PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DA PARAÍBA Gabinete do Des. LEANDRO DOS SANTOS

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1 ACÓRDÃO PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DA PARAÍBA Gabinete do Des. LEANDRO DOS SANTOS MANDADO DE SEGURANÇA N /001 RELATOR : Des. LEANDRO DOS SANTOS IMPETRANTE : MARIA DA PENHA FEITOSA BEZERRIL ADVOGADO : ANA CRISTINA DA ROCHA MONTEIRO IMPETRADO : SECRETÁRIO DA RECEITA ESTADUAL INTERESSADO : ESTADO DA PARAÍBA, representado por seu Procurador LEONARDO VENTURA MACIEL MANDADO DE SEGURANÇA - PORTADORA DE LIMITAÇÕES FÍSICAS NECESSIDADE DE AUTOMÓVEL AUTOMÁTICO ISENÇÃO DE ICMS INDEFERIMENTO ADMINISTRATIVO - CID NÃO CATALOGADA NO DECRETO N /09 - ISONOMIA CONCESSÃO DA SEGURANÇA. A finalidade da norma constitucional ao prever a isenção tributária aos portadores de necessidades especiais, na aquisição de veículos, é diminuir as desigualdades e as barreiras de locomoção destes, a fim de incluí-los na sociedade de forma ampla. - Nos termos do art. 1 do Decreto n /09, ficam isentas do ICMS as saídas internas e interestaduais de veículo automotor novo com características específicas para ser dirigido por motorista portador de deficiência física, desde que as respectivas operações de saída sejam amparadas por isenção do Imposto sobre Produtos Industrializados - IPI, nos termos da legislação federal vigente. Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que figuram como partes as acima nominadas: ACORDA a Primeira Seção Especializada Cível do Tribunal de Justiça da Paraíba, na conformidade do voto do relator, por votação unânime, em CONCEDER A SEGURANÇA, nos termos do voto do Relator. RELATÓRIO Trata-se de Mandado de Segurança impetrado por MARIA DA PENHA FEITOSA BEZERRIL contra ato supostamente ilegal e abusivo, praticado pelo

2 SECRETÁRIO DA RECEITA DO ESTADO DA PARAÍBA, que, conforme documento nos autos (fls.23/24), lhe negou a isenção do ICMS na compra de veículo automotor, alegando que o CID correspondente a patologia que a requerente é portadora, não consta na relação do Anexo II do Decreto n Relata a impetrante que é portadora de deficiência física, atestada por Laudo Médico n 384/12(f1.21) fornecido pela Junta Médica do Departamento Estadual de Trânsito DETRAN/PB, no qual consta especificado: "Espondiloartrose" e "Hérnia discai" cervical (C4-05, C5-C6 E C6-C7) com protusão postero-central. Sendo portadora, ainda, de "Osteoartrose" e "Condromalácia" patelar de ambos os joelhos, mais acentuado no joelho esquerdo. CIO 10: M51.2, M19.8, M17.5, M23.2, M17.4, M96, R26 e M23.8., patologias que a impossibilitam de dirigir veículo comum, estando apta, apenas, a conduzir veículo com direção hidráulica e câmbio automático. Sustenta que após ter obtido a isenção do IPI junto à Receita Federal(doc. fl. 25), teve seu pedido de isenção do ICMS indeferido pelo Secretário da Receita Estadual, fundamentando-se a decisão denegatória no Decreto Estadual /2009, uma vez que o CID não constaria na relação do anexo II da referida norma. Requereu, ao final, a concessão definitiva da segurança para que possa adquirir o veículo necessário às suas condições especiais, com isenção de ICMS. Juntou documentos exigidos no art. 3 do Decreto Estadual n de 27/05/2009 1, como pode se ver às fls.20/32. Foi indeferido o pedido de concessão de liminar. (fls.49/51) Intimado, o Estado da Paraíba, através da seu Procurador, expôs manifestação de interesse no feito e adesão às informações prestadas pelo impetrado. (f1.55) Notificada, a autoridade coatora prestou informações, fls. 57/63, aduzindo da legalidade do parecer administrativo, pugnando pela denegação da segurança. Manifestação Ministerial, fls. 65/70, pela concessão da segurança. É o sucinto relatório VOTO A matéria a ser analisada diz respeito ao direito da impetrante, portadora de Para a fruição da isenção de que trata este Decreto, o interessado deverá dirigir requerimento ao Secretário de Estado da Receita, instruido com: I laudo de perícia médica fornecido pelo Departamento de Trânsito do Estado DETRAN, onde estiver domiciliado o interessado, que: a) ateste, de forma expressa, que o interessado é deficiente físico, capaz de dirigir veículo automotor especialmente adaptado, especificando o tipo de deficiência física com o seu respectivo Código Internacional de Doença CID, desde que esteja relacionada no Anexo II deste Decreto; b) discrimine as características específicas necessárias para que o motorista portador de deficiência física possa dirigir o veículo; li comprovação de disponibilidade financeira ou patrimonial do portador de deficiência, suficiente para fazer frente aos gastos com a aquisição e a manutenção do veiculo a ser adquirido, observado o disposto no 9 ; III cópia autenticada da Carteira Nacional de Habilitação, na qual constem as restrições referentes ao condutor e as adaptações necessárias ao veículo; IV cópia autenticada da autorização expedida pela Secretaria da Receita Federal para aquisição do veículo com isenção do IPI; V comprovante de residência; VI - cópia autenticada da carteira de identidade, na hipótese prevista no 5 deste artigo; VII declaração da concessionária contendo discriminação detalhada do tipo, marca, potência, preço de venda ao consumidor sugerido pelo fabricante, incluídos os tributos incidentes, e identificação do componente específico para atender a necessidade especial, além de demais características do veículo a ser adquirido com o benefício previsto neste artigo. (.1

3 ' limitações físicas, à isenção do ICMS na aquisição de veículo apropriado às suas necessidades. Corte. Inicialmente, destaco, já ter sido a questão reiteradamente debatida nesta Com efeito, a pretensão da impetrante deve ter acolhimento, até porque, o Decreto n /09, em seu art. 1 0, dispõe: "Art Ficam isentas do ICMS as saídas internas e interestaduais de veículo automotor novo com características específicas para ser dirigido por motorista portador de deficiência física, desde que as respectivas operações de saída sejam amparadas por isenção do Imposto sobre Produtos Industrializados - IPI, nos termos da legislação federal vigente." Anoto que os documentos exigidos pelo ato normativo n de 27/05/2009 foram anexados ao processo, como: cópia da habilitação (fl. 20), Laudo Médico do DETRAN (fl. 21), comprovantes de disponibilidade financeira (fls. 27/32) e isenção de IPI concedida pela Receita Federal (fl. 25), a exceção do orçamento e indicação do veículo a ser adquirido. Pois bem. No mérito, analisando a prova pré-constituída, tenho que o Laudo Médico n 384/12, elaborado pelo Departamento Estadual de Trânsito DETRAN (fl. 21), concluiu que a impetrante estaria "apta para dirigir veículos automotores categoria 'B', com transmissão automática. Inapta definitivamente para dirigir veículos automotores convencionais". Ademais, conforme se observa do documento acostado, à fl. 25, a impetrante foi autorizada pela Secretaria da Receita Federal a adquirir um veículo com isenção de IPI, não sendo razoável que seja considerada "portadora de deficiência" para um ente público da esfera federal e não o seja para outro, da esfera estadual. No meu entender, não há dúvida quanto à deficiência da impetrante e, via de consequência, quanto ao seu direito à isenção aqui perseguida. Discordando do que narra o impetrado em suas informações, onde alega que a impetrante possui apenas uma doença e não uma deficiência. É curioso, que o DETRAN/PB, Órgão de Trânsito do Estado da Paraíba, através de pessoa habilitada para tanto, no caso um médico, atesta ser uma pessoa incapacitada para guiar veículo comum, e outro Órgão, a Secretaria da Receita, do mesmo Estado, nega essa condição. Saliente-se que é vasta a jurisprudência desta Corte de Justiça, quando analisa matéria idêntica a pleiteada nestes autos. Vejamos: MANDADO DE SEGURANÇA. PORTADOR DE DEFICIÊNCIA FÍSICA. NECESSIDADE DE AUTOMÓVEL ADAPTADO. ICMS. CRITÉRIOS NECESSÁRIOS À ISENÇÃO. COMPROVAÇÃO.

4 PREVISIBILIDADE LEGAL. DECRETO N /09. DIREITO LÍQUIDO E CERTO. OCORRÊNCIA. PRECEDENTES DA CORTE. CONCESSÃO DA SEGURANÇA. - O mandado de segurança é remédio processual destinado a coibir atos abusivos ou ilegais de autoridades públicas, protegendo o direito individual do cidadão diante do poder por elas exercido. - Demonstrada a deficiência física do impetrante, deve se verificar a isenção do ICMS pretendida para aquisição do veículo. - Nos termos do art. 12, do Decreto n /09, ficam isentas do ICMS, as saídas internas interestaduais de veiculo automotor novo, com características específicas para ser dirigido por motorista portador de deficiência física, estando as respectivas operações de saída amparadas por isenção do Imposto sobre Produtos Industrializados - IPI, nos termos da legislação federal vigente. TJPB - Acórdão do processo n Órgão (SEGUNDA SEÇÃO ESPECIALIZADA CÍVEL) - Relator DES. ' FREDERICO MARTINHO DA NÓBREGA COUTINHO - j. Em 27/06/2012 MANDADO DE SEGURANÇA. Deficiente físico. Aquisição de veiculo automotor adaptado às suas necessidades especiais. Pretendida isenção de ICMS. 1. Convênio ICMS 03/07. Requisitos. Atendimento. 2. Decreto Estadual n /2009. Rol de doenças para as quais o benefício se aplica. Doença da impetrante não incluída. Exorbitância do Decreto. Necessidade de observância da Lei Federal n 7.853/89. Ação afirmativa. Interpretação restritiva de isenção que não pode contrariar o princípio da isonomia. Segurança. Concessão. O objetivo do Convênio ICMS 03/2007, que instituiu a isenção em disceptação, foi excepcionar o tratamento dado aos deficientes físicos, reduzindo-lhes os ônus fiscais na aquisição de veiculo automotor, como forma de compensação dos encargos com as adaptações necessárias ao seu manuseio pelo proprietário. O Decreto Estadual n /2009 incorreu em ilegalidade ao restringir a isenção do ICMS e a definir os portadores de deficiência física como sendo apenas os que tenham patologias cujos CID s estejam relacionados no Anexo II, que elenca pouco mais de 50 cinquenta deficiências. A isenção, como exceção ao princípio da igualdade fiscal, deve ser interpretada restritivamente, não podendo, no entanto, ferir o principio da isonomia. TJPB - Acórdão do processo n Órgão (1 SEÇÃO ESPECIALIZADA CIVEL) - Relator DES JOSÉ Dl LORENZO SERPA - j. em 27/06/2012 O Estado da Paraíba, por várias vezes, intentou ações junto ao Superior Tribunal de Justiça com o intuito de modificar os julgados deste Tribunal e, em nenhuma delas, obteve êxito. Eis algumas decisões: AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. ICMS. ISENÇÃO PARA DEFICIENTE FÍSICO. SUPOSTA AUSÊNCIA DOS REQUISITOS. CONVÊNIO ICMS NÃO EQUIVALÊNCIA A LEI FEDERAL. INCIDÊNCIA DOS ENUNCIADOS N. 283 DA SÚMULA/STF E 126 DA SÚMULA/STJ. - Na linha da jurisprudência desta Corte, convênio ICMS não tem natureza de lei federal, de modo que a sua interpretação não enseja o processamento de recurso especial. - Diante da ausência de impugnação de alguns dos fundamentos infraconstitucionais contidos no acórdão recorrido, incide dsf(

5 a vedação contida no enunciado n. 283 da Súmula do Supremo Tribunal Federal. - Não sendo interposto recurso extraordinário contra o fundamento constitucional adotado pelo Tribunal de origem, incide o enunciado n. 126 da Súmula desta Corte. Agravo regimental improvido. (AgRg no AREsp P6, Rel. Ministro CESAR ASFOR ROCHA, SEGUNDA TURMA, julgado em 21/06/2012, DJe 01/08/2012) TRIBUTÁRIO. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. MANDADO DE SEGURANÇA. ICMS. ISENÇÃO. DEFICIÊNCIA FÍSICA COMPROVADA. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DA INTEGRAÇÃO, PROTEÇÃO DO PORTADOR DE DEFICIÊNCIA, ISONOMIA E DA DIGNIDADE HUMANA. ENFOQUE CONSTITUCIONAL DA MATÉRIA, REDISCUSSÃO. INVIABILIDADE NO RECURSO ESPECIAL. 1. Caso em que o Tribunal de origem concedeu a segurança para declarar a ilegalidade das restrições contidas no Decreto Estadual n , reconhecendo o direito do autor à isenção tributária para aquisição de veículos adaptados às suas necessidades especiais (deficiência física). Onde concluiu-se de forma expressa que o Decreto Estadual n "afrontou, literalmente, o princípio da lsonomia, bem como o da Dignidade da Pessoa Humana, pois 'restringiu' os casos de deficiência apenas como sendo os relacionados no seu anexo para fins de isenção fiscal, ao tratar com desigualdade os deficientes físicos, dentro da própria classe " (e-stj fl. 149). 2. Conforme se pode depreender, torna-se inviável a rediscussão do presente feito em recurso especial, ante a competência do Excelso STF. Precedentes: REsp /SC, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, DJe 30/09/2010, ARESP SP, Rel. Min. Benedito Gonçalves, decisão publicada no Dje Agravo regimental não provido. (AgRg no AREsp /PB, Rel. Ministro BENEDITO GONÇALVES, PRIMEIRA TURMA, julgado em 19/06/2012, DJe 22/06/2012) Ainda, a autoridade apontada como coatora, não suscitou a existência de qualquer débito da impetrante com a Fazenda Pública Estadual, seja na esfera administrativa ou ao prestar informações, razão porque não incide na hipótese a vedação contida no 8, do art. 1 : " 8 O benefício previsto neste Decreto somente se aplica se o adquirente não tiver débitos para com a Fazenda Pública Estadual." Com efeito, se a impetrante necessita de veículo adaptado (ou com característica especial) para que possa exercer o seu direito de conduzir automóvel, surge um maior ônus que se busca suprir com a isenção tributária, devendo ser concedida isenção de!oms na aquisição do bem, não sendo razoável a restrição anti-isonômice estabelecida pelo impetrado com base no aludido decreto. Ora, a isenção, como exceção ao princípio da igualdade fiscal, deve se interpretada restritivamente, mas não pode ferir o princípio da isonomia. O objetivo da le que criou a isenção foi excepcionar o tratamento dado aos deficientes físicos, reduzindo

6 lhes os ônus fiscais na aquisição de veículo automotor, como forma de compensação dos encargos com as adaptações necessárias ao seu manuseio pelo proprietário. Assim, comprovado que a ora impetrante não possui condições de dirigir um veículo comum, sendo obrigada a adquirir um automóvel com câmbio automático e direção hidráulica, tem direito à isenção do ICMS. Penso que qualquer outra imposição feita pelo Estado foge aos requisitos legais e extrapola os contornos previstos pela Lei para a isenção fiscal em tela. Tenho que, na hipótese, estando em conflito o princípio da legalidade e os princípios da dignidade da pessoa humana e da isonomia devem prevalecer estes. Ressalvo que apesar da impetrante não haver apresentado o orçamento com as especificações do automóvel que pretende adquirir, o parágrafo segundo do art.1 do Decreto n /2009 limita essa aquisição no valor máximo de R$ ,00(setenta mil reais) para compra de veículo novo. Com tais considerações, após análise da prova constante nos autos, o direito do impetrante é líquido e certo. Ante o exposto, CONCEDO A SEGURANÇA, para o fim de assegurar a impetrante o direito à isenção do ICMS sobre a aquisição de veículo automotor adequado às suas necessidades especiais, cujo valor de compra, incluindo os tributos incidentes, não seja superior a R$ ,00(setenta mil reais). Condeno o Estado da Paraíba a ressarcir as custas pagas pelo impetrante (art. 29, Lei n 5.672/92). Presidiu a sessão, com voto, o Excelentíssimo Senhor Desembargador Marcos Cavalcanti de Albuquerque. Relator: Desembargador Leandro dos Santos. Participaram do julgamento os Excelentíssimos Senhores Desembargadores, José Ricardo Porto, Maria de Fátima B. Cavalcanti, Dra. Vanda Elizabeth Marinho (Juíza convocada para substituir o Des. José Di Lorenzo Serpa) e Dr. Aluízio Bezerra Filho (Juiz convocado para substituir a Desa. Maria das Neves do Egito Duda Ferreira). Presente à sessão, representando o Ministério Público, o Excelentíssimo Senhor Doutor Francisco de Sagres Macedo, Procurador de Justiça. Primeira Seção Especializada Cível, Sala de Sessões "Des. Manoel Taigy de Queiroz Mello Filho" do Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba, em João Pessoa, no dia 23 de janeiro de (Lu_ Des. LOndr\o do Relator cjt ntol

7 TRILA- 1.)z, DireNria Judiçiária Reg kilc/do err