Superior Tribunal de Justiça

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1 MANDADO DE SEGURANÇA Nº DF (2008/ ) RELATOR : MINISTRO TEORI ALBINO ZAVASCKI IMPETRANTE : IMPORTAÇÃO E EXPORTAÇÃO ULTRA GARLIC LTDA ADVOGADA : JÚLIA MARCIER CARDOSO AYRES IMPETRADO : MINISTRO DE ESTADO DO DESENVOLVIMENTO INDÚSTRIA E COMÉRCIO EXTERIOR EMENTA MANDADO DE SEGURANÇA. COMÉRCIO EXTERIOR. DIREITO ANTIDUMPING. IMPORTAÇÃO DE ALHO FRESCO E REFRIGERADO ORIGINÁRIO DA REPÚBLICA POPULAR DA CHINA. RESOLUÇÃO CAMEX 52/2007. LEGITIMIDADE. 1. Segundo as normas previstas no Decreto 1.602/95, que disciplina a aplicação de medidas antidumping,, "considera-se prática de dumping a introdução de um bem no mercado doméstico, inclusive sob as modalidades de drawback, a preço de exportação inferior ao valor normal" (art. 4º), entendido como tal "o preço efetivamente praticado para o produto similar nas operações mercantis normais, que o destinem a consumo interno no país exportador" (art. 5º). Todavia, "encontrando-se dificuldades na determinação do preço comparável no caso de importações originárias de país que não seja predominantemente de economia de mercado, onde os preços domésticos sejam em sua maioria fixados pelo Estado, o valor normal poderá ser determinado com base no preço praticado ou no valor construído do produto similar, em um terceiro país de economia de mercado, ou no preço praticado por este país na exportação para outros países (...)" (art. 7º). 2. O "Protocolo de Acessão da República Popular da China à Organização Mundial de Comércio" (integrado ao direito brasileiro pelo Decreto 5.544/2005) não conferiu a esse País, desde logo, a condição de país predominantemente de economia de mercado. Segundo decorre de seus termos, a acessão da China ao Acordo da OMC foi aprovada para ocorrer de forma gradual e mediante condições. Justamente por isso, o art. 15 do Protocolo reservou aos demais membros da OMC, durante quinze anos, a faculdade de utilizar, nos casos de investigação de prática de dumping que envolvam produtos chineses, a metodologia aplicável a países que não sejam predominantemente de economia de mercado. 3. É legítima, portanto, a Resolução CAMEX 52/2007, que, (a) com base na faculdade prevista no referido Protocolo, e (b) considerando não ter sido demonstrado, nas investigações levadas a cabo, que a produção e comercialização de alho na China ocorre em regime de economia de mercado, (c) adotou, para a apuração da prática de dumping desse produto, dados colhidos em terceiro país (a Argentina), segundo a metodologia prevista no art. 7º do Decreto 1.602/ Segurança denegada. Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 06/10/2008 Página 1 de 10

2 ACÓRDÃO Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, decide a Egrégia PRIMEIRA SEÇÃO do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, denegar a segurança, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Castro Meira, Denise Arruda, Humberto Martins, Herman Benjamin, Mauro Campbell Marques, Benedito Gonçalves, Eliana Calmon e Francisco Falcão votaram com o Sr. Ministro Relator. Brasília, 24 de setembro de MINISTRO TEORI ALBINO ZAVASCKI Relator Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 06/10/2008 Página 2 de 10

3 MANDADO DE SEGURANÇA Nº DF (2008/ ) IMPETRANTE : IMPORTAÇÃO E EXPORTAÇÃO ULTRA GARLIC LTDA ADVOGADA : JÚLIA MARCIER CARDOSO AYRES IMPETRADO : MINISTRO DE ESTADO DO DESENVOLVIMENTO INDÚSTRIA E COMÉRCIO EXTERIOR RELATÓRIO EXMO. SR. MINISTRO TEORI ALBINO ZAVASCKI(Relator): Trata-se de mandado de segurança impetrado por Importação e Exportação Ultra Garlic Ltda contra ato do Ministro de Estado do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, na qualidade de Presidente da CAMEX - Câmara de Comércio Exterior, que, pela Resolução CAMEX n. 52, de , impôs a cobrança de direito antidumping sobre as importações de alho originário da República Popular da China. Alega a impetrante, em síntese, que o processo de investigação utilizado para aplicar os direitos antidumping, ao cabo do qual foi editado o ato impugnado, violou o Decreto 1.602/95 (arts. 4º e 5º), pois deu à China o tratamento de "economia não predominantemente de mercado", o que lhe permitiu utilizar, para efeito de apuração do preço do alho, dados do custo de produção praticado em outro País (Argentina) e não naquele país exportador. Esse pressuposto da Resolução CAMEX n. 52 violou, todavia, o Protocolo de Acessão da República Popular da China à Organização Mundial do Comércio, incorporado ao direito interno brasileiro pelo Decreto 5.544/2005. Afirma, outrossim, que a fixação do direito antidumping em U$ 0,52, equivalente a 100% do valor FOB do alho chinês importado, adicionada ao aumento de 150% na alíquota de importação daquele produto (de 14% para 35%), é nitidamente confiscatório, o que se agrava pela circunstância de que a imposição prevista na Resolução atacada se prolongará até a data de Pediu, por isso, concessão da segurança para declarar ilegal a Resolução CAMEX n. 52/07, desobrigando a impetrante do recolhimento dos direitos antidumping fixados. Por decisão de fl. 71, a liminar foi indeferida. Às fls , a autoridade impetrada prestou informações, defendendo a legalidade dos procedimentos adotados pela Resolução CAMEX 52, sob os seguintes argumentos: (a) o Decreto 5.544/2005, que aprovou o Protocolo de Acessão da China à OMC, permite inferir que "a própria China anuiu à possibilidade de utilização de metodologia que não se baseie em comparação estrita com os preços internos ou custos de produção nesse país, caso os produtores não possam demonstrar claramente que no segmento produtivo em questão prevalecem condições de economia de mercado" (fl. 101); (b) mesmo diante da existência de base legal para tratar a China como um país cuja economia não é predominantemente de mercado, foi concedida aos seus produtores/exportadores a oportunidade de demonstrar que, no setor em que se inserem, predominam condições de economia de mercado; todavia, eles "não demonstraram operar em condições de economia predominantemente de mercado, o que autoriza o recurso ao art. 7º do Decreto n , de 1995, com vistas à determinação do valor nominal" (fl. 107); (d) "a leitura do dispositivo acima transcrito [art. 6º do Decreto n /95] permite inferir que desprezar tais vendas internas a preços abaixo do custo de produção não constitui obrigação acordada multilateralmente, mas sim prerrogativa" (fl. 109); (e) não prospera a alegação de que a aplicação do direito antidumping possui caráter confiscatório, por corresponder à razão de 100% do preço do produto importado, pois (I) "a prática de dumping é apurada a partir da comparação entre dois preços - o valor normal e o preço de exportação - nada impedindo que tal situação se configure"; (II) "as regras que regem a aplicação de direito antidumping não estabelecem um Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 06/10/2008 Página 3 de 10

4 limite à sua cobrança"; (III) quanto à alíquota de imposto de importação, "a própria Resolução impugnada, em seu item 2.2, informa a alteração de 14% (catorze por cento) para 35% (trinta e cinco por cento), tendo sido tal alteração considerada no processo em questão; (fl. 110); (f) "observados os requisitos legais para prorrogação do direito antidumping, inexiste óbice à sua prorrogação, do que decorre ser possível que um direito antidumping venha a ter sua vigência prolongada ao longo dos anos" (fl. 110). Por parecer de fls , o Ministério Público Federal opinou pela denegação da segurança. Às fls , a impetrante reitera as alegações iniciais, ressaltando que "o segmento produtivo do alho na República Popular da China opera sob o regime de economia de mercado, pois foi reconhecido de forma expressa no Protocolo de Acessão da República da China à Organização Mundial do Comércio, que passou a integrar o nosso direito pátrio, a partir da edição do Decreto n , de 22 de setembro de 2005" (fl. 148) É o relatório. Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 06/10/2008 Página 4 de 10

5 MANDADO DE SEGURANÇA Nº DF (2008/ ) RELATOR : MINISTRO TEORI ALBINO ZAVASCKI IMPETRANTE : IMPORTAÇÃO E EXPORTAÇÃO ULTRA GARLIC LTDA ADVOGADA : JÚLIA MARCIER CARDOSO AYRES IMPETRADO : MINISTRO DE ESTADO DO DESENVOLVIMENTO INDÚSTRIA E COMÉRCIO EXTERIOR EMENTA MANDADO DE SEGURANÇA. COMÉRCIO EXTERIOR. DIREITO ANTIDUMPING. IMPORTAÇÃO DE ALHO FRESCO E REFRIGERADO ORIGINÁRIO DA REPÚBLICA POPULAR DA CHINA. RESOLUÇÃO CAMEX 52/2007. LEGITIMIDADE. 1. Segundo as normas previstas no Decreto 1.602/95, que disciplina a aplicação de medidas antidumping,, "considera-se prática de dumping a introdução de um bem no mercado doméstico, inclusive sob as modalidades de drawback, a preço de exportação inferior ao valor normal" (art. 4º), entendido como tal "o preço efetivamente praticado para o produto similar nas operações mercantis normais, que o destinem a consumo interno no país exportador" (art. 5º). Todavia, "encontrando-se dificuldades na determinação do preço comparável no caso de importações originárias de país que não seja predominantemente de economia de mercado, onde os preços domésticos sejam em sua maioria fixados pelo Estado, o valor normal poderá ser determinado com base no preço praticado ou no valor construído do produto similar, em um terceiro país de economia de mercado, ou no preço praticado por este país na exportação para outros países (...)" (art. 7º). 2. O "Protocolo de Acessão da República Popular da China à Organização Mundial de Comércio" (integrado ao direito brasileiro pelo Decreto 5.544/2005) não conferiu a esse País, desde logo, a condição de país predominantemente de economia de mercado. Segundo decorre de seus termos, a acessão da China ao Acordo da OMC foi aprovada para ocorrer de forma gradual e mediante condições. Justamente por isso, o art. 15 do Protocolo reservou aos demais membros da OMC, durante quinze anos, a faculdade de utilizar, nos casos de investigação de prática de dumping que envolvam produtos chineses, a metodologia aplicável a países que não sejam predominantemente de economia de mercado. 3. É legítima, portanto, a Resolução CAMEX 52/2007, que, (a) com base na faculdade prevista no referido Protocolo, e (b) considerando não ter sido demonstrado, nas investigações levadas a cabo, que a produção e comercialização de alho na China ocorre em regime de economia de mercado, (c) adotou, para a apuração da prática de dumping desse produto, dados colhidos em terceiro país (a Argentina), segundo a metodologia prevista no art. 7º do Decreto 1.602/ Segurança denegada. VOTO Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 06/10/2008 Página 5 de 10

6 EXMO. SR. MINISTRO TEORI ALBINO ZAVASCKI(Relator): 1. Questiona-se a legitimidade da Resolução CAMEX 52, de (fls. 26) que dispôs sobre a prorrogação do direito antidumping aplicado nas importações de alhos frescos ou refrigerados, originárias da República Popular da China. Algumas premissas são importantes no exame dessa matéria. As normas que disciplinam a aplicação de medidas antidumping são as previstas no Decreto 1.602, de 1995, editado, segundo o seu preâmbulo, "tendo em vista o disposto no Acordo Relativo à Implementação do Artigo VI do Acordo Geral sobre Tarifas Aduaneiras e Comércio - GATT/1994, aprovado pelo Decreto Legislativo nº 30, de 15 dezembro de 1994, e promulgado pelo Decreto nº 1.355, de 30 de dezembro de 1994, e na Lei nº 9.019, de 30 de março de 1995, na parte que dispõe sobre a aplicação dos direitos previstos no Acordo Antidumping". Dumping tem sua conceituação estabelecida no referido Decreto nesses termos: "Art. 4º Para os efeitos deste Decreto, considera-se prática de dumping a introdução de um bem no mercado doméstico, inclusive sob as modalidades de drawback, a preço de exportação inferior ao valor normal". A apuração do que seja "valor normal" é feita à base, dentre outros, dos seguintes critérios (que aqui interessam para a solução do caso): "Art. 5º Considera-se valor normal o preço efetivamente praticado para o produto similar nas operações mercantis normais, que o destinem a consumo interno no país exportador. (...) "Art. 6º Caso inexistam vendas do produto similar nas operações mercantis normais no mercado interno ou quando, em razão das condições especiais de mercado ou do baixo volume de vendas, não for possível comparação adequada, o valor normal será baseado: I - no preço do produto similar praticado nas operações de exportação para um terceiro país, desde que esse preço seja representativo; ou II - no valor construído no país de origem, como tal considerado o custo de produção no país de origem acrescido de razoável montante a Título de custos administrativos e de comercialização, além da margem de lucro. (...)" "Art. 7º Encontrando-se dificuldades na determinação do preço comparável no caso de importações originárias de país que não seja predominantemente de economia de mercado, onde os preços domésticos sejam em sua maioria fixados pelo Estado, o valor normal poderá ser determinado com base no preço praticado ou no valor construído do produto similar, em um terceiro país de economia de mercado, ou no preço praticado por este país na exportação para outros países, exclusive o Brasil, ou, sempre que isto não seja possível, com base em qualquer outro preço razoável, inclusive o preço pago ou a pagar pelo produto similar no mercado brasileiro, devidamente ajustado, se necessário, a fim de incluir margem de lucro razoável. (...)" 2. No caso concreto, sustenta a impetrante que a apuração do "valor normal" levou em Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 06/10/2008 Página 6 de 10

7 consideração, não os dados obtidos no mercado interno da China (país exportador), mas sim os apurados em outro país (a Argentina), o que, no seu entender, viola as normas estabelecidas no Decreto 1.602/95, já que a China possui a condição país predominantemente de economia de mercado, condição essa decorrente do "Protocolo de Acessão da República Popular da China à Organização Mundial de Comércio", concluído em Doha, Catar, em 10 de novembro de 2001, cuja execução, no Brasil, foi determinada pelo Decreto 5.544/ Não há, no ato impugnado, o vício apontado na impetração. Conforme evidencia o já referido "Protocolo de Acessão da República Popular da China à Organização Mundial de Comércio" (integrado ao direito brasileiro pelo Decreto 5.544/2005), a acessão da China ao Acordo da OMC foi aprovada para ocorrer, não de forma imediata e integral, mais sim de forma gradual e mediante condições. Justamente por isso, foram estabelecidas cláusulas especiais, de natureza transitória, para disciplinar as suas relações de comércio nesse interregno, até a plena acessão. Entre essas cláusulas, está a que interessa ao tema objeto desta impetração: o art. 15. Nele ficou reservada aos demais membros da OMC a faculdade de utilizar, nos casos de investigação de prática de dumping que envolvam produtos chineses, a metodologia apropriada a países de economia de mercado ou a aplicável a países que não o são. Estabeleceu, ainda, em seu inciso d, que essa faculdade terá duração de 15 anos contados da data da acessão da China à Organização, ou seja, até É a seguinte a redação do referido dispositivo: "15.Comparabilidade de preços para a determinação de subsídios e dumping Nos procedimentos relacionados a importações de origem chinesa por um Membro da OMC, aplicar-se-ão o artigo VI do GATT 1994, o Acordo relativo à Aplicação do Artigo VI do Acordo Geral sobre Tarifas Aduaneiras e Comércio de 1994 ("Acordo Antidumping") e o Acordo SMC, em conformidade com o seguinte: a) Na determinação da comparabilidade de preços, sob o artigo VI do GATT 1994 e o Acordo Antidumping, o Membro importador da OMC utilizará, seja os preços e os custos chineses correspondentes ao segmento produtivo objeto da investigação, ou uma metodologia que não se baseie em uma comparação estrita com os preços ou os custos domésticos chineses, com base nas seguintes normas: i) se os produtores investigados puderem demonstrar claramente que, no segmento produtivo que produz o produto similar, prevalecem condições de economia de mercado no que diz respeito à manufatura, produção e à venda de tal produto, o Membro da OMC utilizará os preços ou custos prevalecentes na China do segmento produtivo objeto da investigação, para determinar a comparabilidade dos preços; ii) o Membro da OMC importador poderá utilizar uma metodologia que não se baseie em uma comparação estrita com os preços internos ou custos prevalecentes na China se os produtores investigados não puderem demonstrar claramente que prevalecem no segmento produtivo que produz o produto similar condições de economia de mercado no que diz respeito à manufatura, a produção e à venda de tal produto. b) Nos procedimentos regidos pelas disposições das partes II, III e V do Acordo SMC, quando se tratarem de subsídios descritos nos itens a), b), c) e d) do artigo 14 do referido Acordo, aplicar-se-ão as disposições Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 06/10/2008 Página 7 de 10

8 pertinentes do mesmo; não obstante, se houver dificuldades especiais, o Membro da OMC importador poderá utilizar, para identificar e medir o benefício conferido pelo subsídio, metodologias que levem em conta a possibilidade de que os termos e condições prevalecentes na China nem sempre podem ser utilizados como bases de comparação adequadas. Para aplicar tais metodologias, sempre que factível, o Membro da OMC importador deverá proceder a ajustes desses termos e condições prevalecentes antes de considerar a utilização de termos e condições prevalecentes fora da China. c) O Membro importador da OMC notificará as metodologias utilizadas em conformidade com o item a) ao Comitê de Práticas Antidumping e as utilizadas em conformidade com o item b) ao Comitê de Subsídios e Medidas Compensatórias. d) Uma vez tendo a China estabelecido, em conformidade com a legislação nacional do Membro importador da OMC, que é uma economia de mercado, ficarão sem efeito as disposições do item a), desde que a legislação nacional do Membro importador preveja critérios para aferir a condição de economia de mercado, na data de acessão. Em quaisquer casos, as disposições do item a) ii) expirarão após transcorridos 15 anos da data de acessão. Ademais, nos casos em que a China estabelecer, em conformidade com a legislação nacional do Membro importador da OMC, que em um segmento produtivo particular ou indústria prevalecem condições de economia de mercado, deixar-se-ão de aplicar a esse segmento produtivo particular ou indústria as disposições do item a) referentes às economias que não são economias de mercado" Portanto, no caso concreto, as autoridades brasileiras, ao apurar a prática de dumping, não estavam obrigadas a adotar, necessariamente, o preço do produto praticado no mercado interno chinês, podendo utilizar, como ocorreu, a metodologia aplicável a países com economia não predominantemente de mercado (art. 7º do Decreto 1.602/95). Relativamente às importações de alho fresco e refrigerado, a autoridade impetrada juntou aos autos Nota Técnica DECOM n. 25, de 25 de março de 2008 (fls. 113/124), para afirmar que, inobstante as diligências empreendidas, não ficou demonstrado que, no segmento produtivo objeto da investigação, prevalecem na China condições de economia de mercado. Informa-se que o Departamento de Defesa Comercial enviou aos produtores/exportadores chineses questionário para colher informações e alegações a respeito, cujo resultado evidencia inexistir demonstração de que a produção e a comercialização de alho, naquele País, são operadas em economia de mercado. Nessas circunstâncias, foi legítima, no caso, a aplicação de metodologia específica na apuração da prática de dumping prevista no art. 7º do Decreto n , de 1995, alternativa que encontra amparo no art. 15 do Protocolo de Acessão, acima transcrito. 4. Por fim, no que pertine à margem de dumping aplicada e a legalidade da prorrogação do direito antidumping, também não assiste razão ao impetrante. O valor e o tempo de vigência da medida são determinados justamente com base nos fatos e nas circunstâncias de cada caso, sendo legítima a sua manutenção rebus sic stantibus, ou seja, enquanto persistirem tais circunstâncias. A propósito, reporto-me às informações prestadas autoridade impetrada: "VII - DA QUESTÃO DA LEGALIDADE DA MARGEM DE DUMPING APLICADA. Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 06/10/2008 Página 8 de 10

9 Insurge-se a impetrante acerca da margem aplicada ao direito antidumping em questão, acreditando possuir caráter confiscatório, face ao fato do mesmo corresponder à razão de 100% (cem por cento) do preço do produto importado. Contudo, melhor sorte também não deve acolher os argumentos da impetrante nesse sentido, vez que a prática de dumping é apurada a partir da comparação entre dois preços - o valor normal e o preço da exportação - nada impedindo que tal situação se configure. Note-se, ainda, que as regras que regem a aplicação de direito antidumping não estabelecem um limite à sua cobrança. Pelo contrário, apenas impedem a sua aplicação quando a margem de dumping for considerada de minimis, ou seja, 2% (dois por cento). No que diz respeito aos comentários da impetrante acerca da alíquota do Imposto de Exportação, não se pode deixar de ressaltar que a própria Resolução impugnada, em seu item 2.2, informa a alteração de 14% (catorze por cento) para 35% (trinta e cinco por cento), tendo sido tal alteração considerada no processo em questão. Dessa maneira, a subcotação, apurada a partir da comparação entre os preços domésticos e o preço do produto importado, incluídas as despesas inerentes à internalização do produto, tais como transporte e seguro internacional, Imposto de Importação, direito antidumping etc, superou a margem de dumping, razão pela qual o cálculo do direito considerou essa margem." VIII - DA PLENA POSSIBILIDADE DE PRORROGAÇÃO DO DIREITO ANTIDUMPING APLICADO. Outro importante esclarecimento a ser prestado, tendo em vista os argumentos apresentados pela impetrante, reside na questão de que as normas multilaterais aplicáveis à matéria estabelecem que um direito antidumping permanecerá em vigor no máximo cinco anos contados da sua aplicação ou da última revisão. Isso equivale dizer que, desde que observados os requisitos legais para prorrogação do direito antidumping, inexiste óbice à sua prorrogação, do que decorre ser possível que um direito antidumping venha a ter sua vigência prolongada ao longo dos anos, conforme vem acontecendo no caso em tela" (fls ). 5. Pelo exposto, denego a segurança. Sem honorários (Súmula 105/STJ). É o voto. Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 06/10/2008 Página 9 de 10

10 ERTIDÃO DE JULGAMENTO PRIMEIRA SEÇÃO Número Registro: 2008/ MS / DF PAUTA: 24/09/2008 JULGADO: 24/09/2008 Relator Exmo. Sr. Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI Presidente da Sessão Exmo. Sr. Ministro LUIZ FUX Subprocurador-Geral da República Exmo. Sr. Dr. WALLACE DE OLIVEIRA BASTOS Secretária Bela. Carolina Véras AUTUAÇÃO IMPETRANTE : IMPORTAÇÃO E EXPORTAÇÃO ULTRA GARLIC LTDA ADVOGADA : JÚLIA MARCIER CARDOSO AYRES IMPETRADO : MINISTRO DE ESTADO DO DESENVOLVIMENTO INDÚSTRIA E COMÉRCIO EXTERIOR ASSUNTO: Administrativo - Ato - Resolução CERTIDÃO Certifico que a egrégia PRIMEIRA SEÇÃO, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão: "A Seção, por unanimidade, denegou a segurança, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator." Os Srs. Ministros Castro Meira, Denise Arruda, Humberto Martins, Herman Benjamin, Mauro Campbell Marques, Benedito Gonçalves, Eliana Calmon e Francisco Falcão votaram com o Sr. Ministro Relator. Brasília, 24 de setembro de 2008 Carolina Véras Secretária Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 06/10/2008 Página 10 de 10