COMPETÊNCIA CONSTITUCIONAL EM MATÉRIA AMBIENTAL
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- Marta Soares Meneses
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1 COMPETÊNCIA CONSTITUCIONAL EM MATÉRIA AMBIENTAL 1. INTRODUÇÃO 1.1. A Constituição Federal, promulgada em 05 de outubro de 1988, foi o primeiro texto constitucional brasileiro a tratar do tema meio ambiente de forma unitária Países como Equador (1979), Peru (1979), Chile (1980), Portugal (1976) e Espanha (1978) introduziram antecipadamente o tema nas Constituições A Constituição de 1988 garante o direito de todos ao meio ambiente ecologicamente equilibrado e essencial à sadia qualidade de vida. O mesmo texto constitucional conceitua o meio ambiente como bem de uso comum do povo, que não pode ser apropriado e está fora do comércio A competência em relação ao meio ambiente está dividida em competência de ordem administrativa e legislativa O art. 23 da Constituição Federal, traça a competência comum para União, Estados, Distrito Federal e Municípios no tocante a proteção do meio ambiente e o combate à poluição em quaisquer de suas formas A competência do art. 23, que estudaremos especificamente, está atrelada a uma competência administrativa O art. 24 da Constituição Federal fala em competência concorrente da União, Estados e Distrito Federal para legislar sobre meio ambiente Competência concorrente para legislar, envolve não só a elaboração de leis, mas de decretos, resoluções e portarias A concorrência enseja a possibilidade de iniciativa legislativa na área ambiental para os Estados-Membros e para o Distrito Federal, se a União mantiver inerte Os Estados poderão exercer a competência legislativa plena, desde que não exista lei federal sobre normas gerais. Neste caso, a norma
2 estadual não pode exorbitar da peculiaridade ou do interesse do próprio do Estado e terá que se ajustar ao disposto em norma federal ambiental superveniente. 2. A norma geral como limite da legislação federal ambiental 2.1 A norma geral visa à aplicação da mesma regra em um determinado espaço territorial. 2.2 A norma geral federal ambiental, ou em outra matéria de competência corrente, não precisa necessariamente abranger todo o território brasileiro. 2.3 Uma norma geral ambiental federal poderá dispor, por exemplo, sobre as áreas previstas no art. 225, 4º - Floresta Amazônica Brasileira, Serra do Mar, Mata Atlântica, Pantanal e Zona Costeira. 2.4 A norma geral pode abranger somente um ecossistema, uma bacia hidrográfica ou somente uma espécie vegetal ou animal. 2.5 A União está obrigada a inserir na norma geral o conteúdo dos acordos, tratados ou convenções internacionais já ratificados, depositados e promulgados pelo Brasil, como, evidentemente, guardar fidelidade à Constituição em vigor. 3. Competência suplementar dos Estados em matéria ambiental 3.1 Segundo o art. 24, 2º da Constituição Federal, a competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a competência suplementar dos Estados. 3.2 Suplemento é a parte que se ajunta a um todo para ampliá-lo. Serve para suprir qualquer falta.
3 3.3 A capacidade suplementar está condicionada à necessidade de aperfeiçoar a legislação federal ou diante da constatação de lacunas ou de imperfeições da norma geral federal Em caso de inércia da União em estabelecer as normas gerais, os Estados poderão suplementá-las, regulamentando as regras gerais sobre o assunto. Aqui pode o Estado tanto complementar a legislação federal como também, na hipótese de inexistência de lei federal, passar a legislar sobre a matéria, tendo competência plena, em que pese temporária. 3.5 No caso de suplementação, em sobrevindo norma federal geral, a aludida norma estadual geral (suplementar) terá a sua eficácia suspensa, no que for contrária à lei federal sobre normas gerais editada posteriormente. 3.4 Não se pode suplementar um texto legal para descumpri-lo ou para deturpar sua intenção. 4. A COMPETÊNCIA AMBIENTAL COMUM NA CONSTITUIÇÃO DE A competência comum da União, Estados, Distrito Federal e Municípios vêm prevista no art. 23 da CF. 4.2 Na verdade trata-se de uma competência administrativa, posto que o art. 24 trata da competência para legislar. 4.3 Dentre a competência ambiental prevista no art. 23, está: III - proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico, artístico e cultural, os monumentos, as paisagens naturais notáveis e os sítios arqueológicos; IV - impedir a evasão, a destruição e a descaracterização de obras de arte e de outros bens de valor histórico, artístico ou cultural; VI - proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas; VII - preservar as florestas, a fauna e a flora e XI - registrar, acompanhar e fiscalizar as concessões de direitos de pesquisa e exploração de recursos hídricos e minerais em seus territórios;
4 4.4 Existe uma autonomia entre União, Estados, Distrito Federal e Municípios. Cada um escolhe a sua estrutura administrativa. Assim, as normas gerais federais ambientais não podem ferir a autonomia dos Estados e Municípios, exigindo dos mesmos uma estrutura administrativa ambiental idêntica á praticada no âmbito federal. 4.5 No âmbito da competência de implementação administrativa da lei, não há uma hierarquia nas atuações das diferentes administrações públicas. A administração federal não está num plano hierárquico superior ao da administração pública ambiental estadual, nem esta situa-se em plano superior ao da administração pública ambiental municipal. 5. Estabelecimento de normas de cooperação institucional 5.1 Dispõe o art. 23 da CF, em seu paragráfo único: Lei complementar fixará normas para a cooperação entre a União e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, tendo em vista o equilíbrio do desenvolvimento e do bemestar em âmbito nacional. 5.2 O verbo cooperar significa trabalhar em comum, colaborar, ajudar, auxiliar. 5.3 Esta cooperação busca duas finalidades: a) o equilíbrio do desenvolvimento e b) e o equilíbrio do bem-estar em âmbito nacional. 5.4 O dispositivo constitucional acima cria uma tarefa a lei complementar, que é a de criar instrumentos que evitem que Estados da Federação ou Municípios possam descumprir a legislação ambiental ao atrair investimentos, praticando um desenvolvimento não sustentado. 5.5 Exemplos desta cooperação é o SISNAMA Sistema Nacional do Meio Ambiente, concebido pela Lei de Política Nacional do Meio Ambiente (1981). No CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente, todos os Estados tem assento permanente, configurando um fórum de encontro quadrimestral de discussão de política do meio ambiente.
5 5.6 Nesta cooperação prescrita pelo texto constitucional, é muito importante a nível de proteção ao meio ambiente, que haja um sistema de informação que interajam todos os entes federados (União, Estados, Distrito Federal e Municípios). 5.7 A previsão de cooperação, não visa diminuir a autonomia dos entes federados. Por exemplo, a lei federal não pode estabelecer prazos para os procedimentos administrativos estaduais e municipais, pois esta matéria integra a organização administrativa autônoma desses entes. 5.8 De grande importância para a cooperação, é que a União repasse dinheiro aos Estados e Municípios, e os Estados aos Municípios, visando fortalecer a atividade administrativa ambiental, principalmente nos entes carentes. 5.9 O grande perigo da simultaneidade de competências para a implementação do controle ambiental é quando todos os entes são competentes, mas nenhum deles tem assumido especificamente a melhoria da qualidade das águas, do ar, do solo e nenhuma instância governamental se responsabiliza pela conservação das florestas e da fauna. 6. MERCOSUL E COOPERAÇÃO GOVERNAMENTAL 6.1 A cooperação no Direito Internacional tem sido apontada como sendo o início da solução de muitos problemas que assolam o planeta Terra. 6.2 A nível de América do Sul, esta cooperação deve ser realizada principalmente entre os países que formam o Mercosul. 7. O MUNICÍPIO E O MEIO AMBIENTE 7.1 O Brasil é formado por Estados, Distrito Federal (Brasília) e Municípios, todos autônomos.
6 7.2 O equilíbrio da federação não permite o desenvolvimento de uma parte da federação ser conseguida à custa da poluição e da degradação ambiental da natureza da outra parte. 7.3 Na seara da competência legislativa, a Constituição Federal previu dois tipos de competências para cada um dos membros da Federação: a) a União tem competência privativa e concorrente; b) os Estados e o Distrito Federal têm competência concorrente e suplementar; d) os Municípios têm competência para legislar sobre assuntos de interesse local e para suplementar a legislação federal e estadual. 7.4 O interesse local, significa que pode ser objeto de legislação municipal aquilo que seja da conveniência de um quarteirão, de um bairro, de um subdistrito ou de um distrito. 7.5 Muitas das vezes veremos conflitos entre o interesse local pelo desenvolvimento econômico não sustentado ou imediatista, em antagonismo com o interesse local, pela conservação do meio ambiente. 7.6 Em matéria ambiental, a União irá procurar a vantagem de todo o território nacional ou de ecossistemas específicos (floresta amazônica brasileira, mata atlântica, serra do mar, pantanal mato-grossense, etc) ou de uma ou várias bacias hidrográficas, tanto no que concerne ao exercício da competência privativa, como no exercício da competência para editar normas gerais. Ao procurar a utilidade nacional, não poderá a União prejudicar concretamente o direito dos munícipes à sadia qualidade de vida e ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. 7.7 A Constituição Federal atribuiu, indistintamente, à União, aos Estados e ao Distrito Federal a competência para proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas e de preservar as florestas, a fauna e a flora 7.8 A atribuição relatada no item 7.7 induz que qualquer dos entes políticos mencionados tem competência para aplicar a legislação ambiental, ainda que essa legislação não tenha sido de autoria do ente público que a aplica. O Município, por exemplo, não pode legislar
7 sobre águas, mas pode, e deve, aplicar a legislação federal de águas no ordenamento do território municipal.
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