PALAVRAS-CHAVE: Ustilago scitaminea; Saccharum officinarum; Doenças
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- Mirella Batista Sanches
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1 QUANTIFICAÇÃO DE CARVÃO EM CLONES E VARIEDADES DE CANA-DE- AÇÚCAR Priscila Silva Souza 1 ; Rodrigo Kelson Silva Rezende 2 ; Jackeline Matos do Nascimento 3 ; Walber Luiz Gavassoni 4 UFGD-FCA, C. Postal 533, , Dourados-MS, rkelson@ufgd.edu.br 1 PIBIC/UFGD; 2 Docente da UFGD; 3 Pós-Doutoranda UFGD/FUNDECT; 4 Docente da UFGD. RESUMO O carvão é uma das principais doenças da cana-de-açúcar, sendo causada pelo fungo Ustilago scitaminea Sydow. É uma doença considerada em todos os Programas de Melhoramento Genético (PMG), tanto na seleção de genitores resistentes, como no comportamento das progênies. Deste modo, objetivou-se quantificar a incidência de carvão em cinco clones (RB , RB , RB , RB , RB ) e três variedades (RB , RB , SP ) de cana-de-açúcar, estimar a produtividade e avaliar a correlação entre a quantidade de doença e a produtividade. Foi realizado o plantio de 200 gemas de cada variedade em copos plástico de 500 ml, mantidos em casa de vegetação, sendo que o patógeno foi inoculado no dia do plantio e 12 dias após o plantio. Após 45 dias, as plantas foram levadas para o campo e transplantadas em delineamento de blocos ao acaso, com 4 repetições. Foram avaliadas por parcela, a porcentagem de touceiras mortas e a porcentagem de touceiras e perfilhos doentes. Também foi feita a estimativa de danos por meio do peso médio das touceiras sadias e doentes, do número total de touceiras e do número de touceiras doentes. Os clones RB , RB e a variedade SP apresentaram as maiores quantidades de doença, sendo que a RB apresentou a maior AACPD. A variedade SP apresentou-se tolerante ao carvão. Mesmo com a inoculação do patógeno, os clones RB , RB e RB não se mostraram suscetíveis, apresentando valores consideráveis de TCH e ATR. PALAVRAS-CHAVE: Ustilago scitaminea; Saccharum officinarum; Doenças
2 INTRODUÇÃO No Brasil, a lavoura de cana-de-açúcar está em expansão. As áreas em produção continuam com progressivo aumento nos estados da região Centro-Oeste, Sudeste e Sul (Paraná). A moagem de cana-de-açúcar pelas unidades produtoras da região Centro-Sul do País atingiu 44,05 milhões de toneladas na segunda quinzena de junho de Com isso, o volume processado no mês alcançou 85,59 milhões de toneladas, crescimento de 31,57% em relação ao valor registrado em junho de 2013 (65,06 milhões de toneladas) (UNICA, 2014). Entre vários fatores limitantes à produção, destacam-se a ocorrência e a severidade de doenças, que se constituem em importantes justificativas para a substituição de variedades, devido ao decréscimo da produtividade provocado por elas. Entre as doenças fúngicas que trazem preocupações e podem trazer prejuízos ao setor canavieiro na região centro-sul do Brasil, destacam-se a ferrugem e o carvão (SANTOS, 2003). O carvão é uma das principais doenças da cana-de-açúcar, visto que é considerada em todos os Programas de Melhoramento Genético (PMG), tanto na seleção de genitores resistentes, como no comportamento das progênies (RAGO et al., 2009). O carvão da cana-de-açúcar é uma doença causada pelo fungo Ustilago scitaminea Sydow, basidiomiceto da família Ustilaginaceae. Recentemente foi proposto o nome Sporisorium scitamineum (PIEPENBRING et al., 2002), mas usualmente é utilizado o primeiro. É uma doença de fácil identificação porque o patógeno emite um sinal da doença, denominado chicote. O chicote é uma modificação do meristema apical, com tamanho variável, de alguns centímetros a mais de 1 metro de comprimento, sendo coberto por uma película prata que, ao se romper expõe grande quantidade de teliósporos facilmente disseminados pelo vento. O seu controle éfeito principalmente através do melhoramento genético e práticas de roguing (TOKESHI, 1997). Além dos danos diretos na produção, que acarretam severos prejuízos ao setor sucroalcooleiro, esta doença provoca a restrição do uso de variedades suscetíveis altamente produtivas, além da eliminação de grande número de clones ricos e produtivos nos PMG devido s suscetibilidade à doença (CASAGRANDE, 1998). Em países onde a cana-de-açúcar é cultivada em grandes extensões, como no Brasil, é de grande importância a seleção de variedades com resistência efetiva e duradoura à patógenos. Deste modo, objetivou-se quantificar a incidência de carvão em seis clones e duas variedades de cana-de-açúcar, estimar a produtividade e avaliar a correlação entre a quantidade de doença e a produtividade.
3 MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi conduzido em duas etapas, sendo a primeira realizada na casa de vegetação de Fitopatologia da Faculdade de Ciências Agrárias (FCA) e a segunda na Fazenda Experimental (FAECA) da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), localizada no município de Dourados-MS. Foram plantadas duzentas gemas de cada material genético, sendo eles os clones RB , RB , RB , RB , RB e as variedades RB , RB e SP em copos descartáveis de 500 ml, contendo o substrato areia grossa (30%) e terra de barranco (70%). Foi feita a inoculação de uma suspensão de teliósporos de Ustilago scitaminea nas gemas, na concentração de 9 x esporos ml -1, no dia do plantio e 12 dias após o plantio. Os teliósporos foram obtidos de coletas a campo (CASAGRANDE, 1998). Os clones ainda estão em fase de teste pela RIDESA Rede Interuniversitária para Desenvolvimento do Setor Sucroalcooleiro na Usina Adecoagro de Angélica MS, os quais, juntamente com as variedades, foram cedidos gentilmente pela usina para a realização do experimento. Após 45 dias em casa de vegetação, as plântulas foram transplantadas para o campo, sendo o solo do local do tipo Latossolo vermelho distroférrico. Foi utilizado o delineamento de blocos ao acaso, sendo que cada bloco foi constituído de 8 tratamentos (variedades e clones) e 4 repetições. Cada parcela experimental foi composta de 4 sulcos com 5m de comprimento, com 1,5 m entre fileiras e 0,5 m entre plantas. Foram feitas duas linhas de bordadura, para reproduzir as condições dentro de um canavial comercial. Foi realizada adubação no sulco de plantio com 700 kg ha -1 da fórmula de NPK. Foram realizadas quatro avaliações após a implantação do experimento a campo, sendo avaliada a incidência da doença em cada parcela. Nesses levantamentos as plantas que apresentavam sintomas da doença foram marcadas com uma fita colorida, sendo calculada a porcentagem de touceiras e perfilhos doentes e a porcentagem de touceiras mortas. A partir dos dados de número touceiras com carvão e número de chicotes de carvão por parcela, foram feitos cálculos de área abaixo da curva de progresso da doença (AACPD), conforme equação proposta por Campbell e Madden (1990). n 1 AACPD = [ X(t)+X(t+1) 2 i=1 ] ( t (t+1) + t (t) ) AACPD= Área abaixo da curva de progresso da doença; X = intensidade da doença; t = tempo;
4 n = número de avaliações no tempo. Foi calculada a estimativa de danos por meio do peso médio das touceiras sadias e doentes, do número total de touceiras e do número de touceiras doentes, conforme descrito por Casagrande (1998). Os dados obtidos para número de touceiras doentes e produção (determinado através do peso de 15 perfilhos) foram submetidos à análise estatística, utilizando-se o teste LSD a 5% de probabilidade, sendo feita a análise de correlação entre estes dois fatores. RESULTADOS E DISCUSSÃO A ocorrência de geada em Agosto de 2013 na Região de Dourados/MS, ocasionou a morte das plantas nas parcelas experimentais. Neste mês houve registros de temperaturas abaixo de 8 o C (EMBRAPA, 2014), o que comprometeu as avaliações previstas pra os meses de Setembro, Outubro e Novembro e certamente influenciou negativamente na ocorrência do carvão, que se desenvolve bem em condições de calor e estresse hídrico (SANTOS, 2003). Dentre os materiais genéticos inoculados com o fungo, apresentaram sintomas as plantas dos clones RB , RB e da variedade SP A AACPD para o número total de chicotes foram de 163,94; 276,68 e 90,01 e para o número de perfilhos com carvão foram 34,89; 153,43 e 40,26 respectivamente (Tabela 1). Neste caso, observou-se que as plantas do clone RB apresentaram a maior quantidade de doença. Tabela 1. Área abaixo da curva de progresso da doença de carvão (Sporisorium scitamineum) em cana-de-açúcar Tratamentos N o de Chicotes de carvão N o de Perfilhos com carvão RB c 0 b RB ,34 bc 34,89 b RB c 0 b RB c 0 b SP ,01 ab 40,26 b RB ,68 a 153,43 a RB c 0 b RB c 0 b *Médias com a mesma letra não diferem entre si pelo teste LSD de Fischer (0,05) As variedades RB e RB (padrões), confirmaram suas características de resistência e tolerância à doença pois não apresentaram nenhum chicote e clones RB , RB e RB também não desenvolveram os sintomas. A variedade SP , com característica de resistência intermediária ao carvão, apresentou os sintomas, porém com
5 o menor número de chicotes por perfilho (Tabela 2). Sob condições de estresse, variedades mesmo com resistência ao fungo, podem apresentar sintomas da doença. (SANTOS, 2013) Tabela 2. Número de chicotes de carvão (Sporisorium scitamineum) (acumulados) por perfilho de cana-de-açúcar. Avaliações Tratamento 1ª 2ª 3ª 4ª RB b 0 b 0 b 0 b RB b 1,75 ab 6,25 ab 7,75 bc RB b 0 b 0 b 0 b RB b 0 b 0 b 0 b SP ,75 ab 1,25 ab 1,50 bc 3,25 ab RB ,0 a 3.25 a 7,0 a 11,25 a RB b 0 b 0 b 0 b RB b 0 b 0 b 0 b *Médias com a mesma letra não diferem entre si pelo teste LSD de Fischer (0,05) Quanto a produção final das parcelas, o clone RB foi o que apresentou o maior TCH (tonelada de cana-de-açúcar por hectare), sendo 131,19 kg ha -1 e o menor ATR (açúcar total recuperável), de 121,5 kg ha -1. A variedade SP obteve o menor TCH, de 76,38 kg ha -1 e o maior ATR, de 14,28 kg ha -1. As demais não diferiram significativamente para os tais fatores. Para TAH não houve diferença significativa entre os tratamentos (Tabela 3). Tabela 3. Porcentagem de fibra, ATR (açúcar total recuperável), TCH (tonelada de cana-de-açúcar por hectare) e TAH (tonelada de açúcar por hectare) Tratamento Fibra ATR TCH TAH RB ,14 b* 122,85 c 109,77 ab 13,55 ns RB ,47 b 130,17 bc 108,25 ab 14,10 RB ,21 a 130,90 bc 103,93 ab 13,59 RB ,54 b 125,71 bc 108,01ab 13,56 SP ,37 ab 144,28 a 76,38 b 11,05 RB ,05 b 121,50 c 131,19 a 15,93 RB ,30 ab 128,29 bc 114,66 ab 14,78 RB ,18 ab 137,78 ab 106,57 ab 14,67 *Médias com a mesma letra não diferem entre si pelo teste Tukey (0,05) ns: Não significativo CONCLUSÃO Os clones RB , RB e a variedade SP apresentaram as maiores quantidades de doença dentre as demais, sendo que a RB apresentou a maior AACPD.
6 A variedade SP apresentou os sintomas de carvão e mesmo assim obteve alto ATR, podendo-se inferir que ela é tolerante à doença. Mesmo com a inoculação do patógeno, os clones RB , RB e RB não se mostraram suscetíveis ao patógeno, apresentando valores consideráveis de TCH e ATR. Esses dados indicam uma reação de resistência dos mesmos, informação de grande importância no processo de seleção dos Programas de Melhoramento Genético. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CASAGRANDE, M.V. Avaliação da incidência da doença e estimativa de danos ocasionados pelo carvão (Ustilago scitaminea Sydow) em variedades de cana-de-açúcar p. Tese (Mestrado em Fitopatologia) Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, Universidade de São Paulo, Piracicaba, CAMPBELL, C.L.; MADDEN, L.V. Introduction to plant disease epidemiology. New York: J. Wiley, p. Capítulo 8. p.193. EMBRAPA Agropecuária Oeste. Guia Clima Boletim Agrometeorológico de Agosto de Disponível em: < Acesso em: 05 ago PIEPENBRING, M.; STOLL, M.; OBERWINKLER, F. The generic position of Ustilago maydis, Ustilago scitaminea and Ustilago esculenta (Ustilaginales). Mycological Progress, Munchen, v. 1, n. 1, p , RAGO, A.M.; CASAGRANDE, M.V.; MASSOLA JR., N.S. Variabilidade patogênica de Ustilago scitaminea no Estado de São Paulo. Summa Phytopathologica, v.35, n.2, p.93-97, SANTOS, A. S. Doenças causadas por fungos e bactérias em cana-de-açúcar. In: IX Reunião itinerante de fitossanidade do Instituto Biológico. Catanduva SP. Anais... p.10-17, TOKESHI, H. Cana-de-açúcar (Saccharum officinarum L.) Controle de Doenças. In: Francisco Xavier Ribeiro do Vale, Laércio Zambolim, M. (Org.). Controle de Doenças de Plantas:
7 grandes culturas. Viçosa: UFV, Departamento de Fitopatologia; Brasília, DF: Ministério da Agricultura e do Abastecimento, v. 2, p UNICA, União da Indústria de Cana-de-açúcar. Relatórios de acompanhamento da safra 2014/2015. Levantamento da primeira quinzena de Junho de São Paulo-SP, 2014.
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