OS BENEFÍCIOS DA PRÁTICA DE ATIVIDADE FÍSICA E OS RISCOS DO SEDENTARISMO EM: CRIANÇAS E ADOLESCENTES, NO ADULTO E NO IDOSO. Rodrigo Pereira de Souza 1
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1 Artigo de Revisão Cinergis ISSN OS BENEFÍCIOS DA PRÁTICA DE ATIVIDADE FÍSICA E OS RISCOS DO SEDENTARISMO EM: CRIANÇAS E ADOLESCENTES, NO ADULTO E NO IDOSO Rodrigo Pereira de Souza 1 RESUMO O objetivo desta revisão foi investigar os benefícios da prática de atividade física, e os riscos do sedentarismo em crianças e adolescentes, no adulto, e no idoso. Foi feita uma revisão na literatura nas seguintes bases de dados: Medline/Pubmed, Scielo e Lilacs. Além disso, buscaram-se artigos relevantes nas referencias dos artigos já localizados. Conforme a literatura revisada, em crianças e adolescentes a atividade física serve de base para a vida adulta, pois segundo dados da literatura, hábitos saudáveis da prática regular de atividade física adquiridos na infância e na adolescência parecem persistirem na vida adulta. No adulto serve de prevenção das doenças crônicas não transmissíveis. Em contra partida no idoso a prática de atividade física exerce papel de manutenção das atividades diárias (AVD) e das atividades instrumentais da vida diária (AIVD). Palavras-Chave: atividade física e saúde; atividade física na adolescência; no adulto e na terceira idade e sedentarismo. THE BENEFITS OF PHYSICAL ACTIVITIES AND THE RISKS OF SEDENTARISM IN CHILDREN, ADOLESCENTS, ADULTS AND ELDERLY PEOPLE ABSTRACT This review aimed to investigate the benefits of the practice of physical activities, and the risks of sedentarism in children, adolescents, adults and elderly people. A review was made over the literature in the following database: Medline/Pubmed, Scielo and Lilacs. Besides that, relevant articles were searched within the reference of the ones which had been found. According to the reviewed literature, in children and adolescents the physical activity served as base to the adult life, because following the literature data, healthy habits of regular practice of physical activity acquired during childhood and adolescence seem to persist in adult life. For the adult, it serves as prevention from non-communicable chronic diseases. On the other hand, in elderly people the practice of physical activities assume the function of maintenance of the daily life activities (DLA) and instrumental daily life activities (IDLA). Keywords: physical activity and health; physical activity in adolescence; in adults and seniors, sedentarism. 1 Universidade Luterana do Brasil. Programa de Pós Graduação em Saúde Coletiva. Mestrebaron@yahoo.com.br. Cinergis Vol 11, n. 1, p Jan/Jun, 2010
2 INTRODUÇÃO Nos últimos anos a relação entre atividade física, aptidão física, saúde e qualidade de vida são relacionadas ao estilo de vida. Atualmente o sedentarismo é um problema de saúde pública, tanto em países em desenvolvimento quanto em países de primeiro mundo. Sendo a inatividade física um importante fator de risco para as doenças cardiovasculares e outras doenças crônicas. A cada ano no mundo pelo menos, 1,9 milhões de pessoas morrem como resultado da inatividade física 1. A inatividade física e baixo nível de condicionamento físico têm sido considerados fatores de risco para mortalidade prematura tão importante quanto fumo, dislipidemia e hipertensão arterial 2. Estudos epidemiológicos têm demonstrado forte relação entre inatividade física e presença de fatores de risco cardiovascular como hipertensão arterial, resistência à insulina, diabetes, dislipidemia e obesidade 3, 4, 5,6. Os benefícios da atividade física na prevenção e tratamento de inúmeras doenças parecem estar bem documentados na literatura 7, de modo que o incentivo à prática de atividades físicas é uma preocupação da agenda de saúde pública mundial 1. Sendo assim, o objetivo desta revisão foi investigar os principais benefícios da prática de atividade física, e os riscos do sedentarismo em crianças e adolescentes, no adulto, e no idoso. Para tanto, uma revisão na literatura foi feita nas seguintes bases de dados Medline/Pubmed, Scielo e Lilacs com os seguintes descritores: atividade física e saúde, atividade física na adolescência, no adulto e na terceira idade e sedentarismo. Além disso, buscaram-se artigos relevantes nas referências dos artigos já localizados. Inicialmente foi abordado o tema atividade física na criança e no adolescente, seguindo para atividade física no adulto. Por fim, foi abordado atividade física e o idoso, as conclusões e recomendações. Atividade física na criança e no adolescente Segundo DHHS and USDA 8, recomenda que crianças e adolescentes façam pelo menos 60 minutos de moderada para vigorosa atividade física na maioria dos dias da semana para manter a boa saúde, boa forma física e um peso saudável durante o crescimento. O aumento da atividade física pode diminuir o índice de massa corporal das crianças com sobrepeso. Durante o tempo de lazer, é aconselhável para todos os indivíduos, para limitar o comportamento sedentário façam atividades que requeiram mais movimento. A atividade física (AF) habitual tem sido reconhecida como um componente importante de um estilo de vida saudável 9. São várias as razões, sugeridas por Blair 10, para explicar a possível relação causal entre a AF e a saúde em crianças e adolescentes: a) as crianças com baixos índices de AF parecem ser mais susceptíveis para desenvolverem patologias degenerativas em idade adulta; b) a AF nas crianças parece induzir alterações biomecânicas, fisiológicas e psicológicas, as quais se manifestam como adaptações crônicas benéficas, persistindo de forma vantajosa durante a vida adulta; c) os hábitos da prática das atividades físicas adquiridos na infância parecem persistir durante a vida adulta. Na infância, a AF parece, assim, ter um papel importante para a estabilidade dos hábitos de prática dessas atividades, os quais poderão adquirir uma importância vital para a prevenção dos fatores de risco das doenças cardiovasculares 11. E importante salientar quando os padrões de atividade física e de estilos de vida saudáveis são adquiridos durante a infância e a adolescência têm uma maior probabilidade de ser mantida durante todo tempo de vida. Por conseguinte, a melhoria nos níveis de atividade física em jovens é imprescindível para o futuro da saúde de todas as populações 1. A prática adequada de atividade física na adolescência traz vários benefícios para a saúde física e mental, seja por meio de uma influência direta sobre a morbidade na própria adolescência ou por uma influência mediada pelo nível de atividade física na idade adulta 12,13,14,15. Embora a maioria das doenças associadas ao sedentarismo somente se manifeste na vida adulta, é cada vez 53
3 mais evidente que seu desenvolvimento se inicia na infância e adolescência 16. Sendo assim, o estímulo à prática de atividade física desde a juventude deve ser uma prioridade em saúde pública 17. Apesar dessas evidências, a prevalência de sedentarismo ainda é muito alta, tanto em países ricos 18,19 quanto naqueles de renda média ou baixa 26,27. Ainda mais preocupantes, são as evidências de que a aptidão física (medida pela resistência cardiorrespiratória) de adolescentes vem apresentando tendências de declínio em algumas populações 20. No Brasil, há poucos estudos em escolares adolescentes sobre o nível de atividade física. Em um estudo transversal realizado na Cidade de Niterói com adolescentes de anos, 85% dos meninos e 94% das meninas foram classificados como sedentários escore abaixo de três em uma escala que variava de zero a cinco pontos; a escala englobava atividades esportivas realizadas no tempo de lazer 23. Em adolescentes de 15 a 19 anos residentes na zona urbana da cidade de Pelotas, a prevalência de sedentarismo 39% menos de vinte minutos de atividade física pelo menos três vezes por semana foi de 22% nos meninos e 55% nas meninas 24. Outros estudos nacionais entre adolescentes também relatam prevalência muito variadas 25,26. É provável que a utilização de instrumentos e definições de sedentarismo bastante distintas 12, explique pelo menos parte dessas diferenças. Em uma análise com adolescentes de anos, Hallal e Victora 17 encontraram uma prevalência de sedentarismo de 58%, usando o ponto de corte de 300 minutos por semana de atividade física. Estudo realizado com adolescentes 27 mostrou que a aptidão física de crianças e adolescentes norte americanas manteve-se estável nas últimas décadas, exceto para meninas entre 16 e 18 anos, onde se observou uma queda da aptidão física. Por outro lado, estudo sueco mostrou um declínio na aptidão física de adolescentes nos últimos anos 28. Apesar de tudo que se vem fazendo para aumentar a atividade física na população, está cada vez menor os níveis de atividade física entre jovens nos países de todo mundo, especialmente em áreas urbanas pobres. Estima-se que menos de um terço dos jovens são suficientemente ativos 1. Atividade física no adulto As recomendações dizem que adultos devem praticar pelo menos 30 minutos por dia de atividades físicas moderadas na maioria dos dias da semana ou pelo menos 20 minutos por dia de atividades físicas vigorosas em pelo menos três dias por semana 29. Quando todas as esferas da atividade física em adultos são avaliadas (lazer, ocupação, deslocamento e serviço doméstico), cerca de 40-45% dos adultos brasileiros não atingem as recomendações atuais quanto à prática de atividades físicas 30,31. Estudos que avaliam apenas as atividades realizadas no período de lazer encontram prevalências bem maiores, variando de 65% a 97% 32,33,34,35. A Organização Mundial da Saúde e Federação Internacional do Esporte estima que metade da população mundial seja inativa fisicamente 36. Nos Estados Unidos, mais de 60% dos adultos e em torno de 50% dos adolescentes são considerados sedentários, segundo o National Center for Chronic Disease and Prevention and Health Promotion 37. No Brasil, dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística apontam 80,8% de adultos sedentários 24. Estudos epidemiológicos, como os De Groot et al. 39, Prentice et al. 40, Lees et al. 41, apontam forte associação entre atividade física ou aptidão física e saúde. A inatividade física é um fator de risco independente para a doença cardiovascular, hipertensão arterial, obesidade e hipercolesterolemia 42. Mais de 35 milhões de pessoas morreram de doenças crônicas em 2005 representando 60% de todas as mortes em todo mundo. Sendo que 80% ocorreram em países de rendimento médio. Sem medidas para atacar as causas, das doenças crônicas essa estimativa aumentará em 17% entre 2005 e
4 As doenças cardiovasculares (DCV) continuam a representar a principal causa de morbimortalidade nos países ricos, apesar de vir sendo observado um decréscimo de suas taxas nas últimas décadas 43. No Brasil, respondem por 33% das causas de morte e representam os maiores gastos para o SUS 44. Dentre os fatores de risco conhecidos para as DCV, vários deles vêm apresentando declínio nos países ricos, como o fumo, a hipertensão arterial sistêmica, a diabetes e os níveis de lipídios circulantes. Entretanto, a obesidade e o sedentarismo vêm demonstrando uma curva ascendente. Nos EUA, são 10 milhões de coronariopatas que originam intervenções por ano 45. Estudos controlados nesses pacientes evidenciam que aqueles que entram num programa de atividade física regular diminuem em 25% o risco de morte 42, 46. Atividade física e o idoso Atividade física regular tem sido indicada para melhorar o estado funcional e qualidade de vida dos idosos. Recomenda-se que, idosos devem participar por pelo menos 30 minutos de atividade física de intensidade moderada 5 dias por semana 47. Em 1980, havia 7 milhões de pessoas idosas; no Brasil atualmente, há em torno de 15 milhões, correspondendo a 8,6 % da população total. A expectativa de vida do brasileiro é de aproximadamente 68 anos, sendo de 72,6 para as mulheres e de 64,8 para os homens 48. Estima-se que, para o ano 2025, haverá, em nosso país, cerca de 32 milhões de idosos 49. Apesar da probabilidade de desenvolver certas doenças aumentar com a idade, é importante esclarecer que não se pode imaginar que envelhecer seja sinônimo de adoecer, especialmente quando as pessoas desenvolvem hábitos de vida saudáveis 50,51. Está comprovado que quanto mais ativa é uma pessoa menos limitações físicas ela tem 52. As atividades da vida diária (AVD) podem ser classificadas por vários índices. Elas são referidas como: tomar banho, vestir-se, levantar-se e sentar se, caminhar a uma pequena distância; ou seja, atividades de cuidados pessoais básicos e, as atividades instrumentais da vida diária (AIVD) como: cozinhar, limpar a casa, fazer compras, jardinagem; ou seja, atividades mais complexas da vida cotidiana 53. Um estilo de vida fisicamente inativo pode ser causa primária da incapacidade para realizar AVD, porém de acordo com seu estudo, um programa de exercícios físicos regulares pode promover mais mudanças qualitativas do que quantitativas, como por exemplo, alteração na forma de realização do movimento, aumento na velocidade de execução da tarefa e adoção de medidas de segurança para realizar a tarefa 54. Cinco fatores são recomendados para o idoso ter saúde: vida independente, casa, ocupação, afeição e comunicação 55. Néri 56 mostra que baixos níveis de saúde na velhice associam-se com altos níveis de depressão e angústia e com baixos níveis de satisfação de vida e bem estar. Há uma diminuição no nível de atividade física com o envelhecimento e estudos 55 mostram que a atividade física mais prevalente é a caminhada e o alongamento e exercícios de força entram em declínio com o avanço da idade. Estudos 57,58 mostram a importância dos exercícios de força para a manutenção do equilíbrio, agilidade e da capacidade funcional dos idosos. Para manter a força muscular e o equilíbrio, importante realizar exercícios com pesos, de 2 a 4 vezes por semana, que estimulem a musculatura e auxiliem na manutenção da postura e do equilíbrio 59. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES Este artigo de revisão descreveu através da literatura consultada, os benefícios da prática de atividade física e os riscos do sedentarismo em crianças e adolescentes, no adulto e no idoso. A atividade física na criança e no adolescente tem um papel importante para a prevenção dos fatores de risco das doenças cardiovasculares. Porque serve de base para a vida adulta, pois 55
5 segundo a literatura, hábitos saudáveis da prática regular de atividade física adquiridos na infância e na juventude parecem persistirem na vida adulta. No adulto a prática de atividade física serve de prevenção das doenças crônicas não transmissíveis. E o risco de ser sedentário pode otimizar o aparecimento das doenças crônicas. Pois, existem evidencias na literatura, que pessoas, que entram num programa de atividade física regular diminuem em 25% o risco de morte por este tipo de enfermidade. Em contra partida no idoso, a prática de atividade física exerce papel de manutenção das atividades da vida diárias (AVD) que são referidas como: tomar banho, vestir-se, levantar-se, etc. Além das atividades instrumentais da vida diária (AIVD) como: cozinhar, limpar a casa, fazer compras, enfim atividades mais complexas da vida cotidiana. E os riscos de um estilo de vida sedentários seriam a incapacidade de realizar as atividades de vida diária e das atividades instrumentais da vida diária. Comprometendo assim, a autonomia e a qualidade de vida do idoso. Por conta disso, é importante que projetos, sejam desenvolvidos em programas de saúde pública, com auxilio dos agentes comunitários orientados por profissionais de educação física, visando o aumento da prática de atividade física regular entre as crianças e os adolescentes, pessoas de meia idade e idosos de forma que se estabeleça a sua prática como um hábito de vida. REFERÊNCIAS 1. WHO. Global strategy on diet, physical activity & health. Acessado em 11/09/08 no endereço: dietphysicalactivity/pa/em/índex.html. 2. Blair SN, Horton EH, Fontanez N, Hollerean S, Matheus K, Roheim PS et al. Physical activity, nutrition, and chronic disease. Med Sci Sports Exerc. 28(3)335-49, Rennie KL, Mccarthy N, Yazdgerdi S, Marmot M, Brunner E. Association of metabolic syndrome with both vigorous and moderate physical activity. Int J Epidemiol. 32, 600-6, Gustat J, Srinivasan SR, Elkasabany A, Berenson GS. Relation of self-rated measures of physical activity to multiple risk factors of insulin resistance syndrome in young adults: the Bogalusa Heart study. J Clin Epidemiol 55, , Wareham NJ, Hennings SJ, Byrne CD. A quantitative analysis of the relationship between habitual energy expenditure, fitness and the metabolic cardiovascular syndrome. Br J Nutr. 80, , Lakka TA, Laaksonem DE, Laaka HM, Männikö N, Niskanen LK, Raumramaa R et al. Sedentary life style, poor cardiorespiratory fitness, and the metabolic syndrome. Med Sci Sports Exerc. 35, , Bauman AE. Updating the evidence that physical activity is good for health: an epidemiological review J Sci Med Sport. 7(1), 6-19, DHHS and USDA (U.S. Department of Agriculture ) Dietary Guidelines for Americans Twisk JW. Physical activity guidelines for children and adolescents: a critical review. Sports Med. 31, , Blair SN et al. Physical fitness and all-cause mortality: a prospective study of healthy men and women. The Journal of the American Medical Association 262, , Sharp N. Activity of children-health through sport, exercise and fitness? In: Chan KM, Micheli LJ. Sport and children. Champaign, IL: Human kinetics; 39-49, Twisk JW. Physical activity guidelines for children and adolescents: a critical review. Sports Med 2001; 31:
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