Investimento em infraestrutura no Brasil e a participação do Governo Federal
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- Leonor Braga Benke
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1 Investimento em infraestrutura no Brasil e a participação do Governo Federal 26 de janeiro de
2 Quanto o Brasil investe em infraestrutura? 2
3 Investe-se pouco em infraestrutura... Os investimentos em infra convergiram para 2,1-2,3% do PIB nas últimas duas décadas e meia. Quedas acentuadas em eletricidade e saneamento. Investimento em Infraestrutura no Brasil (% do PIB) Período 1971/ / / / /14 Total (% PIB) 5,42 3,62 2,27 2,12 2,28 Eletricidade 2,13 1,47 0,76 0,62 0,70 Telecomunicações 0,80 0,43 0,73 0,69 0,49 Transportes 2,03 1,48 0,63 0,63 0,90 Água e Saneamento 0,46 0,24 0,15 0,18 0,19 Fonte: Castelar Pinheiro (2012) e Frischtak (2011). Inter.B Consultoria 3
4 ...não se compensa a depreciação per capita 4
5 Investe-se pouco...e nem sempre bem O desperdício de recursos é considerável. Quanta infraestrutura compramos com cerca de 2% do PIB de investimentos? Não muito. Falta de planejamento abrangente e projetos falhos Modelos não testados e Agências fragilizadas Más escolhas do que e onde investir, pela ausência de filtros. Levantamento dos projetos do PAC revelou que, entre Dez/2010 e Maio/2014: Em transportes, o aumento médio dos custos foi de 77% e 99% do prazo Em energia, 49% e 99%, respectivamente Em saneamento, os prazos foram esticados em 81% 5
6 Implicações: Infraestrutura de Transporte Brasil abaixo da média em infraestrutura de transportes e desempenho logístico... Rodovias pavimentadas como % do total de rodovias (2011) Brasil e países selecionados Índice de Desempenho Logístico 2014 (Componente de Infraestrutura) Brasil e países selecionados Fonte: Banco Mundial. Elaboração Inter.B Consultoria 6
7 Custos Logísticos Elevados...comprometendo a competitividade do país. Índice de desempenho logístico 2007, 2010, 2012 e 2014 Custos Logísticos como % do PIB Brasil e países selecionados Fonte: Banco Mundial. Elaboração Inter.B Consultoria Fonte: Armstrong & Associates; Global Third-Party Logistics (3PL) 7
8 Energia Elétrica: regressão na década A MP 579 (2012) desorganizou o setor, estimulou o consumo e expôs os agentes e o Tesouro a riscos elevados e desnecessários. Imprescindível racionalização do consumo e aumento da eficiência na produção, transmissão e distribuição de energia. Ranking de eficiência energética Brasil e países selecionados Custo da energia na indústria Brasil e países selecionados Fonte: The 2014 International Energy Efficiency Scorecard, ACEEE 8 Fonte: Firjan
9 Saneamento: abaixo da curva......que resultou em altos índices de perdas de água (37%) e baixos índices de cobertura e tratamento de esgoto (48%), cuja acesso universal se daria somente em meados dos anos Cobertura de esgoto e PIB per capita 2012 ou ano mais recente disponível Porcentagem de água faturada e PIB per capita 2012 ou ano mais recente disponível Fonte: IB-Net e Banco Mundial. Elaboração própria 9 Fonte: Firjan
10 A contração em Em 2014 os investimentos em infra foram de R$ 130,9 B. Estima-se que em 2015 tenham se contraído para R$ 102,9 B, queda de 22% em termos nominais (32-33% reais). Investimento em infraestrutura por setor (R$ bilhões e % do PIB) Setor 2014 % do PIB 2015 E % do PIB 15/14 Transportes 53,1 0,93% 36,1 0,61% -32% Aeroportuário 4,7 0,08% 4,3 0,07% -8% Portos 3,8 0,07% 2,4 0,04% -37% Transporte Rodoviário 26,1 0,46% 19,5 0,33% -25% Transporte Ferroviário 9,0 0,16% 5,1 0,09% -43% Mobilidade Urbana 8,9 0,16% 4,6 0,08% -48% Hidrovias 0,7 0,01% 0,2 0,00% -69% Energia Elétrica 37,5 0,66% 40,3 0,68% 8% Saneamento 11,0 0,19% 7,8 0,13% -29% Telecomunicações 29,3 0,52% 18,7 0,32% -36% Invest. Infra Total 130,9 2,30% 102,9 1,73% -21% Fonte: Empresas abertas (públicas e privadas); Siafi, CNI; Ipeadata; Portal Transparência; Banco Central e cáculos e estimativas próprias Nota: Consideramos um PIB Nominal de 2015 de R$ B 10
11 ...e uma recuperação incerta em Se o PIL II e o PIEE forem moderadamente bem sucedidos, iremos observar uma recuperação dos investimentos iniciando-se ao final de Projeção de investimentos em infraestrutura por setor (R$ bilhões nominais) Setor Transportes 53,6 65,6 79,1 195,3 Aeroportuário 6,1 6,5 6,9 19,5 Portos 4,7 7,3 9,0 21,0 Transporte Rodoviário 27,5 32,0 36,7 93,2 Transporte Ferroviário 6,6 8,6 13,5 28,7 Mobilidade Urbana 7,5 9,2 11,0 27,7 Hidrovias 1,2 2,0 2,0 5,2 Energia Elétrica 35,2 36,0 30,2 101,4 Saneamento 11,1 13,4 13,7 38,3 Telecomunicações 16,9 18,2 20,5 55,6 Invest. Infra Total 116,8 133,2 143,5 390,6 Fonte: Empresas abertas (públicas e privadas); Siafi, CNI; Ipeadata; Portal Transparência; Banco Central e cálculos e estimativas próprias. 11
12 A participação pública e privada Apesar dos obstáculos, há uma participação considerável do setor privado nos investimentos em infraestrutura. No setor público, os investimentos federais foram de apenas 0,53% e 0,46% do PIB em 2014 e 2015 respectivamente. Investimento em infraestrutura por instância 2014 e 2015p (R$ bilhões e % do PIB) Instância E Governo Federal 15,6 10,2 % do PIB 0,28 % 0,18 % Empresas Estatais Federais 14,4 16,9 % do PIB 0,25 % 0,28 % Empresas Estaduais e Autarquias 30,4 17,5 % do PIB 0,54 % 0,29 % Empresas Privadas 70,7 58,3 % do PIB 1,24 % 0,98 % Investimento em Infra Total 130,9 102,9 % do PIB 2,30 % 1,73 % Fonte: Empresas abertas (públicas e privadas); Siafi, CNI; Ipeadata; Portal Transparência; Banco Central e cáculos e estimativas próprias 12
13 Porque o Governo Federal investe tão pouco? 13
14 A Fragilidade das Contas Públicas Nos últimos anos as políticas de governo elevaram os gastos da União sem um aumento correspondente das receitas => temos hoje uma Emergência Fiscal Em 2014, as receitas foram insuficientes para arcar com as despesas primárias (antes do pagamento de juros) dos governos. Déficit primário do Governo Federal de R$ 20,472 B (0,37% do PIB) e da União (o conjunto do setor público) de R$ 32,5 B (0,63% do PIB). Em 2015 o déficit primário da União atingiu R$ 119,9 B, ou cerca de 2% do PIB. Provável mais 2 anos consecutivos de déficits (risco: dinâmica da dívida). 14
15 A vinculação das receitas Em 2014, 90% das receitas do Governo Federal estavam vinculadas, ou seja, possuíam destino pré-determinado pela Constituição. Essa vinculação de determinadas categorias de gastos obrigatórios dificulta uma execução que reflita as necessidades do país. As receitas totais da União em 2014 foram equivalentes a 22,17% do PIB e a receita líquida do Governo Central totalizou 17,52% do PIB. Dos 17,52%, 6,11% foram oriundos da previdência social e 6,01% de contribuições sociais, totalizando 12,12% destinados obrigatoriamente a seguridade e educação. Além disso, 6,1% foram pagos sob forma de juros da dívida, restando um saldo negativo de 0,7% para lidar com os demais gastos. 15
16 Rigidez e inércia nas despesas Rigidez orçamentária: Despesas obrigatórias elevadas comprometem os gastos discricionários, dentre os quais sobressaem os investimentos. Crescimento inercial das despesas correntes (orçamento fiscal e da seguridade social) indexadas ao salário mínimo e demais índices estreitam ainda mais margem para investimentos. Despesas aumentam geralmente acima do crescimento do PIB. Inchaço da máquina estatal no que diz respeito a todas as instâncias da União e dos poderes constituídos (Estados, Municípios, Congresso e Judiciário). 16
17 O Orçamento Geral da União (OGU) O Orçamento Geral da União (OGU) é composto pelo Orçamento do Governo Federal (OGF) e Orçamento de Investimento (OI). O OGF é estruturado a partir da soma do Orçamento da Seguridade Social (saúde, assistência social e previdência) e do Orçamento Fiscal (demais funções do Governo Federal). O OI diz respeito às empresas estatais não dependentes de recursos do Tesouro, ainda que na prática o sejam (ex. Infraero). 17
18 Orçamento do Governo Federal (OGF) O Orçamento da Seguridade Social é financiado a partir de contribuições sociais (incluindo a da Previdência). De acordo com a Constituição Federal de 1988, seus recursos não podem ser realocados, logo, possuem vinculo obrigatório. O Orçamento Fiscal é composto a partir de impostos partilhados entre os governos central, estadual e municipal. Do total, no mínimo 18% deve ser destinado à Educação. Da quantia arrecada para o PIB/PASEP, ao menos 60% deve ser destinado ao Fundo de Assistência do Trabalhador (FAT), e os 40% restantes devem ser aplicados em programas do BNDES. 18
19 O Orçamento de Investimento (OI) O Orçamento de Investimento é composto pela dotação de gastos das empresas estatais não dependentes : Empresas do setor produtivo: Grupo Petrobrás, Eletrobrás e Infraero, por exemplo Instituições financeiras: Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil e Banco do Nordeste, por exemplo Essas empresas possuem um orçamento separado, de forma que sua execução depende da capacidade de cada empresa cumprir seus planos de investimento. Na prática, o Tesouro frequentemente necessita socorrer e injetar recursos nas não dependentes. 19
20 Gastos Obrigatórios e Discricionários No OGF de 2014, 90% das despesas autorizadas eram obrigatórias, dominantemente gastos correntes e transferências (benefícios previdenciários e assistenciais). Os benefícios advindos de tais transferências, variam de acordo com ajustes no salário mínimo. Inversamente, apenas 10% dos gastos previstos no orçamento eram discricionários. Vale ressaltar que as Funções que mais investem são as que possuem maior parte das despesas discricionárias. 20
21 O OGF Principais Funções Orçamento do Governo Federal Decomposição percentual dos gastos autorizados Amostra de Funções relevantes 2014, em R$ milhões e % Função Total (R$ MM) % Obrigatório % Discricionário Previdência Social Trabalho Encargos Especiais Assistência Social Saúde Educação Esporte Urbanismo Ciência e Tecnologia Habitação Saneamento TOTAL Fonte: SIGA Brasil e FGV DAPP 21
22 O OGF Natureza dos Gastos Funções com maior parcela de gastos obrigatórios são as que predominam despesas correntes (ex: Previdência Social, Trabalho e Assistência Social). Inversamente, os setores em que se concentram os investimentos são aqueles com maiores proporções de gastos discricionários (ex: Saneamento, Urbanismo e Transportes). Função Investimento (%) Pessoal (%) Despesas Correntes (%) Outros (%) Saneamento 99,6 0 0,4 0 Habitação Urbanismo Desporto e Lazer Transportes Relações Exteriores Assistência Social 1 0,1 95,9 3 Trabalho 0, ,8 Previdência Social 0, Encargos Especiais 0, Fonte: FGV DAPP Composição do OGF por tipo de gasto Uma amostra de Funções, em %,
23 A contração dos investimentos da União Em 2014, o valor orçado dos investimentos representavam 9,99% do orçamento total, dos quais 7,88% foi executado, (ou 2,77% do PIB), incluindo Restos a Pagar pagos. No primeiro semestre de 2015, os investimentos executados representaram 2,72% do orçamento total para o ano (2% do PIB semestral), o equivalente a 5,44% em bases anualizadas. Investimento da União (OGF +OI, incluindo os RP) 2014 e 1S15, em R$ milhões e % Investimento Orçamento Total Orçado Executado RP Pagos Valor orçado/total orçado Executado + RP Pagos/Total orçado Executado + RP como % do PIB ,99 7,88 2,77 1S ,77 2,72 2,00 Fonte: SIAFI, Ministério do Planejamento. Elaboração: Inter.B 23
24 Em infraestrutura... Em 2014, os investimentos em infraestrutura (transportes, energia elétrica, saneamento e telecomunicações) do OGU efetivamente executados somaram R$ 28,6 bilhões (1,47% do orçamento total da União ou 0,53% do PIB). Em 2014, de cada R$ 100 de gastos programados nos orçamentos da União, apenas R$ 7,88 foram efetivamente utilizados para investimentos, dos quais R$ 1,47 alocados para infraestrutura. 24
25 2014: Maiores quedas em EE e Saneamento Investimentos da União em Infraestrutura Distribuição setorial Em R$ milhões, 2014 Setor de Infra Transporte Energia Elétrica Saneamento Telecom Tipo de Orçamento Proposto Executado + RP Pago OGF , ,0 OI 3.334, ,1 OGF 52,0 0,5 OI 8.898, ,3 OGF 2.267, ,0 OI n/a n/a OGF 53,0 41,0 OI 987,7 815,4 Total Pago Executado + RP/Total Orçado (%) Executado + RP como % do PIB ,1 1,02 0, ,8 0,32 0, ,0 0,09 0,03 856,4 0,04 0,02 TOTAL , ,3 1,47 0,52 Fonte: Ministério do Planejamento, SIGA Brasil, SIAFI e FGV DAPP; 25
26 2015: os números ainda em apuração A redução acentuada dos investimentos da União em infraestrutura no primeiro semestre de 2015, teve continuidade no 2º semestre no âmbito do OGF, mas as indicações do OI são de que foi parcialmente compensada (como % do PIB o ano fecharia em 0,46%). Orçamento Total Os investimentos da União em infraestrutura Em R$ milhões e %, 2014 e 1S15 Orçado Executado RP Pagos Investimento Valor orçado/total orçado Executado + RP Pagos/Total Orçado Executado + RP como % do PIB ,72 1,47 0,53 1S ,96 0,45 0,33 Fonte: SIAFI, Ministério do Planejamento. Elaboração: Inter.B 26
27 Como o Brasil se Compara? Com relação aos investimentos em infraestrutura realizados pelo Governo, o Brasil possui o pior desempenho quando comparado a qualquer um dos países selecionados abaixo. Investimentos em infraestrutura de Governos Federais em relação ao Orçamento Federal Em %, ano mais recente disponível, países selecionados País Ano Investimento em infraestrutura (%) Peru ,0 Paraguai ,0 Índia 2014/2015 8,32 Portugal ,23 Colômbia ,44 Malásia ,20 Reino Unido ,86 México ,65 Estados Unidos ,64 Brasil ,47 Fonte: SIAFI; Siga Brasil; Secretaria do Tesouro; BID; Banco Mundial. 27
28 Uma Agenda para a Retomada em Infraestrutura 28
29 De forma sintética: Investir mais e melhor Mas como? Primeiro, o investimento em infraestrutura deve se tornar uma política de Estado. Requer portanto continuidade, estabilidade e previsibilidade. As chamadas obras públicas vão se manter relevantes por muitos anos. Ao mesmo tempo, as PPPs vão ganhar maior protagonismo particularmente em saneamento e infraestrutura urbana. A resolução da questão fiscal e a redefinição de prioridades no orçamento - é portanto fundamental. 29
30 A reforma fiscal deve ser perseguida Reduzir o grau de vinculação das receitas e a obrigatoriedade dos gastos públicos Romper com o crescimento inercial das despesas, desindexando-as do salário mínimo e outros indicadores Melhorar a qualidade dos gastos a partir da reavaliação dos efeitos de todos os programas relevantes do Estado ( orçamento base zero ) Rever incentivos e desonerações fiscais, muitos dos quais já não fazem mais sentido. 30
31 Um Programa Fiscal crível terá......como consequência: Uma trajetória de redução dos juros reais em bases sustentáveis Ampliação dos recursos disponíveis para investimento que teria como prioridade os setores de infraestrutura De forma mais geral, há necessidade de políticas públicas e novas práticas que reflitam um Estado moderno e eficiente. 31
32 Não se deve dar partida a uma intervenção física ou uma obra sem projeto básico e executivo, sem orçamento confiável, e sem mecanismo eficazes e transparentes de fiscalização e acompanhamento. Em paralelo é necessário modernizar e atualizar a legislação de licitações e contratos (8.666/93) para se coadunar com o imperativo de uma economia mais aberta e competitiva. 32 Investimentos públicos requerem salto de qualidade Como minimizar o desperdício e aumentar a eficiência dos investimentos públicos? O planejamento é essencial: definir prioridades, eliminar sobreposições, estabelecer um cronograma crível. Todos os investimentos devem ser sujeitos ex-ante a uma análise de custo-benefício séria e com publicidade.
33 Imprescindível ampliar a participação privada É fundamental melhorar a regulação, reduzindo a incerteza regulatória e as intervenções ad-hoc no mercado. As agências necessitam de autonomia decisória e financeira; e não serem usadas em nenhuma hipótese como objeto de barganha política. Fazê-lo é aumentar o risco regulatório e o prêmio de risco de investir em infraestrutura. Finalmente, atualizar os modelos setoriais, garantindo a atratividade e sustentabilidade do investimento, a promoção da competição, visando assim o interesse público. 33
34 Claudio R. Frischtak Julia Noronha Inter.B Consultoria Internacional de Negócios Rua Barão do Flamengo, 22 sala 1001 Rio de Janeiro, RJ, Tel:
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