UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
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1 1 UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA GEOLOGIA PAULO ROBERTO RODRIGUES BENEVIDES FILHO ESTRATIGRAFIA DE SEQUÊNCIAS DE BACIAS RIFTE: APLICAÇÃO DE UMA NOVA METODOLOGIA DE PESQUISA NA INTERPRETAÇÃO TECTÔNO-ESTRATIGRÁFICA DA PORÇÃO SUDOESTE DA BACIA DO RECONCAVO Salvador 2013
2 2 PAULO ROBERTO RODRIGUES BENEVIDES FILHO ESTRATIGRAFIA DE SEQUÊNCIAS DE BACIAS RIFTE: APLICAÇÃO DE UMA NOVA METODOLOGIA DE PESQUISA NA INTERPRETAÇÃO TECTÔNO-ESTRATIGRÁFICA DA PORÇÃO SUDOESTE DA BACIA DO RECONCAVO Monografia apresentada ao Curso de Geologia, Instituto de Geociências, Universidade Federal da Bahia, como parte dos requisitos para obtenção do título de Bacharel em Geologia. Orientador: Prof. Dr. Michael Holz Salvador 2013
3 3 TERMO DE APROVAÇÃO PAULO ROBERTO RODRIGUES BENEVIDES FILHO ESTRATIGRAFIA DE SEQUÊNCIAS DE BACIAS RIFTE: APLICAÇÃO DE UMA NOVA METODOLOGIA DE PESQUISA NA INTERPRETAÇÃO TECTÔNO-ESTRATIGRÁFICA DA PORÇÃO SUDOESTE DA BACIA DO RECONCAVO Monografia apresentada como parte dos requisitos para obtenção do título de Bacharel em Geologia pela Universidade Federal da Bahia. BANCA EXAMINADORA 1º Examinador Michael Holz (GETA UFBA) Orientador Doutor em Geociências pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS 2º Examinador Argemiro de Paula Garcia Filho (PETROBRAS) Geólogo pelo Instituto de Geociências USP 3º Examinador Flávio Miranda de Oliveira (PETROBRAS) Mestre em Estratigrafia e Sedimentologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS Salvador, setembro de 2013
4 Only as a warrior can one survive the path of knowledge, because the art of a warrior is to balance the terror of being a man with the wonder of being a man. Don Juan Matus 4
5 5 AGRADECIMENTOS Gostaria de agradecer primeiramente a Deus, essa energia criadora, que nos deu e nos dá diariamente a oportunidade única de experimentar a realidade, e através dessa melhorarmos e entendermos cada vez mais a nossa existência. Em seguida gostaria de agradecer a você que lê esse trabalho neste exato momento, afinal de contas sem você esse trabalho não existiria. O que assegura a existência de um trabalho, e desse trabalho em especial, como uma fonte de conhecimento não é a confecção do mesmo, pois essa é apenas a expressão de conhecimentos que eu obtive ao longo desses deliciosos anos em que tive a honra de estudar essa Ciência magnifica que é a Geologia. O que assegura, o que torna real a existência desse e de qualquer trabalho é quem o lê. Na medida em que esse ou qualquer outro trabalho é lido o mesmo se torna palpável, alcançável através da realidade de quem o lê e do que lhe é passado, então agradeço imensamente a você, que lê este trabalho. Agradeço à Universidade Federal da Bahia, a todo seu corpo docente composto por grandes mestres e funcionários, através dos quais pude aprender, além de muitas outras coisas fantásticas, o que significa a Geologia e o que significa ser um Geólogo. A Geologia é algo difícil de definir com palavras, que para compreender de forma plena é preciso vivenciar, hoje tenho convicção de que alcancei o entendimento e a plenitude com que vivo e me relaciono com meus semelhantes em muito através do conhecimento e da liberdade de pensamentos e possibilidades que a boa Geologia carrega na sua essência. Os momentos que vivi nesse curso me fizeram, em grande parte, o que sou hoje. A todos que fizeram parte dessa experiência saibam que lhes sou eternamente grato. Ao professor Michael Holz, que me ensinou através do seu modo de ser e trabalhar todos os dias que a humildade é o melhor caminho para o aprendizado e que sempre existe algo que podemos aprender com qualquer um. A Luis Huerga, um companheiro de trabalho e amigo com quem sempre pude contar em todos os momentos, de uma paciência e carinho fantásticos. Aos meus colegas de GETA: Yves, Vinicius, Esteban, Edric, Priscila, Bruno, Uilli, Breno e Felipe, que me acolheram e que acolhi, pessoas com quem aprendi muito e tive prazer de poder também ensinar um pouco das minhas experiências. A Telésforo Marques, um professor não apenas de Geologia, mas um professor da vida, que mostra a seus alunos, a todo o momento, que o pensamento crítico e uma cabeça aberta valem mais do que mil ferramentas. A minha equipe BRJ de campo II e III. Luan, Ramon e Pedro: os momentos, dificuldades e êxitos que tivemos desde o dia em que nos reunimos pela primeira vez até o dia
6 6 de hoje construíram um elo poderoso, espero ter sempre a oportunidade de estar junto com os senhores aprendendo, melhorando e rindo acima de qualquer coisa, de tudo! A Bruno Trilobita, amigo, irmão, pai e filho de todas as horas. Para concluir, gostaria de agradecer a todos os meus companheiros de jornada, pessoas que, assim como eu, vieram aqui por uma razão, e por uma razão encontrei durante a minha caminhada, sou imensamente grato por tudo que, com todos, pude aprender. Um agradecimento especial aos meus pais, parentes e amigos, mestres com quem dividi momentos mágicos da minha vida. É incompreensível a minha existência sem a existência de todos vocês.
7 7 RESUMO A bacia do Recôncavo encontra-se localizada na região do Nordeste brasileiro, estado da Bahia. Desenvolvida durante a quebra do Gondwana e abertura do Oceano Atlântico, sobre o Cráton do São Francisco, esta bacia consiste em aulacógeno, ou braço abortado de rifte. A área de trabalho está situada no sudoeste da bacia, a sul da Falha de Casarongongo e a norte da Baía de Todos os Santos. A análise dos dados utilizados na pesquisa foi realizada através da ótica da Estratigrafia de Sequencias de Bacias Rifte. A aplicação desse método promove a separação dos sedimentos com diferentes padrões deposicionais em diferentes tratos tectônicos: Trato Tectônico de Início de Rifte, Trato Tectônico de Desenvolvimento de Rifte e Trato Tectônico de Preenchimento de Rifte. A interpretação de oito perfis de poços e oito linhas sísmicas resultou em três correlações estratigráficas e geológicas além de um mapa estrutural da área, possibilitando assim uma melhor compreensão da variação do nível de base e evolução das estruturas na área de trabalho. Palavras-chave: Bacia do Recôncavo, Estratigrafia de Sequências de Bacias Rifte, Formação Taquipe, Falha de Cassarongongo.
8 8 ABSTRACT The Recôncavo Basin is located in the northeastern Brazilian state of Bahia. Developed during the break up of Gondwana and the opening of the Atlantic Ocean, on the São Francisco Craton, this basin is an aulacogen or aborted branch of a rift. The work area is located in the southwest of the basin, south of the Casarongongo fault and north of the Baia de Todos os Santos. The analysis of the data used in the research was conducted through the lens of Sequence Stratigraphy of Rift Basins. The application of this method promotes the separation of sediments with different depositional standards in different tectonic tracts: Rift Initiation Tectonic Tract, Rift Development Tectonic Tract and Rift Fill Tectonic Tract. The interpretation of eight well logs and eight seismic lines resulted in three stratigraphic and geological correlations besides a structural map of the area, thus enabling a better understanding of the variation of the base level and evolution of structures in the work area. Keywords: Recôncavo Basin, Sequence Stratigraphy of Rift Basins, Taquipe Formation, Cassarongongo Fault.
9 9 LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Localização e acesso a cidade de São Sebastião do Passé, o polígono em vermelho delimita a área de estudo. A distancia entre Salvador e São Sebastião do Passé, representada pela linha azul na figura, é de 68 km Figura 2 - Carta Estratigráfica da Bacia do Recôncavo Figura 3 - Mapa com a localização da área de trabalho Figura 4 - Mapa Geológico da Área de Trabalho Figura 5 - Perfil esquemático representativo da configuração da bacia durante o Trato Tectônico de Início de Rifte Figura 6 - Figura esquemática mostrando o TTDR e a falha principal de bordo Figura 7 - Figura esquemática demonstrando a deposição do TTPR Figura 8 - Distribuição espacial dos poços e linhas sísmicas da área de trabalho Figura 9 - Sessões basais dos poços P3, P4, P5 e P Figura 10 - Mapa estrutural com zoom na área de trabalho. Modificado de Destro Figura 11 - Comparação das assinaturas de GR dos poços P4 e P5. Notar padrão levemente retrogradacional do TTDR Figura 12- Sessão basal do poço P Figura 13- Sessão tipo do TTDR no perfil P Figura 14 - Detalhe no Perfil P5 da Discordância Rio da Serra Superior em vermelho Figura 15 - Expressão da Sequencia Taquipe no poço P Figura 16 Correlação W-E com os poços nos quais aparece a sequencia Taquipe Figura 17 - Perfil característico transicional que definiu a Superfície Basal do São Sebastião35 Figura 18 Comparação da mudança do estilo deposicional antes e depois da Sup. Basal São Sebastião Figura 19- Ferramenta de Amarração do OpenDetect Figura 20- Detalhe de estrutura falhada semiparalela a linha sísmica S Figura 21- Detalhe das terminações estratais acima e abaixo da Discordância Basal da Sequência Taquipe Figura 22- Disposição tridimensional das linhas sísmicas com as superfícies marcadas Figura 23- Detalhe na Superfície Basal São Sebastião Figura 24- Diferentes modelos de inversão de falha com rotação de blocos. (A) Inversão do mergulho da falha. (B) Inversão da polaridade da falha Figura 25- Modelo estrutural esquemático da área de trabalho... 46
10 10 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO OBJETIVOS JUSTIFICATIVA METODOLOGIA GEOLOGIA REGIONAL BACIA DO RECONCAVO GEOLOGIA LOCAL ESTRATIGRAFIA DE SEQUÊNCIAS APLICADA A BACIAS DO TIPO RIFTE TRATO TECTÔNICO DE INICIO DE RIFTE TRATO TECTÔNICO DE DESENVOLVIMENTO DE RIFTE TRATO TECTONICO DE PREENCHIMENTO DE RIFTE ANÁLISE DE DADOS APRESENTAÇÃO INTERPRETAÇÃO DOS PERFIS SUPERFICIE BASAL DO TRATO TECTONICO DE DESENVOLVIMENTO DE RIFTE SUPERFICIE DE MÁXIMO RIFTEAMENTO DISCORDANCIA RIO DA SERRA SUPERIOR DISCORDÂNCIA BASAL DA SEQUENCIA TAQUIPE SUPERFICIE BASAL SÃO SEBASTIÃO INTERPRETAÇÃO SÍSMICA DISCORDANCIA BASAL DA SEQUENCIA TAQUIPE SUPERFICIE BASAL SÃO SEBASTIÃO INTEGRAÇÃO DOS DADOS E MODELO GEOLÓGICO CORRELAÇÃO 1 (VIDE ANEXO 1)... 43
11 CORRELAÇÃO 2 (VIDE ANEXO 2) CORRELAÇÃO 3 (VIDE ANEXO 3) MODELO ESTRUTURAL ESQUEMÁTICO CONCLUSÕES... 47
12 12 1 INTRODUÇÃO A área está localizada na região a Sul do Campo de Taquipe, a 68 quilômetros de Salvador, entre as cidades de Candeias, Santo Amaro e São Sebastião do Passé, englobando a última. A principal via de acesso é a BR-324 (Figura 1). A mesma se situa na contexto deposicional da Bacia do Recôncavo, essa depositada durante a abertura do Oceano Atlântico durante a fragmentação de Gondwana no final do Jurássico e durante o Cretáceo. Figura 1 - Localização e acesso a cidade de São Sebastião do Passé, o polígono em vermelho delimita a área de estudo. A distancia entre Salvador e São Sebastião do Passé, representada pela linha azul na figura, é de 68 km. Fonte: Google Earth
13 OBJETIVOS Este trabalho visa o estudo tectono-estratigráfico da área de trabalho, com o objetivo de estabelecer um modelo evolutivo aplicado que auxilie a entender, embasado no que há de mais moderno, em Estratigrafia de Sequências de Bacias Rifte, os acontecimentos que ocorreram e formataram a área, dentro do contexto da bacia, no que conhecemos atualmente. 1.2 JUSTIFICATIVA Comparada a ciências milenares, como por exemplo, a Física, Química, ou a Matemática, a Geologia é uma ciência relativamente jovem, que começou sua difusão e pesquisa massivas há pouco tempo. Portanto, os conceitos e modelos geológicos são constantemente revisitados e discutidos nas diversas áreas, e na Estratigrafia não é diferente. Os estudos mais conhecidos sobre a Sismoestratigrafia surgiram na segunda metade da década de 1970, a Estratigrafia de Sequências como estudamos atualmente teve sua fundação com os trabalhos de Posamentier, Vail e outros (vide publicação de WILGUS et. al, 1988), e desde então essa ciência tem evoluído a passos largos e desenvolvido uma série de diferentes abordagens aplicadas a contextos específicos; este é o caso da Estratigrafia de Sequências de Bacias Rifte. Portanto utilizar-se dessas novas ferramentas para a interpretação de dados da Bacia do Recôncavo é uma alternativa nova e importante no entendimento e prospecção de hidrocarbonetos nessa bacia madura. 1.3 METODOLOGIA A realização deste trabalho foi fundamentada em alguns princípios básicos: levantamento e pesquisa bibliográfica, organização, tratamento e interpretação de dados. O levantamento e a pesquisa bibliográfica consistiram de uma busca e um estudo crítico das principais publicações relativas a modelos de evolução tectono-estratigráfica de bacias rifte e relativas à evolução estratigráfica e estrutural da Bacia do Recôncavo em si. A organização dos dados consistiu no recebimento dos mesmos através de convênio com o Grupo de Estratigrafia Teórica e Aplicada (GETA), grupo de pesquisa credenciado pela UFBA e pelo CNPq e que através de convênios para projetos de pesquisa dispôs dos
14 14 dados utilizados nessa monografia. A base de dados consta de dados de sísmica, dados de poços e dados de georreferenciamento utilizados neste estudo. As linhas sísmicas e dados de poços foram carregados na plataforma livre OpenDetect e a mesma foi utilizada para a interpretação e correlação dos mesmos. O tratamento dos dados foi realizado ao longo da pesquisa com a utilização de diversos softwares para o auxilio a interpretação e ilustração dos dados trabalhados. A interpretação, por sua vez, é a principal parte do método e consistiu de diversas fases as quais são enumeradas e descritas abaixo: Interpretação de padrões de comportamento dos estratos através de perfis geofísicos de poços. Correlação entre os poços interpretados através de datums (superfícies estratigráficas chave). Confecção de sessões estratigráficas mostrando o comportamento deposicional da bacia. Amarração sísmica-poço no software OpenDetect. Analise sísmica da área e confecção de modelo geológico atual da bacia.
15 15 2 GEOLOGIA REGIONAL 2.1 BACIA DO RECÔNCAVO A Bacia do Recôncavo localiza-se no Estado da Bahia, Nordeste do Brasil, ocupando uma área de aproximadamente km 2. Seus limites são dados pelo Alto de Aporá, a Norte e Noroeste, pelo sistema de falhas da Barra, a Sul, pela falha de Maragogipe, a Oeste, e pelo sistema de falhas de Salvador, a Leste. Segundo Magnavita(1992) a bacia é subdividida em três compartimentos por falhas transversais de direção NW (Mata-Catu e Itanagra) as quais se caracterizam em zonas de transferência, dando a cada compartimento uma característica estrutural e estratigráfica distinta. A Bacia do Recôncavo compõe o conjunto de bacias cretáceas que ocorrem ao longo da margem leste brasileira, desenvolvidas sob os esforços distensivos que geraram a quebra do supercontinente Gondwana e a subsequente abertura do Oceano Atlântico (ALMEIDA, 1967 apud KUCHLE; SCHERER, 2010). A Bacia do Recôncavo é um segmento abandonado do rifte que se desenvolveu na mesma época que as bacias adjacentes (Camamu e Sergipe- Alagoas). Porém, junto com as bacias de Tucano e Jatobá, não evoluiu para o rompimento final, que ocorreu ao longo de Sergipe-Alagoas, Jacuípe, Camamu-Almada, Jequitinhonha e Cumuruxatiba (MILANI; THOMAZ FILHO, 2000 apud KUCHLE; SCHERER, 2010). Segue a carta estratigráfica da Bacia do Recôncavo publicada pela Petrobras em 2007 (Figura 2). O retângulo indica a porção estudada no contexto temporal e espacial.
16 16 Figura 2 - Carta Estratigráfica da Bacia do Recôncavo Fonte: Silva et al, 2007
17 17 3 GEOLOGIA LOCAL A área estudada engloba a porção sul do Campo de Taquipe, nos municípios de Candeias, Santo Amaro e São Sebastião do Passé. Segundo Destro (2002) existem ao menos três estruturas distensivas que compartimentam a área de trabalho, entretanto nenhuma delas possui denominação específica (Figura 3). Figura 3 - Mapa com a localização da área de trabalho. Fonte: Modificado de Destro, 2002
18 18 Segundo mapa geológico na escala 1: (Figura 4), produzido pela CPRM, afloram na região da área de trabalho as unidades Holocênicas de Depósitos Aluvionares, o Grupo Barreiras, datado do Paleoceno/Plioceno, dominantemente na porção nordeste do mapa. Essas duas primeiras unidades, mais jovens, não fazem parte do contexto deposicional da Bacia do Recôncavo. Sotoposta, ocorre a Fm. São Sebastião, Segundo Silva et al (2007) sedimento predominantemente fluvial, que diz respeito ao trato tectônico de preenchimento de rifte. Na área, é a formação que aflora de forma predominante. A Oeste há ainda duas formações separadas por uma falha normal, ambas do Grupo Ilhas, sendo a posicionada mais a Noroeste identificada como Formação Marfim. Segundo Silva et al (2007) o Grupo Ilhas é predominantemente deltaico. Este grupo é também parte do trato tectônico de preenchimento de rifte, entretanto depositado anteriormente com o rifte num estágio menos avançado de preenchimento. Como a área de trabalho encontra-se para além do limite norte da folha de Salvador, uma porção pequena da mesma não possui mapeamento 1: compatível com a escala de trabalho a ser realizada. Entretanto é importante frisar que o perfil do poço P1 aponta a Formação São Sebastião como aflorante. Figura 4 - Mapa Geológico da Área de Trabalho Fonte: CPRM
19 19 4 ESTRATIGRAFIA DE SEQUÊNCIAS APLICADA A BACIAS DO TIPO RIFTE A Estratigrafia de Sequências aplicada a bacias do tipo rifte surge como um novo método de interpretação aplicável a bacias com um estilo tectônico e deposicional que não condiziam com a realidade da Estratigrafia de Sequências clássica, aplicada a bacias drift. A diferença básica e fundamental entre as duas está no processo que controla a criação de espaço e deposição de sedimentos. Nas bacias drift há um estado inferido de relativa estabilidade tectônica e estrutural, no que compete o embasamento, que confere a esse contexto duas importantes características que controlam o processo. Para estabelecer os modelos aplicados ao drift admite-se, como um primeiro parâmetro de avaliação, que a quantidade de sedimentação é constante ao longo da evolução da bacia. O segundo parâmetro indispensável é que a criação de espaço é consequência da variação eustática e isostática, ou variação do nível de base, e esta se relaciona a fatores ligados á tectônica vertical e/ou climáticos e com isso formando, ao longo de um ciclo completo de subida e descida do nível de base, uma sucessão determinada e previsível de sucessões progradacionais, agradacionais e retrogradacionais, agrupadas nos chamados tratos de sistemas geométricos. Entretanto, a aplicação desses parâmetros em bacias do tipo rifte não é recomendável, pois as publicações e pesquisas mais modernas que tratam do assunto apontam para um cenário muito mais complexo, onde é possível notar, pela ação intensa do tectonismo regional distensivo que nenhum dos dois parâmetros básicos apresentados acima estão presentes de forma semelhante, fazendo-se então necessária uma nova abordagem. O primeiro parâmetro diz respeito à constância da carga sedimentar. Segundo Prosser (1993) o tectonismo intenso ao qual o embasamento das bacias do tipo rifte é exposto nos primeiros estágios de sua evolução impede a formação de uma rede de drenagem contundente, pois a rotação e rearranjo dos blocos em um tempo geológico curto faz com que a drenagem constantemente seja rearranjada e, por consequência, não consiga ter um poder erosivo para, associado aos altos índices de subsidência mecânica da bacia, ter representatividade no que diz respeito ao preenchimento da mesma. Portanto, nessa fase o preenchimento, modesto, diz respeito às fontes distantes que já contribuíam com sua carga sedimentar estando fora do contexto rifte. Através da evolução do rifte, quando há a estabilização ou diminuição do tectonismo, um novo potencial de carga sedimentar é adicionado. Esse sedimento diz respeito às drenagens que a partir desse momento se estabelecem de forma mais estável e por consequência, apresentam maior poder erosivo.
20 20 O segundo parâmetro também não é, pelos mesmos motivos, aplicável a esse contexto, e pelos mesmos motivos. Por efeito de uma tectônica distensiva ativa, o principal fator de criação de espaço é a própria tafrogênese ou tectônica horizontal, sendo que na fase rifte a isostasia e a eustasia são fatores subordinados e de menor importância. Através então da leitura do artigo de Prosser (1993), entre outros autores e da pesquisa realizada pela equipe do Grupo de Estratigrafia Teórica e Aplicada e de suas diversas monografias e trabalhos em congressos publicados sobre o assunto foi possível chegar a um modelo de evolução de bacia rifte abrangente e aplicável ao contexto da Bacia do Recôncavo. A terminologia dos tratos tectônicos e das superfícies limítrofes é aquela adotada pelo GETA em seus projetos de pesquisa e que está sendo objeto de elaboração de uma publicação (Holz et al, in prep.). 4.1 TRATO TECTÔNICO DE INÍCIO DE RIFTE O Trato Tectônico de Início de Rifte é caracterizado pelo inicio da configuração do estilo rifte na bacia. Segundo Prosser (1993), os trabalhos de Crossley (1984) e Watson et al. (1987) mostram que a evolução esperada de uma bacia do tipo rifte se inicia com a nucleação de uma série de falhas de menor extensão e rejeito gerando várias estruturas em meio graben inicialmente isoladas entre si com preenchimento relativamente independente (Figura 5). Esses meio grabens possuem taxas de subsidência baixas e, portanto, um padrão de preenchimento agradacional rotacional devido a esse caráter de abertura e preenchimento constantes e em ambiente majoritariamente subaéreo. Figura 5 - Perfil esquemático representativo da configuração da bacia durante o Trato Tectônico de Início de Rifte. Fonte: Prosser, 1993.
21 TRATO TECTÔNICO DE DESENVOLVIMENTO DE RIFTE O Trato Tectônico de Desenvolvimento de Rifte é caracterizado pela formação de uma falha de bordo definida através, provavelmente, da amalgamação de muitas dessas estruturas menores, onde há um incremento na atividade tectônica e, portanto, altas taxas de subsidência associadas. Nesse contexto, há uma geração grande de espaço que sobrepõe o aporte sedimentar, iniciando um processo de forte retrogradação caracterizado pela deposição de sedimento cada vez mais fino de fácies lacustre, associado com a presença de slides, slumps, fluxos gravitacionais e turbiditos gerados pelo forte tectonismo presente na bacia nessa fase (Figura 6). Figura 6 - Figura esquemática mostrando o TTDR e a falha principal de bordo. Fonte: Prosser, TRATO TECTÔNICO DE PREENCHIMENTO DE RIFTE O trato tectônico de preenchimento de rifte é caracterizado pela gradual estabilização tectônica da bacia. Esse processo desencadeia duas mudanças importantes na mesma: Gradualmente, os efeitos da tectônica distensiva cessam e, portanto, a geração de espaço é cada vez menor. A estabilização estrutural da bacia permite a instalação de redes de drenagem eficientes e estas originam um incremento na carga sedimentar nesse estágio. As duas características associadas produzem um efeito progradacional nas sequências deposicionais na bacia. Num primeiro estágio haveria uma sobreposição dos fácies lacustres por fácies deltaicos e estuarinos e, em seguida, com o preenchimento do lago, as sequências subaéreas grosseiras num estilo braided seriam dominantes. Com o avanço do tempo, os
22 22 relevos gerados pelo tectonismo, que servem de áreas fonte dessa sedimentação, seriam consumidos e a estabilização cada vez maior do perfil de equilíbrio desencadearia um afinamento gradual dessa sedimentação, com planícies aluviais e rios meandrantes como fácies predominantes (Figura 7).. Figura 7 - Figura esquemática demonstrando a deposição do TTPR. Fonte: Prosser, É preciso frisar que o modelo e sua aplicabilidade são importantes na caracterização das bacias tipo rifte mas, como explicado anteriormente, são derivados de parametrizações nas quais nos embasamos para emitir os conceitos. A natureza por si só não segue nenhum tipo de parâmetro, portanto cada bacia, com sua especificidade, pode nos contar uma história que, na maioria das vezes apresentará os elementos mostrados no modelo: entretanto, trará também uma serie de novos elementos diferentes do modelo puro e simples. De certa forma, essa é uma característica que torna a Geologia uma ciência singular, essa impossibilidade de parametrização e a existência de uma enorme gama de variáveis que acolhe diferentes explicações para um mesmo fenômeno, desde que bem fundamentadas.
23 23 5 ANÁLISE DE DADOS 5.1 APRESENTAÇÃO A base de dados disponibilizada pelo projeto para trabalho na área referida consta de oito perfis de poços, nomeados de P1 a P8, e oito linhas sísmicas, nomeadas de S1 a S8. Os dados estão dispostos na área de trabalho segundo mostra a Figura 8. Figura 8 - Distribuição espacial dos poços e linhas sísmicas da área de trabalho. Fonte: Elaboração Própria, 2013 A interpretação dos dados de poços e sísmica e sua correlação resultaram nos modelos de evolução tectono-estratigráfica que serão aqui apresentados. 5.2 INTERPRETAÇÃO DOS PERFIS Os perfis de poços utilizados neste trabalho foram principalmente o perfil de raios gama (GR) e o perfil de potencial espontâneo (SP) representados nas figuras pelas cores azul e vermelha, respectivamente. Esses dois perfis têm ampla utilização na caracterização do tipo de sedimento que compõe a formação. O objetivo do trabalho foi definir, ao longo dos perfis de poço, superfícies chave utilizadas na caracterização da bacia. As principais superfícies encontradas foram utilizadas
24 24 como datums de amarração estratigráfica e sísmica e suas características e justificativas seguem especificadas abaixo. Uma abordagem teórica do assunto, como foi visto no quarto capítulo dessa monografia, traz uma serie de características e momentos que a análise de dados, numa situação real, muitas vezes não identifica, devido à qualidade e quantidade dos dados ou por especificidades da própria estrutura bacinal. Existem, portanto, superfícies teóricas as quais não foi possível identificar, e que um trabalho profundo com novos dados ou com uma amplitude maior de área poderia caracteriza. É o caso da discordância basal, que separa o embasamento das primeiras sequências sedimentares, ou a superfície basal, que na Bacia do Recôncavo separa as sequências de uma fase sinéclise pretérita às sequencias sedimentares do rifte do Recôncavo; entretanto os dados trabalhados nesta monografia não atingem a profundidade e resolução necessárias para sua caracterização, deixando lacunas que só poderão ser sanadas através da aquisição ou reprocessamento de dados ou ainda interpolação com dados de áreas adjacentes que possuam as respostas a essas perguntas SUPERFICIE BASAL DO TRATO TECTÔNICO DE DESENVOLVIMENTO DE RIFTE A superfície é caracterizada neste trabalho como o momento em que a bacia se torna, através do aumento das taxas de subsidência tectônica e da configuração da falha de bordo principal, um ambiente tipicamente lacustrino, onde a sedimentação de finos é amplamente dominante, marcando assim a passagem do Trato Tectônico de Início de Rifte para o Trato Tectônico de Desenvolvimento de Rifte. As heterogeneidades entre poços esperadas para o TTIR não são enxergadas na escala deste trabalho, mostrando que os poços que atingem essa profundidade, e mostram um padrão semelhante de deposição no TTIR, fizeram parte de uma mesma estrutura. Ou seja, antes da caracterização da falha de bordo em si, quando havia pequenas estruturas em rifte no estágio inicial de sua formação, as áreas limitadas pelos poços P3, P4, P5, P7 fizeram parte de uma mesma sub-estrutura, fractal de rifte. Os outros poços, por sua vez, não têm a profundidade necessária para a caracterização desse trato, podendo fazer parte ou não dessa estrutura (Figura 9).
25 25 Figura 9 - Sessões basais dos poços P3, P4, P5 e P7. Fonte: Elaboração Própria, 2013
26 26 O mapa estrutural de Destro (2002) corrobora essa lógica, pois estruturalmente não existem falhas que compartimentem a área central, onde estão localizados os poços P3, P4 e P7. O poço P5 localiza-se no bloco de lapa de uma falha normal de direção NE-SW localizada no Noroeste da área de trabalho (Figura 10). Entretanto, a assinatura de GR interpretada como início de rifte é semelhante à dos poços localizados na porção central (Figura 11) o que indicaria que a segmentação, ou seja, a gênese e evolução dessa estrutura distensiva, ocorreu após a deposição do TTIR. Figura 10 - Mapa estrutural com zoom na área de trabalho. Modificado de Destro 2002 Outra questão importante nesse contexto diz respeito à seção basal do poço P1. Assim como o poço P5, este se encontra no bloco de lapa da mesma falha. Sua assinatura de GR conta com um pacote espesso de arenitos. Entretanto, a não continuidade da perfilagem, associada a uma discordância sobreposta, coloca em xeque a interpretação clara desse pacote, que pode fazer parte do TTIR ou do ainda não discutido Trato Tectônico de Preenchimento de Rifte (Figura 12).
27 27 Figura 11 - Comparação das assinaturas de GR dos poços P4 e P5. Notar padrão levemente retrogradacional do TTDR. Fonte: Elaboração Própria, 2013 Figura 12- Sessão basal do poço P1. Fonte: Elaboração Própria, 2013
28 SUPERFICIE DE MÁXIMO RIFTEAMENTO A Superfície de Máximo Rifteamento representa o momento de maior retrogradação da bacia, ou seja, o momento onde a subsidência tectônica tem um valor máximo em relação à sedimentação, gerando como efeito disso máximos de GR que representam a deposição dos sedimentos mais finos no contexto bacinal. Associado a isso temos ainda a presença de toda uma gama de fluxos detríticos intercalados a esses sedimentos finos. O forte tectonismo desequilibra, com suas descargas de energia em forma de abalos sísmicos, os sedimentos previamente depositados fazendo com que os mesmos sejam remobilizados para dentro da bacia formando slides, slumps, fluxos detríticos e turbiditos. O resultado disso é um perfil de gama majoritariamente alto intercalado com entradas, em sua maioria, no padrão caixa ou padrões mais caóticos que mostram o grau de desenvolvimento desses fluxos. A seção tipo desse trato pode ser observada claramente ao longo do perfil P2, que possui a expressão mais evidente desse contexto (Figura 13). A Superfície de Máximo Rifteamento marca o topo do Trato Tectônico de Desenvolvimento de Rifte. A partir da mesma, a sedimentação deixa de ser preferencialmente retrogradacional e passa a assumir um padrão preferencialmente progradacional. Este fenômeno é indicativo da diminuição gradativa da tectônica horizontal, com diminuição da criação de espaço, associada à estabilização das drenagens no contexto da bacia rifte e, por consequência, a acreção de uma constante de sedimentação, o que promove esse novo estilo progradacional da bacia.
29 29 Figura 13- Sessão tipo do TTDR no perfil P2 Fonte: Elaboração Própria, DISCORDANCIA RIO DA SERRA SUPERIOR Essa superfície é caracterizada na área de trabalho apenas no poço P5. Como já foi discutido, esse poço encontra-se num bloco de lapa de uma das estruturas normais da área; o seu perfil característico, juntamente com as informações bibliográficas e mapas superficiais, indica que as formações aflorantes são parte do Trato Tectônico de Preenchimento de Rifte (TTPR). O nome adotado para a superfície é dado seguindo a referência encontrada para este estágio na carta estratigráfica da Petrobras.
30 30 O poço em questão possui uma delgada sedimentação de desenvolvimento de rifte, cerca de 190 metros, estágio que nas perfilagens do bloco central da bacia, alcança facilmente os 1000 metros de sedimentação. Essa especificidade nos leva a acreditar que, em algum ponto durante a deposição do TTDR, essa falha se nucleou e desenvolveu-se, gerando a discordância que, nesse caso em particular separa os tratos tectônicos de desenvolvimento e preenchimento de rifte (Figura 14). Figura 14 - Detalhe no Perfil P5 da Discordância Rio da Serra Superior em vermelho. Fonte: Elaboração Própria, 2013
31 DISCORDÂNCIA BASAL DA SEQUENCIA TAQUIPE Este é mais um elemento alheio ao modelo básico da estratigrafia de sequências de bacia rifte que se apresenta no contexto da área de trabalho e que pôde ser caracterizado através de poços e sísmica ao longo da pesquisa. Uma sequência sedimentar completa que se inicia com uma discordância basal, seguida de uma retrogradação forte e uma progradação posterior configuram o que a bibliografia chama de Formação Taquipe. A pesquisa nos leva a crer que seu surgimento está relacionado com o surgimento da falha de alívio de Cassarongongo. Essa falha está localizada a N-NE da área de trabalho, que por sua vez está localizada sobre o bloco alto da falha normal (bloco de lapa) (Figura 3). Assim o surgimento dessa sequencia com uma ampla discordância basal ocorreria com o surgimento da falha de Cassarongongo: o bloco de lapa foi soerguido e exposto, originando a discordância basal e com o prosseguimento da abertura da bacia, ainda em subsidência, deu-se o preenchimento do espaço deixado, formando a sequência conhecida como Cânion de Taquipe. A assinatura de GR dessa sequência é bem característica: inicia-se com a discordância basal que corta os sedimentos do TTPR, prossegue com três parassequências deltaicas, seguidas de uma forte retrogradação onde lama é o sedimento predominante. Neste pacote existe um ponto de quebra característico em todos os perfis que constam essa sequência, onde o GR aumenta abruptamente, nomeado Marco Taquipe, o marco foi observado em todos os poços que possuem a Sequência Taquipe e sua origem pode ser atribuída a diferentes fatores, como por exemplo: aumento abrupto no nível de base ou mudança climática acarretando num aumento da matéria orgânica no sedimento. Em seguida, temos a entrada de progradações com características deltaicas fechando a sequencia sob a próxima discordância. A figura 15 mostra a sessão tipo da Sequência Taquipe enquanto que a figura 16 compara a sua expressão em diferentes perfis de poço.
32 32 Figura 15 - Expressão da Sequencia Taquipe no poço P1 Aumento abrupto de GR em sedimentos argilosos da Seq. Taquipe Fonte: Elaboração Própria, 2013
33 33 Figura 16 Correlação W-E com os poços nos quais aparece a sequencia Taquipe. Fonte: Elaboração Própria, 2013
34 SUPERFICIE BASAL SÃO SEBASTIÃO A última superfície detectada neste trabalho marca a base e início da deposição dos sedimentos do Trato Tectônico de Preenchimento de Rifte referentes ao estágio subaéreo. Os marcos foram estabelecidos nos perfis baseado no momento em que passam a predominar padrões de GR no formato sino em relação aos do formato de funil, essa característica nos indica principalmente que as sequencias sedimentares relativas à deposição fluvial em ambiente subaéreo predominam em relação às sequências deltaicas e estuarinas. Apesar de a sísmica, como veremos a seguir, mostrar truncamentos que marcam a superfície, a mesma não constitui uma discordância no sentido completo da palavra; a sua classificação correta seria a de diastema. Uma discordância representa um grande hiato deposicional, condição sob a qual grande quantidade de registro sedimentar é perdido, portanto o pacote abaixo e acima da superfície tem uma diferença de idade considerável. O caso não parece ser esse por se tratarem de duas etapas consecutivas de preenchimento durante um mesmo evento distensivo. O mais provável é que neste contexto, a forte progradação, provocada pela estabilização tectônica cada vez mais acentuada, aumentando a carga sedimentar e diminuindo a criação de espaço, tenha gerado uma erosão considerável no pacote sotoposto, criando o diastema. Alguns dos poços, por motivos técnicos e/ou econômicos, não possuem os primeiros metros de perfilagem, pois não há interesse econômico direto nas formações mais superficiais, haja visto que as mesmas não são conhecidas por serem potenciais geradoras e reservatórios de hidrocarbonetos. Devido a essas limitações, a superfície pode ser definida apenas em alguns perfis de poço, aqueles que possuem as curvas de perfilagem nos primeiros metros. O problema foi contornado parcialmente graças aos dados sísmicos que permitem a observação da superfície. O perfil do poço P2 é o que traz a sessão mais completa e representativa da mudança dos fácies e que melhor caracteriza a superfície (Figura 17). A figura 18 mostra uma correlação na qual os perfis estão alinhados onde a determinação da Superfície Basal São Sebastião foi possível. Em ambas as figuras a linha roxa a qual é atribuída a denominação TTPR F. Fluviais ou Trato Tectônico de Preenchimento de Rifte Fácies Fluviais refere-se à Superfície Basal São Sebastião.
35 35 Figura 17 - Perfil característico transicional que definiu a Superfície Basal do São Sebastião Fonte: Elaboração Própria, 2013
36 36 Figura 18 Comparação da mudança do estilo deposicional antes e depois da Sup. Basal São Sebastião. Fonte: Elaboração Própria, 2013
37 INTERPRETAÇÃO SÍSMICA A interpretação sísmica foi realizada utilizando a plataforma OpenDetect para a visualização e demarcação das superfícies estratigráficas. Outro recurso da plataforma que auxiliou a interpretação foi a ferramenta de correlação poço-sísmica realizada utilizando-se as curvas de densidade (RHOB) e tempo sísmico (DLT ou Delta t). Utilizando as duas curvas, é possível gerar um sismograma sintético para o poço, ou seja, estimar qual seria a resposta daquela litologia no local do poço se projetada numa linha sísmica e, assim, compará-lo com uma linha sísmica que se encontre nas proximidades do poço. Utilizando essa ferramenta, é possível estabelecer uma relação entre tempo sísmico e profundidade. O poço utilizado como guia foi o poço P8, pois o mesmo possuía as curvas de RHOB e DLT ambas perfiladas em grande extensão do poço. A qualidade da amarração poço-sísmica é calculada pelo software comparando-se o sismograma sintético com o traço sísmico retirado da linha na posição mais próxima do poço possível. Ajustes manuais podem ser realizados na amarração e em seguida o software calcula o coeficiente de correlação (Figura 19). Figura 19- Ferramenta de Amarração do OpenDetect. Fonte: Elaboração Própria, 2013 O coeficiente obtido no caso do poço P8 em relação à linha sísmica S8 foi de 0,61, o que torna essa correlação aceitável (acima de 0,5).
38 38 Através da amarração poço-sísmica foi possível estabelecer a localização dos marcos, interpretados nos perfis, nas linhas sísmicas, e através disso iniciar as marcações das superfícies ao longo das linhas. Para os outros poços, que não continham RHOB e/ou DLT, foi utilizado um modelo de velocidade sísmica de 2400m/s pois o mesmo, além de ser o padrão de velocidade média em bacias preenchidas por sedimentos siliciclásticos, apresentou pouca discrepância quando adotado no poço P8 e comparado com a amarração realizada através das curvas. Através desse método foi possível estimar, com um nível menor de certeza, a profundidade dos marcos ao longo de praticamente toda área e trabalho e assim melhorar a interpretação sísmica. O resultado desses esforços foi a definição das duas diferentes superfícies onde é possível observar truncamentos erosivos, a Discordância Basal da Sequência Taquipe e a Superfície Basal São Sebastião, que é um diastema. Um problema encontrado, no entanto, ao longo da interpretação sísmica foi a identificação de estruturas. Apesar de sua existência e importância incontestáveis, a qualidade do dado sísmico não permitiu a identificação precisa e distinção entre o que era ruído e o que eram de fato falhas; em alguns casos, é possível ver nas sequências deposicionais os efeitos tectônicos gerados pela presença das falhas, mas a sua individualização não foi possível. Um exemplo disso fica claro ao longo da linha sísmica S3, em que a superfície erosiva toma um formato convexo onde, segundo o mapa estrutural de Destro (2002) a linha cruza a falha por duas vezes, passando da lapa para a capa e da capa para a lapa novamente (Figura 20).
39 39 Figura 20- Detalhe de estrutura falhada semiparalela a linha sísmica S3. Fonte: Modificado de Destro, DISCORDANCIA BASAL DA SEQUENCIA TAQUIPE Esta superfície foi identificada ao longo de todas as linhas sísmicas interpretadas. É marcada e caracterizada pelos truncamentos erosionais nos sedimentos sotopostos e onlaps nos sedimentos sobrepostos (Figura 21). Essa superfície, base da sequência, tem um formato côncavo, se tornando mais rasa tanto para leste como para oeste. Os limites nessas duas direções estão definidos na área pelas linhas S2, S3, S4, S5 e S6, delimitando a sequência a Oeste, e S7 e S8 delimitando a sequência a Leste, a forma que pode ser visualizada projetando as superfícies nas linhas dispostas tridimensionalmente é de uma telha côncava disposta paralelamente à direção N-S (Figura 22), mas a determinação do formato da sequência completa necessitaria da utilização de dados de áreas adjacentes.
40 40 Figura 21- Detalhe das terminações estratais acima e abaixo da Discordância Basal da Sequência Taquipe. Fonte: Elaboração Própria, 2013 Figura 22- Disposição tridimensional das linhas sísmicas com as superfícies marcadas. Fonte: Elaboração Própria, 2013
41 SUPERFICIE BASAL SÃO SEBASTIÃO Esta superfície, também demarcada com o auxílio dos perfis de poços, é caracterizada pela mudança de sismofácies, que passa a ser mais contínua de uma forma geral acima dela e por truncamentos erosionais nas sequências sotopostas. Esses truncamentos são menos intensos e de mais baixo ângulo se comparados com os truncamentos da base da Sequência Taquipe, o que corrobora com a teoria de que esse limite é um diastema causado pela progradação durante o TTPR (Figura 23). Esta sequência aparenta ter um caráter regional e ocorre em todo o âmbito da bacia, recobrindo uma grande extensão da mesma, se espessando na área de trabalho para Leste (Figura 22). Sua expressão, entretanto, é reduzida nas regiões mais próximas à margem flexural a oeste, onde a discordância pós-rifte corta as sequências mostrando toda a seção do empilhamento estratigráfico até o Pré-Rifte (Figura 2) Esse limite é visto nas linhas S2, S4 e S5 e também é mostrado no mapa geológico de superfície (Figura 4).
42 42 Figura 23- Detalhe na Superfície Basal São Sebastião. Fonte: Elaboração Própria, 2013
43 INTEGRAÇÃO DOS DADOS E MODELO GEOLÓGICO O trabalho de interpretação, correlação e integração dos dados resultou em três correlações geológicas e estratigráficas representativas que servem como modelagem da evolução tectono-estratigráfica da área de estudo e também como guia de prospecção para hidrocarbonetos na bacia. As correlações, devido à quantidade de detalhes e escala necessária para a visualização foram impressos em folhas de papel A1 que se encontram anexadas ao trabalho (Anexos 1, 2 e 3). As mesmas estão dispostas da seguinte maneira: A correlação 1 está disposta na direção NW-SE e contempla os poços P5, P4, P6 e P8, nessa ordem. A correlação 2 está disposta na direção NNW-SSE e contempla os poços P1, P3 e P8, nessa ordem. A correlação 3 contempla os poços P5, P4, P3 e P2, nessa ordem. Cada anexo dispõe de um par de correlações uma estratigráfica à esquerda e uma geológica à direita CORRELAÇÃO 1 (VIDE ANEXO 1) A correlação 1 foi confeccionada admitindo-se a SMR Superfície de Máximo Rifteamento - e o Marco Taquipe como superfícies estratigráficas globais no contexto da bacia, ou seja, a expressão desses eventos dentro da bacia ocorre de forma simultânea em toda ela. Sendo assim, podemos utilizar ambas como datums de amarração para assim entender o comportamento das outras superfícies nesse contexto. A necessidade de adotar dois datums nesse perfil deu-se pelo fato de que o perfil P5 não possuía registro da Sequência Taquipe, enquanto que os perfis P6 e P8 não tinham profundidade suficiente para atingir a SMR, sendo o perfil P4 o único intermediário que possui ambas as superfícies. Há, além disso, mais um porém o perfil P5 não possui de fato a SMR e sim uma superfície correlata a esta que é a Discordância Rio da Serra Superior. A superfície assim foi considerada correlata, pois separa os sedimentos finos retrogradacionais do Trato Tectônico de Desenvolvimento de Rifte dos sedimentos arenosos progradacionais do Trato Tectônico de Preenchimento de Rifte, como pode ser observado nas seções de correlação estratigráfica e geológica e explicado no tópico que trata sobre essa superfície. Um fato a ser ressaltado também é o formato assumido pela Discordância Basal Taquipe relativa ao marco, corroborando a interpretação dada anteriormente do formato de cunha dessa sequência. Outras duas conclusões importantes que podemos tirar estão relacionadas à questão da evolução tectônica da bacia. Primeiro a presença de uma possível falha distensiva entre o poço P4 e P6, inferida devido ao deslocamento do Marco Taquipe na confecção da correlação
44 44 geológica. A segunda é a constatação de que ambas as falhas, tanto a posicionada entre P4 e P6 quanto à posicionada entre P6 e P8 deslocam, além do Marco Taquipe, a SMR e o Diastema na base da Sequência São Sebastião. Isso tem uma implicação prática importante: ou as falhas se nuclearam após a deposição do Marco Taquipe e do Diastema ou sua evolução continuou durante a deposição o Marco Taquipe e também da Sequência São Sebastião CORRELAÇÃO 2 (VIDE ANEXO 2) A correlação 2 conta com 2 poços rasos, P1 e P8 e um com grande profundidade, P3. Devido a essas limitações, foi possível caracterizar apenas as superfícies mais rasas, mas mesmo assim, permite uma visão interessante para o contexto da bacia. Um exemplo disso foi a posição relativa do Marco Taquipe na correlação geológica entre os poços P1 e P3. Diferentemente dos outros dois casos, onde o marco Taquipe encontrava-se mais raso a oeste do poço P3, aqui ele está mais profundo, a interpretação mais simples e, portanto, a mais provável seria uma rotação de bloco, algo que ocorre comumente na Bacia do Recôncavo, podendo gerar falhas reversas de alívio ou falhas normais que, ao longo de sua extensão, mudam o sentido de seu mergulho, para exemplificar temos a figura 24. Figura 24- Diferentes modelos de inversão de falha com rotação de blocos. (A) Inversão do mergulho da falha. (B) Inversão da polaridade da falha. Fonte: Elaboração Própria, 2013
45 45 Na correlação 2, o modelo aplicado foi o A, com a disposição de uma falha normal entre os dois poços com mergulho para NW CORRELAÇÃO 3 (VIDE ANEXO 3) A primeira parte da correlação 3 é idêntica a da correlação 1; entretanto, de P4 em diante, a direção adotada é NE, seguindo para o poço P3 e P2. Outra diferença entre essas duas correlações é que os poços P3 e P2 possibilitam, devido a sua maior profundidade, a determinação da SMR em seus perfis e, portanto a adoção da mesma como datum ao longo de toda a correlação. Pode-se observar um arqueamento no Marco Taquipe entre os poços P3 e P2 enquanto que entre os poços P4 e P3 ela encontra-se praticamente na horizontal, isso pode determinar que a falha existente entre o poço P4 e os poços P3 e P6 teve sua nucleação posterior à deposição do Marco Taquipe, cortando igualmente o TTPR e a Seq. Taquipe, enquanto que a falha que separa P3 e P2 teve sua gênese antes da deposição do Marco Taquipe e continuou sua evolução após a deposição do mesmo, ou seja, a falha no bloco central é mais nova que a falha no bloco mais a leste MODELO ESTRUTURAL ESQUEMÁTICO Através dessas constatações foi desenvolvido um modelo esquemático para o sistema de falhas dessa região que pouco destoa do modelo proposto por Destro em 2002 (Figura 25). A diferença principal é a existência de uma falha que divide o bloco central. A informação estratigráfica é importante mas, para a constatação da existência dessa estrutura, o dado de campo também representaria uma evidência na corroboração desse modelo. Outra importante informação seria um dado sísmico que pudesse mostrar essas estruturas mas, infelizmente, os levantamentos sísmicos disponibilizados foram em sua grande maioria semi-paralelos às estruturas principais da área, enquanto as linhas perpendiculares apenas bordejavam a área de trabalho, como é possível visualizar na figura 6, ou não tinham a resolução necessária para a visualização das estruturas.
46 46 Figura 25- Modelo estrutural esquemático da área de trabalho. Fonte: Elaboração Própria, 2013
47 47 6 CONCLUSÕES A correlação de poços, interpretação sísmica e integração de dados possibilitaram a construção de modelos geológicos e estratigráficos que podem ser utilizados tanto como laboratório para outras áreas da Bacia do Recôncavo como um guia na prospecção de hidrocarbonetos. Através desses modelos foi possível a determinação da localização de superfícies estratigráficas chave, espessura e tipo de sedimentação de cada trato tectônico. Foi possível também a determinação dos compartimentos estruturais das bacias e a realização de estimativas de como e quando ocorreram e se desenvolveram as estruturas normais dentro do rifte. Estudos como este em outras áreas podem também ajudar a precisar como se deu a evolução estrutural da área em questão e associar a evolução estrutural com a evolução estratigráfica, gerando modelos cada vez mais fidedignos para esse contexto, onde ambas as especialidades têm forte correlação para a compreensão do contexto bacinal. O trabalho também mostra a necessidade de uma aquisição de dados mais modernos, perfilagens mais completas com ferramentas de melhor resolução, no contexto do Recôncavo. A aplicação dessas novas metodologias, associadas a uma aquisição e processamento de dados modernos, poderia resultar em descobertas de novos campos e ampliação dos atuais.
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