300, uma reflexão histórica*
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- Terezinha Bandeira Molinari
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1 300, uma reflexão histórica* DIMAS MÁRCIO SANTOS DA SILVA ACADÊMICO DO CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA DA FJAV Sabemos que não é fácil a tarefa do professor de História em transmitir os fatos históricos aos alunos. Os docentes precisam trabalhar o imaginário com seus discentes, para que se possam reter e abstrair os acontecimentos históricos, os conceitos e o cotidiano passado. Para tanto, são usados diversos recursos áudios-visuais a fim de facilitar o ensino e a aprendizagem da disciplina História. Um dos recursos mais utilizados pelos educadores são os filmes produzidos de acordo com uma temática histórica. Se quiserem ensinar acerca dos povos pré-colombianos, utilizam Apocalypto do diretor Mel Gibson. Porém, assim como a própria História é subjetiva, suas reproduções cinematográficas não representam com fidelidade os eventos históricos. Além disso, carregam consigo cargas de ideologias e altas taxas de subjetividade. Trataremos de uma análise sobre o filme 300 do diretor Zack Snyder. Em 1962, foi produzido um filme sobre a heróica batalha entre gregos e persas nas Termópilas ( Portões Quentes em Grego) que recebeu o nome de Os 300 de Esparta. Um filme que influenciado pela época da Guerra Fria, trouxe essa carga histórica em si, onde os Gregos representavam a democracia do ocidente (capitalismo) contra os Persas representando o despotismo do Oriente través de Xerxes (comunismo). O filme de 1962 acabou sendo influência ao cartunista Frank Miller que produziu uma graphic novel (história em quadrinhos) chamada de 300. E foi exatamente esse quadrinho que virou o filme 300. Em uma entrevista citada na revista brasileira Galileu (edição de março de 2007), o diretor de 300 revela que para se fazer o filme uma enorme pesquisa foi feita, porém não foi utilizada. Ou seja, o filme foi baseado apenas na graphic novel que por sua vez foi influenciada pelo filme de 1962, sendo deixada de lado uma enorme pesquisa sobre a famosa batalha de Termópilas. Segundo Ricardo Bonalume Neto, Revista Galileu (março 2007, p. 38), 300 se junta a uma leva de filmes que retratam momentos marcantes da história do Ocidente e do confronto com os vários orientes, como os épicos sobre a Guerra de Tróia e Alexandre, O 1
2 Grande. (...). Atualmente, vivemos uma época também marcada pelo confronto entre Oriente e Ocidente. Quem não se lembra da Guerra do Golfo ou mais recentemente da Guerra no Iraque. Um choque de culturas entre Ocidente e Oriente que começa no século 6 a.c. com gregos versus persas e que hoje em dia é realimentada pelos estadunidenses e seus aliados europeus versus o mundo islâmico. A História, tanto como o filme, martirizou os 300 espartanos que lutaram bravamente contra os persas. Só que outras cidades-estado gregas também foram ao combate, como por exemplo, os 700 téspias que morreram no confronto e que são esquecidos, ou nem ao menos mencionado no filme. E os que são citados fogem ao final com medo da morte certa e mostrando sinais de covardia. O FILME 300 inicia com uma cena característica da cidade espartana, a seleção de crianças que por ventura possam ser aproveitados ou descartados para a sua utilização no serviço militar. É uma cena bem elaborada, já que provavelmente crianças eram descartadas como se fossem lixo. Pois na religião grega quando alguém nascia com algum defeito genético era um forte indício de que algo maligno ocorreria, neste sentido, o descarte era o remédio mais lógico e eficiente. Logo no início do filme, vemos Leônidas na sua fase de treinamento e posteriormente com sua família e governando o povo de Esparta antes da batalha. Porém de acordo com Ricardo Bonalume Neto, Revista Aventuras na História (março de 2007), a vida do rei espartano ainda é uma incógnita, já que pouco se sabe da vida dele antes do confronto. Quando Leônidas se encontra com os éferos (os anciões de Esparta) vemos uma imagem de velhos bizarros, medonhos, podendo ser entendido hoje como um ato de discriminação contra os idosos, já que em Esparta o culto ao ancião era muito forte. A maioria dos homens não chegava à velhice e quando chegavam eram admirados pela experiência adquirida em muitos anos dedicados a guerras. Os éferos eram as pessoas mais poderosas politicamente. Além disso, a representação que é feita de um deficiente físico (Elfíates, o traidor) é grotesca, como se fosse um monstro e não um ser humano com deficiência. Estudos descrevem como eram os trajes de guerra dos espartanos e dos persas. Os soldados espartanos usam lanças enormes que chegam a medir 3,0 m de altura com pontas em cada lado. Vestiam comumente uma túnica reforçada com placas metálicas e 2
3 pedaços de couro. Carregavam escudos redondos chamado de hoplon (daí o motivo dos soldados serem chamados de hoplitas) feitos de madeira, bronze e couro com um peso de aproximadamente 8 kg e cerca de 30 cm cada. Na cabeça, possuíam um capacete, o elmo, enfeitado com uma crina de cavalo. Para proteção das pernas usavam perneiras de bronze. E como arma auxiliar, carregavam uma espada com 60 cm de comprimento. Eram profissionais de guerra. Os soldados persas se protegiam com um escudo feito de vime (vara flexível do vimeiro) e reforçado com couro. Não usavam capacetes. No corpo apenas uma túnica reforçada por placas metálicas e não traziam nada de proteção nas pernas. Tinham como arma principal arcos e flechas e uma lança mais curta do que a dos espartanos e como arma secundária uma espada curta. Eram forçados a batalhar, pois era uma espécie de tributo, um trabalho escravo, ou eram mercenários (soldados que lutam exclusivamente por dinheiro). No filme, no entanto, aparecem espartanos malhados, com uma capa vermelha, seminus e de sunga. Mesmo sendo ótimos guerreiros, será que os espartanos iriam para a batalha assim? Ou isso é apenas uma alegoria dos produtores do filme? É óbvio que sim, que não passa apenas de uma mera forma de enaltecer a bravura e a própria imagem dos espartanos, tornando o filme mais interessante. Quanto aos soldados persas, o filme representa de maneira mais coerente. Mas será que existiam mesmo aberrações como aquele gigante que parece ser um monstro com dentes horríveis, ou aquele que decapita um dos generais de Xerxes com suas mãos de faca? Seria o mesmo que acreditar em lobisomem e em contos de fadas. O filme mostra uma cultura oriental marcada pelo misticismo e coisas impossíveis como um homem-bode tocando um instrumento de música. Outro fator importante e decisivo para a vitória nas Termópilas pelos gregos foi a batalha em Artemísio que impediu um avanço maior de navios persas. Informação que o filme não traz. Mas por que Leônidas escolheu deter o avanço persa nas Termópilas? Como era uma área de desfiladeiro e em forma de um funil e colocando-se dentro, de nada valeria a superioridade persa se a quantidade de pessoas da primeira linha de ataque seriam praticamente as mesmas dos espartanos, facilitando o combate para os gregos. Tática semelhante é passada antes no filme quando o próprio Leônidas em sua fase de preparação (o agogê) enfrenta o lobo levando-o a uma passagem estreita deixando o animal preso e se tornando uma presa fácil. 3
4 Uma das intrigantes questões que fica a quem assiste ao filme é sobre a imagem de Leônidas e Xerxes. No filme, Leônidas aparece o tempo todo com uma pequena trança no cabelo, porém gravuras mostram um Leônidas de cabelo solto e com uma aparência mais para Temístocles (comandante dos gregos na batalha de Salamina). Quanto a Xerxes, Ricardo Bonalume Neto, Revista Galileu (março 2007, p. 46), mostra a imagem de uma moeda com o perfil do rei persa nela, sendo drástica a diferença onde ele aparece com uma enorme barba, cabelo grande e aparentando ter estatura normal e não os 3,0 m mostrados no filme. Além disso, Ricardo Bonalume Neto, Revista Aventuras na História (março 2007, p.42), traz uma gravura do rei com a barba grande, o cabelo comprido, vestido em trajes orientais e não tão alto assim. Descrição totalmente contrária ao do filme sobre Xerxes. Apesar da derrota do grupo liderado por Leônidas, mais tarde os gregos derrotam os persas e segundo o historiador estadunidense Victor Davis Hanson caso os persas tivessem vencido a guerra entre gregos e persas teríamos crônicas do estado real em vez de história; panegírios em vez de política ou oratória; puxa-sacos em cortes em vez de gritaria das assembléias; orgulho de raça em vez de orgulho de cultura; uma rígida casta sacerdotal em vez de intelectuais livre-pensantes (Revista Aventuras na História, março 2007, p.49). Ou seja, conceitos como liberdade, política, filosofia, história seriam tomados pela tirania de Xerxes e a cultura Ocidental sucumbiria diante da cultura Oriental e seu despotismo. No final do filme, a cena do levante feito por Pausânias, sobrinho de Leônidas, dá a impressão que a vitória grega era uma certeza. Porém, após ter se comportado como um herói na batalha de Plataia, segundo o historiador grego Tucídides, ele iniciou negociações secretas com Xerxes propondo ser seu vassalo e quando a notícia vazou acabou morrendo por inanição. CONCLUSÃO Apesar de ser uma boa alternativa de lazer, o entendimento de certos fatos passados não podem ser absorvidos muitas vezes por certos filmes. Este filme, não podem ser levados tão a sério como se fossem as representações fiéis da realidade histórica. Percebemos isso no filme 300 após fazermos uma análise e compreender que certos fatores foram ocultados, distorcidos, com atos preconceituosos e com uma carga ideológica e política embutida. É um filme que dispensou uma pesquisa feita sobre o tema e produzido com base na graphic novel 300 e que por sua vez foi influenciado pelo filme Os 300 de Esparta de 1962 dirigido por Rudy Mate. Como pode representar a verdade sobre o fato histórico dessa forma. 4
5 Neste sentido, o filme é repleto de exageros, preconceitos e ideologias, atreladas à visão de mundo americanizada. Será mesmo que se o Oriente tivesse vencido, seria o fim do mundo? Ou viveríamos melhores? A impressão que dá o filme é que seria uma desgraça e seríamos até hoje subordinados e submissos a um tirano. E vocês, o que pensariam sobre isso? REFERÊNCIAS Revista Galileu. Edição março 2007, ed. Globo. p Revista Aventuras na História. Edição 16 (Grandes Guerras) março 2007, ed. Abril. p
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