Um olhar Sobre a Lagoa
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- Luiz Felipe Canela Porto
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1 Caracterização Biológica A Lagoa dos Salgados, um património regional do Algarve, apresenta um grande interesse científico ao nível geológico e biológico, não só pela sua capacidade de albergar uma grande e variada quantidade de espécies de aves, mas também pela sua riqueza em flora. Considera-se portanto que o seu estudo apresenta uma mais-valia para a educação visto que os jovens de hoje serão o futuro de amanhã. Determinante será também ter presente a noção de Ecossistema. Ecossistema designa o conjunto formado por todos os factores bióticos e abióticos que simultaneamente actuam sobre determinada região. Por outras palavras são todos os intervenientes biológicos e geológicos que actuam num ambiente tornando-o funcional e equilibrado. O espaço circundante à Lagoa dos Salgados, constitui um importante factor como suporte de vida animal. Os espaços agrícolas, o sistema dunar da Praia Grande, o pinhal e o sapal de Alcantarilha, desempenham importantes funções ecológicas, que no seu conjunto contribuem para o equilíbrio e biodiversidade local. Lagoa dos Salgados apresenta-se como um ecossistema aquático e costeiro, de pouca profundidade, com características essencialmente salobras, instalado numa pequena depressão de terreno que se localiza no troço terminal de uma bacia hidrográfica de reduzidas dimensões. Encontra-se actualmente separada do Oceano Atlântico pela presença de uma barreira arenosa, no entanto é alimentada por duas linhas de água doce (Ribeiras de Espiche e de Vale Rabelho). O sistema lacustre é alimentado quase unicamente pela água que provém do escoamento superficial transportado pelas ribeiras afluentes, que em regime natural é reduzido e temporário, em períodos de precipitação principalmente durante o Inverno. As descargas contínuas de água residuais na Ribeira de Espiche, tornaram a entrada de água para a lagoa permanente, aumentando o caudal anual afluente à lagoa em 40%. O cordão dunar que promove o isolamento da lagoa em relação ao mar, funciona como uma barreira natural de contenção do caudal fluvial, com ligação esporádica ao mar, associada a períodos de precipitação intensos, e a capacidade de armazenamento de água na depressão lacustre é ultrapassada.
2 As fontes de poluição e intervenção antropogénica têm vindo multiplicar-se e a intensificar a pressão sobre a Lagoa dos Salgados. Verificou-se a redução do volume de armazenamento da lagoa, devido às edificações e estruturas actualmente instaladas na região envolvente, inicialmente um campo de aviação, e posteriormente, um campo de golfe, e a entrada em funcionamento das ETAR de Pêra e da Guia, que efectuam descargas na Ribeira de Espiche. Estes factores têm contribuído para a artificialização deste ecossistema aquático. Elevados teores de nutrientes (como nitratos e fosfatos) dissolvidos na coluna de água e as temperaturas amenas ou elevadas promovem o desenvolvimento de fitoplâncton. Estes organismos, muito abundantes na lagoa, as microalgas formam florescências ou blooms fitoplanctónicos (grandes massas de algas), típicas de ecossistemas aquáticos de elevada produtividade ao longo do ano. No entanto a sua proliferação nas águas da lagoa é prejudicial a todo o ecossistema, pois promove fenómenos de eutrofização da água. A comunidade zooplanctónica que estabelece a ligação entre produtores primários e os níveis mais elevados das cadeias alimentares é composta por organismos aquáticos de pequenas dimensões. A evolução do zooplâncton é acompanhada pela evolução de um tipo específico de algas nomeadamente as midroalgas, apenas com um ligeiro tempo de diferença. As alterações na comunidade fitoplanctónica resultam em alterações estruturais nas cadeias alimentares. Sabe-se ainda que a Lagoa contém Rotíferos e Cladóceros em reduzido número que são indicadores de sistemas muito produtivos. O estado da água da Lagoa dos Salgados não é o mais próspero, isto é, o teor de matéria orgânica que se encontra na água é elevado o que leva a crer que possam existir fenómenos de eutrofização. Acrescenta-se ainda que principalmente no Verão, espécies de cianobactérias já existentes são produtoras de neurotoxinas e hepatoxinas em quantidade suficiente para que a água da lagoa não seja aconselhável a banhos ou outros usos recreativos. A zona húmida existente na Lagoa dos Salgados e zona baixa circundante é responsável pela colonização de densa e variada vegetação típica de água doce e salobra. Estes predominam em zonas alagadas e charcos temporários. Além disso este ambiente proporciona um importante habitat para uma grande diversidade de animais, especialmente para as aves. Fornece ainda uma abundante vegetação aproveitada
3 pelos animais para seus abrigos e alimento que garante sobrevivência de vários níveis tróficos. Ao longo do ano, um número elevado de espécies de aves pode ser aqui avistado, cerca de 39 espécies diferentes de avifauna entre o total inventariado. Em meio vegetal sublinham-se a presença de juncais de Juncos maritimus, o junco-das-esteiras e o junco agudo em conjunto com outras juncáceas e ciperáceas também típicas de águas doces e salobras bem como o triângulo e o junco-vulgar que contribuem para o alimento e abrigo assim como na capacidade depuradora desta zona húmida. Na Lagoa dos Salgados podem ser encontradas numerosas espécies de aves, destacam-se: - O Caimão (porphyrio porphyrio), espécie em perigo de extinção, e com estatuto de protecção prioritário e em fase de recuperação populacional. Podemos distingui-lo de outras aves através da plumagem azul, pelo bico e patas vermelhos. - O Perna-longa (himantopus himantopus), espécie ameaçada em Portugal, pode ser distinguido através, pernas extremamente compridas de cor vermelha, bico preto, fino e direito e olhos vermelhos. - Corvo-marinho-de-faces-brancas (phalacrocorax carbo) é uma grande ave nadadora, comum no litoral português, pode ser reconhecida através do pescoço longo e o bico ligeiramente encurvado na ponta. Os olhos são verdes e a pele em seu redor é amarela. O papo verde é uma das características distintivas da espécie. Caracterização Geológica Na zona da Praia dos Salgados é possível observar maioritariamente rochas carbonatadas que desaparecem sobre as areias actuais apenas com alguns afloramentos dispersos. Estes afloramentos de biocalcarenitos do Miocénico Inferior possuem uma idade aproximada ente 12 a 13 milhões de anos e são constituídas por calcário algal e possuem grande abundância de rodólitos e pectinídeos. É possível encontrar ainda fósseis de briozoários, gastrópodes e outros bivalves indeterminados. Os sedimentos observáveis indicam a sua formação em ambiente marinho costeiro, em que a temperatura da água seria superior à actual, e o mar estaria a sofrer uma transgressão (subida do nível médio do mar e recuo da linha de costa, relativamente à posição
4 actual). No Miocénico Superior o nível médio das águas do mar desceu e a unidade carbonatada foi sujeita a uma intensa calcificação sobre a qual se depositaram sedimentos areno-argilosos com 5 a 11 Milhões de anos. Na zona anterior à Praia dos Salgados, na zona que se encontra entre esta e a Lagoa é possível encontrar um robusto sistema arenoso dunar, que fossiliza uma duna antiga, que se formou há cerca de 3500 a 4000 anos durante o período Holocénico. As areias de grão grosseiro e fino agregadas por cimento carbonatado definem eolinitos, que afloram em zonas dispersas no interior do sistema dunar actual e constituem vestígios dessa duna fóssil cimentada. Percurso O percurso proposto, divide-se em cinco estações (0,1,2,3,4) em circuito fechado, com a duração total de duas a três horas a percorrer em passo de passeio. Em cada estação estará prevista uma breve explicação do local em questão em que o guia descreverá as características que se evidenciam nessa zona. Existem actividades a serem realizadas para a consolidação dos conhecimentos adquiridos (consultar: Um Olhar Sobre a Lagoa Ficha de Actividades). O percurso segue sobre o passadiço, alguns trilhos em terra batida e ainda pela praia que no seu conjunto não apresentam dificuldades para os pedestres. Deve seguir sempre pelos trilhos sugeridos e marcados no terreno, de modo a evitar o pisoteio de zonas dunares contribuindo para a sua preservação. Deve-se ter em atenção o vestuário a levar de acordo com a época do ano, bem como calçado apropriado e mantimentos. O material a levar deve também incluir binóculos, uma máquina fotográfica ou mesmo uma lupa.
5 Para o guia da visita seguem-se algumas sugestões sobre o que focar em cada ponto do roteiro: Ponto 0 Trata-se de um ponto de encontro do percurso, quer antes de entrar na área da Lagoa, quer no regresso ao transporte. Encontra-se entre o estacionamento e a ponte de entrada para a lagoa. Deve ser feita uma breve introdução ao roteiro e ao objectivo da visita, tendo em conta o nível de ensino dos visitantes. N 37º05,395 W 008º19,711 Ponto 1 Primeira paragem a realizar após atravessar a ponte. Neste local é sugerido que se faça referência à importância das plantas halófitas para a preservação do cordão dunar, bem como a utilidade deste para o habitat único da Lagoa. Podem ser ainda mencionadas em específico algumas espécies de seres vivos que o guia considere relevantes. N 37º05,427 W 008º19,765 Ponto 2 O ponto 2 localiza-se no observatório onde é possível ter uma vista geral sobre o panorama da lagoa. É importante realçar a importância de preservar os elementos deste espaço, quer biológicos, quer geológicos, e informar os estudantes sobre os problemas de poluição associados à Lagoa dos Salgados, como os fertilizantes artificiais utilizados nos campos de golfe nas proximidades, que podem ser escoados para a água da mesma, e nos campos agrícolas. N 37º05,595 W 008º19,941 Ponto 3 Este pode ser encontrado ao chegar à praia. É uma boa oportunidade para apontar as estruturas geológicas características da região algarvia, as rochas mais comuns, aspectos relacionados com os sedimentos da praia e a sua granulometria, bem como focar aspectos da deriva litoral. Seria ainda pertinente fazer referência aos líquenes e ao seu papel como indicadores da qualidade do ar. Se possível deve-se fazer a actividade de construção de um
6 crivo, ou solicitar aos alunos que construam um previamente ao dia da visita, para que possam investigar sobre a granulometria dos sedimentos da praia e das dunas, e estudar a escala de Wentworth. Coordenadas Geográficas (este ponto encontra-se entre as seguintes coordenadas): N 37º05,608 - N 37º05,582 W 008º20,267 - W 008º20,272 Ponto 4 Este ponto pode ser um pouco difícil de localizar, no entanto recorrendo às coordenadas geográficas pode ser mais fácil encontrá-lo. É possível observar uma rocha com vestígios fósseis de organismos marinhos, nomeadamente de bivalves (conchas fracturadas e revolvidas), onde se pode focar a importância dos fósseis para descrever paleoambientes. N 37º05,536 W 008º20,184 Nota: O percurso pode ser adaptado se o guia julgar conveniente. De notar que as sugestões acima devem ser adaptadas tendo em conta o nível de ensino e os conhecimentos dos estudantes. A informação apresentada foi recolhida e compilada por alunos da Turma A, do 12º ano (2010/2011) da Escola Secundária de Albufeira, supervisionados pela Professora Mª Paula Abreu.
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