Assessoria ao Cirurgião Dentista
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- Sandra Desconhecida Canto
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1 Assessoria ao Cirurgião Dentista Publicação mensal interna a Papaiz edição VI dezembro de 2014 Escrito por: Dr. André Simões, radiologista da Papaiz Diagnósticos Odontológicos por Imagem papaizassociados.com.br
2 Odontologia na prevenção do AVC: Ateroma de Artéria Carótida De que modo o cirurgião dentista pode colaborar? O Ateroma de Artéria Carótida é o principal fator responsável pela ocorrência do AVC e frequentemente, pode ser observado por meio dos exames de Radiologia Odontológica. Atualmente, os profissionais da área da saúde trabalham com a filosofia da prevenção de doenças. Na Odontologia a dentística, por exemplo, estimula a higiene oral e uma alimentação regrada; a estomatologia trabalha com o autoexame na prevenção do câncer bucal. Acredita-se que da mesma forma que aquecimento muscular previne lesões aos atletas, os não fumantes têm menor probabilidade de desenvolver câncer pulmonar do que os fumantes. De maneira geral, em todas as áreas da saúde, quanto mais cedo uma condição patológica for identificada, melhor o prognóstico e, portanto, mais conservador será o tratamento. Esta é a razão pela qual todo e qualquer método preventivo é importante. O diagnóstico precoce de lesões contribui para o aumento da perspectiva de vida dos brasileiros, que está aumentando. O ateroma desenvolve-se progressiva e silenciosamente. Muitas vezes, o cirurgião dentista pode ser o primeiro profissional da área da saúde a se deparar com um ateroma de carótida. Dentro da nossa área de atuação, podemos e devemos fazer um link, uma ponte, entre os pacientes mais propensos ao AVC com os achados imaginológicos, de modo a encaminhar pacientes de risco para as especialidades médicas, como a Cirurgia Vascular e a Cardiologia.
3 Ateroma de Artéria Carótida O ateroma nada mais é do que um amontoado de moléculas de gordura, envolto por um tecido fibroso, que forma uma verdadeira placa (uma barreira), que obstrui a luz das artérias gradativamente. Se não for identificado precocemente, um ateroma de artéria carótida pode levar a um AVC. Secção de uma artéria, mostrando sua luz reduzida em função das placas de ateroma. Eis o papel do cirurgião dentista Ter em mãos a história médica do seu paciente e seus antecedentes familiares relatados através de anamnese, de modo que, ao juntar os fatores de risco com os achados imaginológicos, possamos encaminhar o paciente às especialidades médicas correspondentes (Cirurgia Vascular, Cardiologia) evitando um possível AVC. Os fatores de risco para o desenvolvimento de ateroma são: idade acima de 45 anos; hábitos deletérios (tabagismo e/ou etilismo); hipertensão, diabetes mellitus, hipercolesterolemia; obesidade; histórico pregresso (e familiar) de doenças cardiovasculares/ave. Um dado interessante Um estudo recente publicado na International Journal of Cariology mostrou associação do nosso tão estudado Streptococcus mutans (agente etiológico primário da cárie dental) com a formação de placas de ateroma, assim como em certas cardiopatias. Não só o S Mutans, mas outros patógenos periodontais, também estão ligados à formação de placas de ateroma, uma vez que estas bactérias podem adentrar à corrente sanguínea e aderirem-se às paredes dos vasos sanguíneos, lesionando-os.
4 Acidente Vascular Cerebral: sua importância epidemiológica Segundo a Sociedade Brasileira de Doenças Cerebrovasculares, o Acidente Vascular Cerebral (AVC) é a doença que mais mata os brasileiros. O AVC é caracterizado por um déficit neurológico súbito, decorrente de uma falha no aporte sanguíneo do encéfalo, quer pelo bloqueio ou pelo rompimento de uma artéria (AVC do tipo isquêmico ou do tipo hemorrágico, respectivamente). O AVC isquêmico está diretamente ligado ao acúmulo de ateroma da artéria carótida. Fonte: AVC isquêmico Um coágulo bloqueia o fluxo sanguineo para uma área do cérebro AVC hemorrágico O sangramento ocorre dentro ou ao redor do cérebro Artéria Carótida As artérias carótidas asseguram a irrigação arterial da cabeça e do pescoço (juntamente com as artérias vertebrais). A artéria carótida comum bifurca-se em carótida interna e externa na altura da terceira/quarta vértebra cervical: esta bifurcação é o local de maior acúmulo de placas de ateroma, que por vezes mineralizam-se e, portanto, podem ser observados pelos exames de Radiologia Odontológica. Destaque em vermelho ilustra a localização da artéria carótida comum. Fonte: carotid-arteries.jpg
5 Radiografias Panorâmicas Algumas estruturas cervicais são projetadas nas Radiografias Panorâmicas, pois se localizam num ponto focal da incidência dos Raios X (conhecido por Camada de Imagem ). Projeções de estruturas cervicais na Radiografia Panorâmica. Estas estruturas, pela sua densidade e espessura, são observadas através das Radiografias Panorâmicas e pela Tomografia Computadorizada por Feixe Cônico: é o caso de parte da coluna cervical (3), a cartilagem tireoide (2) (quando há sua mineralização fisiológica) e o próprio osso hioide (1), por exemplo. Projeções de estruturas cervicais na Radiografia Panorâmica. A artéria carótida e seus ramos estão dentro do foco das radiografias panorâmicas, mas pela sua menor densidade e espessura, não são observadas (quer pelas radiografias panorâmicas, quer pela tomografia computadorizada por feixe cônico). No entanto, as placas de ateroma, quando mineralizadas, podem ser vistas. Stent instalado na artéria carótida direita delimitando seu trajeto.
6 Aspectos Radiográficos O ateroma de artéria carótida pode mostrar-se em diferentes aspectos imaginológicos, tais como: nodular (único ou múltiplo) e tubular, configurando-se no formato da luz de um vaso sanguíneo. Nas radiografias panorâmicas o ateroma pode aparecer abaixo do ângulo da mandíbula e adjacente ao osso hioide e à coluna cervical. Paciente do gênero masculino, 80 anos Imagem radiopaca na região cervical, de aspecto tubular compatível com ateroma carotídeo, no lado esquerdo (Seta A). Paciente do gênero masculino, 62 anos Seta A: radiopacidade projetada na região cervical, de aspecto tubular, compatível com ateroma carotídeo bilateral. Seta B: calcificação da cartilagem tireóidea (fisiológica). Paciente do gênero masculino, 56 anos. Seta A: radiopacidade tubular projetada na região cervical, compatível com ateroma carotídeo bilateral. Seta C: projeção do osso hioide.
7 Caso I: Reconstruções Tridimensionais Vista Frontal Vista Lateral (lado esquerdo) Seta A: calcificações distróficas em região cervical próximas a terceira vértebra Corte Axial Corte Coronal Corte Sagital (lado esquerdo) Paciente do gêncero masculino, portador de hipertensão arterial sistêmica Seta A: calcificação em região cervical (espaço carotídeo lado esquerdo).
8 Caso II: Reconstruções Tridimensionais Vista Frontal Vista Póstero Lateral Calcificações distróficas em região cervical próximas a terceira vértebra Corte Axial Corte Coronal Corte Sagital Seta A: calcificação distróficas em ambos os espaços carotídeos
9 Caso III Paciente do gênero feminino, 56 anos. Seta A: radiopacidade tubular projetada na região cervical, compatível com ateroma carotídeo, lado esquerdo. Corte Axial Corte Coronal Corte Sagital Seta A: calcificação distróficas em espaço carotídeo esquerdo
10 O CD como profissional da saúde, além de atuar dentro do Aparelho Mastigatório, zela pela integridade sistêmica de seu paciente. Muitas vezes, achados clínicos podem interferir na intervenção odontológica, desde a cautela na escolha do componente anestésico em pacientes hipertensos, à prescrição do antibiótico mais adequado para cada caso e cada paciente; sem mencionar as manifestações orais de quadros sistêmicos. Seguindo esta filosofia, a observação de calcificações distróficas na região cervical, por meio dos exames de Radiologia Odontológica, inspira cautela. Além do achado radiográfico, qual a probabilidade do paciente estar acometido pelo ateroma de artéria carótida (seu histórico, seus hábitos)? Tendo em vista que a circulação sanguínea é fechada, existe também a possibilidade de que outros vasos sanguíneos podem apresentar ateroma nas suas paredes (as artérias coronárias, por exemplo). Eis o modo com o qual a Odontologia pode contribuir com a prevenção do Acidente Vascular Cerebral e também, em segunda instância, com o Infarto Agudo do Miocárdio. No nosso país, onde vemos que o aumento da perspectiva de vida é crescente, insistimos na ideia: devemos encaminhar os pacientes de risco para as especialidades médicas como a Cirurgia Vascular e a Cardiologia.
11 Referências Bibliográficas Fernandes CP, Oliveira FA, Silva PG. Molecular analysis of oral bacteria in dental biofilm and atherosclerotic plaques of patients with vascular disease. International Journal of Cardiology Jul 1;174(3): doi: /j.ijcard Epub 2014 Apr 26. Sociedade Brasileira de Doenças Cerebrovasculares, Acidente Vascular Cerebral ( Papaiz EG; Capella LRC, Oliveira RJ. Atlas de Tomografia Computadorizada por Feixe Conico para o Cirurgião-dentista. São Paulo: Editora Santos, 2011 Capítulo 1 (Anatomia Craniofacial) p 2-3. Centurion, B, S. Estudo de calcificações em tecidos moles em exames detomografia Computadorizada de Feixe Conico e Radiografia Panoramica Digital. Dissertação de Mestrado Faculdade de Odontologia de Bauru. Universidade de São Paulo, Capítulo 3 (Pescoço) p Scarfe WC; Farman AG. Soft Tissue Calcifications in the Neck: Maxillofacial CBCT Presentation and significance. AADMRT Newsletter, 2010; Spring: 1-4. Ellis H; Logan BM; Dixon AK. Anatomia Humana Seccional: atlas de secções do corpo humano, imagens por TC e RM. 3. Ed. São Paulo: Santos, 2010 Allaredy, Veeratrishul. Incidental findings on cone beam computed tomography.thesis, University of Iowa,
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