XII CURSO DE INVERNO DE GENÉTICA FCAV/UNESP

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1 POLIMORFISMO FTO-rs E O ESTADO NUTRICIONAL DE MULHERES ANTES E UM ANO APÓS O PARTO FTO-rs POLYMORPHISM AND WEIGHT STATUS OF WOMEN BEFORE AND ONE YEAR AFTER DELIVERY Caroline Kroll (1) Marco Fabio Mastroeni (2) Resumo O objetivo deste estudo foi avaliar a associação do polimorfismo FTO-rs no estado nutricional de mulheres antes e um ano após o parto. Trata-se de um estudo transversal aninhado em uma coorte conduzido no município de Joinville/SC, Brasil, entre 2012 e Para este estudo foram incluídas 197 mulheres do primeiro segmento da coorte (2012) e destas 145 permaneceram no segundo segmento (2013). Foram avaliados o IMC prégestacional, IMC no dia do parto, IMC no pós-parto imediato e IMC um ano após o parto. A genotipagem foi realizada utilizando-se os métodos PCR-RFLP. Foram utilizados os testes de qui-quadrado e análises de regressão logística bruta e ajustada. Como resultado, a maioria das mulheres portadoras de pelo menos um alelo mutante (A) apresentou sobrepeso ou obesidade (IMC 25Kg/m²), apesar de o resultado mostrar-se estatisticamente significativo apenas para o IMC um ano após o parto (p = 0,030). Para esta característica verificou-se que mulheres portadoras dos genótipos TA+AA possuem 2,08 mais chances de apresentarem excesso de peso (IC 95%: 1,07-4,05). Após o ajuste para as covariáveis a presença dos genótipos TA+AA aumentou significativamente as chances da mulher apresentar excesso de peso corporal no dia do parto (OR = 2,17; 95% IC: 1,03-4,57), no pós-parto imediato (OR = 2,57; 95% IC: 1,03-6,42), e um ano após o parto (OR = 2,45; IC 95%: 1,20-5,03). O IMC prégestacional não demonstrou resultado significativo. Portanto, nosso estudo revelou associação dos genótipos TA+AA-rs com excesso de peso em mulheres um ano após o parto. Palavras-chave: Excesso de peso. FTO rs Gestante. Índice de Massa Corporal. Abstract The objective of this study was to evaluate the association of the FTO-rs polymorphism on weight status of women before and one year after delivery. This is a crosssectional study nested in a cohort study conducted in the city of Joinville-SC/Brazil, between 2012 and The study included 197 women in the first segment of the cohort (2012) and 145 of these remained in the second segment (2013). We evaluated the pre-pregnancy BMI, BMI at the day of delivery, BMI immediately after the delivery and BMI one year after delivery. Genotyping of the polymorphism was performed using PCR-RFLP technics. Chisquare test and unadjusted and adjusted analyzes were performed to verify the influence of genotype polymorphism between variables. As a result, most of women with at least one mutant allele (A) were overweight (BMI 25Kg/m²), although the results had been 1 Doutoranda em Saúde e Meio Ambiente pela Universidade da Região de Joinville UNIVILLE. Bióloga. Endereço eletrônico: carol-kroll@hotmail.com. Telefone: (47) ; 2 Doutor em Saúde Pública pela Universidade de São Paulo. Docente do Programa de Pós-Graduação em Saúde e Meio Ambiente da Universidade da Região de Joinville UNIVILLE. Biólogo. Endereço eletrônico: marco.mastroeni@univille.br.

2 statistically significant only for BMI one year after delivery (p = 0.030). For this variable, we found that women carrying TA+AA genotypes have 2.08 more odds of being overweight (95% CI: ). After adjusted for confounding covariates the presence of TA+AA genotypes increase the odds of BMI at the day of delivery (OR = 2,17; 95% IC: 1,03-4,57), immediately after the delivery (OR = 2,57; 95% IC: 1,03-6,42), and one year after the delivery (OR = 2,45; IC 95%: 1,20-5,03). Pre-gestational BMI was not statistical significant. Concluding, our study revealed and associations of TA+AA-rs genotypes with overweight in women one year after delivery. Keywords: Overweight. FTO rs Pregnant. Body mass index. 1. Introdução O número de pessoas com excesso de peso corporal aumentou substancialmente nas últimas três décadas, atingindo uma prevalência de mais de 1,9 bilhão de adultos, destes 40% mulheres (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2000, 2015). O sobrepeso e a obesidade são graves problemas para a saúde da mulher principalmente no período gestacional, e está associado a vários problemas na mãe e respectivo filho (KNIGHT-AGARWAL et al., 2016). Gestantes com excesso de peso possuem mais risco de apresentarem diabetes gestacional e desordens hipertensivas da gestação, bem como riscos que afetam o recém-nascido, tais como macrossomia, nascimento de recém-nascidos grandes para a idade gestacional, hemorragia no pós-parto, hipoglicemia, índice Apgar inferior a 5 e dificuldade respiratória (KNIGHT-AGARWAL et al., 2016). A obesidade é uma doença crônica complexa (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2000), sendo 40-70% do fenótipo da obesidade de caráter hereditário (MARQUES-LOPES et al., 2004). O fat mass and obesity-associated (FTO) é um gene associado a susceptibilidade genética para a obesidade (FRAYLING et al., 2007; QI et al., 2014). Entretanto, até o presente momento não encontramos estudos que avaliaram a relação entre o polimorfismo do gene FTO e o estado nutricional antes e após a gestação. Neste sentido, o presente estudo buscou avaliar se existe associação entre o polimorfismo FTO-rs e o estado nutricional em mulheres antes e um ano após o parto. 2. Materiais e Métodos Trata-se de um estudo transversal aninhado a uma coorte prospectiva e desenvolvido com dados de um estudo maior, o qual objetiva avaliar os determinantes do excesso de peso

3 corporal em 435 mães e seus filhos. Para este estudo foram considerados 197 mulheres para o primeiro segmento da coorte, realizado em 2012, e 145 mulheres que permaneceram no segundo segmento, realizado em O primeiro segmento da coorte ocorreu na Maternidade Darcy Vargas onde foram coletadas as variáveis índice de massa corporal (IMC) pré-gestacional relatado pela participante do estudo, IMC no dia do parto, IMC pós-parto imediato (até 48 h após o parto), e polimorfismo do gene FTO (coleta de amostra de sangue). O segundo segmento foi realizado em 2014, nas residências das mães onde coletou-se a variável IMC um ano após o parto. O IMC foi estratificado em baixo peso/eutrofia (< 25 kg/m²), e sobrepeso/obesidade ( 25,0 kg/m²) (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1998). Para a análise do polimorfismo do gene FTO uma amostra de sangue foi coletada no momento do parto e transferida para um cartão FTA Clone Saver (Whatman). Para a extração do DNA genômico humano do cartão foram adotados e adaptados os procedimentos de Kline et al. (2002). As genotipagens para o SNP rs foram determinadas utilizandose a técnica Reação em Cadeia da Polimerase Análise de Polimorfismo de Comprimentos de Fragmentos de Restrição (PCR-RFLP). O estudo foi aprovado no Comité de Ética em Pesquisa da Univille, processo nº 107/2011. Os dados foram analisados no programa IBM SPSS versão 20.0 (SPSS Inc., Chicago, IL, 2011). O equilíbrio de Hardy-Weiberg foi calculado através da calculadora eletrônica Court-lab. O teste de qui-quadrado foi utilizado para verificar a proporcionalidade entre os genótipos e o estado nutricional, com nível de significância adotado de 5%. Para investigar a associação entre o excesso de peso e os genótipos do polimorfismo FTO, odds ratio (OR) com intervalo de confiança de 95% foram calculados através da análise de regressão logística não ajustada e ajustada para covariáveis de confusão (estado civil, idade, anos de estudo e renda familiar). Os genótipos foram agrupados em TT, para o genótipo selvagem e de referência, e TA+AA, para os genótipos com pelo menos um alelo mutante. 3. Resultados e Discussão O polimorfismo FTO-rs estava em equilíbrio de Hardy-Weinberg (p = 0,721). Na Tabela 1 são descritos os resultados da associação entre polimorfismo do gene FTO e estado nutricional. Mulheres portando pelo menos um alelo mutante (AT+AA) apresentaram significativamente maior prevalência de excesso de peso corporal no pós-parto imediato (61%

4 vs. 39%, p = 0,054), e um ano após o parto (62% vs. 38%, p = 0,030), quando comparado ao genótipo selvagem (TT) (Tabela 1). TABELA 1 Associação entre polimorfismo do gene FTO e estado nutricional em mulheres antes e após o parto, Joinville, SC. Estado nutricional FTO-rs TT TA + AA IMC pré-gestacional Baixo peso/normal 53 (48%) 57 (52%) Excesso de peso 31 (36%) 56 (64%) IMC no dia do parto Baixo peso/normal 36 (51%) 34 (49%) Excesso de peso 48 (38%) 79 (62%) IMC pós-parto imediato Baixo peso/normal 21 (58%) 16 (44%) Excesso de peso 63 (39%) 97 (61%) IMC um ano após o parto Baixo peso/normal 37 (56%) 29 (44%) Excesso de peso 30 (38%) 49 (62%) p 0,077 0,064 0,054 0,030 A análise de regressão logística não ajustada revelou que os genótipos TA+AArs aumentam em 2,10 as chances da mulher apresentar excesso de peso corporal um ano após o parto, quando comparado ao genótipo selvagem TT (IC 95%: 1,07-4,05). Os genótipos com os alelos mutantes não apresentaram efeito significativo no IMC prégestacional (OR = 1,68; 95% IC: 0,94-2,99), IMC no dia do parto (OR = 1,74; 95% IC: 0,96-3,14), e IMC pós-parto imediato (OR = 2,02; IC 95%: 0,98-4,17). Após o ajuste com as variáveis de confusão a presença de pelo menos um alelo mutante (TA+AA) aumentou significativamente as chances da mulher apresentar excesso de peso corporal no dia do parto (OR = 2,17; 95% IC: 1,03-4,57), no pós-parto imediato (OR = 2,57; 95% IC: 1,03-6,42), e um ano após o parto (OR = 2,45; IC 95%: 1,20-5,03). Entretanto, os genótipos (TA+AA) não apresentaram efeito significativo sobre o IMC pré-gestacional (OR = 1,99; IC 95%: 0,97-4,11). Estudos realizados com adultos também relataram haver associação entre a presença do alelo mutante do polimorfismo do gene FTO e estado nutricional (FRAYLING et al., 2007; QI et al., 2014), corroborando com os resultados do presente estudo.

5 4. Conclusão O presente estudo revelou que o polimorfismo FTO-rs está associado ao estado nutricional no pós-parto. Mulheres portando pelo menos um alelo mutante (TA+AA) apresentaram maior chance de desenvolver excesso de peso corporal um ano após o parto mesmo após o ajuste para variáveis de confusão, quando comparadas ao alelo selvagem (TT). Apoio financeiro: Fundo de Apoio à Pesquisa (FAP) Univille e Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Referências FRAYLING, T. M. et al. A common variant in the FTO gene is associated with body mass index and predisposes to childhood and adult obesity. Science, v. 316, n. 5826, p , KLINE, M. C. et al. Polymerase chain reaction amplification of DNA from aged blood stains: quantitative evaluation of the suitability for purpose of four filter papers as archival media. Anal Chem, v. 74, n. 8, p , KNIGHT-AGARWAL, C. R. et al. Association of BMI and interpregnancy BMI change with birth outcomes in an Australian obstetric population: a retrospective cohort study. BMJ open, v. 6, n. 5, p. e010667, MARQUES-LOPES, I. et al. Aspectos genéticos da obesidade. Revista de Nutricao, v. 17, n. 3, p , QI, Q. et al. FTO genetic variants, dietary intake and body mass index: insights from 177,330 individuals. Human molecular genetics, v. 23, n. 25, p , 20 dez WORLD HEALTH ORGANIZATION. Obesity: preventing and managing the global epidemic. Report of a WHO Consulation on Obesity. Geneva: [s.n.]. Disponível em: < WORLD HEALTH ORGANIZATION. Obesity: preventing and managing the global epidemic. Report of a WHO consultationworld Health Organ Tech Rep Ser. [s.l.] World Health Organization, WORLD HEALTH ORGANIZATION. Obesity and overweight. Disponível em: <