FITOSSOCIOLOGIA E FLORÍSTICA DE UM TRECHO DA MATA CILIAR DO RIO MIRANDA, MIRANDA, MS, BRASIL.
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- Thiago Gentil Caminha
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1 FITOSSOCIOLOGIA E FLORÍSTICA DE UM TRECHO DA MATA CILIAR DO RIO MIRANDA, MIRANDA, MS, BRASIL. Anne Karen Dutra Salomão¹, Vanessa Pontara¹, Elidiene Priscila Seleme¹, Marcelo Leandro Bueno¹, Wellington Santos Fava 1, Geraldo Alves Damasceno Jr 2 e Arnildo Pott 2 1. Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Mestrado em Biologia Vegetal, Departamento de Botânica, Campo Grande, MS, Brasil, anne_bio@ibest.com.br 2. Departamento de Biologia, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campo Grande, MS, Brasil Termos para indexação: Pantanal, florística, mata ciliar, rio Miranda Introdução O Pantanal, para Allem & Valls (1987), é uma grande planície sedimentar ocupando uma área de km², abrangendo na parte brasileira os Estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. É a única planície alagável dentro de um continente, formada por terrenos quaternários aluviais em altitudes abaixo de 200 m (Brasil, 1982b), dependendo da sua posição topográfica, com suprimento sedimentar predominante a partir da Cordilheira Andina. A vegetação dominante estabelecida nesses locais está incluída na região de Cerrado, com formações que variam de cerradão a campo. A Formação Pantanal em sua quase totalidade recente e ainda em formação, é a maior planície inundável da Terra, preenchida com depósitos aluviais dos rios da Bacia do Alto Paraguai, é uma planície sedimentar com baixa declividade o que dificulta o escoamento das águas e, em combinação com mesorelevo, origina o aparecimento de ambientes característicos, associados à vegetação em mosaico. As áreas de vegetação nativa ao longo dos cursos d água configuram Áreas de Preservação Permanente - APP onde a vegetação original deve ser mantida. Em cursos d água com até 10 m de largura, essa faixa de proteção deve apresentar, no mínimo, 30 m de largura, e ao redor das nascentes, deve ter um raio de 50 m (Brasil, 2002). As matas ciliares, também denominadas florestas ribeirinhas, definidas como florestas ocorrentes ao longo dos cursos d água e no entorno das nascentes, são de vital importância na proteção de mananciais, controlando a chegada de nutrientes, sedimentos e a erosão das ribanceiras; atuam na interceptação e absorção da radiação solar, contribuindo para
2 a estabilidade térmica da água, determinando, assim, as características físicas, químicas e biológicas dos cursos d água (Delitti, 1989). Do ponto de vista ecológico, as matas ciliares têm sido consideradas como corredores extremamente importantes para o movimento da fauna ao longo da paisagem, assim como para a dispersão vegetal (Lima & Zakia, 2001). O presente estudo foi desenvolvido com o objetivo de contribuir para maior conhecimento da composição florística e estrutura fitossociológica da mata ciliar e ressaltar a necessidade de estudo e preservação desta comunidade. Os resultados deste trabalho podem ampliar o conhecimento sobre a vegetação nativa do Pantanal de Miranda e fornecer subsídios que auxiliem futuros projetos de recuperação das matas ciliares, que são representadas por poucos fragmentos no estado de Mato Grosso do Sul, apesar de sua comprovada importância na manutenção dos recursos hídricos. Material e Métodos Área de estudo: O Pantanal situa-se entre as coordenadas 16 o e 22 o S, e 55 o e 58 o W, é dividido em onze sub-regiões, dos quais mais da metade é coberta por água na época da cheia (Abdon et al. 1998). O clima é do tipo Aw de Köppen, com precipitação anual em torno de mm. O estudo foi realizado no mês de maio/2008 na Bacia do Rio Miranda (Bacia do Alto Paraguai), no Pantanal de Miranda, que está posicionado entre os rios Paraguai e Aquidauana a leste, limitado a norte por trechos dos rios Aquidauana, Miranda e Abobral, prolongando-se para o sul, contornando a depressão do rio Paraguai. O local de estudo conhecido como BEP (Base de Estudo do Pantanal), pertencente a UFMS, que está localizada na margem direita do Rio Miranda, na região do Passo do Lontra, município de Corumbá, MS, nas coordenadas: 19º34 37"S e 57º00 42" W. Aspectos gerais da vegetação: A vegetação da margem sofre muita influência do extravasamento do rio na época das cheias, porém, em certos locais da mata, ocorrem canais que permanecem úmidos durante a seca e inundados durante a cheia. A vegetação é densa, com dossel variando de 10 a 20 m em diferentes locais. Em determinados locais, ocorre a predominância das espécies Inga vera, Tabebuia heptaphylla, Ocotea diospidifolia, Neea
3 hermaphrodita e Banara arguta. No estrato inferior ocorrem espécies como Eugenia egensis e Sapindus saponaria, além de grande número de plantas jovens de espécies arbóreas. Amostragem: A estimação de medidas de diversidade é obtida mediante a aplicação de métodos de amostragem. Dentre os métodos baseados em distância, o método de quadrantes ou point-centered quarter method é o mais usado em fitossociologia (Rodrigues, 1988). Sua aplicação consiste no estabelecimento, dentro do povoamento a ser amostrado, de pontos distribuídos de modo sistemático. Tais pontos são divididos em quatro quadrantes. Em cada quadrante, é amostrado o indivíduo mais próximo ao ponto. Registra-se a espécie, o diâmetro e a distância ponto-árvore, desse modo em cada unidade amostral são observadas quatro árvores (Rodrigues, 1988). Foram feitas 8 linhas de 50 m distribuídas assistematicamente, contemplando vários pontos dentro da mata ciliar, com 40 pontos amostrados. Os pontos em cada linha eram marcados a cada 10 m, com o auxílio de uma cruz de madeira, para demarcar as quatro unidades amostrais. Em cada linha, os indivíduos de espécies arbóreas com diâmetro (CAP) > 15 cm, a 1,30 m de altura do solo, foram incluídos no estudo e aqueles indivíduos que apresentavam ramificações tiveram todos os caules medidos, com o auxílio de uma fita métrica que também foi utilizada para medir a altura da marca d água. A altura dos indivíduos foi obtida por estimativa visual. A identificação das espécies foi realizada no campo e, quando isso não foi possível, foram coletadas e posteriormente identificadas por especialistas e comparadas com exsicatas do Herbário CGMS da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. A classificação das espécies seguiu o sistema da APG II (2003). A vegetação foi analisada utilizando o programa FITOPAC (Shepherd 1995), a partir do qual foram calculados os parâmetros fitossociológicos (densidade, freqüência e dominância absoluta e relativa), que permitiram a ordenação das espécies de acordo com o Índice de Valor de Importância (IVI) e a distribuição da vegetação no local. Resultados e Discussão No total foram amostradas 26 espécies, distribuídas em 24 gêneros e 19 famílias. As famílias mais representativas foram Leguminosae (3), Bignoniaceae (2), Rubiaceae (2) e
4 Rutaceae (2), e as demais famílias obtiveram apenas uma espécie (Tabela 1). As espécies amostradas que apresentaram o maior número de indivíduos foram Inga vera, Tabebuia heptaphylla, Ocotea diospidifolia e Neea hermaphrodita. O Índice de diversidade de Shannon (H ) para as espécies foi de 2,77. As espécies que apresentaram o maior Índide Valor de Importância foram Tabebuia heptaphylla, Inga vera, Vitex cymosa e Ocotea diospidifolia. Os resultados da análise fitossociológica estão apresentados na tabela 1. A espécie com maior Índice de Valor de Importância (IVI), foi Tabebuia heptaphylla, é uma espécie de ampla distribuição, é também utilizada para fins ornamentais (Brandão e Ferreira, 1991) e possui madeira de textura mediana, apresenta rápido crescimento, podendo ser indicada para reflorestamento (Lorenzi 1992). As características ecológicas de várias espécies do gênero Tabebuia tornam seu estudo importante devido à sua importância silvicultural e utilização social (Lorenzi, 1992). Em relação à altura, a mata ciliar apresenta uma maior concentração de espécies entre 4 à 6 metros mas não apresentando um padrão de altura equivalentes, possuindo uma ampla distribuição de altura e como observado em campo (Figura 1). N de Indivíduos Altura
5 Figura 1. Representação da altura das espécies arbóreas na mata ciliar. Conclusões Os resultados obtidos neste estudo, como riqueza florística, diversidade e composição das espécies corroboram e reforçam a importância da Legislação Ambiental Federal e Estadual, Lei n de 15/07/1998 (Morelli 2000) na manutenção e preservação da faixa ciliar para as margens do rio Miranda. Também, são de extrema relevância para subsidiar ações e projetos que visem o manejo, preservação e recomposição dessas formações, diante da importância ecológica e beleza cênica que o rio Miranda representa para a região do Pantanal. Tabela 1: Índice das espécies arbóreas encontradas na Mata Ciliar, Pantanal de Miranda, MS, Brasil com seus respectivos parâmetros fitossociológicos: DA = densidade absoluta, FA = freqüência absoluta; DR = densidade relativa, FR = freqüência relativa, DOMR = dominância relativa; IVI = índice do valor de importância. FAMÍLIA/ESPÉCIE DA FA DR FR DOMR IVI ARECACEAE Attalea phalerata 5,1 2,0 1,3 1,6 5,45 8,26 Copernicia alba 5,1 2,0 1,3 1,6 0,79 3,61 BIGNONIACEAE Tabebuia aurea 2,5 1,0 0,6 0,8 0,78 2,19 Continua... Tabela 1 (Continua) FAMÍLIA/ESPÉCIE DA FA DR FR DOMR IVI Tabebuia heptaphylla 50,7 14,0 12,5 10,9 33,44 56,88 ERYTHROXYLACEAE Erythroxylum anguifugum 25,3 8,0 6,3 6,3 1,84 14,34 FABACEAE Albizia cf. polyantha 7,6 2,0 1,9 1,6 1,72 5,16 Inga vera 76,0 21,0 18,8 16,4 16,40 51,56 Zygia sp. 2,5 1,0 0,6 0,8 0,02 1,43 LAURACEAE Ocotea diospidifolia 38,0 12,0 9,4 9,4 4,68 23,43 MALVACEAE Guazuma ulmifoliavar. tomentosa 20,3 4,0 5,0 3,1 2,28 10,41 MELIACEAE
6 Trichilia catigua 2,5 1,0 0,6 0,8 0,02 1,43 Trichilia elegans 5,1 1,0 1,3 0,8 0,07 2,10 MORACEAE Ficus sp. 2,5 1,0 0,6 0,8 2,98 4,38 MYRTACEAE Eugenia egensis 17,7 7,0 4,4 5,5 0,81 10,66 NYCTAGINACEAE Neea hermaphrodita 30,4 10,0 7,5 7,8 1,29 16,60 POLYGONACEAE Coccoloba cujabensis 5,1 2,0 1,3 1,6 0,09 2,90 RHAMNACEAE Rhamnidium elaeocarpum 5,1 2,0 1,3 1,6 0,38 3,19 RUBIACEAE Genipa americana 17,7 7,0 4,4 5,5 4,38 14,23 Randia armata 5,1 2,0 1,3 1,6 0,34 3,15 RUTACEAE Citrus sp. 2,5 1,0 0,6 0,8 0,08 1,49 Zanthoxylum sp. 2,5 1,0 0,6 0,8 0,14 1,55 SALICACEAE Banara arguta 25,3 8,0 6,3 6,3 3,74 16,24 SAPINDACEAE Sapindus saponaria 5,1 1,0 1,3 0,8 0,52 2,55 SAPOTACEAE Sideroxylon sp. 10,1 3,0 2,5 2,3 1,78 6,63 URTICACEAE Cecropia pachystachya 10,1 4,0 2,5 3,1 2,45 8,08 VERBENACEAE Vitex cymosa 25,3 10,0 6,3 7,8 13,52 27,58 Referências Bibliográficas ALLEN, A. C.; VALLS, J. F. M. Recursos forrageiros nativos do Pantanal. Brasília: Embrapa-CENARGEN, 1987, p. 339.
7 BRASIL. Ministério das Minas e Energia. Projeto Radambrasil. Folha SE. 21 Corumbá e parte da folha SE. 20: geologia, geomorfologia, pedologia, vegetação e uso potencial da terra. Rio de Janeiro, 1982b, 448p. BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Resolução Conama n. 302, de 20 de março de Dispõe sobre parâmetros, definições e limites de Áreas de Preservação Permanente. Diário Oficial da União, Brasília, DF, n. 90, 13 maio Seção 1. DELITTI, W. B. C. Ciclagem de nutrientes minerais em matas ciliares. In: SIMPÓSIO SOBRE MATA CILIAR, n. 1, Campinas. Anais... Campinas: Fundação Cargill, p LIMA, W. P.; ZAKIA, M. J. B. Hidrologia de matas ciliares. In: RODRIGUES, R. R.; LEITÃO FILHO, H. de F. (Org.). Matas ciliares: conservação e recuperação. São Paulo: EDUSP: FAPESP, cap. 3, p RODRIGUES,R.R. Métodos fitossociológicos mais usados. Campinas:CATI, 1988, p.6. LORENZI, H. Árvores brasileiras: manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas nativas do Brasil. Nova Odessa: Plantarum, 1992, p BRANDÃO, M.; FERREIRA, P. B. D. Flora apícola do cerrado. Informe Agropecuário, v. 15, n.168, p. 7-14, MORELLI, S.L Legislação Ambiental do Estado de Mato Grosso do Sul. Campo Grande, Editora da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, 2000.
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