A fauna ameaçada de extinção do Estado do Rio de Janeiro
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- Cássio Amarante Esteves
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1 A fauna ameaçada de extinção do Estado do Rio de Janeiro Organizadores Helena de Godoy Bergallo, Carlos Frederico Duarte da Rocha, Maria Alice dos Santos Alves & Monique Van Sluys Rio de Janeiro 2000
2 Capítulo 12 o status atual da fauna do Estado do Rio de Janeiro: considerações finais Helena de Godoy Bergallo, Carlos Frederico Duarte da Rocha, Monique Van Sluys & Maria Alice dos Santos Alves elaboração da lista das espécies ameaçadas de extinção constitui um passo importante para a conservação da fauna do Estado do Rio de Janeiro. No total, foram consideradas ameaçadas de extinção 257 espécies da fauna do Estado, sendo os dados indicativos de que 37 delas já encontram-se provavelmente extintas (Figura 1). EP 18,3% CP 7,0% PEx 14,4% VU 60,3% Figura 1 NlÍlI/('I"o e porcentage/ll de espécies por status de risco VU = Vulnerável, EP = Em perigo, CP = Criticamente em perigo e PEx = Provavelmente extinta. 145
3 Por grupo, estão ameaçados 43 invertebrados terrestres, 28 invertebrados aquáticos, 48 peixes, 4 anfíbios (do total de 159 espécies conhecidas para o Estado), 9 répteis (de 119 espécies), 82 aves (de 653 espécies) e 43 mamíferos (de 176 espécies) (FIgura 2). AV 31,9% RE 3,5% PE 18,7% AN 1,6% '\., IT 16,7% IA 10,9% Figu ra 2 NÚ!I/{,/'{I e porceutaocm de espéoés nmencaaas para cada grupo anima! 110 Estado do RÚJ de /RlleilV. MA = Mamíferos, AV = Aves, IA = lnvertebrados aquáticos, IT = lnvertebrados terrestres, AN = Anfíbios, PE ~ Peixes e RE = Répteis. o primeiro Estado brasileiro a elaborar uma lista de espécies arncaçadas de extinção foi o Paraná. Nesta lista, publicada em 1995 pela Secretaria Estadual do Meio Ambiente daquele Estado, constam l33 animais, divididos nas categorias 'extinto' (3 espécies), 'provavelmente extinto' (13), 'em perigo' (14), 'raro' (70), 'vulnerável' (28) e 'ameaçado' (5). Porém, nesta análise foram avaliadas somente espécies de mamíferos (20 arneaçadas}, aves (91), répteis (11) e borboletas (ll). Minas Gerais foi o segundo Estado a elaborar uma lista e nesta constam 178 espécies amcaçadas (Lins et al., 1997), das quais, 40 são mamíferos (dos 243 registrados no Estado), 83 são aves (do total de 780), 10 são répteis (do total de 179), 11 são anfíbios (do total de 156), 3 são peixes e 31 são artrópodes. O Estado de São Paulo também publicou sua lista, e esta relaciona 317 espécies ameaçadas. A lista inclui 41 mamíferos (dos 200 encontrados no Estado), 163 aves (do total de 700), 28 répteis (do total de 197), 5 anfíbios (do total de 180), 15 peixes de água doce (do total de 260) e 19 peixes marinhos (do total de 510), além de um invertebrado marinho e 45 invertebrados terrestres. Em valores absolutos o Estado de São Paulo foi o que apresentou o maior número de espécies arneaçadas, seguido pelos Estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais c Paraná (Tabela J). Contudo, se levarmos em consideração a área geográfica total, 146
4 o Estado do Rio de Janeiro fica numa primeira poslçao em número de espécies ameaçadas por quilômetro quadrado. Assim, hipoteticamente ao se percorrer uma área de apenas 172 quilômetros quadrados deste estado, haveria a probabilidade de se encontrar uma espécie ameaçada (Tabela 1). Deve-se ressaltar que, na prática, não é o que ocorre, pois devido à diversidade de hábitats ao longo do continuo geográfico, algumas áreas concentram maior número de espécies quando comparadas com outras. Tabela 1 Índices da founa ameaçada nos Estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Paranã e Minas Gerais Estado Total de espécies Área necessária para se Porcentagem da fauna (Área em km/) ameaçadas encontrar uma espécie de vertebrados superiores ameaçada ameaçados' Rio de Janeiro (43.909,7) km2 12,4 São Paulo ( ,8) km 2 18,6 Paraná ( ,1) km2 10,6 Minas Gerais ( ,6) km 2 - 'Número de espécies ameaçadas de mamíferos, aves, répteis e anfíbios dividido pelo número total de espécies destes grupos registrados para o Estado. Pôde-se observar, com os resultados obtidos, que a principal ameaça à fauna fluminense, independente do grupo taxonômico, foi a destruição do hábitat (Figura 3); que reduziu consideravelmente a área de distribuição das espécies, levando muitas vezes grupos populacionais ao isolamento ou ao declínio. Adicionalmente, a exploração predatória pelo homem (caça, coleta, comércio da fauna e perseguição) foi outro fator identificado como de grande ameaça (Figura 3), em especial para aquelas espécies de valor econômico. Assim, as medidas de proteção propostas pelos grupos de trabalho para as especles em perigo no Estado foram compatíveis com as diferentes categorias de ameaça (Figura 4). As principais medidas indicadas foram a preservação do hábitat, a criação de novas unidades de conservação, a localização e a proteção de populações remanescentes, a fiscalização e a educação ambiental (Figura 4). 147
5 100 ~..J «:::> I z w 40 o a: w Il. 20 o CRITERIOS UTILIZADOS PARA INCLUSÃO NA LISTA OFICIAL Figura 3 Porcentagem dos critérios usados para inclusão das espécies na lista (mudas espécies foram inciuidas em mais de um cr/téno). O padrão das barras dos cntérios para inclusão na lista, corresponde ao padrão utilizado fia Figura 4, relativo as medidas propostas. DH = Destruição do hábitat, PP = Populações pequenas, PI = Populações isoladas, PD = Populações em declínio, DR = Distribuição restrita, DM = Distribuição marginal, CO = Comércio, CA = Caça, CL = Coleta, PE = Perseguição e DI = Dados insuficientes ê..j 60 «:::> I- z w 40 o a: wa, 20 O PH UC LP CR TF FI EA PB MEDIDAS PROPOSTAS PARA A PROTEÇÃO DAS ESPECIES Figura 4 Porcentagem das medidas propostas para a proteção das espécies (muitas espéciesfomm incluídas em mais de 1/11I0 medida). O padrão das barras das medidas propostas, corresponde ao padrão utilizado 110 Figura 3, relativo aos critérios para inclusão 1/0 lista. PH = Proteção do hábitat, UC = Criação de unidades de conservação, LP = Localização e proteção de populações remanescentes, CR = Criação em cativeiro e reintrodução, TP = Transposição de fauna, FI = Fiscalização, EA = Educação ambiental e PB = Pesquisa básica em biologia da conservação. o Estado do Rio de Janeiro é coberto principalmente pela Mata Atlântica e formações vegetais associadas - das restingas e mangues às matas de encosta, das planícies litorâneas aos campos de altitudes. Estas diferenças no relevo, no clima e nas formações vegetais no Estado do Rio de Janeiro, resultam em uma região que abriga uma elevada diversidade biológica e com elevados índices de endemismo, 148
6 sendo por isso considerado um "hot spot ". De toda esta exuberância e riqueza restam apenas cerca de 17% da cobertura original e de forma muito fragmentada. Muitos animais que vivem nesse ecossistema (especialmente aqueles de nível trófico elevado) precisam de grandes áreas contínuas preservadas, o que sugere que várias espécies já devam estar extintas. As espécies terrestres de maior porte, como a anta (239 quilos de massa) e a onça-pintada (94 quilos de massa), encontram-se, sem dúvida, entre as mais ameaçadas no território fluminense. Muitas espécies ameaçadas de extinção no Estado habitam formações associadas à Mata Atlântica, como as matas de baixada e mata paludosa (ex., a borboleta Parides ascanius, o mutum-do-sudeste Crax biumenbachu, o saí-verde Chlorophanes spiza, a preguiça-de-coleira Bradypus torquatus, o mico-leão-dourado Leontopithecus rosalia), os campos de altitude (ex., a borboleta Dasyophthalma geraensis, as pererecas Paratelmatobius Iutzii e Holoaden bradei, o tatu-canastra Myrmecophaga tridactyla), as cavernas (ex., o morcego Natalus stramineusi, as restingas (ex., a borboleta Mimoides lysithous, a lagartixa-da-areia Liolaemus lutzae, o sabiá-dapraia Mimus gilvus, o formigueiro-do-litoral Formiciaora.littoralis) e as matas de encosta (ex., a perereca Thoropa petropolitana, a jararaca-verde Bothrops bilineatus, a surucucu-pico-de-jaca Lachesis muta rhombeata, o socó-boi-escuro Tigrisoma fasciatum, o urubu-rei Sarcoramphus papa, o gavião-real Harpia harpyja, o sagmda-serra Callithrix aurita, o mono-carvoeiro Brachyteles arachnoides, o rato-domato-vermelho Rhagomys rufescens). Além da destruição do hábitat, uma educação ambiental incipiente e uma falta de fiscalização adequada ameaçam algumas espécies que sofrem com a caça e o comércio ilegal, tais como, a anêmona-do-mar Condyiectis gigantea, o pitu Macrobrachium carcinus, o guaiamum Cardisoma guanhuml~ a borboleta Agrias claudina, a mariposa Captopterux semiramis phoenix, o surubim Steindachneridion parahybae, o cavalo-marinho Hippocampus reidi, o jacaré-de-papo-amarelo Caiman Iatirostris, o papagaio-do-peito-roxo Amazona pinacea, o sabiá-da-praia M. gilvus, o macuco Tinamus sohiarius, o coleiro-do-brejo Sporophila collans, a preguiça-de-coleira B. torquatus, o sauá Callicebus personatus, a onça-pintada Panthera onca, a anta Tapirus terrestris, o queixada Tauassu pecari, o veado-mateiro Mazama americana, o veado-catingueiro Mazama gouazoupira. Como pudemos constatar ao longo dos capítulos dos diferentes grupos tratados neste livro, a destruição dos hábitats constitui uma das principais forças que vêm conduzindo várias espécies da fauna do Estado do Rio de Janeiro à extinção. Em grande parte isto resulta deste Estado ter sido um dos primeiros a ser colonizado e sofrer, ao longo de cinco séculos, contínua exploração e dilapidação de seus recursos naturais. É fundamental que estes importantes recursos naturais sejam, cada vez 149
7 mais, tratados dentro de uma política que conjugue o desenvolvimento sustentável com a conservação destes recursos. Para definir a política de conservação das espécies que ainda mantêm populações no Estado, apesar de toda a devastação, é fundamental possuir o conhecimento da situação destes importantes recursos naturais. Assim, com a edição desta publicação, o poder público possui mais um instrumento para auxiliar no estabelecimento de políticas conservacionistas que venham a proteger o patrimônio genético que existe neste ecossistema único que é a Mata Atlântica. 150
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