SLACKLINE E EDUCAÇÃO FÍSICA: EXPERIÊNCIAS DO PROJETO DE EXTENSÃO LAZER E RECREAÇÃO
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- Lorenzo Aleixo Azeredo
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1 SLACKLINE E EDUCAÇÃO FÍSICA: EXPERIÊNCIAS DO PROJETO DE EXTENSÃO LAZER E RECREAÇÃO Recebido em: 10/06/2014 Aceito em: 17/11/2014 Priscila Mari dos Santos 1 Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Florianópolis - SC Brasil Alcyane Marinho 2 Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) Florianópolis - SC Brasil RESUMO: Este trabalho relata os resultados de uma oficina de slackline, entendido como atividade de aventura e como possibilidade de lazer, desenvolvida no contexto do Projeto de Extensão Lazer e Recreação de uma universidade pública de Santa Catarina. Dezenove participantes, estudantes de Educação Física, responderam a um questionário contendo perguntas abertas e fechadas relativas à avaliação dessa iniciativa e sobre as contribuições da oficina para sua formação profissional, cujas análises foram feitas por meio de análise de conteúdo e estatística descritiva. A maioria ficou satisfeita com a oficina e observou contribuições do slackline para a sua formação, por representar uma técnica possível de aplicar com diferentes públicos e objetivos, no contexto recreativo e/ou da atividade física, destacando-se o componente lúdico. O slackline passou a ser vislumbrado como possibilidade de atuação profissional no lazer. PALAVRAS CHAVE: Recreação. Atividades de Lazer. Educação Física e Treinamento. SLACKLINE AND PHYSICAL EDUCATION: EXPERIENCES OF PROJECT SCOPE "LEISURE AND RECREATION" ABSTRACT: This paper reports the results of a workshop slackline, understood as the activity of adventure and a possibility of leisure, developed in the context of the extension project "Leisure and Recreation" at a public university in Santa Catarina. Nineteen participants, Physical Education students answered a questionnaire with open and closed for the evaluation of this initiative, and on the contributions of the workshop 1 Mestranda em Educação Física. Programa de Pós-graduação em Educação Física (PPGEF) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Bolsista de Mestrado - CNPq. Membro do Laboratório de Pesquisa em Lazer e Atividade Física (LAPLAF) da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). 2 Professora Adjunta do Centro de Ciências da Saúde e do Esporte (CEFID) da UDESC. Professora Permanente do PPGEF da UFSC. Líder do LAPLAF/UDESC/CNPq. 306
2 for vocational training, whose analyzes were performed by means of content analysis and descriptive statistical questions. Most were satisfied with the workshop and noted the contributions slackline for your training, because it represents a possible technique of applying to different audiences and objectives, in recreation and / or physical activity context, highlighting the playful component. The slackline became envisioned as a possibility of professional experience in leisure. KEYWORDS: Recreation. Leisure Activities. Physical Education and Training. Introdução Slackline é considerada uma atividade esportiva que envolve o deslocamento em equilíbrio sobre uma fita de nylon, estreita e flexível, esticada na horizontal e fixada em dois pontos diferentes, distante a uma altura que varia desde 30 centímetros do solo até mais de uma centena de metros (PEREIRA, 2013). Pode ser praticada em diferentes ambientes, os quais caracterizam suas variações (tais como: waterline, highline, trickline, longline, entre outras). Cardozo e Neto (2010) apontam que a origem do slackline ainda está sendo investigada, contudo, há indícios de que a atividade tenha surgido na década de 1980, na Califórnia, por um grupo de escaladores que esticaram suas fitas e começaram a se equilibrar sobre elas, em um momento no qual as condições climáticas os impossibilitavam de praticar a escalada. Os autores explicam que o slackline também aparece relacionado à atividade circense, devido à utilização de uma corda bamba pelos artistas para se equilibrarem e realizarem movimentos acrobáticos durante suas apresentações. Ao investigar aspectos técnicos da prática do slackline, bem como suas exigências físicas, especialmente de habilidades motoras, estudos sugerem que essa atividade, além de exigir concentração e consciência corporal, pode se configurar como uma estratégia de treinamento para o desempenho em outras modalidades esportivas 307
3 que requerem, principalmente, a capacidade de equilíbrio; ou como possibilidade de proporcionar benefícios à saúde de quem o pratica (PEREIRA et al., 2011; COUTO; BERNARDES; PEREIRA, 2013; SANTOS, 2013). Para além desses aspectos, Poli, Silva e Pereira (2012) apontam que o slackline pode auxiliar na motivação de alunos para participarem de aulas de Educação Física no contexto escolar, tendo em vista as características desafiadora e inovadora dessa atividade. Dessa forma, ao poder ser realizado em diferentes ambientes, com distintos objetivos, e, conforme com suas particularidades, especialmente pelo risco controlado eminente, o slackline pode ser entendido como uma atividade de aventura. Conforme Marinho e Inácio (2007), a busca pela aventura se caracteriza pela emergência histórica de imagens, valores, conhecimentos, metáforas e paradoxos, intimamente atrelados à condição humana na sociedade contemporânea, a qual tem a singular capacidade de influenciar na vida social como um todo. Nessa perspectiva, é pertinente ressaltar que a aventura, como fenômeno mais amplo, tem sido associada a diferentes terminologias para referenciar seus desdobramentos, tais como esportes de aventura, turismo de aventura, esportes de aventura na natureza, entre outras que têm levantado diversos questionamentos e problematizado o fenômeno sob o olhar de diferentes áreas do conhecimento. Neste estudo, ao se preconizar a utilização do termo atividades de aventura, acredita-se ser possível o alcance de múltiplas possibilidades com atributos inovadores e diferenciados dos esportes tradicionais (voleibol, futebol, basquetebol, etc.), haja vista as particularidades das condições de prática, dos objetivos, das características, dos meios e dos equipamentos utilizados para o desenvolvimento das atividades de aventura, e da própria motivação do praticante (MARINHO, 2013). Sendo realizadas no meio natural, 308
4 urbano ou artificial, com finalidade turística, física, competitiva, recreativa ou educativa (FIGUEIREDO; SCHWARTZ, 2013), considera-se as atividades de aventura como possibilidades férteis de vivências no lazer. O lazer, por sua vez, está sendo compreendido como um segmento complexo da vida social, constituindo-se em um direito de todos e em um princípio de construção da cidadania, capaz de criar diferentes possibilidades de contestação, de mudança de atitudes, de transformação de olhares, sendo expresso por meio da vivência de distintas manifestações culturais, em um tempo/espaço conquistado pelo sujeito ou grupo social e privilegiado para a manifestação do lúdico (GOMES, 2004; MARCELLINO, 2012). Nesse sentido, o lazer pode também oportunizar a manifestação de diferentes formas de convívio com o ambiente natural, por meio da vivência de jogos, esportes, desafios, entre outros elementos (GOMES; ISAYAMA, 2009), neste caso, especialmente por meio de atividades de aventura como o slackline. Para além do slackline, pode-se observar uma variedade de atividades de aventura sendo desenvolvidas em diferentes contextos de prática, bem como discutidas em distintos debates acadêmicos e populares, conforme seus significados, valores, status, formas e identidades (BETRÁN, 1995; COSTA, 2002; MARINHO; BRUHNS, 2006; MARINHO, 2013). Uma característica que desperta a atenção, dentre as estruturas analíticas nesse cenário, reporta-se às questões voltadas à formação do profissional que atua com essas atividades, as quais, frequentemente, relacionam-se à formação inicial em Educação Física. A responsabilidade de qualificar profissionais para intervirem no âmbito da aventura recai comumente sobre os cursos de graduação em Educação Física, uma vez que, atentos às novas demandas de práticas corporais, devem perceber a necessidade de 309
5 alterações conceituais e estruturais em seus currículos, a fim de atenderem aos diferentes e inovadores campos de intervenção atrelados à cultura de movimento humano (HUNGER et al., 2006; NASCIMENTO, 2002; SOUZA; MARTINELI, 2009). A temática da formação profissional em Educação Física ganhou destaque a partir da década de 1990, passando por inúmeras transformações associadas à evolução dos próprios elementos relacionados à formação (clientela atingida; entidades que oferecem os cursos; e conteúdos de aprendizagem) e à diversidade dos modelos de currículo no ensino superior (NASCIMENTO, 2002, 2006). A reestruturação curricular nos cursos de formação inicial dessa área tem contribuído para a divulgação e a expansão do segmento de aventura (TEIXEIRA; MARINHO, 2010). Entretanto, o estudo desse assunto no âmbito das atividades de aventura, especialmente no que se refere às possíveis contribuições da vivência dessas atividades para a formação profissional em Educação Física, ainda é incipiente no cenário nacional. As pesquisas realizadas sobre o tema investigam mais frequentemente aspectos relacionados ao perfil do profissional que atua com essas atividades e as características de sua formação (PAIXÃO; COSTA, 2008; PAIXÃO, 2012; ARAÚJO, 2012; AURICCHIO, 2013) em detrimento às possíveis contribuições da vivência de atividades de aventura, aqui especificamente do slackline, para a formação profissional em Educação Física como um todo (PEREIRA, 2013). Parte-se do pressuposto de que as atividades de aventura podem se configurar como uma via eficaz de desenvolvimento de habilidades e competências, pois elas contêm o risco controlado como motivador das habilidades necessárias para estimular o desenvolvimento humano, tendo importante valor formativo (MARINHO, 2004; OLIVEIRA, 2013). Além disso, o conteúdo envolvendo a aventura se apresenta como 310
6 uma possibilidade significativa para a vivência de emoções e sensações que podem ser capazes de contribuir para mudanças de comportamentos e atitudes, relacionadas às demais esferas da vida humana (MARINHO; INÁCIO, 2007), entre as quais, destacase, aqui, a esfera do trabalho, que, por sua vez, perpassa por aspectos atrelados à formação profissional. Considerando a abrangência do fenômeno aventura, bem como a exigência imposta pelo mercado de trabalho, no sentido de contar com profissionais qualificados para atuar nos diferentes campos de intervenção que constituem a área da Educação Física, reafirma-se a necessidade de potencializar esses assuntos, relacionado-os e problematizando-os. Marinho e Inácio (2007) salientam que as atividades de aventura têm sido abordadas timidamente em cursos de formação inicial, mas são devidamente assimiladas pelo mercado do lazer. Assim, no contexto universitário, o estudo dessas atividades poderia privilegiar a atual demanda da aventura relacionada ao lazer, demarcando novas possibilidades no mercado de trabalho e evidenciando tais práticas como valiosas oportunidades para mudanças de comportamentos, atitudes e valores (MARINHO, 2004). Os conteúdos da aventura podem ser explorados, nesse contexto, tanto por meio de disciplinas específicas, inseridas na estrutura curricular dos cursos de formação inicial, como por meio de projetos de ensino, extensão e pesquisa. Assim como Marinho, Santos e Farias (2012), acredita-se nesses projetos, neste caso, especificamente, nos de extensão, como importantes alternativas para intervenções pedagógicas, visando à participação e à capacitação de alunos para questões pouco abordadas e exploradas nos cursos de graduação em Educação Física, como no caso das questões relativas ao fenômeno aventura. 311
7 Nesta direção, é possível concordar com Pereira (2013) que o slackline, como possibilidade pedagógica atrelada à aventura, incluída nos cursos de formação inicial em Educação Física, pode gerar novas perspectivas de aprendizagem e reflexões sobre a formação profissional a partir de pontos de vista distintos dos que normalmente a área tem se pautado. Diante dessas considerações, este trabalho tem como objetivo investigar as contribuições do slackline, entendido como atividade de aventura e como possibilidade de lazer, para a formação profissional em Educação Física. Para tanto, reporta-se aos resultados de uma oficina de slackline desenvolvida com alunos de uma universidade pública de Santa Catarina. Essa oficina é parte do Projeto de Extensão Lazer e Recreação desenvolvido na instituição em questão, cujo objetivo é capacitar acadêmicos e demais interessados da comunidade para atuar na área do lazer, fornecendo subsídios para o planejamento, a elaboração, a execução e a avaliação de distintas atividades nesse contexto. Percurso metodológico Para relatar as experiências da oficina de slackline, integrante do Projeto de Extensão Lazer e Recreação, recorreu-se a uma metodologia descritiva com abordagens quantitativa e qualitativa de dados obtidos por meio de um questionário respondido pelos participantes ao término da oficina. Essa oficina foi ofertada durante os meses de abril e maio de 2013, sendo dividida em quatro encontros quinzenais, com carga horária de duas horas de atividades em cada um deles, totalizando oito horas. Participaram da oficina 29 acadêmicos dos cursos de Educação Física, Fisioterapia, Ciências Biológicas e Artes Cênicas de uma universidade pública de Santa Catarina. Os objetivos propostos na oficina foram: capacitar os participantes para atuar 312
8 com o slackline; e oportunizar o contato com uma atividade de aventura que pode ser utilizada com fins de lazer, voltada à melhoria da postura, ao fortalecimento muscular e à melhoria da saúde em geral. A oficina abordou aspectos teóricos e práticos do slackline. A parte teórica focalizou principalmente o histórico e a familiarização a essa atividade, enquanto a prática incluiu a montagem e a desmontagem do equipamento; técnicas de conservação dos materiais e dos ambientes nos quais se pratica o slackline; aspectos relacionados à segurança; exercícios de equilíbrio, concentração e força, bem como iniciação a treinos específicos com saltos e manobras. Ao término da oficina, os 29 participantes foram convidados a responder um questionário contendo sete perguntas fechadas e quatro abertas acerca da avaliação de diferentes aspectos da oficina e das possíveis contribuições dessa iniciativa para a sua formação profissional. Dentre eles, 19 acadêmicos de Educação Física aceitaram responder o questionário, concordando também em participar desta pesquisa. Assim, assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, tendo conhecimento da confidencialidade dos seus dados pessoais. As perguntas fechadas do questionário abordaram aspectos referentes à avaliação geral da oficina, tais como: nível de satisfação quanto ao ministrante; nível de satisfação quanto aos recursos físicos e materiais utilizados; nível de aprendizado oferecido; nível de aprendizado adquirido; nível da projeção e/ou aplicabilidade do conhecimento na profissão; nível de percepção corporal antes e depois da oficina. Esses itens foram respondidos conforme a seguinte escala intervalar: 0 a 3 = nível baixo; 4 a 6 = nível médio; e 7 a 10 = nível máximo. Para a análise das informações obtidas por meio dessas perguntas foi utilizada a estatística descritiva. Utilizou-se o software 313
9 Microsoft Excel versão 2007 para a tabulação dos dados e a frequência simples e o percentual para a sua apresentação. As perguntas abertas, por sua vez, abordaram questões relacionadas às possíveis contribuições da oficina de slackline para a formação profissional, a saber: como as atividades ofertadas poderiam contribuir para a formação profissional; de que forma as atividades ofertadas contribuiriam para a percepção corporal, equilíbrio, força e propriocepção; como as competências vivenciadas na oficina poderiam ser utilizadas em outro contexto de trabalho; e, por fim, foram solicitadas sugestões para próximas oficinas. As respostas obtidas foram analisadas por meio da técnica proposta por Bardin (2010), denominada análise de conteúdo. A autora a descreve como sendo um conjunto de técnicas de análise das comunicações, realizada por meio de procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, os quais permitem a obtenção de indicadores que possibilitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção dessas mensagens. Dessa forma, a análise de conteúdo foi organizada em três etapas principais: pré-análise (organização e leitura do material, e início da categorização); exploração do material e tratamentos dos resultados (criação de novas categorias de análise); inferência e interpretação (descrição dos resultados, desvelando novas informações). Relato dos resultados encontrados e das experiências proporcionadas pela oficina de slackline Os resultados da avaliação da oficina de slackline pelos 19 participantes do estudo, obtidos a partir das sete perguntas fechadas do questionário, podem ser observados na (TABELA 1). 314
10 Tabela 1: Avaliação da oficina de slackline. ASPECTOS DE AVALIAÇÃO NÍVEL DE AVALIAÇÃO 0-3 (baixo) 4-6 (médio) 7-10 (máximo) Ministrante Recursos físicos e materiais Qualidade do aprendizado oferecido Qualidade do aprendizado adquirido Projeção/aplicabilidade do conhecimento na profissão Percepção corporal antes da oficina Percepção corporal depois da oficina Os resultados encontrados permitem apontar que os participantes ficaram satisfeitos com a oficina de slackline, uma vez que a maioria atribuiu valores máximos na escala referente ao nível de avaliação sobre a satisfação com o ministrante da oficina (18), com o aproveitamento dos recursos físicos e materiais (17) e quanto à qualidade do aprendizado oferecido (17), embora alguns participantes tenham apontado como nível médio a qualidade do aprendizado adquirido (6). Esse fato pode ser justificado por se tratar de um tema novo no contexto da recreação e do lazer para o público a que se destina. Os cursos de Bacharelado e de Licenciatura em Educação Física da universidade investigada dispõem de uma disciplina que aborda especificamente as atividades de aventura e na natureza, na qual o slackline tem sido vivenciado. No entanto, essa disciplina é oferecida apenas na última fase desses cursos. Essa situação pode dificultar que os acadêmicos vivenciem diferentes possibilidades acerca da aventura em fases iniciais, não apenas no contexto do ensino, como também no âmbito da pesquisa e da extensão sobre o tema. Constata-se, por exemplo, que a maioria dos alunos, ao cursar essas disciplinas, já está na etapa final de 315
11 seus trabalhos de conclusão, impedindo, inclusive, que o assunto atividades de aventura seja um tema de pesquisa em potencial. O enquadramento das referidas disciplinas nas últimas fases dos cursos repercute em um perfil muitas vezes dissociado dos conteúdos das demais disciplinas, configurando-as como disciplinas de passeio, uma vez que não terão continuidade e desdobramentos. É importante lembrar que o vínculo das atividades de aventura com a natureza, tal como ocorre com o slackline, sejam elas recreativas, esportivas ou turísticas, não se constitui em um fenômeno novo (MARINHO, 2013). Recente é a tentativa de planejamento, organização e gestão qualitativa dessas atividades, as quais têm como profissionais, na maioria das vezes, moradores locais, em alguns casos capacitados por cursos de curta duração, devido, principalmente, aos seus conhecimentos de determinada região e advindos da própria prática (PAIXÃO; COSTA; GABRIEL, 2009). Embora não se desconsidere a importância da aprendizagem proporcionada pelas experiências (práticas) diretas com o contexto de atuação e de outras fontes de saberes (TARDIF, 2000), são prementes os conhecimentos teóricos, genéricos e específicos/contextualizados, bem como a articulação entre a teoria e a prática (PAIXÃO; COSTA, 2008). Um ou outro aspecto não parece ser suficiente para a demanda do profissional de atividades de aventura (MARINHO, 2007). Marinho (2007) acredita que uma única área não parece ser suficiente para instrumentalizar e potencializar o futuro profissional engajado nas atividades de aventura. Segundo a autora, a Educação Física, o Turismo, a Biologia, a Psicologia, a Geografia e a Educação, por exemplo, são emblemáticas nessa perspectiva e têm muito a contribuir. Por outro lado, Paixão e Costa (2008) apontam que quando o assunto é 316
12 atividades de aventura, torna-se recorrente se reportar à Educação Física em virtude da sua vinculação histórica com o esporte em diferentes contextos e ambientes e por não se ter, no Brasil, um curso de formação inicial universitária específica para o profissional que atua com essas atividades. Além disso, recentemente foram observadas mudanças nas Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de graduação em Educação Física para que os currículos universitários apresentassem disciplinas que contemplassem as questões políticas, sociais e culturais que permeiem os diversos espaços de atuação que a Educação Física abrange, incluindo o campo das atividades de aventura. Com base em tais Diretrizes, os futuros profissionais dessa área devem ter uma formação generalista, humanista e crítica, qualificadora da sua intervenção acadêmico-profissional, a qual, pautada na conduta ética e no rigor científico, deve visar a ampliação e o enriquecimento cultural das pessoas, por meio das diferentes manifestações e expressões do movimento humano (BRASIL, 2004). Apesar de as atividades de aventura se configurarem como possibilidades dessas manifestações e expressões, e como tendências e demandas emergentes também da Educação Física, Bernardes e Marinho (2013) salientam que ainda são poucos os cursos que oferecem disciplinas dedicadas exclusivamente a explorar o fenômeno aventura, sendo a falta de profissionais qualificados cientificamente, um dos prováveis motivos para essa situação. Para além disso, quando ofertadas, como observado no contexto dos cursos de Educação Física da instituição abordada no presente estudo, parece haver o que Nascimento (2006) denomina isolamento de disciplinas para designar um dos problemas da formação inicial nessa área. 317
13 Frente a esse cenário, oficinas de capacitação, tal qual a que originou este estudo, surgem como possibilidades férteis para contribuir com a amenização do problema apresentado. Conforme salienta Pereira (2013), a inclusão de temas voltados à aventura na Educação Física brasileira ainda é incipiente, porém promissora, trazendo diferentes perspectivas, especialmente no sentido de gerar novas formas de aprendizado, reflexão e discussão acerca da formação profissional na área, em suas inter-relações com a educação, o lazer e o esporte. Nessa direção, também foi possível obsevar, dentre os resultados apresentados na Tabela 1, que a maioria dos participantes atribuiu escores máximos para o item projeção/aplicabilidade do conhecimento na profissão. Fortalecendo esses dados, as respostas obtidas por meio de duas perguntas abertas do questionário permitem apontar que a maioria considerou haver efetivamente contribuições da oficina de slackline para a futura formação profissional, tendo em vista que os participantes mencionaram diferentes possibilidades de aplicação dos conhecimentos adquiridos e das competências vivenciadas em contextos variados de atuação profissional como por exemplo, em treinamentos de força e equilíbrio, como um meio alternativo para as atividades realizadas na musculação; em trabalhos com atletas, seja para potencializar o seu rendimento ou reabilitá-los; em distintas faixas etárias na rede de ensino; na atuação com crianças de forma lúdica e ao ar livre; e no trabalho com a respiração, a tranquilidade e a concentração de adultos ou crianças, no contexto terapêutico ou recreativo. Assim, informaram acreditar que quanto maior forem as experiências vividas, melhor será sua formação acadêmica. Esses resultados corroboram com o estudo de Pereira (2013) sobre a prática do slackline para futuros profissionais de Educação Física. O autor investigou 170 alunos 318
14 do último período de um curso de formação inicial da área, na cidade de São Paulo (SP), detectando que a maioria, a qual frequentou seis aulas da modalidade (com uma hora e 40 minutos de duração em cada uma delas) visualiza suas experiências com essa atividade como mais um elemento para a sua atuação profissional nos diversos campos da Educação Física. Muitos estudantes informaram pretender levar o slackline para escolas, academias, clubes e outras instituições em que atuam, pois acreditam em seus benefícios para os praticantes. Acredita-se que a formação inicial em Educação Física possa, por meio de iniciativas como essas, formar profissionais competentes para incluir em sua atuação as atividades de aventura. A aproximação dos discentes aos conteúdos da aventura pode estimulá-los a oferecer futuramente, em sua realidade de atuação profissional, novas possibilidades de experiências práticas para seus alunos, multiplicando, assim, a adaptação de professores e alunos a uma diferente realidade da Educação Física (BERNARDES; MARINHO, 2013). Marinho (2004) enfatiza que a Educação Física pode, a partir da experiência na natureza (longe das quadras, dos ginásios, das piscinas, etc.), potencializar estratégias de ação para desenvolver nos alunos, habilidades motoras, capacidades físicas e, até mesmo, fundamentos esportivos específicos. Tais atividades podem ser utilizadas para atingir uma variedade de objetivos educacionais, oportunizando diferentes níveis de desenvolvimento: coletivo (habilidades cooperativas e de comunicação); pessoal (autoestima); cognitivo (tomadas de decisão e resolução de problemas); físico (aptidão e desenvolvimento de habilidades motoras). Além disso, podem ser utilizadas como atividades de lazer, com fim em si mesmas. 319
15 O profissional que a venha trabalhar com as atividades de aventura deve conhecer as possibilidades que tais atividades oferecem desde sua formação (MARINHO; INÁCIO, 2007). Ao conquistarem cada vez mais espaços, como campo de reflexões e intervenções, as atividades de aventura exigem um novo perfil de profissional que, vencendo os desafios das diversas demandas sociais, reitere a validade dessas atividades como uma estratégia criativa, crítica e lúdica. Dessa forma, evidenciase a necessidade de uma pedagogia capaz de incorporar aspectos lúdicos, potencializados por meio de uma educação para o lazer e a recreação no âmbito da aventura. É preciso, portanto, haver a promoção de alternativas para o lazer do público interessado nas atividades de aventura. Tais alternativas devem gerar, fomentar e gerenciar a qualidade da acessibilidade a esse tipo de segmento, implicando decisivamente no sucesso da multiplicação das ideias conservacionistas e sensibilizadoras do aprimoramento da qualidade de vida. No que se refere ao nível físico, os resultados apresentados na Tabela 1 evidenciam que os participantes consideram que o slackline pode melhorar e/ou proporcionar benefícios sobre percepção corporal, equilíbrio, força e propriocepção, tendo em vista que antes da oficina apenas quatro indivíduos avaliaram esse item como nível máximo e, após a mesma, dez o avaliaram dessa última forma. Reforçando esses dados, em pergunta aberta relativa a possibilidade de contribuições da oficina para a melhora dos aspectos físicos, todos os participantes observaram os benefícios descritos, tendo em vista que consideram que a atividade busca o equilíbrio entre o corpo e a mente de forma prazerosa e divertida. 320
16 Embora o objetivo da oficina não tenha sido necessariamente oportunizar melhoras nas habilidades motoras dos participantes, a inclusão desse item de avaliação no questionário teve o intuito de investigar se os indivíduos sentiram o trabalho dessas habilidades, percebendo assim, algumas das características e exigências físicas do slackline. Resultados de pesquisas experimentais na área sugerem que a prática dessa atividade demanda, principalmente, concentração, consciência corporal, equilíbrio estático e dinâmico, flexibilidade, e força de membros inferiores (GRANECHER et al., 2010; PFUSTERSCHMIED et al., 2011; SANTOS, 2013), mas nem sempre tal prática pode repercutir em melhoras nessas habilidades e capacidades motoras. Pfusterschmied et al. (2011) verificaram que quatro semanas de treinamento em slackline melhora a estabilidade postural do praticante quando avaliado na posição unipodal sobre uma superfície estável. Santos (2013), por sua vez, constatou melhora no equilíbrio estático, tanto na posição unipodal sobre o pé direito, quanto sobre o pé esquerdo; no equilíbrio dinâmico; na flexibilidade; e na força de membros inferiores de 13 crianças, com nove e dez anos de idade, submetidas a 12 sessões de slackline durante quatro semanas. Por outro lado, Granecher et al. (2010), ao investigarem 27 adultos submetidos a um programa de treinamento de quatro semanas de slackline, não observaram alterações estatisticamente significativas sobre o equilíbrio estático e dinâmico dos investigados, embora tenham encontrado melhorias na taxa de desenvolvimento de força dos músculos flexores plantares. Os autores afirmam não haver estudos suficientes na literatura que se propuseram a investigar o desenvolvimento do equilíbrio a partir do treinamento com o slackline e os efeitos do destreinamento sobre variáveis de controle postural e força muscular em adultos jovens. 321
17 Por fim, os participantes deste estudo ainda puderam sugerir novas oficinas para as ações do Projeto de Extensão Lazer e Recreação a serem desenvolvidas no semestre subsequente de Foram sugeridas oficinas de atividades de aventura, como o surfe; artes marciais; esportes adaptados para deficientes visuais e físicos; dança; musicoterapia; e novamente slackline. Outra sugestão apontada pelos participantes foi em relação à carga horária, a qual, segundo eles, deveria ser maior para repercutir em maior aproveitamento dos envolvidos. Essas sugestões enfatizam o interesse dos participantes pelas atividades de aventura, tendo em vista que apontaram a possibilidade de abordagem de outras atividades nesse contexto e com públicos diferenciados. Xavier (2012), ao desenvolver um estudo com 15 praticantes de slackline da cidade de Porto Alegre (RS), observou que esses indivíduos têm um estilo de vida que compartilha gostos, costumes e formas de pensar; possuem mais contato com a natureza, assim como praticantes de surfe, por exemplo. Talvez pelas semelhanças entre essas modalidades, os participantes da oficina de slackline do presente estudo tenham interesse em oficinas que abordem outras atividades de aventura como o surfe. As sugestões mencionadas corroboram com a necessidade apontada de ser repensada a fase em que a disciplina voltada ao tema está enquadrada nos cursos de Educação Física da instituição investigada, de forma a dar mais possibilidades de articulações entre o ensino, a pesquisa e a extensão acerca de um assunto ainda incipiente nesse contexto universitário. Por outro lado, é pertinente enfatizar que a inclusão das atividades de aventura em cursos de formação inicial não pode ser entendida como a solução para todos os problemas, conflitos e tensões que permeiam a formação e a atuação profissional em Educação Física, uma vez que valores e 322
18 competências manifestados por meio da aventura não se reproduzem, necessariamente. As discussões sobre a aventura e o lazer são próximas da Educação Física (mas não se limitam a ela, pois essa área do conhecimento é percebida como privilegiada para distintas intervenções nesses segmentos). Considerações finais Diante dos resultados apresentados, acredita-se que a oficina de slackline ora relatada contribuiu para que acadêmicos de Educação Física de uma universidade pública de Santa Catarina pudessem adquirir conhecimentos sobre essa atividade de aventura e para vislumbrá-la como possibilidade de atuação profissional no âmbito do lazer e de contextos de trabalho específicos, tais como associar a atividade à musculação, ao fortalecimento muscular e à reabilitação em geral. Para além disso, destaca-se a importância dessa oficina para estudantes de outras áreas de conhecimento, tendo em vista que acadêmicos de outros cursos também frequentaram a iniciativa em questão, requerendo, portanto, que o assunto seja interdisciplinarmente refletido, discutido, idealizado e operacionalizado. É possível concordar com Marinho e Inácio (2007) que a compreensão das atividades de aventura deva extrapolar seu entendimento como mero processo esportivo formal ou como uma parcela de mercado de trabalho exclusive e, por isso, excludente. A Educação Física se destaca como campo do conhecimento que ocupa uma posição privilegiada para as mais diversas intervenções nesse segmento em plena emergência. Contudo, há necessidade de diálogo com a geografia, a sociologia, a biologia, entre outras áreas envolvidas com o fenômeno. 323
19 A esse respeito, é importante enfatizar que, a interdisciplinaridade, no entanto, não é tão requerida quando o debate recai sobre o mercado de trabalho, ao menos nos setores mais hegemônicos e conservadores da Educação Física. Uma vez entendida a ação interdisciplinar como um dos pilares para uma prática ética no âmbito das atividades de aventura, seria necessário compreender a urgência de uma atuação profissional igualmente interdisciplinar. Esse debate não é exclusivo da Educação Física, mas se repete em diversos campos de atuação profissional, sob o argumento comum de reserva de mercado (MARINHO; INÁCIO, 2007). Questões como essas são de suma importância para serem problematizadas e refletidas, podendo contribuir para o amadurecimento e avanço do assunto. Dessa forma, conclui-se esse relato de experiência enfatizando a importância de iniciativas semelhantes à oficina apresentada, a fim de promover novos olhares sobre as possibilidades de atuação profissional, bem como o desenvolvimento social e individual, por meio de atividades relacionadas ao lazer. Embora sejam reconhecidas as limitações dos resultados relatados, principalmente no sentido de terem sido investigados participantes de uma oficina com abrangência regional e com pouca quantidade de indivíduos, acredita-se que esse trabalho possa contribuir com o avanço das investigações sobre a inter-relação dos temas aventura, lazer e formação profissional em Educação Física, estimulando outros pesquisadores a desenvolverem estudos sobre o assunto, e também com o despertar de novos interesses e possibilidades para a atuação profissional dos participantes da oficina. Para maior compreensão das contribuições do slackline para a formação profissional sugere-se a realização de outros estudos que abordem essas atividades em outros contextos culturais e sociais, e com maior abrangência. 324
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23 Florianópolis - SC Endereço Eletrônico: alcyane.marinho@hotmail.com 328
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