fragilidades estruturais da Europa. Segundo o referido documento O envelhecimento da
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- Jónatas Porto Faria
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1 Indicadores Sociais 2010 _ INE Parecer No documento da Comissão Europeia 2020: Estratégia para um crescimento inteligente, sustentável e inclusivo, o Envelhecimento demográfico é reconhecido como sendo uma das fragilidades estruturais da Europa. Segundo o referido documento O envelhecimento da população está a acelerar. ( ) a população ativa da UE começará a diminuir a partir de 2013/2014. O número de pessoas com mais de 60 anos está a aumentar duas vezes mais rapidamente do que até cerca de dois milhões por ano, contra um milhão anteriormente. A combinação de uma menor população ativa com uma maior percentagem de reformados exercerá uma pressão adicional sobre os nossos sistemas de segurança social. No caso específico de Portugal, a situação do envelhecimento demográfico é igualmente preocupante. Os últimos dados do INE 1 relativos à população portuguesa apontam, uma vez mais uma taxa de crescimento natural negativa (-0.04%), balançada por uma taxa de crescimento migratório positivo (+0.04%). No entanto, mesmo com este saldo positivo, assistiu-se entre 31 de Dezembro de 2009 e 31 de Dezembro de 2010 um ligeiro decréscimo da população (-734 indivíduos). Neste panorama demográfico é de destacar o ligeiro aumento da população entre 2004 e 2010, com 75 e mais anos (7.3% - 8.6%) e os de 85 e mais anos (1.5% - 1.9%); o aumento do índice de dependência total (49 50) e do índice de envelhecimento ( ), assim como a diminuição significativa do índice de juventude da população em idade ativa (112-99). O facto de este ano ser o Ano Europeu do Envelhecimento Ativo e da Solidariedade entre Gerações deve ser uma oportunidade para assumir o envelhecimento demográfico como um desafio e prioridade política, visando um papel mais ativo das pessoas idosas na sociedade, mais e melhores condições de vida para esta população, nomeadamente, as que vivem em situação de pobreza e de exclusão social. No que diz respeito ao Emprego, e tendo como referencia o ano de 2009, assistimos em 2010 ao decréscimo de 1,5% da população empregada no total dos três grandes sectores de atividade. Os serviços foram o sector de atividade onde o decréscimo do emprego foi menos significativo (- 0,2%), o que já vinha a acontecer desde 2004 progressivamente. Foi nos sectores da agricultura, silvicultura e pesca onde se verificou um decréscimo mais significativo do emprego (- 4,0%) seguindo-se os sectores da Industria, construção, energia e água (-3,4%). 1 INE, Indicadores Sociais 2010, Dezembro
2 O grupo etário onde o emprego decresceu de forma mais acentuada foi entre os 15 e os 24 anos (-11,1%), seguindo-se os indivíduos dos 25 aos 34 anos (- 3,5%); por nível de ensino verificamos que a redução da empregabilidade em 2010 se situou, em exclusivo, nos indivíduos com nível de ensino até ao básico (3º ciclo). Apesar da realidade nos revelar que uma percentagem elevada de jovens com menos de 20 anos já abandonaram o sistema de ensino, e estão ou procuram estar inseridos profissionalmente, temos de referir que um dos cinco objetivos definidos no âmbito da estratégia 2020, representativos a nível da UE, e que os Estados-Membros deverão traduzir em objectivos nacionais, tendo em conta os seus diferentes pontos de partida, é precisamente assegurar o emprego de 75% da população entre os 20 e os 64 anos. A concretização deste objectivo terá de passar por uma estratégia integrada em torno das politicas de emprego, educação e de inclusão social, passando pelo reconhecimento de que temos assistido a uma desvalorização das experiencias profissionais dos trabalhadores e da própria formação profissional, e a uma sobrevalorização das faixas etárias mais baixas, o que tem lançado para a exclusão profissional e social uma larga franja da população que se situam em intervalos etários intermédios (por volta dos 40 anos) e que já é considerada não elegíveis por grande parte dos empregadores. A responsabilidade social das empresas assume neste aspeto um valor acrescido, tanto mais no contexto de crise estrutural que estamos a atravessar. Tendo como referencia o período entre 2004 e 2010, verificou-se um aumento de 4,1 pontos percentuais (6,7% em 2004) na taxa de desemprego. Em 2010, essa taxa situou-se em 10,8%, sendo de 9,8% para os homens e de 11,9% para as mulheres. Estes dados reforçam a tendência para a acentuação do desemprego, sobretudo o feminino, o que se espera que venha a agravar-se ainda mais tendo em consideração a conjuntura atual e a cultura organizacional existente no nosso país. Se a situação de desemprego é por si só extremamente violenta do ponto de vida não só económico, mas também social, tornar-se-á ainda mais dramática com alguns dos sacrifícios acrescidos que nos serão impostos pelas medidas de austeridade definidas e que, mais uma vez, contribuirão para o reforço da vulnerabilidade de grande franja da população, que já se encontrava em situação de precariedade. Falamos, desde logo, da redução de pelo menos 10% do montante das prestações inerentes à situação de desemprego; da redução da duração máxima do subsídio de desemprego de três anos para 18 meses, sendo que alguns desempregados poderão ver o período de atribuição de subsídio chegar aos 20 meses, desde que tenham um mínimo de cinco anos de descontos; assim como da redução do período contributivo necessário para aceder ao subsídio de desemprego, de 15 para 12 meses. O desemprego nunca se distribuiu unanimemente pelas diferentes regiões do país. Em 2010 a taxa de desemprego mais elevada situou-se no Algarve (13,4%) e a menos elevada na região autónoma dos Açores (6,9%). Sobre este aspecto teremos de reforçar a discriminação positiva em termos de apoios regionais, mas sobretudo desenvolver estratégias integradas de desenvolvimento local que reforcem as próprias identidades regionais, com a participação 2
3 máxima de todos os atores (trabalho em rede), para que se identifiquem e rentabilizem as potencialidades de cada região, tornando-as atrativas para investidores, apostando na inovação e no empreendedorismo, condição imprescindível para reverter o panorama territorial do desemprego. A par da dura realidade de redução drástica das oportunidades de emprego, temos que enfrentar ainda as medidas de austeridade previstas para fazer face à atual crise económica, e que vão penalizar fortemente os que, à partida, já se encontravam em situação de grande vulnerabilidade, pois algumas dessas medidas vão no sentido de uma maior proteção aos empregadores / investidores em detrimento dos direitos dos trabalhadores. Alguns exemplos dessas medidas são: contratos a prazo podem ser renovados por mais tempo; governo quer alterar regras de despedimento por inadaptação; redução das indemnizações em caso de cessação de vínculo laboral. De notar que, desde 2004, o número de trabalhadores por conta de outrém, com contrato sem termo, diminuiu 2,3%. Nos dados de 2010 verifica-se uma redução do número de contratos sem termo em 1,5%, enquanto a variação anual do número de trabalhadores com contratos com termo aumentou 6,4%. Sobre o volume de horas de trabalho, os dados do INE indicam que desde 2004 se tem verificado uma diminuição do número de horas semanais habitualmente trabalhadas. Em 2010, o número médio de horas trabalhadas foram de 40,5 no caso dos homens e 37,2 no caso das mulheres. Desde 2004 a proporção de horas de trabalho que a população empregada trabalhava, de 36 a 40 horas, passou de 54% para 56,8% em A preocupação com as questões do (des)emprego devem centrar-se não só no reforço da capacidade empregadora das organizações e empresas, com vista ao aumento e manutenção de postos de trabalho. Mas também, de forma igualmente premente, na qualidade dos empregos, pois sabemos que a precariedade laboral, conjugada com a desvalorização da conjugação da vida profissional com a familiar, tem sido algo resistente à mudança e que, mais uma vez, e tendo em conta o contexto atual de crise, a probabilidade de se acentuar o desrespeito pela dignidade dos trabalhadores surge como algo quase inevitável. Algumas das medidas de austeridade delineadas seguem nesse sentido. A acrescentar aos exemplos apresentados anteriormente pode-se ainda referir a decisão do Governo ao permitir o alargamento em 30 minutos/dia o horário de trabalho, ainda estando, contudo, em discussão como esta medida avançará na prática e em que sectores de atividade será aplicada. Um dos vetores prioritários da estratégia 2020 para a Europa, passa precisamente por uma aposta no crescimento inclusivo (aumento da taxa de participação no mercado de trabalho, aquisição de qualificações e luta contra a pobreza). Para tal, delineou-se uma agenda para novas qualificações e novos empregos de forma a criar as condições para a modernização dos mercados de trabalho, com vista a aumentar as taxas de emprego e assegurar a sustentabilidade dos nossos modelos sociais no momento da passagem à reforma da geração dos «baby-boomers». Para a concretização destas metas teremos de colocar a dignidade dos 3
4 cidadãos (dos trabalhadores) no centro dos debates, para que tal seja possível terá de existir uma abordagem integrada emprego/inclusão social e uma (co)responsabilidade assumida por parte de toda a sociedade, que se reflita ao nível político e de decisão. No que diz respeito, à educação, destacamos a redução em 2.5 pontos percentuais relativamente a 2009 no indicador de abandono precoce de educação e formação (28.7% ). Portugal assumiu a meta da Europa 2020 de reduzir a percentagem de jovens que abandonam prematuramente a escola para 10%. Embora esta taxa ao nível da União Europeia seja significativamente inferior 14.1% - parece que Portugal se encontra no bom caminho para alcançar a meta dos 10%. Um outro aspecto a salientar prende-se com a população dos 25 aos 64 anos em aprendizagem (formal ou informal) que apesar de ter tido uma subida de 1.2 p.p. entre 2008 (5.3%) e 2009 (6.5%), teve uma descida para 2010 de 0.7 p.p. (5.8%). Uma vez que este indicador contempla quer as situações de aprendizagem realizadas no âmbito do Ministério da Educação, quer as de formação profissional, participação em cursos, etc. que, no fundo, permitem a capacitação das pessoas ao longo da vida, esta descida pode ser devida a um menor investimento das pessoas no sector da educação (sendo que face ao crescente desemprego, o mercado de trabalho passa a ser a área de mais investimento das pessoas) e/ou a uma maior dificuldade em aceder a este sector. Ao mesmo tempo é de assinalar também que as medidas de austeridade implementadas a nível nacional para a área da educação preveem uma redução significativa nas verbas disponíveis para este sector. Esta situação pode também explicar os dados anteriormente apresentados. Neste sentido, é importante reiterar que a educação é uma das áreas prioritárias no desenvolvimento social e económico de um país. Apostar nesta área significa apostar na formação de cidadãos que possam ser agentes ativos na sociedade, significa lutar contra a pobreza e a exclusão e construir uma sociedade mais igualitária e comprometida com o outro. Segundos os últimos dados do INE de acordo com os indicadores sociais de 2010 a taxa de risco de pobreza após as transferência sociais em 2009 mantinha-se em 17.9%. No entanto, os últimos dados disponibilizados por um Estudo da Comissão Europeia 2 revelam que o risco de pobreza em Portugal após a introdução das medidas de austeridade é de 20.5%. O rendimento monetário líquido equivalente dos 10% da população com maiores recursos correspondia a 9.2 vezes o rendimento dos 10% da população com mais baixos recursos. A questão da desigualdade na distribuição do rendimento continua a ser um dos problemas mais graves que Portugal enfrenta e permanece elevado desde A atual conjuntura económica 2 he distributional effects of austerity measures: a comparison of EU countries, Research note 2/2011, Social Europe, European Commission., pp
5 e as medidas de austeridade em vigor durante o ano de 2011 e 2012 terão consequências sobre a taxa de risco de pobreza e sobre as desigualdades sociais. Segundo o relatório disponibilizado pela Comissão Europeia 3 e que compara a distribuição dos efeitos das medidas de austeridade em seis países na União Europeia, as medidas de austeridade tomadas pelo Governo português, para além de estarem distribuídas de forma desigual entre ricos e pobres, fizeram subir o risco de pobreza, particularmente entre pessoas idosas e jovens. O relatório de Bruxelas revela que Portugal "é o único país com uma distribuição claramente regressiva", ou seja, em que os pobres estão a pagar mais do que os ricos quando se aplica a austeridade. Exemplo disso é o rendimento disponível das famílias. Nos escalões mais pobres, o orçamento de uma família com crianças sofreu um corte de 9%, enquanto que uma família rica nas mesmas condições perdeu 3% do rendimento disponível. Os dados mostram que Portugal é o único país analisado em que "a percentagem do corte [devido às medidas de austeridade] é maior nos dois escalões mais pobres da sociedade do que nos restantes". A Grécia, que tem também tido repetidos pacotes de austeridade, apresenta uma maior equidade nos sacrifícios implementados. Dos 3% do rendimento disponível que as medidas de austeridade vieram retirar aos portugueses, a maior percentagem é suportada por reformados e por pensionistas, seguindose o aumento dos impostos, que é suportado essencialmente pela classe média, e os cortes nos salários e subsídios dos funcionários públicos respondem pelo resto. Um outro dado importante e que reflete claramente o período de crise em que vivemos são os números associados aos beneficiários de RSI (em 2009 existiam famílias com processamento de RSI). Quanto a esta medida verifica-se que é na região Norte que o nº de beneficiários é mais elevado. Resta saber se com os cortes previstos também ao nível desta medida de proteção social esta tendência será para manter ou para regredir. É um fato que com a atual conjuntura de crise os requerentes desta medida não irão diminuir, pelo contrário, tendencialmente aumentarão, mas tememos que o número de beneficiários venha a diminuir devido aos cortes orçamentais anunciados. Em Novembro, o ministro tinha anunciado que o Governo estima reduzir de 440 milhões de euros em 2011, para 370 milhões de euros em 2012 a verba destinada ao RSI, canalizando a poupança (70 milhões de euros) para o aumento das pensões mínimas, rurais e sociais. Por outro lado, e devido às restrições económicas os discursos culpabilizadores dos beneficiários do RSI tendem a aumentar e ganhar força. Importa assim, não esquecer que esta medida de proteção social visa garantir níveis mínimos que garantam a satisfação de necessidades básicas a todos os cidadãos. 3 The distributional effects of austerity measures: a comparison of EU countries, Research note 2/2011, Social Europe, European Commission. 5
6 No que respeita aos Indicadores de privação material 4 na população total verifica-se que em 2010 aquele que revelava uma percentagem mais elevada era o indicador relativo a sem capacidade para pagar uma semana de férias por ano fora de casa (64.6%), logo seguido de sem capacidade para manter a casa adequadamente aquecida (30.1%). Como se pode ver e tendo presente os 9 indicadores de privação material estes dois que foram citados acima são aqueles que revelam percentagens mais elevadas. No entanto, é também muito significativa a percentagem de indivíduos que se revela sem capacidade para assegurar o pagamento imediato de uma despesa sem recorrer a empréstimo (cerca de 27.2%). Isto porque, na atual conjuntura com a taxa de desemprego a aumentar este indicador tenderá a aumentar, agravado pelo fato de o recurso a empréstimos ser cada vez menos acessível a particulares, sobretudo que se encontrem com dificuldades financeiras. janeiro EU-SILC, Inquérito às Condições de vida e rendimento 6
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