COMPREENDER A INFERTILIDADE

Transcrição

1 Introdução A maioria dos adultos deseja ter filhos. Se pegou neste livro, é provável que você, um membro da sua família ou um amigo próximo esteja a ter dificuldades em atingir este objectivo. Não está sozinho. Os problemas de fertilidade são provavelmente o motivo mais comum (que não a gravidez) para que alguém entre os 20 e os 45 anos procure aconselhamento médico. Cerca de um quarto dos casais irá experimentar um atraso inesperado na conquista da dimensão familiar que pretende e a maioria consultará o seu médico. Cerca de um sexto dos casais irá frequentar uma clínica de fertilidade. O propósito deste livro é ajudá-lo a saber mais sobre o que implica engravidar, sobre os motivos pelos quais não terá tido sucesso até ao momento, as análises e testes que poderão ser necessários para determinar a causa e os tratamentos de infertilidade disponíveis. A infertilidade é mais do que um problema médico ou físico. Poderá também conduzir a um grande desgaste emocional e psicológico, que pode corromper a relação do casal, a relação com os amigos, a família e os colegas de trabalho que parecem conseguir a paternidade mais facilmente. O mundo em volta destes casais parece ser um lugar fértil do qual foram excluídos, levando-os, mesmo, a afastar-se de eventos sociais onde possam encontrar mulheres grávidas ou crianças pequenas. As clínicas de fertilidade reconhecem os aspectos emocionais 5

2 COMPREENDER A INFERTILIDADE da infertilidade e incluem no seu pessoal conselheiros com formação especializada. No entanto, alguns casais ficam relutantes em procurar este tipo de apoio profissional. Por este motivo, o livro inclui um capítulo sobre como lidar com a infertilidade. A infertilidade e os seus diversos tratamentos levantam preocupações morais e dilemas éticos em muitos casais, como é o caso dos tratamentos de procriação assistida. Os médicos, as enfermeiras e os cientistas utilizam muitas vezes termos médicos, com os quais poderá não estar familiarizado. Por isso, disponibilizamos um glossário explicativo no final do livro. O glossário inclui ainda explicações sobre siglas (como por exemplo, IIU e ICSI) e abreviaturas normalmente utilizadas em testes e tratamentos de infertilidade. Um pequeno livro deste tipo tem que ser conciso. Incluímos uma lista de fontes de informação, para casais que pretendam mais informações, nas páginas 115 a 120. PONTOS-CHAVE Os problemas de fertilidade são um motivo muito frequente para a procura de aconselhamento médico. Cerca de um quarto dos casais irá experimentar um atraso inesperado na conquista da dimensão familiar que pretende. Cerca de um sexto dos casais irá visitar uma clínica de fertilidade para aconselhamento. A infertilidade é mais do que um problema médico ou físico; pode também conduzir a um grande desgaste emocional e psicológico. 6

3 O que é a infertilidade? A infertilidade ou esterilidade total, sem hipótese de concepção natural, é muito rara. Ocorre apenas se, por exemplo, o homem não estiver a produzir esperma, a mulher tiver tido uma menopausa prematura e já não tiver óvulos nos ovários ou se ambas as trompas de Falópio estiverem bloqueadas (impedindo o esperma de alcançar os seus óvulos). Muitas vezes, estes problemas podem ser ultrapassados com tratamentos de fertilidade. No entanto, a maioria dos problemas de fertilidade tem, de facto, que ver com a baixa fertilidade, estando o casal a tentar conceber há algum tempo sem sucesso. Quanto tempo é algum tempo? Isso depende de uma série de factores, particularmente, da idade da mulher ou do facto de existirem ou não outros motivos para suspeitar de um problema de fertilidade. A maioria de nós, enquanto adolescentes, ouviu dizer, a pais e professores bem intencionados, que engravidar era muito fácil, a menos que se utilizasse uma forma segura de contracepção. De facto, comparativamente à maior parte das espécies animais, os humanos têm uma fertilidade natural relativamente baixa. Em casais jovens férteis, a maior possibilidade de conceber em cada ciclo 7

4 COMPREENDER A INFERTILIDADE mensal, quando começam a tentar, é de apenas 33% (um em cada três) ou a de saírem dois seis quando se lançam os dados. Para a maioria dos casais, a possibilidade de conceber é inferior a isto, em média uma oportunidade em cinco ou seis por cada mês mais ou menos a mesma possibilidade de sair um seis ao atirar um dado. Para os casais jovens férteis, as hipóteses de conceber poderão ser, apenas, de uma em três (33%) ou a de saírem dois seis quando se atiram os dados. Para a maioria dos casais, as hipóteses de conceberem são, em média, de uma em seis (17%) ou a de sair um seis ao atirar um dado. No caso dos casais férteis, 50% terão concebido no prazo de três meses, 75% em seis meses e 90% em doze meses. No espaço de dois anos, estas hipóteses aumentam ligeiramente para 95%. Em regra, deverá consultar o seu médico se não tiver concebido no prazo de um ano após ter começado a tentar e, mais ainda, após dois anos de tentativas. No entanto, isto não tem em conta a idade da mulher. A fertilidade 8

5 O QUE É A INFERTILIDADE? natural de uma mulher começa a diminuir a partir dos 28, 29 anos, primeiro lentamente, mais depressa após os 35 anos e acentuadamente depois dos 40. Isto resulta, sobretudo, da redução da qualidade dos óvulos que permanecem nos ovários. Não só as hipóteses de a mulher engravidar diminuem à medida que vai envelhecendo, como também aumenta o risco de aborto no caso dela conceber. Isto está, provavelmente, associado à qualidade dos seus óvulos e do embrião resultante e não a qualquer problema de revestimento do seu útero. Além disso, o risco de conceber um filho com um problema de cromossomas (tal como a síndrome de Down) aumenta progressivamente depois dos 35 anos. Por esta razão, se a mulher tiver mais de 35 anos, o casal deverá procurar logo aconselhamento especializado, caso não tenha concebido no prazo de 6 meses. Existem muitos outros motivos que deverão levar alguns casais a procurar ajuda mais cedo. No caso do homem, pode ter sido uma anterior infecção nos testículos (orquite) ou uma cirurgia (talvez para corrigir um problema de infância em que os testículos não desceram para o escroto). No caso da mulher, pode tratar-se de menstruações irregulares ou pouco frequentes, infecção pélvica prévia, apendicite aguda ou de uma cirurgia abdominal (talvez para remover um quisto nos ovários). Para mais informações sobre este assunto, consulte Por que motivo não conseguimos conceber? na página 25. PROCURAR ACONSELHAMENTO Alguns casais adiam a procura de aconselhamento médico, porque lhes é difícil aceitar que poderão ter um problema ou porque estão preocupados com o facto de lhes fazerem perguntas do foro íntimo e privado. O seu 9

6 COMPREENDER A INFERTILIDADE médico e o pessoal da clínica de fertilidade estarão cientes destes sentimentos. Eles estão familiarizados com os medos e ansiedades acerca dos exames, dos problemas que poderão encontrar e das opções de tratamento. As informações que lhe vão dar irão permitirlhe decidir se e quando pretende continuar. O atraso na procura de aconselhamento poderá limitar as opções de tratamento disponíveis ou as hipóteses de sucesso. Mesmo que procure aconselhamento médico devido à infertilidade, não significa que irá necessitar de tratamento para aumentar as hipóteses de gravidez. Alguns casais descobrem que conceberam enquanto aguardavam uma consulta numa clínica ou durante a realização das análises ao sangue ou de outros exames. Muitos outros casais descobrem que os resultados dos vários testes são totalmente normais. Se está a tentar conceber há relativamente pouco tempo, poderá ser informado pela clínica de que as hipóteses de gravidez continuam elevadas e poderá ser aconselhado a voltar para uma consulta de revisão, se não tiver tido sucesso após mais alguns meses. Além disso, alguns exames, tais como os que se destinam a verificar se as trompas de Falópio estão patentes, poderão aumentar temporariamente a fertilidade. Pode estar preocupado com o facto de todos os tratamentos de fertilidade que lhe são propostos serem dispendiosos e de alta tecnologia, tais como a fertilização in vitro (FIV). É compreensível, dado o enorme interesse dos meios de comunicação social nestes tratamentos. No entanto, muitas das potenciais causas de infertilidade poderão ser corrigidas com tratamentos bastante mais simples, tais como a terapia com medicamentos. 10

7 O QUE É A INFERTILIDADE? A INFERTILIDADE ESTÁ A AUMENTAR? A resposta é não. No entanto, nos últimos 15 anos, houve um grande aumento no número de casais que procuram ajuda especializada. Isto deve-se, em parte, ao facto de haver, neste momento, uma maior percepção sobre a crescente diversidade e eficácia dos tratamentos da infertilidade. A maior atenção dos meios de comunicação social tornou a infertilidade menos tabu, o que significa que amigos e conhecidos poderão estar mais abertos a conversar sobre as suas próprias experiências relacionadas com problemas de fertilidade. Actualmente, muitos casais adiam ter filhos. No caso da mulher, pode ser uma questão de carreira profissional ou, no caso do casal, pode tratar-se de alcançar uma maior estabilidade financeira ou de concretizar outros objectivos antes de constituir família. Há vinte e cinco anos, a idade média com que uma mulher tinha o seu primeiro filho eram os 20 e poucos anos, há uma década eram os 25 anos e agora está nos 27 anos para todos os primeiros filhos e nos 30 para os primeiros filhos dentro do casamento. Este adiamento, para uma idade na qual a fertilidade natural da mulher está a começar a diminuir, significa, inevitavelmente, que mais casais irão experimentar dificuldades em conceber e irão procurar aconselhamento médico. Pesquisas efectuadas nos Estados Unidos mostram que, em mais de metade dos casais que frequentam clínicas de fertilidade, a mulher tem mais de 35 anos. Por volta desta idade, a fertilidade natural começa a diminuir rapidamente e muitos casais poderão ter que considerar tratamentos mais eficazes (mas também mais desgastantes e dispendiosos), de alta tecnologia, para optimizar as suas hipóteses de gravidez. 11

8 COMPREENDER A INFERTILIDADE Também é importante saber se a fertilidade dos homens está a diminuir. Alguns relatórios apresentados recentemente nos meios de comunicação social e na imprensa científica sugerem que a quantidade de espermatozóides está a decrescer. Alguns destes relatórios tiveram em conta os resultados ao longo do tempo e verificaram uma quebra no número de espermatozóides. Outros não verificaram qualquer alteração e alguns verificaram até um aumento no seu laboratório. Pode ser que, à medida que as técnicas de exame se tornarem mais exactas, as verdadeiras contagens de espermatozóides relatadas sejam mais baixas. Por outro lado, as tendências reveladas poderão reflectir uma quebra real do número de espermatozóides, possivelmente como resultado de toxinas (venenos) no meio ambiente e da maior utilização de hormonas esteróides na produção de alimentos. Alguns relatórios recentes sugerem que o ambiente de trabalho das pessoas pode exercer efeitos consideráveis sobre a fertilidade. Apesar de alguns destes serem exemplos extremos, eles revelam a importância do nosso ambiente de trabalho na fertilidade e a importância de o considerarmos um possível efeito prejudicial. 12

9 O QUE É A INFERTILIDADE? PONTOS-CHAVE A infertilidade é um problema comum, que afecta, pelo menos, um em cada seis casais numa determinada altura das suas vidas. A maioria dos casais inférteis tem uma baixa fertilidade e não esterilidade. Noventa por cento dos casais com uma fertilidade normal irá conceber no prazo de um ano. Os casais que não conceberem no prazo de um ano deverão procurar aconselhamento médico. A idade da mulher é o factor de previsão mais importante da fertilidade de um casal. As mulheres com mais de 35 anos deverão procurar aconselhamento, se não tiverem engravidado no prazo de seis meses. Os casais deverão procurar aconselhamento médico mais cedo, se a mulher tiver menstruações pouco frequentes ou se o homem tiver sido sujeito a uma cirurgia ou tiver tido uma infecção anterior nos testículos. 13