado ao cronotipo da mesma e representa, segundo os autores, o período ideal provável para obtenção de maior nível de produtividade. Em outro estudo, Bertoli, Stabille e Evangelista (2001) realizaram uma pesquisa com acadêmicos do curso de um curso de Ciências Biológicas e concluíram que parte dos alunos frequentavam o curso em horário inapropriado ao seu cronotipo, incompatibilizando-a com melhores condições de vida dos estudantes. Todavia, no estudo de realizado por Campos e De Martino (2004) com enfermeiros em diferentes turnos de trabalho, verificou que os enfermeiros encontram satisfeitos e motivados com os horários e as condições de trabalho da instituição. Com relação a gênero e níveis de prática de atividade física, o estudo de Matsudo et al. (2002) com 2001 indivíduos entrevistados e com idades variando entre 17 a 77 anos de idade, sendo 953 indivíduos do sexo masculino e 1048 do sexo feminino, que foram selecionados de 29 cidades de grande, médio e pequeno porte do Estado de São Paulo. Demonstrou-se similaridade entre os gêneros, sendo 54,5% e 52,7% de homens e mulheres considerados ativos e muito ativos, respectivamente. Já no que diz respeito às atividades físicas realizadas no tempo destinado ao lazer no estudo conduzido por Costa et al. (2003) verifica-se que que os homens se engajam mais em atividades físicas coletivas e de caráter competitivo e as mulheres em atividades individuais, que requerem do corpo menos força física, além disso, pelos valores encontrados houve um domínio masculino na prática de atividade física realizada no tempo de lazer. CONCLUSÃO Não houve relações entre a aderência observada pelo número de faltas durante 1 mês ao treinamento e fatores como: treinar ou não no cronotipo, treinamento personalizado ou sem treinamento personalizado e diferenças entre gêneros. Assim, conclui-se que a aderência ao treinamento está relacionada a outros fatores além dos investigados no presente estudo. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 146
8 BENEDITO-SILVA, A, A; MENNA-BARRETO, L; MARQUES, N, TENREIRO S. A self-assessment questionnaire for the determination of morningness-eveningness types in Brazil. Progress in Clinical and Biological Research, 341 B: p , BERTOLI, J, S; STABILLE, S, R; EVANGELISTA, C, C, B. Cronotipo de alunos do curso de Ciências Biológicas da Universidade de Mato Grosso do Sul Mundo Novo. Arquivo Ciências da Saúde Unipar, v. 8, n. 6, p , set-dez BOUCHARD, C; BLAIR, S, N; HASKELL, W, L. Physical Activity and Health. Human Kinetics, CAMPOS, M, L, P; DE MARTINO, M, M, F. Aspectos Cronobiológicos do ciclo vigília-sono e níveis de ansiedade dos enfermeiros nos diferentes turnos de trabalho. Rev. Escr. Enferm. Universidade de São Paulo, v. 38, n. 4, p , COSTA, R, S; HEILBORN, M, L; WERNECK, G, L; FAERSTEIN, E; LOPES, C, S. Gênero e prática de atividade física de lazer. Caderno de Saúde Pública, v. 19, n. 2, p , DARREN, W, E, R; CRYSTAL, N, W; SHANNON, Bredin, S, D. Health benefits of physical activity: the evidence. Canadian Medical Association Journal, v. 174, n. 6, p , mar HORNE JA, ÖSTBERG O. A self-assessment questionnaire to determine morningnesseveningness in human circadian rhythms. International Journal of Chronobiology, v. 4, n. 2, p , LACERDA, E, R, M; ABBAD, G. Impacto do treinamento no trabalho: investigando variáveis motivacionais e organizacionais como suas preditoras. Revista de Administração Contemporânea, v. 7, n. 4, p , out-dez MARQUES N, MENNA-BARRETO L. CRONOBIOLOGIA: Princípios e Aplicações. ed: Universidade de São Paulo, MATSUDO, S, M; MATSUDO, V, R; ARAÚJO, T; ANDRADE, D; ANDRADE, E; OLIVEIRA, L; BRAGGION, G. Nível de atividade física da população do Estado de São Paulo: análise de acordo com o gênero, idade, nível socioeconômico, distribuição geográfica e de conhecimento. Revista Brasileira Ciência e Movimento, v. 10, n. 4, p , out SATABILLE, S, R; GONGORA, E, M; MIRANDA-NETO, M, H. Cronotipos e horários adequados para o trabalho de servidores técnico-administrativos do centro de ciências biológicas da Universidade Estadual de Maringá no ano de Arquivo Ciências da Saúde Unipar, v. 5, n. 3, p , set-dez TAHARA, A, K; SCHWARTZ, G. M; SILVA, K, A. Aderência e manutenção da prática de exercícios em academias. Revista Brasileira Ciência e Movimento, v. 11, n. 4, p. 7-12,
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