INTERVENÇÃO EM HOSPITAIS: ASPECTOS ADMINISTRATIVOS, LEGAIS, SOCIAIS E SEUS RESULTADOS
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- Henrique Mangueira Camelo
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1 Porto Alegre, dia 14 de Outubro de 2016, SENAC Porto Alegre 9º SEMINÁRIO DE ADMINISTRAÇÃO NA SAÚDE INTERVENÇÃO EM HOSPITAIS: A INTERVENÇÃO ADMINISTRATIVA /JUDICIAL É NECESSÁRIA? ASPECTOS ADMINISTRATIVOS, LEGAIS, SOCIAIS E SEUS RESULTADOS
2 INTERVENÇÃO ADMINISTRATIVA CONCEITO A intervenção administrativa é uma forma de o próprio Estado (em sentido amplo) tomar o patrimônio privado ou público (quando de outra esfera ou da administração indireta) para si, permanentemente ou temporariamente, mediante restituição ou não, a depender dos pressupostos para cada espécie de intervenção, bem como de justa indenização, se for o caso, Respeitando os princípios constitucionais e administrativos que embasam os atos e as medidas do Estado (da administração) como o do interesse público, da legalidade, da impessoalidade; do dever de fundamentação e de motivação dos atos. Art. 5º CF88 - Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
3 INTERVENÇÃO ADMINISTRATIVA CONCEITO XXII - é garantido o direito de propriedade; XXIII - a propriedade atenderá a sua função social; XXIV - a lei estabelecerá o procedimento para desapropriação por necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, mediante justa e prévia indenização em dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta Constituição; XXV - no caso de iminente perigo público, a autoridade competente poderá usar de propriedade particular, assegurada ao proprietário indenização ulterior, se houver dano;
4 INTERVENÇÃO ADMINISTRATIVA CONCEITO Para Celso Antônio Bandeira de Mello [1], A requisição é o ato pelo qual o Estado, em proveito de um interesse público, constitui alguém, de modo unilateral e autoexecutório na obrigação de prestar-lhe um serviço ou ceder-lhe transitoriamente o uso de uma coisa, obrigando-se a indenizar os prejuízos que efetivamente acarretou ao obrigado. A requisição se refere a bens ou serviços; preordena-se tão somente ao uso da propriedade; decorre de necessidades transitórias; é autoexecutória (não necessita da permissão de outro poder); pressupõe necessidade pública premente. [1] MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. São Paulo: Malheiros Editores, ed.
5 INTERVENÇÃO ADMINISTRATIVA Para Maria Zanella Di Pietro [2], CONCEITO Apresenta-se sob diferentes modalidades, incidindo ora sobre bens, móveis ou imóveis, ora sobre serviços; É forma de limitação à propriedade privada e de intervenção estatal no domínio econômico; a Lei 8.080/90 (Lei do SUS) tratou expressamente de hipótese de requisição administrativa voltada para a promoção, proteção e recuperação da saúde. O Art. 15 (da 8.080/90) deu competência à União, Estado, Distrito Federal e municípios para, em seu âmbito administrativo, requisitar bens e serviços, tanto das pessoas naturais como de pessoas jurídicas. [2] DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. São Paulo: Atlas, ed.
6 INTERVENÇÃO ADMINISTRATIVA LEI DE 1990 CAPÍTULO IV Da Competência e das Atribuições Seção I Das Atribuições Comuns Art. 15. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios exercerão, em seu âmbito administrativo, as seguintes atribuições: (...) XIII - para atendimento de necessidades coletivas, urgentes e transitórias, decorrentes de situações de perigo iminente, de calamidade pública ou de irrupção de epidemias, a autoridade competente da esfera administrativa correspondente poderá requisitar bens e serviços, tanto de pessoas naturais como de jurídicas, sendo-lhes assegurada justa indenização;
7 INTERVENÇÃO ADMINISTRATIVA Prefeitura Municipal de Vinhedo ESTADO DE SÃO PAULO GABINETE DO PREFEITO Decreto n. 169, de 05 de agosto de Decreta requisição administrativa, na Santa Casa de Vinhedo, Visando à manutenção da Assistência Médico Hospitalar, no Município e da outras providências. JAIME CRUZ, Prefeito Municipal de Vinhedo, Estado de São Paulo, no uso das atribuições que lhe são conferidas pelo art. 72, VI, combinado com os Artigos. 153 e 154 da Lei Orgânica do Município, e Considerando os ditames da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, por todo o seu decorrer iniciando na inspiração do próprio preâmbulo sob um Estado de Direito destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, o bem-estar; o principio da dignidade da pessoa humana, o direito à vida, e à saúde; Considerando que a Constituição da República Federativa do Brasil, em seu artigo 23, inciso Il, determina que é de competência comum da União, dos Estados Membros, do Distrito Federal e dos Municípios cuidar da saúde e assistência pública; Considerando, o art. 30, ll, da Constituição, que é dever do ente federativo municipal prestar, com a cooperação técnica e financeira da União e do Estado, serviços de atendimento à saúde da população; Considerando a função social da propriedade, esculpida na (CF - alt. 5, XXIII e XXV) e a possibilidade de especial requisição da propriedade particular; Considerando os preceitos da Lei Federal n , de 19 de setembro de 1990, que Dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências, em especial os esculpidos nos Artigos 1º; 4º; 7 ; 9º, III, 15 e 18;
8 INTERVENÇÃO ADMINISTRATIVA EXEMPLO Decreta: Art. I. Fica requisitada administrativamente, para imediata abertura, verificação das instalações, verificação dos equipamentos e restauração das condições do nosocômio para pronto atendimento da população, em especial, para o atendimento do Sistema SUS, a propriedade, bens, estrutura, instalações e serviços, da Santa Casa de Vinhedo, a título precário e temporário, pelo prazo de l80 (cento e oitenta) dias, prorrogáveis conforme necessidade e urgência apreciados em ato oportuno, e à plena adequação às possibilidades de eficaz atendimento à população, bem como às normas e princípios aplicáveis à espécie, nos níveis federal, estadual e municipal, relativos à saúde. 1º Para efeitos do caput deste artigo, a Administração Pública Municipal, por meio da Secretaria Municipal de Saúde, realizará a intervenção administrativa necessária ao reestabelecimento do atendimento SUS nesta Casa Histórica e de relevante importância para o Município.
9 INTERVENÇÃO JUDICIAL A intervenção judicial se dá quando o poder judiciário decide pela procedência da requisição dos serviços sanitários de saúde quando, por exemplo, é frustrada a intervenção administrativa; ou, na omissão do município, do estado ou da União, o próprio Ministério Público poderá requerer a intervenção judicial, em decorrência do princípio da continuidade dos serviços públicos. A ideia central é que os serviços prestados pelo SUS não podem parar, por serem serviços uti universi, essenciais, prestados a todos os cidadãos. (Art. 197 da Constituição Federal); Assim, se para a manutenção do atendimento de saúde da população for indispensável a requisição dos nosocômios que atendem pelo SUS, isto enseja a intervenção necessária ao bom funcionamento dos serviços públicos, seja pela via administrativa ou judicial.
10 INTERVENÇÃO JUDICIAL EXEMPLO Nº (Nº CNJ: ) /Cível AGRAVO DE INSTRUMENTO. CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. REQUISIÇÃO ADMINISTRATIVA. PATRIMÔNIO E SERVIÇOS DE NOSOCÔMIO. AMEAÇA REAL E CONCRETA DE FECHAMENTO DA UTI, BEM COMO DE INTERRUPÇÃO DOS SERVIÇOS DE URGÊNCIA E EMERGÊNCIA. INEXISTÊNCIA DE ILEGALIDADE DO DECRETO INTERVENTIVO. - A requisição administrativa é modalidade de intervenção estatal mediante o qual, em situação de perigo público iminente, o Estado utiliza bens móveis, imóveis ou serviços particulares, mediante indenização ulterior, se houver dano, para satisfazer necessidades coletivas prementes e transitórias, art. 5º, XXV, da CF. - No âmbito do Sistema Único de Saúde, o art. 15, XIII, da Lei nº 8.080/1990, prevê a possibilidade de requisição pelo Município de bens e serviços, tanto de pessoas naturais como jurídicas, para atendimento de necessidades coletivas, urgentes e transitórias, decorrentes de situações de perigo iminente, de calamidade pública ou de irrupção de epidemias. - No caso, mostrou-se legítimo o decreto interventivo do Município de Gramado que requisitou o patrimônio, os bens e serviços do Hospital Arcanjo São Miguel diante da constatação de que haveria o encerramento da prestação de serviços de saúde na cidade, circunstância que acarretaria o caos na saúde local.
11 INTERVENÇÃO JUDICIAL UTILIZAÇÃO DO CNPJ DO HOSPITAL pelo interventor. POSSIBILIDADE. - Para que o interventor possa exercer sua atribuição de afastar o perigo público que fundamentou o decreto interventivo que requisitou o patrimônio do nosocômio é imprescindível que ele possa utilizar o CNPJ do hospital. Com efeito, como os ativos e colaboradores estão vinculados ao CNPJ do Hospital, assim como toda a gestão fiscal, não há como desvincular o uso desse, sob pena de inclusive prejudicar o atendimento dos pacientes ali atendidos, e por consequência, a saúde desses. INCABÍVEL A FIXAÇÃO DE PAGAMENTO MENSAL PELA UTILIZAÇÃO DOS BENS enquanto durar a requisição. - Como ensina a doutrina, a indenização pelo uso dos bens e serviços alcançados pela requisição é condicionada: o proprietário somente fará jus à indenização se a atividade estatal lhe tiver provocado danos, ou seja, se for devida a indenização, será sempre a posteriori, ou ulterior, como consigna a Constituição. ABRANGÊNCIA DA REQUISIÇÃO. EXISTÊNCIA DE SALAS NÃO VICULADAS AOS SERVIÇOS HOSPITALARES. IRRELEVÂNCIA. - O decreto interventivo abrangeu toda a estrutura do Hospital Arcanjo São Miguel, todo o patrimônio do nosocômio (art. 1º, parte final do Decreto nº 023/2016), sendo irrelevante a existência de salas não vinculadas aos serviços hospitalares, pois o interventor, imprimindo nova gestão aos serviços, poderá utilizar a integralidade do patrimônio da entidade como melhor lhe aprouver. CONTABILIDADE. ACESSO AOS DOCUMENTOS ANTERIORES A INTERVENÇÃO. POSSIBILIDADE. - A anterior administração do Hospital Arcanjo São Miguel possui direito de ter acesso aos documentos pertinentes à respectiva gestão para poder realizar a contabilidade do anterior período.
12 O DIREITO À SAÚDE NA LEI Dispõe o art. 196, caput, da Constituição Federal: A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação. O Art. 198 da Carta Magna, por sua vez, complementa: As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e hierarquizada e constituem um sistema único, organizado de acordo com as seguintes diretrizes: (...) II - atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais; A Constituição Estadual, em seu art. 241, reforça: A saúde é direito de todos e dever do Estado e do Município, através de sua promoção, proteção e recuperação.
13 O DIREITO À SAÚDE NA LEI Dispõe o Artigo 6º, caput, da Constituição: Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. Dispõe o Artigo 197, caput, da Constituição: São de relevância pública as ações e serviços de saúde, cabendo ao Poder Público dispor, nos termos da lei, sobre sua regulamentação, fiscalização e controle, devendo sua execução ser feita diretamente ou através de terceiros e, também, por pessoa física ou jurídica de direito privado.
14 O DIREITO À SAÚDE NA LEI Especificamente quanto a ações e serviços de saúde, prescreve a Lei 8.080/90: Art. 7º As ações e serviços públicos de saúde e os serviços privados contratados ou conveniados que integram o Sistema Único de Saúde (SUS), são desenvolvidos de acordo com as diretrizes previstas no art. 198 da Constituição Federal, obedecendo ainda aos seguintes princípios: (...) II Integralidade de assistência, entendida como conjunto articulado e contínuo das ações e serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada caso em todos os níveis de complexidade do sistema. IX - descentralização político-administrativa, com direção única em cada esfera de governo: a) ênfase na descentralização dos serviços para os municípios; b) regionalização e hierarquização da rede de serviços de saúde;
15 OBRIGADO! Mauro Luís Silva de Souza Promotor de Justiça, Coordenador Centro de Apoio Operacional dos Direitos Humanos Ministério Público do Estado do Rio Grande do Sul Av. Aureliano de Figueiredo Pinto, nº 80 Torre Norte, 10º andar Praia de Belas Telefone: (51) (51)
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