O PERFIL DOS TURISTAS NAS FESTIVIDADES DA QUARTA COLÔNIA /RS O CASO DA FESTA NOSSA SENHORA DA POMPÉIA 1

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1 O PERFIL DOS TURISTAS NAS FESTIVIDADES DA QUARTA COLÔNIA /RS O CASO DA FESTA NOSSA SENHORA DA POMPÉIA 1 CORRÊA, Paola Nicola 2 ; SILVA, Adriana Pisoni da 3 1 Trabalho de Pesquisa da UNIFRA 2 Curso de Turismo do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA), Santa Maria, RS, Brasil 3 Curso de Turismo do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA), Santa Maria, RS, Brasil paolanicolacorrea@yahoo.com; adrianapisoni@unifra.br RESUMO O objetivo desse artigo é analisar aspectos da demanda turística da Festa Nossa Senhora da Pompéia na região da Quarta Colônia - RS, como resultado parcial do projeto de pesquisa intitulado: O Consumo Turístico no Território da Quarta Colônia na Região Central RS Brasil. Essa é uma pesquisa qualitativa, de caráter descritivo e exploratório, que indicar o perfil do visitante, suas principais características, opiniões sobre a organização da festividade, motivações e indicação de principais produtos consumidos e demais considerações sobre a localidade. Conclui-se que a origem da demanda turística da festa são, em sua maioria, residentes de Santa Maria, comerciários/industriários, motivados pela questão gastronômica e consumindo basicamente a alimentação porque a oferta da festa é restrita a esse quesito. Por fim, os informantes avaliaram de forma positiva a organização da festa, não demandando a ampliação de atividades. Palavras-chave: Demanda Turística; Consumo Turístico; Festividades; Quarta Colônia. 1. INTRODUÇÃO A Quarta Colônia, situada próxima da cidade Santa Maria, na Região Central do Estado do Rio Grande do Sul, Brasil tem recebido, principalmente ao longo das duas últimas décadas, um fluxo de visitantes no decorrer das suas festividades, originários das mais diversas localidades. Seu território é formado por 9 municípios a saber: São João do Polêsine, Faxinal do Soturno, Silveira Martins, Nova Palma, Ivorá, Pinhal Grande, Dona Francisca, Agudo e Restinga Sêca, totalizando uma população, conforme o IBGE (2010), de habitantes, em uma extensão territorial de 2.893,577 Km 2. A base econômica da região é o setor primário, a maioria dos seus habitantes trabalha na agricultura, especialmente no cultivo de arroz, milho e feijão, e, ainda, com o beneficiamento de produtos nas agroindústrias. Ali se encontram afrodescendentes, descentes de origem italiana, alemã e portuguesa, sendo que a descendência de imigrantes italianos é a que se destaca. Eles chegaram à região em Atualmente, seus remanescentes cultivam algumas das suas características históricas e culturais, fortemente

2 marcantes na arquitetura, nos costumes e nas atividades do cotidiano das comunidades locais. A Quarta Colônia é uma hibridização, acionada sob a retórica da multiplicidade étnica, processando-se, contudo, em espaços de fricção interétnica, estando imersa em relações de poder que dirigem a narrativa de forma hegemônica (VENDRUSCOLO, 2009, p. 199). Tais constatações são de um sentir de pertencimento coletivo, predominando tanto nas reivindicações quanto no imaginário territorial aos vinculados à italianidade. Todos os seus municípios são privilegiados quanto à preservação da paisagem e das identidades culturais, tais elementos essenciais para o turismo têm gerado um fluxo de turistas, principalmente aos finais de semana, os quais buscam desfrutar das atividades ofertadas neste cenário rural, em especial os eventos e festas regionais, entre elas a Festa Nossa Senhora da Pompéia. A história da construção da Igreja de Nossa Senhora da Pompéia (figura 1) se reporta ao tempo dos imigrantes, quando um morador chamado Vicenzo Guerra, imigrante italiano instalado em Silveira Martins, faz uma promessa para que ficasse curado de uma doença. O milagre de sua cura teria sido alcançado e para agradecer e cumprir a promessa feita, com o início, em 1900, à construção da igreja. Hoje é identificada como um centro histórico (figura 2), edificado sob as técnicas de construção peculiares para a época (VENDRUSCOLO, 2009, p. 199). Esse artigo tem o propósito de constituir o perfil do turista consumidor e as suas preferências de consumo diante da oferta turística da Festa da Pompéia. O local possui um belo conjunto arquitetônico composto pelo solar da família Guerra, pela antiga olaria e pela capela octogonal destinada a Madonna di Pompéi e Madonna Bambina. Na comunidade ainda existe a primeira residência da família Guerra, em tijolo à vista,bastante primitiva. Figura 1: Igreja da Pompéia Figura 2: Sinalização no conjunto histórico

3 2. REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 DEMANDA TURÍSTICA A demanda turística é resultado de atividades e decisões ocorridas dentro da área geradora, e é fundamental no sistema turístico. Para Cooper (2007), as definições conceituais de demanda variam de acordo com a perspectiva de cada autor. Por exemplo, para os economistas, a demanda é a relação da quantidade de qualquer produto ou serviço que as pessoas desejam e têm condições de comprar por determinado valor, em um conjunto de preços possíveis, durante um determinado período de tempo. Para os psicólogos, a demanda se constitui por meio da motivação e do comportamento; já para os geógrafos, ela é definida pelo número total de pessoas que viajam ou que gostariam de viajar, para utilizar instalações e serviços em lugares afastados de seus locais de trabalho e de residência. Outra classificação é considerar a demanda real ou efetiva, e a reprimida. A efetiva considera o número real de pessoas que participam do turismo ou que estão em viagem, ou seja, os turistas de fato. A maioria das estatísticas de turismo refere-se a esse tipo de demanda. Já a reprimida é composta por aquela porção da população que, por alguma razão, não viaja. Conforme afirma Cooper (2007), é preciso considerar que apenas um pequeno percentual da população mundial participa do turismo internacional; mesmo com o crescimento acelerado da demanda turística no mundo inteiro, a maioria das pessoas realizam viagens domésticas. E, por último, sempre haverá aqueles que simplesmente não desejam viajar ou que não têm condições de viajar, definidos de não-demanda. No âmbito da demanda efetiva, Cooper (2007) apresenta quatro fundamentos básicos a serem considerados: 1) energizadores de demanda: que são as forças de motivação que levam um turista a decidir visitar um atrativo turístico ou sair de férias; 2) efetivadores da demanda: o consumidor terá desenvolvido ideias sobre um destino turístico através de um processo de aprendizagem, de atitudes e de associações extraído de mensagens e de informações promocionais; 3) os papéis e o processo de tomada de decisões; 4) determinantes da demanda: o processo de tomada de decisões do consumidor em relação ao turismo se apoia nos determinantes da demanda. 2.2 O CONSUMIDOR NO TURISMO A demanda turística para Cooper (2007), em nível individual, pode ser tratada como um processo de consumo que é influenciado por uma série de fatores, uma combinação de necessidades e desejos, disponibilidade de tempo e de dinheiro, ou ainda imagens,

4 percepções e atitude. Os fatores que influenciam a demanda turística estão relacionados a modelos de comportamento do consumidor. Para Beni (1998), diferentemente de um consumidor que compra um produto e espera uma satisfação tangível e/ou intangível, no caso do turista é mais complicado de medir sua satisfação na compra de um serviço turístico, pois ele compra uma expectativa e assim sua decisão de compra é mais cautelosa tendo vista a não certeza de uma boa satisfação. É importante observarmos que as atitudes dependem da percepção que o indivíduo tem do mundo. Na concepção de Cooper (2007), as percepções são impressões mentais, que envolve a codificação de informações pelos indivíduos e influencia as atitudes e o comportamento em relação aos produtos, mas não é capaz de explicar por si só, nem em combinação com as atitudes, o desejo das pessoas de viajar. Para Beni (1998) a percepção é um processo em que o indivíduo seleciona, organiza e interpreta as informações recebidas para criar visões do mundo. Suas características são a subjetividade que é onde o turista vê e ouve o que quer; a seletividade, onde o turista seleciona o que considerada interessante; e por último a ponderação, que é muito significativa, onde o turista faz uma reavaliação do valor dos elementos que foram escolhidos nas características anteriores, e assim pondera tudo o que aceita. As motivações de viagem realmente explicam porque as pessoas querem viajar. Já as imagens são conjuntos de crenças, ideias e de impressões relativas a produtos e destinos turísticos. Muitas pesquisas relacionadas ao turismo empregam o conceito de motivação como uma influência essencial sobre o comportamento do consumidor, adotando teorias gerais, como a de Maslow apud Cooper (2007). A teoria de motivação proposta por Maslow é apresentada na forma de uma classificação da organização das necessidades individuais. Ele sustentava que, caso nenhuma das necessidades presentes na hierarquia fosse satisfeita, o comportamento passaria a ser dominado pelas necessidades inferiores, as filosóficas. Caso essas fossem satisfeitas, entretanto, elas deixariam de motivar o indivíduo, que seria motivado pelo nível seguinte da hierarquia, sinalizando tipos motivacionais identificados: motivos relacionados à deficiências ou à redução de tensões; motivos relacionados à indução ou à busca de excitação. A decisão também pode se embasar em conhecimentos prévios e atitudes que já estão no pensamento do turista. Todas as informações e comunicações podem influenciar na decisão de compra. Para finalizar, destacam-se ainda outros grupos de fatores que influenciam na hora da compra: o papel da família, os grupos de referência, a cultura, entre outros (Beni, 1998). 3. METODOLOGIA

5 Quanto ao enfoque metodológico, opta-se pela pesquisa quanti-qualitativa, de caráter descritivo e interpretativo. Os procedimentos metodológicos foram o levantamento bibliográfico, documental, fotográfico, as observações livres e a pesquisa de campo. Para a coleta de dados na pesquisa de campo aplicou-se um questionário com os visitantes da Festa de Nossa Senhora da Pompéia, no município de Silveira Martins, em setembro de O instrumento foi estruturado com questões abertas e fechadas e sua aplicação foi feita de forma aleatória, com 43 pessoas, no período da manhã e tarde. Posteriormente, os dados foram compilados e analisados, como o intuito de formatar um perfil do turista, suas motivações, preferências de consumo diante da oferta da festa e avaliação da organização do evento. 4. RESULTADOS E DISCUSSÕES Os estudos no campo da demanda turística são desafiadores devido à diversidade de perfis, contextos, necessidades e desejos dos consumidores; onde a concepção de demanda compreende muito mais do que aqueles que atuam no popular estereótipo de turista, ou seja, considera-se o fluxo de visitantes regionais, os quais passeiam apenas em um dia, sem pernoite. A seguir, os resultados preliminares de uma das festividades da região da Quarta Colônia. A Festa da Nossa Senhora da Pompéia inicia com uma celebração da Igreja (figura 3), seguindo para um almoço no salão da paróquia (figura 4). Conforme a organização do evento foram servidos cerca de 400 almoços, com um cardápio típico da culinária dos imigrantes italianos, de sopa de agnoline, salada verde, risoto de frango e carnes assadas. Na parte da tarde há mais uma celebração na igreja e, depois, uma programação musical no salão. Figura 3: Interior da Igreja da Pompéia Figura 4: Visitantes na almoço no salão paroquial

6 Apresenta-se a seguir o resultado da tabulação dos 43 questionários aplicados aos visitantes da Festa de Nossa Senhora da Pompéia no ano de Inicia-se pelo levantamento do perfil dos entrevistados, quanto ao gênero, idade e origem. A maioria dos entrevistados, 65%, foram mulheres e 35% homens (figura 5). Com relação à faixa etária, 11 dos entrevistados estão entre 56 e 65 anos (figura 6). Figura 5: Gênero dos turistas Figura 6: Faixa etária dos turistas Quanto à origem dos visitantes a maioria reside na cidade de Santa Maria, 34 dos 43 entrevistados, ou seja, 80% da amostra. Tabela 1 Origem dos Visitantes Cidade Frequência Porcentagem Santa Maria 34 80% Faxinal do Soturno 2 5% Caxias do Sul 1 2% Venâncio Aires 1 2% Porto Alegre 2 5% Ivora 1 2% Arroio do Tigre 1 2% Florianópolis SC 1 2% Total % Tabela 2 - Atividade Profissional dos Visitantes Atividade Profissional Frequência Porcentagem Comerciário, industriário 10 24% Aposentado/pensionista 7 16% Professor 6 14% Profissional liberal 5 13% Servido público 5 13% Empresário 3 6%

7 Agricultor 2 4% Estudante 2 4% Profissional autônomo 2 4% Militar 1 2% Total % Quanto à profissão, conforme a tabela 2, as atividades que prevaleceram são comerciários/industriário, com 24%, seguido de aposentados/pensionistas, com 16% e professor (14%). Com relação à renda familiar (figura 7), 17 visitantes estão na faixa de 1 a 3 salários mínimos, 14 de 4 a 7 salários mínimos, 6 de 8 a 12 salários mínimos, 4 possuem menos de um salário e 2 apenas possuem mais de 12 salários na renda familiar. Figura 7: Renda familiar dos visitantes Figura 8: Fontes de informação Quando questionados de como ficaram sabendo desta festividades, os informantes sinalizaram os seguintes meios de comunicação (figura 8): 34 pessoas indicaram a fonte de amigos e parentes, 4 citaram rádio, 4 jornal e apenas 1 identificou a televisão. Não foram sinalizados mídas eletrônicas, nem tampouco folders e panfletos. Pode-se dizer que os visitantes confiam na indicação dos seus pares e demonstram familiaridade com o evento. Figura 9: Motivação da visita Figura 10: Produtos consumidos na festa

8 Na questão sobre a motivação da ida dos turistas até a festa (figura 9) as respostas foram de múltipla escolha, a gastronomia foi apontada 24 vezes, seguidas pelo motivo religioso com 22 indicações, 15 vezes a motivação sinalizada foi lazer, 8 vezes foi a cultura e patrimônio e somente uma pessoa registrou visita a familiares. As opções quanto aos produtos consumidos (figura 10) também foram de múltipla escolha, sendo que 40 dos entrevistados indicaram o item alimentação, e somente 8 pessoas sinalizaram a agroindústria caseira e 1 pessoa o artesanato. Figura 11: avaliação do evento pelos turistas Para finalizar a coleta de dados os visitantes foram questionados quanto à avaliação da organização do evento (figura 11), onde 42% deles deram nota 10, 23% deram nota 9 e outros 23% deram nota 8, 9% deram nota 7 e apenas 3% com nota 6. Nenhum dos informantes deu nota de 1 a 5. Tais avaliações indicam que o evento apresenta uma boa organização e que os visitantes, em sua maioria, estão satisfeitos. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS As abordagens sobre a demanda efetiva da Festa é de suma importância para a qualificação da proposta da festividade, melhorando a preparação do receptivo do destino e a sua relação com os visitantes. A maioria do público entrevistado foram mulheres, de faixa etária entre os 56 e 65 anos, com renda de 1 a 3 salários mínimos, tendo como profissão a condição de comerciários ou aposentados, são moradores do município de Santa Maria, distante apenas a 32 quilômetros. A forma como os entrevistados ficaram sabendo da previsão da festa foi por meio da conversa com amigos/parentes, o comum boca a boca, dado o perfil regional e tradicional do acontecimento. A demanda efetiva da Festa de Nossa Senhora da Pompéia considera como elementos energizadores aqueles motivados pela gastronomia típica e a religiosidade,

9 sendo estas as justificativas que levam o turista a decidir visitar a localidade. A decisão está embasar na valorização da cultura religiosa e no saberes gastronômicos da região. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS COOPER, Chris et al. Turismo: princípios e práticas. 3ª edição. Trad. Alexandre Salvaterra. Porto Alegre: Bookman, BENI, Mário Carlos. Análise estrutural do turismo. 2ª edição. Senac, São Paulo, VENDRUSCOLO, Rafaela. Somos da Quarta Colônia : os sentidos de uma identidade territorial em construção. Dissertação. (Mestrado em Extensão Rural). Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2009.