Cap. 04 RESPONSABILIDADE CIVIL PELO DANO AMBIENTAL.
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- Iago Estrela Bergler
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1 Super Apostila de Direito Ambiental Cap. 04 RESPONSABILIDADE CIVIL PELO DANO AMBIENTAL. Prof. Tiago Duarte
2 Sumário 1. Objetivos dessa apostila Introdução Esfera de atuação Prescrição Teorias da responsabilidade civil Ônus da prova Dica de ouro Dano nuclear
3 1. Objetivos dessa apostila. A matéria de responsabilização civil ambiental vem sendo constantemente cobrada em concursos que tem como disciplina o Direito Ambiental, desde os mais simples até os mais difíceis. Dentro deste assunto há várias teorias sobre como se dará a responsabilização dos agentes degradadores. Desse modo, esta apostila tem como foco a simplificação das teorias e a demonstração das jurisprudências, de modo que elas lhe auxiliarão a compreender a matéria de forma mais fácil. Outros assuntos abordados, como a imprescritibilidade e o ônus da prova, são bastante cobrados em concurso também. Assim, serão tratados da melhor forma possível. Dito isto, traremos abaixo o melhor estudo de doutrina e as decisões mais importantes dos tribunais superiores, assim como quadros que te auxiliarão no entendimento da matéria. Tudo isso para que você obtenha sua APROVAÇÃO. Então, vamos MAXIMIZAR sua capacidade de aprendizado com o Nota 11! 2. Introdução Nível de cobrança em concurso: Todos! A responsabilização civil do meio ambiente constitui modalidade específica de responsabilidade civil, visto que as peculiaridades do dano ambiental exigem modificações no regime de responsabilidade civil clássico. Isto é, a responsabilidade civil ambiental é tratada diferentemente da responsabilidade civil de um dano comum. Sobre a necessidade de se dar uma nova abordagem sobre a responsabilização do dano ao meio ambiente, Édis Milaré assevera: Imaginou-se, no início da preocupação com o meio ambiente, que seria possível resolver os problemas relacionados com o dano a ele infligido nos estreitos da teoria da culpa. Mas, rapidamente, a doutrina, a jurisprudência e o legislador perceberam que as regras clássicas de responsabilidade, contidas na legislação civil de então, não ofereciam proteção suficiente e adequada às vítimas do dano ambiental, relegandoas no mais das vezes, ao completo desamparo. Primeiro, pela natureza difusa deste, atingindo, via de regra, uma pluralidade 3
4 de vítimas totalmente desamparadas pelos institutos ortodoxos do Direito Processual Clássico, que só ensejavam a composição do dano individualmente sofrido. Segundo, pela dificuldade de prova da culpa do agente poluidor, quase sempre coberto por aparente legalidade materializada em atos do Poder Público, como licenças e autorizações. Terceiro, porque no regime jurídico do Código Civil, então aplicável, admitiam-se as clássicas excludentes de responsabilização, como por exemplo, o caso fortuito e a força maior. Daí a necessidade da busca de instrumentos legais mais eficazes, aptos a sanar a insuficiência das regras clássicas perante a novidade de abordagem jurídica do dano ambiental. (MILARÉ Édis, Direito do Ambiente. 5ª edição reformulada, atualizada e ampliada. São Paulo: Revista dos Tribunais, P. 896 Desse modo, buscando instrumentos mais eficazes, o legislador brasileiro, por meio da Lei nº 6.938/81, trouxe um modelo de responsabilidade civil mais pertinente ao meio ambiente na medida em que a responsabilidade subjetiva foi substituída pela objetiva, não sendo necessária a demonstração de culpa: Art. 14 1º. Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O Ministério Público da União e dos Estados terá legitimidade para propor ação de responsabilidade civil e criminal, por danos causados ao meio ambiente. Assim, para aquele que causar dano ao meio ambiente, será necessário somente a demonstração de dano e nexo de causalidade a fim de que seja configurado a responsabilização civil ambiental. Isto é, basta a verificação do dano e do nexo de causalidade entre a conduta do agente e o resultado danoso. 3. Esfera de atuação Nível de cobrança em concurso: Médio e superior O Direito Ambiental possui três esferas de atuação: a preventiva, a reparatória e a repressiva. A responsabilidade civil tem seu lugar na reparação do dano ambiental, primeiramente. Não obtendo êxito, busca-se uma reparação através de indenização. Quanto à tutela preventiva ou inibitória, ela tem por característica a imputação de obrigações de não-fazer ao agente, ante ameaças de dano ao meio ambiente. Desse modo, a proteção preventiva ao meio ambiente se dá anterior ao dano ambiental, por exemplo, através do estudo de impacto ambiental. Isto é, a tutela preventiva atua na seara administrativa. 4
5 No que concerne à tutela repressiva, esta ocorre na esfera penal, uma vez que a repressão feita por meio de penas e multas, em razão de eventual dano causado ao meio ambiente, tem caráter intimidativo e educativo. 4. Prescrição Nível de cobrança em concurso: Médio e superior O art. 206, 3º, V, do Código Civil, estabelece um prazo prescricional para a imposição da obrigação de reparar dano de 3 (três) anos. Não sendo possível reparar o dano, a obrigação de fazer se converte em indenização, cujo prazo prescricional é de 10 (dez) anos (art. 205 do Código Civil). No entanto, no que diz respeito aos danos ambientais, a doutrina e a jurisprudência entendem ser imprescritível a pretensão de reparação dos danos ambientais, visto que o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado é um direito indisponível. Logo, não se pode dispor da pretensão de reparação (art. 225, caput, da Constituição Federal). Nesse sentido, a Constituição Federal confere uma tutela especial ao meio ambiente, haja vista que o dano ambiental oferece grande risco a toda humanidade, uma vez que trata de um direito difuso. É o que ensina a doutrina: Trata-se de bem essencial, como denuncia o art. 225, caput, da Constituição Federal, de modo a ser inconcebível a existência digna de um indivíduo (art. 1º, III, CF) se ele não tiver ao seu alcance um meio ambiente sadio e ecologicamente equilibrado. Dessarte, dada a natureza jurídica do meio ambiente, bem como o seu caráter de essencialidade, as ações coletivas destinadas à sua tutela são imprescritíveis. (FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Direito Ambiental. Ed. Saraiva, São Paulo, 2010). O Superior Tribunal de Justiça segue na mesma esteira: ADMINISTRATIVO. AMBIENTAL. PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. TERMO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA. DESCUMPRIMENTO. EXECUÇÃO. CARACTERIZAÇÃO. OBRIGAÇÃO. REPARAÇÃO. DANO AMBIENTAL. IMPRESCRITIBILIDADE. IMPOSSIBILIDADE. REVISÃO. ACERVO PROBATÓRIO. SÚMULA 07/STJ. INVIABILIDADE. INTERPRETAÇÃO. CLÁUSULA CONTRATUAL. SÚMULA 05/STJ. 1. É imprescritível a pretensão reparatória de danos ambientais, na esteira de reiterada jurisprudência deste Superior Tribunal de Justiça, a qual não se aplica ao caso concreto, no entanto, porque a obrigação transcrita em termo de ajustamento de conduta não está configurada dessa forma, segundo o texto do 5
6 acórdão impugnado. 2. Dessa forma, uma vez que a natureza da obrigação foi definida pelo Tribunal "a quo" a partir do contexto fáticoprobatório dos autos, sobretudo do termo de ajustamento de conduta, como diversa de reparatória de dano ambiental, a reforma dessa conclusão, com o fim de pontuar a imprescritibilidade, demanda a revisão do acervo fáticoprobatório e do TAC, o que encontra óbice nas Súmulas 05 e 07 do Superior Tribunal de Justiça. 3. Agravo regimental não provido. (AgRg no REsp /RS, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em 24/03/2015, DJe 30/03/2015). Viu como é simples estudar pelo Nota 11? Sabemos que você não possui muito tempo ou que são várias as disciplinas, então, estamos fazendo de tudo para te ajudar e para que você não fique tão cansado. Note como isso pode ser cobrado: (PUC-PR - Prefeitura de Maringá PR Procurador) Em matéria de responsabilidade civil por dano ambiental, é CORRETO afirmar: a) A responsabilidade civil por dano ambiental pressupõe necessariamente uma ação ou omissão que viole as regras jurídicas de uso, gozo, promoção, proteção e recuperação do meio ambiente. b) Em caso de desistência infundada ou abandono por associação legitimada, o Ministério Público assumirá, obrigatoriamente e em caráter exclusivo, a titularidade ativa para propor ação civil pública ou ação cautelar que se destine à reparação do dano ambiental. c) A lesão ao meio ambiente, considerado como bem difuso, está sujeita ao prazo prescricional de quinze anos, independentemente da sua gravidade. d) De acordo com a teoria do risco integral, todo aquele que exerce uma atividade de risco é obrigado a reparar possíveis danos dela decorrentes. Incidindo caso fortuito ou força maior, entretanto, afasta-se o dever de reparação. e) O dano ao macrobem ambiental caracteriza-se pela lesão ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo, indisponível, indivisível, incorpóreo de titularidade difusa. Comentários: A) A responsabilidade administrativa pressupõe necessariamente uma infração administrativa ambiental, isto é, ação ou omissão que viole as 6
7 regras jurídicas de uso, gozo, promoção, proteção e recuperação do meio ambiente. B) Não é exclusividade do MP, podendo ser assumida por outro legitimado. C) É imprescritível. D) A responsabilidade não é excluída pelo caso fortuito, força maior ou fato de terceiro. Gabarito: Letra E. 5. Teorias da responsabilidade civil Nível de cobrança em concurso: Médio e superior Antes de adentrarmos no estudo da responsabilidade civil ambiental, é necessária a diferenciação da responsabilidade subjetiva (tradicional) da objetiva. Nesse sentido, a responsabilidade será subjetiva quando a responsabilização depender da presença do elemento "conduta culposa do agente, em que a vítima somente será reparada caso se prove a culpa do agente, o nexo causal e o dano, conforme Código Civil: (vide art. 186 c/c art. 927, CC/02). Art Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. Art Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo. No que concerne à responsabilidade civil objetiva, o ato culposo do agente é prescindível, ou seja, desnecessária a demonstração de culpa pelo evento danoso do agente, bastando uma relação de causa e efeito entre o comportamento do agente e o dano dele advindo. Responsabilização civil subjetiva Responsabilização civil objetiva Dano + Nexo causal + Culpa = Responsável Dano + Nexo causal = Responsável 7
8 Cabe observar que, ainda que seja lícita a conduta do agente, tal fator torna-se irrelevante se essa atividade resultar em algum dano ambiental. Isso é fruto da teoria do risco da atividade ou da empresa, segundo a qual é imposto ao agente o dever de indenizar quando exercer atividade perigosa. Desse modo, há um estimulo à proteção do meio ambiente, visto que o poluidor investe na prevenção do risco ambiental de sua atividade. Portanto, a responsabilização civil objetiva ambiental possui estreita relação com o princípio do poluidor pagador, pois quem polui deve arcar com as despesas que seu ato produzir, havendo uma imposição ao agente poluidor para que este sustente financeiramente a diminuição ou afastamento do dano ambiental. Antes de adentrar no embate doutrinário sobre qual é a melhor teoria do risco a ser aplicada na responsabilização pelo dano ambiental, é importante frisar outras diversas teorias do risco apontadas pela doutrina: Por serem importantes ao estudo mais adiante da responsabilidade ambiental, mister explicitar essas teorias do risco, no escólio de Cavalieri Filho (2008, p. 136/139): riscoproveito ("o responsável é aquele que tira proveito da atividade danosa"), risco profissional ("o dever de indenizar tem lugar sempre que o fato prejudicial é uma decorrência da atividade ou profissão do lesado"), risco excepcional ("a reparação é devida sempre que o dano é consequência de um risco excepcional, que escapa à atividade comum da vítima"), risco criado ("aquele que, em razão de sua atividade ou profissão, cria um perigo, está sujeito à reparação do dano que causar, salvo prova de haver adotado todas as medidas idôneas a evitá-lo") e risco integral ("o dever de indenizar se faz presente tão-só em face do dano, ainda nos casos de culpa exclusiva da vítima, fato de terceiro, caso fortuito ou de força maior"). (PEREIRA, Ricardo Diego Nunes. Responsabilidade civil ambiental. Revista Jus Navigandi, Teresina, ano 15, n. 2403, 29 jan Disponível em: < Acesso em: 2 jun. 2016) Desde logo, dá-se destaque à teoria do risco criado e do risco integral, visto que há um debate na doutrina quanto à adoção destas teorias: a) teoria do risco integral: o simples risco assumido pela atividade potencialmente danosa é o suficiente para impor a responsabilidade de reparação, não admitindo as excludentes da responsabilidade; b) teoria do risco criado: o agente que exerce atividade nociva ao meio ambiente deve reparar o possível dano, exceto se ocorrerem algumas das excludentes da 8
9 responsabilidade. Logo, a divergência das duas teorias reside no fato de que a teoria do risco criado admite, sim, as excludentes do nexo causal (culpa exclusiva da vítima, fato de terceiro, caso fortuito ou de força maior). Risco integral - O risco da atividade é suficiente para caracterizar a responsabilidade; - Não admite excludentes da responsabilidade, isto é, caso fortuito, força maior, culpa exclusiva da vitima e fato de terceiro; - Basta a comprovação do prejuízo; - Se vários são os exploradores da atividade danosa no local, todos serão considerados responsáveis solidariamente. Risco criado - O dano deverá estar relacionado diretamente à atividade econômica do poluidor; - As excludentes da responsabilidade são admitidas; - a existência de licenciamento ambiental e a gama de agentes envolvidos não são, por si só, passiveis de exclusão da responsabilidade; - Havendo pluralidade de agentes a responsabilidade é solidária. Para Paulo de Bessa Antunes (minoria) chama atenção que a responsabilidade por risco integral não pode se confundir com a responsabilização derivada da existência da atividade: (...) não se pode admitir que um empreendimento que tenha sido vitimado por fato de terceiro passe a responder por danos causados por este terceiro, como se lhes houvesse dado causa. Responsabilidade por risco integral não pode ser confundida com responsabilidade por fato de terceiro, que somente tem acolhida em nosso direito quando expressamente prevista em lei (ANTUNES, Paulo de Bessa. Dieito Ambiental. 9. ed. rev., atual. e ampl. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2006, p. 205/207). Não obstante os apontamentos de Antunes, Sergio Cavalieri Filho (maioria) entende que a responsabilidade ambiental deve ser fundada no risco integral, justificando: Extrai-se do Texto Constitucional e do sentido teleológico da Lei de Política Nacional do Meio Ambiente (Lei nº 6.938/1981) que essa responsabilidade é fundada no risco integral, conforme sustentado por Nélson Nery Jr. (Justitia 126/74). Se fosse possível invocar o caso fortuito ou a força maior [ou ainda a culpa exclusiva da vítima e fato de terceiro] como causas excludentes da responsabilidade civil por dano ecológico, ficaria fora da incidência da lei, a maior parte dos casos de poluição ambiental, como a destruição da fauna e da flora causada por carga tóxica de navios avariados em tempestades marítimas; rompimento de oleoduto em circunstâncias absolutamente imprevisíveis, poluindo lagoas, baías, praias e mar; contaminação de estradas e rios, atingindo vários municípios, provocada por acidentes imponderáveis de grandes veículos transportadores de material poluente e assim por diante. 9
10 (CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de Responsabilidade Civil. 8. ed. rev. e ampl. São Paulo: Atlas, 2008, p. 145) A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça segue no mesmo sentido de Cavalieri Filho, in verbis: AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO (ART. 544 DO CPC) - AÇÃO INDENIZATÓRIA - DANO AMBIENTAL - ROMPIMENTO DO POLIDUTO "OLAPA" - VAZAMENTO DE ÓLEO COMBUSTÍVEL NA SERRA DO MAR - TEORIA DO RISCO INTEGRAL - RESPONSABILIDADE OBJETIVA DA PETROBRÁS - APLICABILIDADE, AO CASO, DAS TESES DE DIREITO FIRMADAS NO RESP /PR JULGADO SOB O RITO DOS RECURSOS REPETITIVOS - ART. 543-C DO CPC - DECISÃO MONOCRÁTICA QUE NEGOU PROVIMENTO AO RECLAMO. INSURGÊNCIA DA PARTE RÉ. 1. A tese fixada no julgamento do REsp n /PR, Relator Ministro SIDNEI BENETI, julgado em 8/2/2012, DJe 16/2/2012, sob o rito do art. 543-C do CPC, no tocante à teoria do risco integral e da responsabilidade objetiva ínsita ao dano ambiental, aplica-se inteiramente à espécie, sendo irrelevante o questionamento sobre a diferença entre as excludentes de responsabilidade civil suscitadas na defesa de cada caso. Precedentes. 2. Agravo regimental desprovido. (AgRg no AREsp /PR, Rel. Ministro MARCO BUZZI, QUARTA TURMA, julgado em 20/10/2015, DJe 26/10/2015)) Praticando: (FCC - TJ-AL - Juiz de direito) A responsabilidade civil pelo dano ambiental é: a) subjetiva para pessoa física e objetiva para pessoa jurídica. b) subjetiva, devendo haver comprovação de dolo ou culpa. c) objetiva, bastando a comprovação de ação ou omissão, resultado e nexo de causalidade. d) subjetiva, devendo haver comprovação apenas do dolo. e) mista, a depender da espécie de lesão causada ao meio ambiente. Comentários: Na responsabilidade objetiva basta a comprovação do ato, do dano e do nexo causal. Gabarito: C 10
11 (FMP - MPE-AM - Promotor de Justiça) Analise as assertivas abaixo envolvendo a responsabilidade civil e administrativa ambiental: I De acordo com doutrina e jurisprudência majoritárias, a responsabilidade civil ambiental é objetiva, baseada no risco integral, não sendo aceitas as excludentes do caso fortuito nem da força maior. II Aquele que repara integralmente o dano ambiental causado estará isento da multa derivada da infração administrativa correspondente, salvo se for pessoa jurídica de direito privado, quando, então, haverá a dupla responsabilização. III Em termos de reparação do dano ambiental derivado do desmatamento, não há primazia na reparação específica, podendo o poluidor optar entre indenizar ou executar um projeto de recuperação do ambiente degradado, desde que firmado por profissional tecnicamente capacitado, com Anotação de Responsabilidade Técnica (ART). IV Aquele que causa dano ambiental amparado em licença ambiental válida e eficaz não pode ser demandado em ação civil pública para fim de reparar dano derivado dessa atividade. Quais das assertivas acima estão corretas? a) Apenas a I, II e III. b) Apenas a I. c) Nenhuma. d) Apenas a II, III e IV. e) Apenas a I, II e IV. Comentários: I correta; II - O STJ tem entendido que cabe a redução da multa no caso de reparação integral dos danos; III O Direito Ambiental sempre busca a reparação plena do bem ambiental degradado. Não sendo possível, o agente deve indenizar pelo dano; IV A licença ambiental não pode ser considerada como uma licença para poluir. Logo, pode haver uma Ação Civil Pública em razão do dano ambiental. Gabarito: B 11
12 6. Ônus da prova Nível de cobrança em concurso: Superior Com o intuito de se dar mais efetividade ao direito do meio ambiente ecologicamente equilibrado, insculpido no art. 225 da Constituição Federal, a doutrina e a jurisprudência trouxeram a possibilidade de aplicação do instituto da inversão do ônus da prova nas demandas ambientais com fundamento nos princípios da precaução e da prevenção. Em regra, no que diz respeito ao instituto do ônus probatório, o CPC adotou a teoria estática, nos moldes do art. 373: Art O ônus da prova incumbe: I ao autor, quanto ao fato constitutivo do seu direito; II ao réu, quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor. Em contraposição à teoria estática, vem-se adotando, em certos casos, a teoria da distribuição dinâmica do ônus probatório, segundo a qual a melhor maneira de provar o direito alegado seria conferir o ônus não a quem alega, mas a quem está em melhor condição de produzir a prova. Essa hipótese de inversão do ônus da prova está prevista no art. 6º, inciso VIII, do CDC: Art. 6º. São direitos básicos do consumidor: (...) VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências. Antes de tudo, é salutar esclarecer que a inversão do ônus da prova em matéria ambiental não se fundamenta no art. 21 da Lei de Ação Civil Pública (LACP), pois este somente se refere aos dispositivos do Título III do Código de Defesa do Consumidor (CDC). Como se pode verificar, o objeto de ambos os diplomas é a tutela dos interesses difusos, coletivos e individuais homogêneos. Desse modo, é perfeitamente aplicável à matéria ambientalista, uma vez que o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado pertence a toda coletividade. No entanto, há casos em que o autor pode se deparar com uma prova de difícil produção ou impossível de se produzir, o que poderia gerar uma decisão injusta. Nesses casos, aplica-se a inversão do 12
13 ônus da prova com fundamento no princípio da precaução, que estabelece que, havendo incerteza científica sobre a atividade econômica a ser desenvolvida, deve-se, em nome desse princípio, inverter o ônus probatório para que o potencial poluidor comprove que sua atividade não ocasionará prejuízo ao meio ambiente. Nesse sentido, ante a informação científica insuficiente acerca da matéria ambiental, o princípio da precaução vem em auxílio aos ambientalistas, em razão da dúvida sobre os efeitos potencialmente perigosos sobre o ambiente. Sobre esta ótica, sustenta-se que a incerteza científica milita em favor do meio ambiente (princípio in dubio pro nature). O Superior Tribunal de Justiça tem entendido que não pode haver óbices à propositura de ações que visem à defesa de direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, visto que responsabilidade ambiental é de interesse público e a sociedade é hipossuficiente, razão pela qual deve ser transferido ao empreendedor o ônus da prova de que sua conduta não gerou riscos ambientais, em atenção aos princípios da precaução e da prevenção: AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. DISTRIBUIÇÃO DO ÔNUS PROBATÓRIO. ART. 333 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. ACÓRDÃO ANCORADO NO EXAME DO ACERVO PROBATÓRIO DOS AUTOS. REVISÃO. SÚMULA 7/STJ. 1. O Tribunal de origem concluiu que o autor da ação civil pública demonstrou a ocorrência de dano ambiental e que o réu não logrou comprovar que a área estava preservada, ancorandose no substrato fático-probatório dos autos. Desse modo, a revisão do julgado, a fim de verificar o descumprimento do ônus probatório que competia ao autor, ora agravado, demandaria nova incursão nas provas dos autos, providência veda em sede de recurso especial, conforme a Súmula 7/STJ. 2. Agravo regimental a que se nega provimento. (AgRg no AREsp /RJ, Rel. Ministro SÉRGIO KUKINA, PRIMEIRA TURMA, julgado em 19/04/2016, DJe 26/04/2016) AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. DIREITO CIVIL E DIREITO AMBIENTAL. USINA HIDRELÉTRICA. CONSTRUÇÃO. PRODUÇÃO PESQUEIRA. REDUÇÃO. RESPONSABILIDADE OBJETIVA. DANO INCONTESTE. NEXO CAUSAL. PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO. INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA. CABIMENTO. PRECEDENTES. INOVAÇÃO EM RECURSO ESPECIAL. NÃO OCORRÊNCIA. 1. A Lei nº 6.938/1981 adotou a sistemática da responsabilidade objetiva, que foi integralmente recepcionada pela ordem jurídica atual, de sorte que é irrelevante, na espécie, a discussão da conduta do agente (culpa ou dolo) para atribuição do dever de reparação do dano causado, que, no caso, é inconteste. 13
14 2. O princípio da precaução, aplicável à hipótese, pressupõe a inversão do ônus probatório, transferindo para a concessionária o encargo de provar que sua conduta não ensejou riscos para o meio ambiente e, por consequência, para os pescadores da região. 3. Não há inovação em recurso especial se, ainda que sucintamente, a matéria foi debatida no tribunal de origem. 4. Agravo regimental não provido. (AgRg no AREsp /SP, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em 10/11/2015, DJe 13/11/2015) Desse modo, aplica-se a Teoria da Distribuição Dinâmica do Ônus da Prova (art. 6º, VIII, do CDC), em razão da hipossuficiência entre a vítima do dano e seu causador. 7. Dica de ouro Nível de cobrança em concurso: Superior Como ressaltado acima, a teoria adotada pelo STJ é a teoria do risco integral, ou seja, não se admite as excludentes de ilicitude, bem como o nexo causal, bastando a configuração do dano e do agente. Todavia, o Conselho Superior do Ministério Público do Estado de São Paulo editou a Súmula nº 18, com o seguinte teor: Sumula nº 18: Em matéria de dano ambiental, a Lei 6938/ 81 estabelece a responsabilidade objetiva, o que afasta a investigação e discussão da culpa, mas não se prescinde de nexo causal entre o dano havido e a ação ou omissão de quem cause o dano. Se o nexo não é estabelecido, é caso de arquivamento do inquérito civil ou das peças de informação. Fundamento: Embora em matéria de dano individual a Lei n. 6938/81 estabeleça a responsabilidade objetiva, com isso se elimina a investigação e a discussão da culpa do causador do dano, mas não se prescinde seja estabelecido o nexo causal entre o fato ocorrido e a ação ou omissão daquele a quem se pretenda responsabilizar pelo dano ocorrido (Art. 14 1º da Lei 6938/81; Pt. ns /93 e 649/94). Assim, para o CSMP-SP é fundamental o estabelecimento do nexo de causalidade para se ter presente a responsabilidade (objetiva) civil ambiental. 14
15 8. Dano nuclear Nível de cobrança em concurso: Médio e superior No que diz respeito à responsabilidade civil pelo dano nuclear, a Constituição Federal determinou expressamente a aplicação da modalidade objetiva: Art. 21. Compete à União: XXIII - explorar os serviços e instalações nucleares de qualquer natureza e exercer monopólio estatal sobre a pesquisa, a lavra, o enriquecimento e reprocessamento, a industrialização e o comércio de minérios nucleares e seus derivados, atendidos os seguintes princípios e condições: d) a responsabilidade civil por danos nucleares independe da existência de culpa; Nesse sentido, leciona Cavalieri Filho: (...) responsabilidade por dano nuclear: No artigo 21, inciso XXIII, letra d, da Constituição vamos encontrar mais um caso de responsabilidade civil. Temos ali uma norma especial para o dano nuclear, que estabeleceu responsabilidade objetiva para o seu causador, fundada no risco integral, dado a enormidade dos riscos decorrentes da exploração da atividade nuclear. (CAVALIERI Filho, Sérgio. Programa de Responsabilidade Civil.6ª ed., São Paulo: Malheiros, 2006, p.40) É importante mencionar que a Lei nº 6.453/1977 (dispõe sobre a responsabilidade civil por danos nucleares) não trata especificamente do dano ambiental, mas do dano individual causado pela atividade nuclear, embora, igualmente, impute ao agente da atividade a responsabilidade pela reparação do dano independente da existência de culpa. Todavia, é de conhecimento que à época de sua edição a questão ambiental não tinha a amplitude que tem nos dias atuais, dada com o advento da Constituição Federal. 15
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