AVALIAÇÃO DA PREVALÊNCIA DE CAGE POSITIVO EM ACADÊMICOS DE PSICOLOGIA DE UMA FACULDADE PARTICULAR DE TERESINA
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- Adelino Tomás Jardim Campos
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1 AVALIAÇÃO DA PREVALÊNCIA DE CAGE POSITIVO EM ACADÊMICOS DE PSICOLOGIA DE UMA FACULDADE PARTICULAR DE TERESINA Samuel Robson Moreira Rêgo [1] INTRODUÇÃO: O álcool, por ser uma droga lícita e socialmente aceita em grande parte dos países, é consumido por um grande número de pessoas em todo o mundo. No Brasil, há uma prevalência elevada de alcoolistas que, em determinados grupos, pode chegar a 21,2 %. 1 Os fatores que levam ao uso abusivo e dependência da droga são múltiplos estando entre eles: fatores biológicos, psicológicos e sociais. É bastante prevalente a síndrome de dependência do álcool. No entanto, este problema é, muitas vezes, minimizado pelo usuário, de forma que este dificilmente identifica a doença em uma fase inicial e procura ajuda especializada. Além disso, os estudos demonstram que existe uma dificuldade, por parte dos médicos, em diagnosticar a síndrome. Isto faz com que a magnitude do problema seja subestimada. 2,3 A tendência para o uso abusivo dessa substância começa, não raro, ainda na adolescência quando o indivíduo está formando sua personalidade. Na última década houve um aumento considerável de consumo de álcool por adolescentes. 4,5,6 Estudos realizados com estudantes universitários demonstram alto risco de uso abusivo de álcool neste grupo 7,8,9. Talvez o grande número de mudanças, medos, frustrações e incertezas frente ao futuro
2 possam contribuir para esse fato. Os estudantes de psicologia, por estarem diretamente em contato com problemas que refletem a condição humana, podem estar particularmente susceptíveis ao uso problemático de álcool. Além disso, alguns desses futuros profissionais irão integrar equipes multidisciplinares na assistência ao alcoolista. Contudo, pouco se sabe sobre o perfil de consumo de álcool deste grupo. O presente estudo teve como objetivo identificar a prevalência de CAGE positivo nos estudantes de psicologia de uma faculdade particular de Teresina de forma estratificada e,assim, avaliar a tendência ao uso abusivo e dependência de álcool neste grupo. MÉTODOS Foi realizado um estudo observacional, com delineamento transversal, estratificado, tendo como população investigada os acadêmicos de psicologia de uma faculdade particular de Teresina. A variável dependente investigada neste estudo foi a tendência ao uso problemático de álcool. O instrumento utilizado na investigação foi o questionário CAGE. Este é composto de 04 perguntas (Cutdown, Annoyed, Guilty and Eye-opener) cujas iniciais dão origem à sigla. O teste é positivo na presença de duas ou mais respostas afirmativas e é considerado um exame superior aos exames laboratoriais disponíveis para triagem de tendência ao alcoolismo, por ser menos intimidativo e de aplicação mais rápida que os demais questionários utilizados. As variáveis independentes estudadas foram: idade, sexo, o turno em que os alunos assistiam às aulas e a presença ou ausência de atividade profissional. Estes dados foram obtidos em um questionário auto-aplicável juntamente com as perguntas referentes ao CAGE.
3 Os questionários foram aplicados em abril de 2006 e foram entrevistados os alunos do primeiro ao décimo semestre dos turnos diurno e noturno.na época do estudo, a faculdade não contava com os 6 0 e 8 0 períodos diurno e 7 0, 9 0 e 10 0 períodos noturno. Nas turmas com menos de 25 alunos foram distribuídos questionários para todos os presentes. Nas turmas com número superior a 25 alunos foram distribuídos 25 questionários de forma aleatória, alternada, levando em consideração a disposição espacial das carteiras na sala. Juntamente ao questionário foi anexado um termo de consentimento e solicitado que só respondessem ao questionário aqueles que concordassem com a pesquisa sendo os que não concordassem que devolvessem o questionário em branco. O trabalho foi aprovado pelo comitê de ética do Hospital Areolino de Abreu. A análise estatística dos dados foi feita de forma estratificada pelo programa Stat xact-3. Foram excluídos da análise os questionários em brancos e os rasurados. Utilizou-se o teste doqui-quadrado de Yates para verificar a associação entre a variável dependente e as variáveis independentes considerando p< 0,05. Foi utilizada a Razão de Prevalências (RP) para estimar o risco com intervalo de confiança (IC) de 95%.. RESULTADOS Dos 325 questionários aplicados, 42 foram devolvidos em branco ou rasurados. Dos 283 que foram incluídos na pesquisa, 12,7% (36) eram do sexo masculino e 87,3%(247) do sexo feminino. A idade média encontrada foi de 26,6 anos(± 8,7). Porém, esse valor foi influenciado por extremos sendo a idade mínima 16 anos e a máxima 62 anos. Em relação ao turno, 48%(136) dos alunos assistiam as aulas à tarde e 52% (147) à noite. Responderam que tinham alguma atividade profissional 43,8%(124) dos alunos enquanto 47,3%(134) disseram que apenas estudavam e 8,8%(25) não responderam a este quesito.
4 O Gráfico 01 mostra a prevalência média de CAGE + encontrada que foi de 12%(34). Esta foi maior nos alunos do turno da noite (14,7%) do que nos do turno diurno (9,5%) porém essa diferença não foi considerada significativa(p> 0,10) (Tabela 1). Foram encontradas diferenças estatisticamente significativa com as variáveis sexo, idade e atividade profissional. Em relação ao sexo, a prevalência de CAGE + nos homens(27,8%) foi cerca de três vezes maior que nas mulheres(9,7%)(tabela 2). A razão de prevalência foi de 2,85(IC 95%). A idade também apresentou forte relação com a positividade do CAGE (Tabela 3). O grupo com estudantes com mais de 27 anos apresentou apenas 4,6 % de CAGE+ enquanto o grupo de alunos com idade até 27 anos apresentou 15,3% de positividade para o CAGE, três vezes maior que o primeiro ( razão de prevalência de 3,32; IC 95%). Tabela 1 Prevalência de CAGE por turno Diurno Noturno CAGE + 20 (14,7%) 14 (9,5%)
5 CAGE (85,3%) 133 (90,5%) P > 0,10 Tabela 2 Prevalência de CAGE por sexo Masculino Feminino CAGE + 10 (27,8%) 24 (9,7%) CAGE - 26 (72,2%) 223 (90,3%) P<0,05 Tabela 3 Prevalência de CAGE por faixa etária Até 27 a > 27 a CAGE + 30 (15,3%) 04 (4,6%) CAGE (84,7%) 83 (95,4%) P<0,05 Tabela 4 Prevalência de CAGE por atividade profissional Sim Não CAGE + 07 (5,7%) 20 (15%) CAGE (94,3%) 114 (85%) P<0,05
6 Outra variável que teve associação significativa com a positividade do CAGE foi atividade profissional (Tabela 4). Os alunos que não tinham alguma atividade profissional tiveram quase três vezes mais CAGE + ( RP = 2,61; IC 95%) do que os que tinham algum trabalho. Sete alunos deixaram este requisito em branco. DISCUSSÃO Na literatura disponível, vários trabalhos analisam o comportamento de estudantes em relação ao uso de bebidas alcoólicas. Um estudo realizado em Porto Alegre com estudantes do segundo grau e outro com acadêmicos de medicina da Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL) demonstraram prevalência de CAGE + de 8,3% e 25,9% respectivamente. 8,9 Essa prevalência pode variar conforme o grupo estudado. Em outro estudo realizado em pacientes internados em um hospital-escola foi encontrada uma prevalência de 16,4% 1. No entanto, nenhum dado avaliando especificamente acadêmicos de psicologia foi encontrado. Contudo, muitos desses acadêmicos poderão no futuro fazer parte de equipes responsáveis pelo acompanhamento de pacientes alcoolistas. No presente estudo encontrouse uma prevalência de CAGE + igual a 12% neste grupo. No estudo realizado com estudante secundaristas de Porto Alegre a autora considerou a prevalência de 8,3% como preocupante. 6 Dessa forma, o valor encontrado neste estudo pode ser considerado elevado embora seja bastante inferior à prevalência encontrada em acadêmicos de medicina. 7,10 Foi encontrada uma freqüência maior de CAGE + entre os acadêmicos do sexo masculino, os com idade igual ou inferior a 27anos e os que não tinham atividade profissional paralela ao curso. Porém, cada variável foi
7 analisada de forma univariada e não se sabe se elas relacionam-se simultaneamente. Os estudantes do sexo masculino tiveram prevalência quase três vezes maior que as do sexo feminino. Em vários estudos vêm sendo demonstrado esta tendência de uso abusivo de álcool maior em homens que em mulheres. Talvez isto ocorra devido a questões culturais que associam ingestão de bebida alcoólica à masculinidade. De qualquer forma, acredita-se que este grupo deva receber maior atenção no que diz respeito a detecção precoce de uso problemático de álcool. Os indivíduos de menor idade também demonstraram maior tendência à positividade do CAGE. A idade média da amostra foi de 26,6 anos e foi estabelecido um ponto de corte de 27 anos. Os alunos com idade superior a 27 anos tiveram uma freqüência de CAGE + três vezes menor do que os mais jovens. Este fato pode ter várias explicações sendo que uma das possíveis seria uma maior imaturidade nos mais jovens e, dessa forma, maior recorrência ao álcool diante das situações adversas. Os estudantes que não tinham alguma atividade profissional tiveram maior prevalência que os que tinham alguma profissão. Este dado é, de certa forma, surpreendente pois, esperava-se que os indivíduos que tivessem maior sobrecarga de responsabilidade estivessem mais propensos a buscar consolo no álcool. No entanto, o que ocorreu foi exatamente o inverso já que aqueles que apenas estudam tiveram quase três vezes mais CAGE + do que os que estudam e trabalham. Talvez isto tenha ocorrido devido ao fato de que os que estudam e trabalham tenham mais idade que os que apenas estudam e que a variável realmente relacionada à positividade do CAGE seja a idade e não a atividade profissional. Esta estaria funcionando como uma variável confundidora. CONSIDERAÇÕES FINAIS
8 O alcoolismo constitui um problema de saúde pública em nosso meio. No entanto, pouca atenção vem sendo dirigida a esta questão. Indivíduos mais jovens estariam em maior risco de vir a ter problema com o uso de bebidas alcoólicas e necessitam de atenção especial para prevenir e reduzir os danos do alcoolismo. Campanhas educativas nas escolas e universidades, mostrando que este grupo apresenta maior risco de vir a ter problema com álcool e as conseqüências destrutivas que podem advir da ingestão alcoólica em demasia, poderiam promover uma conscientização dos alunos para a gravidade do problema. REFERÊNCIAS 1) Ramos FLP, Ogando PB, Presotto C, Ramo SP. Não- identificação de alcoolismo em hospital-escola: um problema médico persistente. Revista AMRIGS 2002; 46(1,2): ) Bush B, Shaw S, Cleary P, Delbanco TL, Aronson MD. Screening for alcohol abuse using the CAGE questionnaire. Am J Med 1987;82: ) Reid A, Webb GR, Hennrikus D, Fahey PP, Sanson-Fisher RW. Detection of patients with high alcohol intake by general practitioners. Br Medl J 1986;293: ) CEBRID/ Departamento de Psicobiologia. I Levantamento sobre uso de drogas entre estudantes de 1 o e 2 o graus em 10 capitais brasileiras. São Paulo:UNIFESP/ Escola Paulista de Medicina / Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas;1987
9 5) CEBRID/ Departamento de Psicobiologia. VI Levantamento sobre uso de drogas entre estudantes de 1 o e 2 o graus em 10 capitais brasileiras. São Paulo:UNIFESP/ Escola Paulista de Medicina / Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas;1997 6) Werner MJ, Walker LS, Greene JW.Conccurrent and Prospective for problem drinking among college students. J Alolesc Health 1996; 18(4): ) Souza FGM, Landim RM, Perdigão FB. et al. Consumo de drogas e desempenho acadêmico entre estudantes de medicina da Faculdade Federal do Ceará, ) Trois CC, Frantz BC, Yaluk JB, et al. Prevalência de CAGE positivo entre estudantes do segundo grau de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil, Caderno de saúde pública 1997; 13(3): ) Pillon SC, O Brien B, Piedra KAC. A relação entre o uso de drogas e comportamentos de risco entre universitários brasileiros. Revista Latino- Americana de Enfermagem 2005;vol.13,no.spe2: ) Baldisserotto CM, Filho ES, Nedel F, Sakae TM. Problemas psiquiátricos menores e indicadores de uso problemático de álcool entre os estudantes de medicina da Universidade do Sul de Santa Catarina UNISUL. Arquivos Catarinenses de Medicina 2005;34(4):73-79
10 [1] Médico Residente de Psiquiatria da Universidade Federal do Piauí
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