ACÓRDÃO. VISTOS, relatados e discutidos os autos acima referenciados.

Transcrição

1 1801 ii II.It Poder Judiciário do Estado da Paraíba Tribunal de Justiça Gabinete da Desa. Maria das Neves do Egito de A. D. Ferreira ACÓRDÃO APELAÇÃO CIVEL N o /001 - CAMPINA GRANDE RELATOR: Juiz Carlos Neves da Franca Neto, em substituição à Desa. Maria das Neves do Egito de A. D. Ferreira APELANTE: José Amouri Lira ADVOGADOS: Paulo Sérgio C. de Azevedo e Edilma Fernandes Dias APELADO: Daniel Calebe Fernandes Dias, representado por sua genitora E- dilma Fernandes Dias ADVOGADAS: Rosa de Medeiros Cavalcante e Hannelise S. Garcia da Costa APELAÇÃO CÍVEL. INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDA- DE. RECONHECIMENTO VOLUNTÁRIO. INSURGÊNCIA QUANTO AOS ALIMENTOS FIXADOS. BINÔMIO NE- CESSIDADE/POSSIBILIDADE. APLICAÇÃO. AUSÊNCIA DE CAPACIDADE FINANCEIRA. NÃO COMPROVAÇÃO. DEVER DO RÉU. ART. 333, II DO CPC. DESPROVI- MENTO. - Na fixação dos alimentos para o sustento da prole, deve ser levado em consideração o binômio capacidade/necessidade. - Segundo a regra do art. 333, II do CPC, o ônus da prova cabe ao réu quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor. Caso não se desincumba desse mister, é de se reconhecer o direito pleiteado pelo demandante. VISTOS, relatados e discutidos os autos acima referenciados. ACORDA a Colenda Segunda Câmara Cível do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba, à unanimidade, negar provimento ao recurso. Trata-se de recurso de apelação interposto por JOSÉ AMOURI LIRA, já qualificado, via advogado legalmente constituído, em face de sentença proferida pelo Juízo de Direito da 4a Vara de Família da Comarca de Campina Grande, que nos

2 autos da ação de investigação de paternidade, ajuizada por DANIEL CALEBE FERNAN- DES DIAS, representado por sua genitora Edilma Fernandes Dias, fixou alimentos em prol do menor, no equivalente a 50% (cinqüenta por cento) do salário mínimo vigente. Aduz o apelo que a sentença a quo deve ser reformada, sob a alegação de que o valor arbitrado a título de alimentos deve ser minorado para o percentual de 30% (trinta por cento) do salário mínimo, tendo em vista a condição financeira desfavorável do apelante. Contra-razões ofertadas fls. 51/54. Instado a manifestar-se, o Parquet às fls. 66/70, opinou pelo desprovimento do recurso. É o relatório. 2 VOTO: JuizCARLOS NEVES DA FRANCA NETO Relator O apelante, nas razões recursais, asseverou a possibilidade de pagar alimentos para o seu filho menor, ora apelado, no percentual de 30% (trinta por cento) do salário mínimo vigente, alegando que os 50% (cinqüenta por cento) fixados pela sentença de primeiro grau, não é compatível com a sua atual condição financeira. As normas reguladoras do direito à alimentos, apenas estabelecem o ônus de se demonstrar a necessidade do alimentando, e por outro lado a possibilidade do alimentante em prestá-los, sem prejuízo do sustento próprio. Portanto, o direito à percepção de alimentos está condicionado ao binômio necessidade/possibilidade. É o que se depreende dos art e parágrafos, e do Novo Código Civil: "Art Podem os parentes, os cônjuges ou companheiros pedir uns aos outros os alimentos de que necessitem para viver de modo compatível com a sua condição social, inclusive para tender às necessidades de sua educação. 1. Os alimentos devem ser fixados na proporção das necessidades do reclamante e dos recursos da pessoa obrigada. 2. Os alimentos serão apenas os indispensáveis à subsistência, quando a situação de necessidade resultar de culpa de quem os pleiteia. "Art São devidos alimentos quando quem os pretendem não tem bens suficientes, nem pode prover, pelo seu trabalho, à própria mantença, e aquele, de que reclamam, pode fornecê-los, sem desfalque dos necessário ao seu sustento." Assim, a necessidade do alimentado bem como, a capacidade econômica de quem irá provê-las, funcionam como requisitos norteadores da fixação do quantum alimentício.

3 3 De acordo com os doutrinadores, a prestação alimentícia tem por objetivo garantir ao alimentado a satisfação de suas necessidades básicas, tais como a alimentação, o vestuário, o lazer, a educação, a higiene pessoal, saúde, e entre outros. A obrigação alimentar decorre de diversos fatores, e variadas são as causas que a originam. Assim, para os pais surge o dever de sustentar os filhos menores (art , IV do CC), sendo tal obrigação incondicionada, decorrente do poder familiar, cabendo a ambos os genitores prover, educar e proteger a criança, conceder-. lhe o mínimo para uma sobrevivência digna. "In casu", o apelante foi condenado a prestar pensão alimentícia no percentual de 50% (cinqüenta por cento) do salário mínimo vigente. No entanto, alega em suas razões recursais não ter condições financeiras, para suportar tal encargo, haja vista que percebe, mensalmente um (01) salário mínimo, além do que, paga pensão alimentícia a outro filho. Ora, analisando o documento de fis. 17, juntado pelo próprio ape- lante, observa-se que o mesmo acordou em pagar ao outro filho, o equivalente a um salário mínimo e meio, embora tenha alegado, sem acostar qualquer documento comprobatório, que fora exonerado do referido encargo, e que presta atualmente uma pensão voluntária no valor de R$150,00 (cento e cinqüenta reais). Diante do exposto, verifica-se as contradições dos argumentos invocados pelo apelante. Primeiro, afirma que ainda paga pensão a um outro filho, e em seguida atesta a exoneração do encargo, depois alega estar ajudando o filho voluntariamente, não obstante deixar de anexar qualquer documento nesse sentido. A jurisprudência pátria é pacífica quanto à necessidade de se comprovar a dificuldade financeira do alimentante, capaz de reduzir o valor de pensão alimentícia, outrora fixado: "O alimentante que tiver a intenção de reduzir o valor da pensão que foi condenado a pagar, deve fazer prova convincente da impossibilidade de realizar esse pagamento." 1 Ressalta-se que o dever de sustento incumbe a ambos os pais, conforme já dito supra (ex vi art , do Código Civil), conforme as possibilidades de cada um. Neste sentido, colaciono o entendimento abaixo: "Sendo deveres de ambos os cônjuges o sustento, guarda e educação dos filhos, incumbe ao pai destes prover pensão alimentícia conforme o binômio necessidade/possibilidade." 2 Aliado a esses fatos, para o acolhimento do pedido de minoração dos 1 Ap. Civ. n , de Concórdia, Rel. Juiz Sérgio Izidoro Hell, j. em Apelação cível n , de Canoinhas, rel. Des. Monteiro Rocha, julgada em (121

4 alimentos fixados, faz-se mister que o apelante prove, de maneira inequívoca, a incapacidade ou modificação de sua situação financeira, como bem expressa o artigo do Novo Código Civil, ad litteram: "Art Se, fixados os alimentos, sobrevier mudança na situação financeira de quem os supre, ou na de quem os recebe, poderá o interessado reclamar ao juiz, conforme as circunstâncias, exoneração, redução, ou majoração do encargo". Quanto à fixação de alimentos, segundo regramento do parágrafo 1 0, do art do Código Civil, conforme já dito supra, os alimentos devem ser fixados na proporção das necessidades do reclamante e dos recursos da pessoa obrigada. Portanto, na fixação dos alimentos deve ser observado o binômio necessidade/capacidade, equacionando-se esses fatores, em cada caso concreto, levando-se em conta que a pensão será concedida sempre ad necessitatem, cabendo ao alimentante a prova de sua impossibilidade em suportar o montante da pensão alimentícia No que se refere ao ônus da prova, ao recorrente caberia comprovar tudo o que alegara, tendo em vista que, em se tratando de fato modificativo, extintivo ou impeditivo do direito do autor, a legislação processual civil transfere o ônus da prova ao réu. Assim, não demonstrado o direito do réu/apelante, a improcedência do pleito somente poderia ser frustrada diante da existência de fato modificativo, extintivo ou impeditivo deste direito, o que conforme preceituado no art. 333, II do Código de Processo Civil, é ônus exclusivo do réu, o qual não se desincumbiu deste ônus. No caso dos autos, tenho que o apelante não comprovou a incapacidade de prestar os alimentos na forma fixada e, portanto, não se desobrigando de seu ônus probatório, é inviável o acolhimento da sua pretensão de redução do quantum da pensão alimentícia, o qual entendo deva ser mantido. As alegações do apelante de que só recebe um salário mínimo mensal, por si só, não são suficientes para comprovar a ausência de capacidade econômica, vez que se tratar de homem jovem, apto ao trabalho, e sem outros filhos menores. Por oportuno, invoco o magistério da professora Maria Helena Diniz: "O fundamento desta obrigação de prestar a- limentos é o princípio da solidariedade familiar, pois vem a ser um dever personalíssimo, devido pelo alimentante, em razão do parentesco que o liga ao alimentado. Assim, na obrigação alimentar um parente fornece a outro aquilo que lhe é necessário à sua manutenção, assegurando-lhe meios de subsistência, se ele, em virtude de idade avançada, doença, falta de trabalho ou qualquer incapacidade, estiver impossibilitado de produzir recursos materiais com o próprio esforço."3 3 Apud in Curso de Direito Civil Brasileiro, v. V, 6a ed., Ed. Saraiva, São Paulo, p. 317.

5 Sendo assim, não tendo produzido, o apelante, prova robusta de sua limitação financeira, de modo a inviabilizar o pagamento da quantia arbitrada a título de alimentos, deve-se mantê-la, conforme fixada pelo magistrado "a quo". Não há, portanto, comprovação de que o alimentante não possui condições para suportar o montante a que fora condenado, uma vez que inexistem provas contundentes de sua incapacidade financeira. Ora, tal prova deveria ter sido produzida pelo próprio alimentante, uma vez que é ele quem detém as condições para tanto, demonstrando, assim, a sua real possibilidade alimentar, mas como não o fez, é impossível a viabilidade de sua pretensão. A respeito do tema, cabe citar a explanação de Humberto Theodoro Júnior: "Não há um dever de provar, nem à parte contrária assiste o direito de exigir a prova do adversário. Há um simples ônus, de modo que o litigante assume o risco de perder a causa se não provar os fatos alegados dos quais depende a existência do direito subjetivo que pretende resguardar através da tutela jurisdicional. Isto porque, segundo máxima antiga, fato alegado e não provado é o mesmo que fato inexistente." 4 Assim, diante das argumentações expendidas acima, NEGO PRO- VIMENTO ao apelo para manter, in totum, a sentença de primeiro grau, por seus próprios fundamentos. É como voto. Presidiu a Sessão o Excelentíssimo Desembargador MARCOS CA- VALCANTI DE ALBUQUERQUE, que participou do Julgamento com ESTE RELA- TOR, (Juiz de Direito Convocado, em substituição à eminente Desembargadora MARIA DAS NEVES DO EGITO DE A. D. FERREIRA) e a Excelentíssima Desembargadora MARIA DE FÁTIMA MORAES BEZERRA CAVALCANTI Presente à Sessão, a Excelentíssima Doutora LÚCIA DE FÁTIMA MAIA FARIAS, Procuradora de Justiça. Sala de Sessões da Segunda Câmara Cível do Egrégio Tribunal de Justiça da Paraíba, em João Pessoa/PB, 10 de junho de JuizCARLOS NEVES DA FRANCA N O Relator 4 Apud In Curso de Direito Processual Civil, v. I, 38a ed., Ed. Forense, Rio de Janeiro, 2002, p. 381.

6 ,z) ef ec, v t,/ <4 o /- <4-elf %- c2" -;' r