Uma análise das causas que levam as mulheres ao aborto em São Luís-MA
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- Luana Aleixo Amarante
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1 GT 16: Saúde e Sociedade Uma análise das causas que levam as mulheres ao aborto em São Luís-MA 1 Introdução Profª Dra. Lílian Olivera 1 Profa Ms.Terezinha Campos 2 Na América latina o aborto se constitui em uma das maiores causas de mortalidade materna e sua prática continua sendo um tema polêmico sob o ponto de vista legal, como social, moral e religioso. As elevadas estimativas de aborto provocado fazem do tema uma importante questão de saúde pública. No Brasil, o aborto constitui a quarta causa de morte materna (ROYSTON, 1991); no entanto, alguns estudos com base nas causas de morte registradas nos certificados de óbitos mostram que o aborto representa a terceira causa de morte materna em São Paulo e a primeira no Rio de Janeiro (LAURENTI, 1990; LA GUARDA, 1990). Estudos mais recentes sugerem que o número de abortos no Brasil vem diminuindo na medida em que diminuíram as gravidezes não desejadas. Um aborto induzido, realizado sob cuidados médicos, custa caro e as chances de conseqüências negativas são mínimas, enquanto um aborto induzido, sem atendimento médico e sem cuidados higiênicos, tem um custo baixo, mais às conseqüências podem ser demasiado caras a ponto de comprometer a saúde e por em risco a vida da gestante. O presente estudo tem por objetivo discutir os aspectos ideológicos, legais e os riscos do aborto e as causas que levam as mulheres a um aborto. Neste estudo se realizou uma pesquisa de campo, composta de observação direta e entrevistas com 10 mulheres que se dispuseram a fazer depoimentos sobre suas experiências de interrupção de gravidez em São Luís. O período da pesquisa de campo foi de março a setembro de Os resultados foram tratados por meio da análise de conteúdo. 1 Socióloga. Mestre em Sociologia. Doutora em Educação. Faculdade São Luís/Faculdade Atenas Maranhense. lolivera@yahoo.com. 2 Turismóloga. Mestre em Gerontologia. Faculdade São Luís.. tdjcampos@ahoo.com.br
2 2 Por que a mulher decide abortar Uma de cada quatro mulheres grávidas no mundo, ou aborta ou tem um nascimento não desejado. Nos países desenvolvidos 49% das gravidezes não são planejadas e 36% terminam em aborto. Nos países em desenvolvimento, esses números são menores, 36% e 20%, respectivamente. Coincidentemente, esses índices parecem acompanhar a idade de inicio das relações sexuais das mulheres adolescentes, nos países desenvolvidos, aos 20 anos, 77% das jovens adolescentes já tiveram sua primeira relação sexual enquanto que na América Latina é de 56%. São diversas as causas que levam as garotas a abortar. Entre as principais razões está o fato de elas não poderem ter o filho por motivos econômicos, pessoais, familiares ou morais. Implica em dizer que são características dessas adolescentes não possuir um certo nível de educação, não ter uma situação financeira favorável, como falta de educação sexual que possibilite a prevenção. As mulheres que decidiram interromper uma gestação, é provável que chegaram a essa conclusão devido à falta de meios para cuidar e criar o filho sozinhas. (THE ALAN GUTTMACHER INSTITUTE, 1999:14). Há um aumento no índice do aborto provocado em adolescentes, no Brasil. Alguns estudos apontam que a média de idade das mulheres que engravidam caiu bastante, sendo composta de adolescentes na faixa etária, de 10 anos a 19 anos de idade. O aborto em adolescentes não está associado diretamente ao nível de renda, no entanto, este fator torna-se um fato importante no que diz respeito ao aborto, pois (...) as mulheres das classes pobres praticam o aborto em condições muitíssimo piores que as mulheres da classe média e alta. (BARROSO e CUNHA, 1980:16). A literatura documenta as dificuldades e o significado da experiência de aborto para as mulheres, mas nada é tão eloqüente quanto suas próprias palavras. Os depoimentos mostram a angustia, o medo e a solidão que as mulheres que praticam a interrupção de uma gravidez vivenciam. As adolescentes optaram pelo aborto, mas não estavam plenamente conscientes de que isso daria certo. Em parte devido a sua própria condição de adolescente, não houve plena convicção não maioria delas ou não houve condição econômica os suficientes para custear um possível aborto. Todos esses condicionantes levam a afirmar que as adolescentes
3 consideraram o aborto como uma primeira opção factível, é por isso que a maioria tentou abortar tomando chás ou abortivos comprados na farmácia. 3 O dilema da adolescente Qual o dilema da adolescente ao saber da sua gravidez? Ter o filho ou abortar, qualquer um deles é um problema para ela. Os depoimentos permitem mostrar que elas ainda não querem ter um filho, principalmente pela situação econômica atual e futura. A primeira resposta a esse dilema, a decisão quase inequívoca que elas assumem é o aborto, só que anteriormente as adolescentes não tinham percebido que o assunto do aborto em carne própria não é um problema de fácil solução. É nesse momento que elas perguntam, indagam por uma resposta que permita estabelecer os riscos e perigos de um aborto, que pode comprometer a sua vida, que podem estar acabando com a vida de um ser humano, é nesse momento que aparecem em toda a sua real dimensão o fantasma o aborto, como um escolho, como uma salvação, como uma condena. Tomar a decisão de abortar para a adolescente inicialmente significa averiguar tudo para realizar o aborto. Quando a situação econômica é favorável ela vai decidir por abortar numa clínica com um Professional médico. Mas quando ela não tem o dinheiro necessário vai tentar algum método abortivo barato, talvez um chá, por exemplo. É nesse período que a ajuda do parceiro, dos familiares, dos amigos, professores e de instituições relacionadas, que podem ajudá-la a tomar a decisão mais correta. Qualquer tentativa inicial das adolescentes por interromper a gravidez é o sintoma de que elas decidiram abortar. Obviamente que elas não tem conhecimento suficiente sobre a eficácia de alguns chás como abortivos. Em quase todos os casos elas decidem abortar e de imediato tentam com um chá, recomendado por amigas. 4 Conclusão Abortar ou não, a decisão é difícil, mas segundo os depoimentos inicialmente é rápida e quase sempre a jovem grávida decide pelo aborto, contudo não é uma decisão inflexível porque depende de outros fatores, um deles é a falta de conhecimento adequado dos métodos abortivos.
4 Esse fato da decisão se vê influenciado em todo momento pela realidade da rejeição da família a ter uma filha grávida sem ela ser casada, dependência dos pais, estavam estudando e não tinham um emprego. Essa realidade de dependência é um dos fatores mais importantes que induz à menina a tomar a decisão de abortar, ela percebe que os pais podem expulsá-la ou deixar de ajudá-la para que siga estudando e para não ter essas dificuldades decide experimentar algum método abortivo. O estado psicológico da adolescente grávida solteira envolve muita pressão e desespero, ela vai perguntar por conselhos ou ajuda as pessoas mais próximas além dos pais, obviamente são as amigas. O que ela tem decidido inicialmente é simples, ela quer informação sobre os abortivos para terminar com a gravidez. As amigas não estão bem informadas, e elas apenas conhecem superficialmente. Alguns abortivos que aparentemente não são caros e podem dar resultado no início da gravidez são aqueles populares, e nessa tentativa as grávidas irão experimentá-los timidamente, por exemplo, tomando chás. A dependência dos pais não é o único fator que leva a adolescente grávida a tentar abortar. Psicologicamente é um fator que se junta a outros fatores e levam a menina a decidir pelo aborto. Podemos indicar que as adolescentes grávidas preferem abortar, isso sempre e quando seja uma gravidez indesejada. Todas, segundo as entrevistas, decidem abortar, o fato inicial delas tomarem chás significa que recorreram ao método que causa menos seqüelas, o mais barato e de fácil acesso. Só que esse abortivo não é seguro, motivo pelo qual não deu resultado com as entrevistadas. Será que agora que tem a pílula do dia seguinte essas adolescentes as teriam tomado?, lembre-se que o custo dessa pílula não é alto e está ao alcance da maioria. As adolescentes que abortaram manifestaram que não estariam dispostas a um novo aborto. As mulheres, em sua maioria, conheciam os diferentes métodos anticoncepcionais mas não os utilizavam ou faziam mau uso destes, o que as levou
5 a uma gravidez e ao aborto e suas seqüelas. Os resultados indicam que a prática clandestina do aborto é um fator de risco que eleva ainda mais as probabilidades de mortalidade materna. O perfil sócio-econômico das mulheres que abortaram são pobres e sem seguro médico e que recorrem ao aborto clandestino através de métodos tradicionais, com altos riscos para a saúde e de vida. Os depoimentos das mulheres são reveladores de uma combinação de elementos novos e tradicionais de comportamento que permearam suas decisões sobre o aborto e marcam suas histórias de vida. Elementos estes que, certamente, estão presentes na sociedade brasileira e que tanto acirram as contradições em torno à discussão do aborto.
6 9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BALTAR M.I., A Questão do Aborto no Brasil: o debate no Congresso, Estudos Feministas, Ano 4, N.2/96: , Brasil, BARROSO, Carmém Lúcia de Melo & CUNHA, Maria Carneiro da. O que é aborto. São Paulo: Cortez, 1980 LAGUARDA K.D. et. Alii., 10-year review of maternal mortality in a municipal hospital in Rio de Janeiro: A cause for concern, Obstetrics and Gynecology, 75, 1, LAURENTI R. et. Alii., Mortalidade de mulheres em idade fértil no município de São Paulo (Brasil), 1986 II Mortes por causas maternas, Revista de Saúde Pública, 24(6), , São Paulo, MEDRADO, B. & LYRA, J. A adolescência desprevenida e a parternidade na adolescência. In: SCHOR, N., MOTA, M.; CASTELO BRANCO, V. (Org.). Cadernos Juventude, Saúde e Desenvolvimento. Brasília: Ministério da Saúde, Secretaria de Políticas de Saúde, V. 1, ROYSTON E. Y ARMSTRONG S. (editores), Prevención de la mortalidad Materna, Organización Mundial de la Salud, Ginebra, THE ALAN GUTTMACHER INSTITUTE, Induced Abortion Worldwide, The Alan Guttmacher Institute, New York, USA, 1999.
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